Neve vermelha escrita por Lostanny


Capítulo 1
A mais angelical, bem como a mais pura como a neve


Notas iniciais do capítulo

Última atualização: 14/02/17!



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Sara tinha muito medo do escuro, pois no pior dia de sua vida houve uma falta de luz que a impediu de fazer qualquer coisa. Dessa forma, ela não poderia mais confiar em ninguém. Era como se tivessem arrancado sua alma além de sua virgindade.

Pediu a bruxa má para que lhe desse uma das maçã de sua cesta, assim não se sentiria mais sozinha. E em sua próxima refeição, infeliz ou felizmente, lá estava o fruto que lhe tinha sido proibido pelos pais, pois se tornaria uma pessoa melhor. Quando mastigou um pedaço da maçã recém descascada o veneno estava lá como lhe disseram.

Então, se sentiu inteira. Dessa forma, a bruxa má não era mais apenas aquela senhora que morava tão distante dela, sua avó, mas também a mulher jovem e bonita que era conhecida como Sara. 

Os ignorantes, não importava o que dissessem a Sara, não tinham vez no mundo dos humanos. Ela tinha medo da humanidade. Em específico, um medo dos homens, por isso os mandou exterminar. Não havia o que temer quando tinha o poder para realizar esse desejo. Ela era uma fada que passou a servir aos próprios propósitos. Desse modo, era uma bruxa temida pelo mundo.

Entretanto, foi amaldiçoada a amar a quem não lhe poderia presentear com o mesmo afeto.  Essa paixão veio a ser Helena. Se Sara era a branca de neve trajada em vermelho, Helena era a loba com fama de caçadora. Todavia, nem Helena sabia o que estava por baixo do manto vermelho.

Quando soube do motivo da filha temer a escuridão, a mãe havia lhe feito prometer que nunca mais deixasse alguém descobrir o que havia debaixo de sua capa. Nem mesmo a própria Branca de Neve vermelha poderia saber. Por consequência, Sara viveu ignorando a si mesma. Porém, no mundo humano não havia lugar para pessoas ignorantes.

O preço, deste modo, acabou por ser muito alto. Sara terminou por manchar as mãos de sangue inocente. Mais de uma vez. Não era o suficiente mandar, uma vez que a bruxa queria executar o sofrimento com suas próprias mãos. Era ela quem devia arrancar os corações dos príncipes para renovar sua beleza.

Sara era a chapeuzinho vermelho que foi trancafiada em uma torre por uma besta sedenta pela juventude que lhe restava. Essa era Helena exercendo o poder que a maldição a oferecia. Sara não iria aos bailes, uma vez que viveria dos farrapos do amor de Helena.

Isso quando tinha um príncipe que poderia ser seu, o sapatinho de cristal poderia ser seu. No entanto, Sara tinha medo de um amor bonito, porque ele era incerto como a noite. Sara se viu crescer como se estivesse em um sonho que nunca iria acordar e a esperar por um príncipe que nunca iria lhe ver.

O dragão tinha seu coração em garras possessivas, ainda que não dedicasse nem metade do afeto que residia em seu corpo para o coração de Sara. Aquele órgão vital era tão frágil quanto a neve. No entanto, seu coração era agora como uma neve vermelha de corrosão e desagrado. A garota deveria ter ouvido a sua mãe e visitado sua avó materna sem muitas perguntas.

A curiosidade matou o gato, assim como a garota foi assassinada. Algumas coisas precisam ser desconhecidas.

A garota recebeu o poder da maçã envenenada, porque ela esperava saber mais, assim como possuir mais força para mudar o seu mundo. Entretanto, mais e mais ela se viu presa a sua própria vingança. Não conhecer o próprio desagrado? Viver na ignorância?

Ela rejeitou permanecer na imutabilidade de seu quarto que seus pais protetores tanto pregavam. Contudo, ela não poderia destruir sua tristeza com o mal feito a outras pessoas.

Sara tinha medo da noite desde que os lobos caçadores ficaram a sua espreita e a devoraram, quando ela era a mais linda de seu reino. Ela foi a mais angelical, bem como a mais pura como a neve. Corroída pelos lábios de outrem, pelo sangue alheio, a chapeuzinho vermelho seguiu pela floresta com um machado escondido.

Estava em busca da avó que a amaldiçoou, pois sua parente era o reflexo do seu eu presente e futuro. Diferente de tudo o que poderia imaginar, a avó lhe esperava de braços abertos. Um sorriso brincou nos lábios da velha quando o lobo mau a executou. A chapeuzinho nunca tinha sido tão sincera.

A curiosidade matou o gato, assim como a garota se matou.


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Notas finais do capítulo

Nos vemos!