— HAHA, você deveria ter visto! Ela gritou e correu! HAHAHAHAHAHAHA Ela parecia tão desesperada! - Chara não conseguia parar de rir. Ele deu à Amy um bom susto como vingança. Mas ainda não era o suficiente. Ele não estava satisfeito, mas não havia nada que ele podia fazer. Jessica não gostava nem um pouco de como Chara lidava com desilusões. Ele alimentava seu desejo de vingança.

— Tá, mas agora precisa se concentrar na sua recuperação. Você ainda está fraco de seus ferimentos. Você conseguiu tratá-los? Tomou antibióticos? 

— Você acha mesmo que os cuidadores me levariam ao hospital? Acha que se preocupam com meu bem estar? — disse com uma voz exageradamente melosa. - Eles querem mais que eu me ferre mesmo.  Até parece que iriam mesmo cuidar de mim - disse dando risada. Jessica não achou graça. 

— Chara, isso é sério! Eu to preocupada com você! - 

— Você é provavelmente a única que se preocupa. Mas relaxa, eu vou ficar bem. Nem dói mais... – mentiu.

No dia seguinte na escola Chara percebeu que Amy parecia muito triste. Todo brilho de seus olhos desaparecera. Ela muitas vezes olhava para a carteira onde Chara estava sentado e quase chorava. Ele achava isso irritante. Parecia que ela estava tentando chamar sua atenção. Era para ela estar com medo, ele pensou. Quando as aulas terminaram Amy correu em sua direção acompanhada da mãe. Chara ficou assustado. "O que diabos ela quer?" 

— Você terá a pior punição de sua vida, mocinha. Como se atreve a inventar uma história dessas e simplesmente culpar o pobre menino? - a mulher disse.

— Viu Chara? Eu contei tudo para ela! Por favor, me perdoe! - Amy o olhou, cheia de esperança nos olhos. Chara estava chocado. Não sabia como reagir. Parecia que ela realmente queria ser perdoada. Ele não conseguiu formar uma única frase coerente.

— Eu.. ãh... uhm... -

— Por favooooor me perdoa! Eu até comprei essa barra de chocolate para você!  Eu sei que isso não vai fazer seus machucados sumirem. Me sinto um lixo. Sinto que deveria ter sido eu. - ela implorou.

— Amy, ele ainda vai decidir se você merece perdão. – disse a mãe friamente. - Chara, querido, tudo bem se se sente mal em relação à ela. Mas se precisar de alguma coisa é só falar conosco. -

Chara lentamente pegou a barra de chocolate e disse um "Obrigado" muito confuso. Amy então lhe deu um beijo na bochecha o que fê-lo sentir-se bem, mas ainda assim muito confuso. De repente uma parte dentro dele queria perdoá-la enquanto a outra parte ainda mandava que ele fosse cauteloso. 

Mais tarde no orfanato ele estava andando pela biblioteca procurando por livros novos para ler. Pelo menos ele não estava proibido de visitar a biblioteca. Ele era uma das poucas crianças que a frequentavam. Ele pegava livro por livro para decidir qual leria. Um deles caiu no chão. Antes de ele ter recolocado o livro na estante ele avistou o título. Lia-se "História dos humanos e dos monstros". Com esse título provavelmente é um livro para crianças, pensou. Mas na contracapa havia uma imagem muito sinistra do que Chara deduzira ser um monstro e um humano posicionados lado a lado. O livro não possuía sumário e nem o nome do autor. Apenas texto da primeira até a última página. Realmente não parecia ser um livro de historinhas para crianças. Curioso, Chara levou o livro até seu quarto e começou a ler.

"Há muito tempo humanos e monstros viviam em harmonia na superfície. Ambos eram seres racionais e inteligentes, mas eram de espécies diferentes. Havia monstros de todos os tipos de raças, tamanhos e cores. Humanos eram mais semelhantes uns aos outros dentro de sua espécie. Havia a mesma quantidade de semelhanças e de diferenças entre humanos e monstros. Nesta região haviam dois reinos. Ambos tinham habitantes humanos e monstros. Um dos reinos era governado por um humano e o outro era governado por um monstro..." 

Quanto mais Chara lia o livro, mas ele sentia que havia veracidade por trás destas palavras. Ele tinha o estranho sentimento de que o conto era real por mais absurdo que parecesse. Ele não conseguia mais desgrudar do livro e passou a levá-lo para a escola. Amy ficou triste pelo fato de Chara não olhar para ela uma vez sequer na aula. Ele estava vidrado naquele livro. O que Chara sentia por Amy já fora mais forte, mas parecia estar enfraquecendo. Ele era jovem demais para sentir sentimentos tão fortes. Amy também não realmente sentia amor. Era mais uma paixão, um desejo de possuí-lo. Mas não era isso que Chara queria. Com o tempo Amy tornou-se irritante e desagradável. O que Chara uma vez sentira por Amy não sobreviveu. Ele concentrou-se mais em ler seu livro que por sua vez ele achou mais interessante que qualquer outro livro que lera em sua vida. A professora de ciências pediu que parasse de ler o livro e começasse a prestar atenção na aula. Quando as aulas acabaram Chara voltou ao orfanato e continuou lendo. Ele tinha parado no começo de um novo capítulo. O capítulo intitulava-se "A guerra entre os humanos e os monstros".