Hinata definitivamente odiava os dias de chuva.

Eram nesses dias que ele não podia brincar de esconde-esconde porque poderia pegar uma gripe e que geralmente levava uma bronca de sua mãe por se aventurar e chegar em casa sujo de lama.

Mas, mesmo assim!

Qual era a graça dos dias de chuva?!

Ninguém gosta de chuva!

O único ponto positivo dos dias de chuva era que geralmente passavam filmes na escolinha onde estudava.

Hinata amava filmes.

E, no auge dos seus cinco anos, ele podia admitir sem medo que - diferente de Lev, o garoto gigante da sua sala - ele não tinha medo nenhum de filmes de terror!

Tá, não tanto.

Só um pouquinho! Afinal, pedir a sua mãe para olhar debaixo da cama era só por precaução. Uhum.

Estava chovendo fraco quando sinal bateu estridente, chamando a atenção de todos e assim Shouyou começou a arrumar suas coisas para ir embora.

— Precisa de ajuda, Hinata? - perguntou o professor de sua sala gentilmente enquanto se aproximava.

Hinata simplesmente amava Suga. Ele era a pessoa mais gentil de todas! Ele agradeceu aos céus - e aos palitos de sorvete da sorte— quando fora avisado que estudaria na classe do professor Sugawara.

Por que ele ficou sabendo que tinha um outro professor - qual era o nome dele mesmo? Daichi?— que com certeza não era dos mais calmos.

— Não. Já terminei de arrumar tudo sensei! - responde o pequeno, colocando a bolsa nas costas.

— Oi, oi! Não vá brincar na lama, viu? - comentou risonho ao ver o pequeno ruivo sair da sala de aula.

— Hai, Hai! Pode deixar, sensei!

E assim, Hinata saiu da escola - não antes de colocar sua capa de chuva amarela, como a de todos os outros - e andou até o parque perto da creche para esperar seus pais.

Então ele viu.

Não crente do que estava enxergando, esfregou os olhos.

Era um garotinho com uma capa azul. Azul! Hinata também queria uma capa azul! Que injusto.

Dentre todos os outros alunos com suas capas amarelas como o sol, o outro se destacava com sua capa azul.

Que injustiça!, Shouyou teve vontade de gritar.

Mas lembrou que o professor Daichi ainda podia estar por perto, e o pequeno Hinata queria estar vivo para o jantar - hoje era dia de curry com arroz, ué!

No meio da maré de alunos, ele correu - levando empurrões e tudo mais - até o garoto da capa azul, e puxou-a levemente. Ele virou-se e Hinata podia jurar ter descoberto o porque da capa azul.

Os olhos do garotinho - de cabelos pretos e bem mais alto que si - eram num azul tão profundo que ele jurou que não eram desse mundo.

O outro encarou o ruivo com uma expressão confusa, e até um pouco irritada.

— O que foi?

E Hinata estremeceu.

Nesse momento desejou que Lev ou Noya estivesse consigo. O garotinho era assustador.

— N-Nada! - gaguejou, sentindo a garganta secar.

O moreno o encarou irritado.

— Ugh. Você me para no meio do caminho para nada! Agora eu vou me atrasar.

E ele voltou a andar.

— E-Ei! Espera! Onde tá indo? - gritou, acompanhando o outro.

— Para o parque, meus pais vão me buscar lá. - respondeu o garoto da capa azul, meio contragosto.

— S-Serio?! Os meus também!

E então, Hinata não deixou-o em paz o resto do curto caminho.

Kageyama - o nome do garoto da capa azul, coisa que ele só descobriu quando eles se encontraram pela segunda vez - era da sala C enquanto Hinata era da A e tinha aulas com o professor Asahí.

E, o mais incrível, era que Kageyama parecia desaparecer todos os outros dias da semana e só dar sinal de vida quando chovia - o que fez ele imaginar que Kageyama só podia ser algum tipo de espírito da chuva ou algo do tipo.

E isso chegou a um ponto onde faltava Hinata fazer uma festa quando chovia e ele finalmente podia encontrar o garoto da capa azul.

O que, na verdade era uma hipótese quase falha já que choveu a semana inteira e Kageyama coincidentemente faltou quando não choveu.

Mas claro, a mente de Hinata gosta de associar tudo.

— Ei, Kageyama, onde você comprou essa capa azul? - Hinata indagou enquanto os dois caminhavam até o parque.

Estava garoando, mas ele queria evitar o máximo levar uma bronca de sua mãe por ter se molhado, então a capa cumpria bem seu papel.

— Numa loja no centro. Acho que o nome era Shimamura*.

— Sério?! Eu fui lá uma vez, mas só encontrei amarelas!

— Uhm. - o outro murmurou, sem dar muita atenção.

Shouyou pensou, indeciso sobre o que perguntar. Então, uma ideia iluminou sua cabeça como raios de Sol depois da tempestade.

— Ei, Kageyama, você gosta de vôlei? - perguntou animado o ruivo baixinho.

Então, o outro virou a face para si de repente, assustando o ruivo.

— Sim! Muito! Eu amo vôlei! - falou o moreno, com um sorriso que Shouyou jurou nunca ter visto no rosto do mais alto.

— Sério?!! Eu também! Você podia ir lá em casa no fim de semana para a gente jogar!

— Eu tenho que ver com a minha mãe... - Tobio comentou, e Hinata desanimou um pouco. Ele também tinha que ver com a sua. — Mas acho que ela vai deixar!

— WOAH! Que demais! Você conhece aquela jogada que eles fazem gwah! e depois blaw!?

— Sim, sim! E aquela que faz kyum! E depois zumg?!

— Conheço! Conheço! - Shouyou vibrou de animação.

E Hinata teve a certeza de que nunca ficou tão animado para um fim de semana como aquele.

E, por favor, que não chovesse!