Dangerous Woman escrita por Letícia Matias


Capítulo 46
46


Notas iniciais do capítulo

Oi gente :) Tudo bem com vocês?
Sei que hoje não é segunda, mas resolvi postar um capítulo surpresa.
Obrigada pela positividade de vocês sobre minha prova. Olha... Acho que fui péssima e tô bem chateada com isso porque estudei igual um camelo pra essa prova... Mas... O resultado é só dia 21/07 e o gabarito sai amanhã... Vamos ver né.
Ah, só para vocês saberem, faltam exatamente 10 capítulos pra acabar a Season 1!!
Espero que gostem desse capítulo ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/687405/chapter/46

A tarde passou lentamente para mim. Eu estive distraída a tarde inteira, pensando em Kyle e em seu sofrimento, em suas cicatrizes. Me perguntei o porquê de eu estar me torturando com um passado que não era meu. Eu simplesmente sempre fora emotiva demais e estava apegada demais a ele para fingir não me importar com algo assim, mesmo que tenha sido em seu passado. Aquilo me machucava, muito. Não gostava de pensar em Kyle sofrendo de alguma maneira.
No caminho de volta para casa, às nove e meia da noite, andei sem pressa pela avenida larga e movimentada. O céu estava tão preto e sem estrelas que parecia estar coberto com um manto. A única coisa que iluminava a cidade eram os postes de luz e os semáforos ora vermelhos, ora verdes.
Meus pés estavam doendo e eu gostaria muito de chegar logo em casa e me jogar na minha cama. Apenas deitar na minha cama e continuar me torturando com aquela história chocante.
Era isso que Matt queria dizer quando falou que eu não conhecia Kyle? O que mais eu não sabia?
Passei pelo portão preto do prédio e me dirigi até o elevador. Apertei o número 30 e esperei as portas se fecharem para aquela caixa de aço me levar até o 30° andar.
***
Quando a porta do elevador se abre, meu coração dispara ao ver cabelos vermelhos. Lá está ele, parado em frente a minha porta com seu casaco jeans aberto e uma regata cinza por baixo, calça jeans e all star. Sua mochila preta está no chão ao lado da porta. Ele olha para mim e sorri sem mostrar os dentes. Não consigo sorrir, por mais que eu queira e por mais estúpido que pareça, sinto meus olhos arderem. Lá vem a vontade de chorar!
Me aproximo da porta amarela do meu apartamento onde Kyle está encostado e ele abre um pouco os braços. Olha para o meu rosto e diz:
–Oi boneca.
–Oi. - digo visivelmente desanimada.
Passo meus braços por sua cintura e apoio meu rosto em seu peito. Respiro fundo de olhos fechados para não ter um ataque de choro. O cheiro dele é divino, como sempre.
–Está tudo bem? - ouço ele perguntar.
Não posso abrir os olhos. Eu os sinto marejados.
Concordo com a cabeça. Não o solto e não olho para seu rosto. Respiro fundo.
Ficamos em silêncio por um momento, parados em frente a minha porta, até que ouvimos o elevador se abrir e a vizinha da frente sair de lá nos olhando. Ela tem o cabelo preto preso num coque e está usando um terninho e sapato de salto. Está carregando sacolas nas duas mãos.
Tiro meus braços de Kyle e pego a chave na minha bolsa para destrancar a porta. Não olho para seu rosto, mas posso sentir seus olhos me examinando.
***
Na cozinha, abro a geladeira e dou uma olhada no que ela está armazenando.
–Está com fome? - pergunto.
–Não. - ouço Kyle dizer atrás de mim.
Me sobressalto por isso e me endireito.
Abro o freezer e tiro de lá um pote de sorvete de morango Daas Hägens. Quando faço menção para andar, Kyle bloqueia meu caminho.
–O que foi? - pergunto.
Sou obrigada a olhar para ele. Seus olhos verdes com as pupilas sempre dilatadas por causa da luz me fitam com intensidade. Ele é tão lindo! Nem posso acreditar que ele tentou tirar a própria vida. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, ele vê isso também e franze o cenho.
