Chara escrita por lauravhm


Capítulo 4
As anotações


Notas iniciais do capítulo

Chara ainda está na consulta psicológica onde a psicóloga tenta convencê-lo a finalmente falar sobre o que o incomoda.



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— Chara, você fez o que eu te pedi na semana passada? - Jessica perguntou. Ainda haviam 15 minutos até a consulta acabar. Os cuidadores de Chara viriam buscá-lo. A cuidadora chefe, também conhecida como "Srª Verruga Nojenta", era um deles.

— Você está falando sobre as anotações? Claro, aqui. -  Chara deu à Jessica um pedaço de papel dobrado. Ela o pediu para anotar seus problemas emocionais, seus medos e inseguranças. "Você consegue tirar os problemas de sua mente se colocá-los no papel. Assim não te incomodarão mais." ela aconselhava. "É o primeiro passo para a aceitação da fatos não importa eles como sejam. Você aprende a lidar com a realidade e como fazer o melhor dela." 

Chara era uma criança inteligente, mas ele não era o melhor quando se tratava de lidar com suas emoções. Desde a tragédia que acontecera 4 anos atrás ele evitava mencionar qualquer coisa sobre seu passado amargo. Ele fingia que nunca teve pais ou que não se lembrava do que acontecera. Como uma profissional Jessica respeitava que ele poderia não estar pronto para falar sobre essas coisas, mas ela sabia que evitar a falar sobre esses problemas o afetara de maneira negativa. Ele poderia se esforçar um pouco mais no seu tratamento. 

"Para ajudar a alguém é preciso primeiro que este alguém aceite ajuda. Você não pode ajudar a alguém que não queira ajudar a si mesmo."  Chara agia como se não precisasse de ajuda, mas no fundo ele sabia que precisava. Ele se escondia atrás de desculpas como "Emoções são fraquezas. É melhor evitá-las."

Sempre quando Jessica tentava motivá-lo a falar sobre seus sentimentos ele mudava de assunto ou respondia de maneira sarcástica. De fato, ele tratava tudo isso como se fosse uma piada. Mas agora ele finalmente concordara em colocar suas emoções no papel. Jessica encheu-se de esperança pensando que Chara poderia estar finalmente indo na direção certa, que ele finalmente estava mais próximo de se livrar de seu peso emocional. Jessica desdobrou o papel para finalmente ler o que se passara em sua mente. 

"Finalmente, me sinto pronto. Já passou-se tanto tempo. Você merece conhecer a verdade. A verdade é que:

Rosas são vermelhas,

Violetas são azuis,

Não vou escrever nada chique,

Apenas o que você já deduz,

Sabe que sou um idiota, porém sempre sincero,

Até o fim dos tempos. Por isso Jessy, aqui estou eu revelando meus sentimentos.

Na verdade é mais a ausência de um sentimento.

É a ausência do tédio que sinto ao falar com você (você deveria se sentir honrada porque não consigo suportar falar com mais ninguém nessa vila maldita). 

Você é a única verdadeira amiga que tenho,

Cuida e se importa comigo com tanto empenho,

O que eu queria te dizer, minha amiga, é muito importante que saiba:

Não me deram almoço hoje, arranhei o carro da velha escrota. 

Poderia me comprar mais uma barra de chocolate?"

[...]

Nunca, jamais em toda sua vida profissional Jessica tivera tanta vontade de xingar e dar risada ao mesmo tempo na presença de um paciente. Jessica definitivamente parecia com alguém que acabara de ver todos seus sonhos e esperanças jogados no abismo... por um pirralho de 8 anos. Ela vagarosamente abaixou o papel e o colocou na mesa. Então ela olhou para Chara. Ele tinha uma expressão animada e um pouco sádica ao mesmo tempo. Ele parecia como se tentasse não rir de uma piada de péssimo gosto embora estas piadas fossem seu tipo favorito. Ele estava esperando pela resposta dela.

— Chara... você...-

— Você gostou? - Chara perguntou enquanto tentava desesperadamente não rir.

— É indescritível... - ela opinou. Chara não conseguia mais se conter e explodiu em risadas até que seu estômago doesse. Isso o lembrou de que ele estava com fome. 

— Mas sério, eu preciso comer. - ele a lembrou.

— Quê? Depois dessa barra de chocolate gigante que devorou? - ela perguntou entre risadas. As risadas de Chara eram tão contagiosas que Jessica teve que rir também.

— Estou em fase de crescimento, ué. E eles não me deram NADA para comer. - 

 

No final Jessica acabou dando dois sanduíches de manteiga de amendoim para Chara que ela tinha trazido de casa. Logo os cuidadores chegaram no consultório para buscá-lo e levá-lo de volta ao orfanato. Eles sequer olhavam para Chara e estavam longe de quererem falar com ele. Era melhor assim, ele pensava. 

 

 

 

 


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