–Alice...
–Não é nada. - digo balançando a cabeça e dou um passo para o lado para sair daquela cozinha sufocante.
Graças a Deus ele não me impede. Vou até o sofá e me sento com o pote de sorvete no colo. Tiro meus sapatos  e quase gemo de alívio. Meu Deus! Coloco meus pés para cima do sofá e abro o pote de sorvete enquanto Kyle se senta do meu lado, suspirando alto.
Pego a colherzinha e começo a comer a massa rosa de morango.
Sinto os olhos dele sobre mim. Vejo pelo canto do olho que ele está com o braço no encosto do sofá e me olhando fixamente. Aquilo está me deixando nervosa.
–O que te contaram?
Franzo o cenho, mas não olho para ele.
–Ou melhor, o que a fofoqueira da Chloé te contou?
Dessa vez olho para ele.
–Ela me contou que vocês tinham ido no Starbucks e que ela tinha contado uma besteira pra você sem querer.
Reviro os olhos.
–Kyle, está tudo bem. Eu só... - meus olhos vão para seu pulso coberto pela jaqueta jeans. - fiquei surpresa.
Ficamos em silêncio nos olhando por um momento. Ele tira o casaco jeans. Vejo que o que ele está usando não é uma regata, a blusa há mangas, apesar de serem curtas.
–Você não pode sofrer pelas pessoas, sabia? - ele diz como um comentário. Olha para mim e continua. - Foi com 13 anos. - ele estende o braço para mim mas eu não os olhos.
–Kyle, você não precisa...
–Preciso sim. - ele me interrompe. - Prefiro contar do que outras pessoas contarem. - ele diz irritado.
Encaro a marca em seus pulsos. Uma marca fina e mais clara que sua pele. Coloco o pote de sorvete de lado e apoio suas mãos em minhas coxas. Passo o dedo lenta e suavemente por suas cicatrizes. São quatro em cada pulso, muito rentes uma as outras. Não sei o que dizer.
–Eu fiquei muito deprimido com a morte da minha mãe. Eu realmente desenvolvi depressão e foi uma época muito difícil. Meu pai estava sempre desligado e bebendo excessivamente. Eu não tinha mais sua atenção e isso começou a me afetar também. Minha mãe tinha morrido há pouco tempo e eu não tinha o apoio dele, entende?
Eu não entendia, não sabia o que era passar por aquilo, mas podia imaginar a complexidade daquela situação.
–Eu sinto muito, sabia? - digo olhando para seu rosto. Balanço a cabeça. -Você não merecia passar por nada disso, ninguém merece.
Ele morde o lábio inferior e concorda com a cabeça.
–Você pode me prometer uma coisa? - ele pergunta.
Franzo o cenho levemente.
– O que?
–Promete parar de sofrer pelos outros? Isso fez parte da minha vida e eu superei. Não quero que você sofra por isso ou fique pensando nisso, é horrível pra mim.
Levo uma colherada de sorvete até a boca e me deito no sofá. Jogo minhas pernas em cima das dele e suspiro.
–Tudo bem, me desculpa. Você tem razão. Olha, não fui eu que perguntei nada pra Chloé, ela...
–Eu sei. Quando eu disse que a Chloé era uma fofoqueira, eu falei sério.
Dou uma risadinha.
–Como foi a faculdade hoje? - pergunto ansiosa para mudar de assunto.
–Ótimo! Estamos trabalhando em um projeto que dará base ao trabalho final do curso. Tenho que desenhar alguém.
–Que legal.
–Alguem nu.
Arqueio as sobrancelhas e sinto meu rosto corar.
–Ah.
Kyle fita meu rosto com intensidade.
–E... Quem você vai desenhar?
Ele morde o lábio inferior e diz:
–Eu estava pensando em desenhar o Matt, mas não quero ver ele pelado. Já basta as vezes que eu vi ele bêbado e pelado.
Que horror. - penso.
–Então estava pensando em desenhar uma mulher.
–Ah. - levo outra colherada de sorvete até a boca.
Kyle sorri.
–Tudo bem pra você?
Dou de ombros.
–Claro, por que não? - olho para o teto.
–Não vai te incomodar eu desenhar uma mulher nua? Digo, leva um pouco de tempo, sabe?
–Você que sabe. - dou de ombros.
Ele assente.
–Eu estava pensando em talvez, se você quisesse, desenhar você.
Olho para seu rosto e sinto o meu pegar fogo.
–O quê? - pergunto exclamando.
Ele dá de ombros.
–Se você não quiser, tudo bem. Eu vejo se arrumo outra pessoa.
Estou num dilema: deixar que ele me desenhe, pelada, ou, deixar que ele veja outra mulher pelada e a desenhe? -Eu...
–Não vou mostrar para todo mundo. É só para a professora. É um trabalho individual e bem trabalhoso, acredite. Não vamos sair expondo nosso trabalho, afinal,são pessoas nuas.
–Ah. - é tudo o que digo. - Tá.
–Então, você vai deixar eu te desenhar?
–Hoje? - pergunto franzindo o cenho.
–Agora. - ele diz. - Não se preocupa, vou ser profissional.
Arqueio as sobrancelhas e dou risada.
–Se você está dizendo. - dou de ombros.
***
Estou no banheiro e suando apesar de estar nua por baixo do roupão preto de pano fino. Não posso acreditar que vou fazer isso. Pensar em Kyle sentado em uma cadeira no quarto esperando por mim com uma pasta, lápis e uma folha A4 em branco faz com que eu tenha um colapso nervoso.
Olho para meu reflexo no espelho. Meus cabelos estão soltos em ondas caindo por minhas costas. Não me importei em tirar a maquiagem dos olhos- o rímel e o delineado - acho que Kyle não se importaria com isso. Encaro meu rosto tenso no espelho. Minhas sobrancelhas estão se unindo, meu coração está martelando tão forte que parece que vou infartar.
Penso que é melhor sair logo do banheiro, afinal, vai ser muito pior se Kyle vier me buscar e achar que estou demorando porque estou nervosa. Tenho que ficar tranquila e confiante, como se não fosse nada demais.
Saio do banheiro e deixo a porta aberta. A porta do meu quarto está entreaberta e a luz forte e amarela do abajur está acesa. Respiro fundo e entro no quarto abrindo a porta.
Kyle olha para mim e mede meu corpo -que ainda está coberto com o roupão. Mas sei que ele pode ver por baixo do tecido fino e translúcido.
Sinto meu rosto queimar quando vejo que Kyle está ficando vermelho. Eu não esperava isso. Não é como se ele nunca tivesse me visto nua. Mas a situação é diferente.
Não aja como uma menininha boba! Seja confiante. - penso.
–Já apontou o lápis? - pergunto apontando para o lápis em sua mão.
Kyle olha pro meu rosto e depois para o lápis cinza em sua mão. Há uma folha grande de espessura grossa em cima de uma pasta preta em seu colo.
–Ah... Já. - ele diz.
Fecho a porta do quarto e vou até a janela. Fecho a cortina enquanto tento não deixar minhas mãos trêmulas visíveis.
–Então, onde você quer que eu fique? - pergunto me virando para ele.
Está claro que aquela situação é bem... Desconfortável para nós dois. Kyle está me olhando pasmo demais e eu estou desconfortável demais. Mas decido não deixar isso transparecer.
–Você... Pode deitar na cama, de barriga pra baixo e... Apoiar os braços sobre o travesseiro.
–Como se eu estivesse tomando sol na praia? - pergunto com divertimento.
Ele dá de ombros e diz:
–É, isso.
Então tá. - penso e deixo o roupão preto deslizar pelos meus braços até cair no chão ao redor dos meus pés.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, vocês gostaram?? Espero que sim! E, espero vocês amanhã.
Que vocês tenham um domingo maravilhoso ;)
Amo vocês ♡
Lê.