Paciente 99 escrita por Elliot White


Capítulo 6
Sonambulismo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorou, mas pelo menos agora está postado. haha boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/687404/chapter/6

Tag se pôs a andar pelo hospital sem parar, parecia que ele sabia onde estava indo, mesmo estando dormindo. Os passos rápidos e coordenados passavam por vários extensos corredores do prédio, que durante o dia ficavam brancos e claros, agora estavam negros e escuros. Eu só enxergava o seu roupão verde seguindo em frente e eu desejava que não tropeçasse em nada que eu não visse.

Tudo isso me lembrava Atividade Paranormal. Os lugares em que o moreno me levou agora eu nunca estive antes nesta clínica. Diversas portas estavam abertas e o interior vazio, por ser de noite se tornavam assustadoras.

Ele finalmente parou, ao entrar em uma sala, fria e solitária, estava bem iluminada pela luz da lua, e na janela se via a água da chuva correndo, em uma das paredes uma grande cruz estava pendurada.

À minha frente, o corpo do tailandês, estava parado, mexendo em uma gaveta de uma mesa em sua frente, seu vestido verde tremulava de leve com o vento.

Tag? – O chamei, sem obter resposta. – Tag! – Repeti.

O mesmo se virou, seus olhos puxados de oriental estavam fechados, seu rosto parecia sério para quem estava dormindo; sua pele bronzeada se destacava na escuridão. Ele estendeu os braços para mim, suas mãos estavam juntas e na palma, algo que eu não esperava, mas que não me surpreendia nem um pouco.

Tag sacudiu seu membro como que pedindo que eu a pegasse – uma joia grande e brilhante, sua cor era marrom escura, apesar da dificuldade em ver, não tendo nenhuma luz além da lua, eu podia identificar a cor, e cada fragmento dela reluzia muito; é linda. E o moreno a estava me oferecendo.

A apanhei da mão dele, e o mesmo abaixou os braços. Coloquei a pedra no bolso. Pensei se deveria tentar acordá-lo, porém não deveria ser certo afinal de contas. Ele tomou um movimento brusco, de súbito, ao deixar a sala e entrar em outra; precisei correr para alcança-lo. O outro cômodo é muito parecido, porém com um quadro negro na parede central.

Aparentava ser uma sala infantil, havia uma mesinha de artes e alguns desenhos espalhados. O oriental se aproximou ao quadro, de costas para mim, e com um giz em mãos começou a escrever. Continuei a chamar o seu nome, porém ele não parou. Isso estava começando a me assustar, como ele faria tudo isso enquanto dormia?

Depois de alguns segundos e de perturbantes ruídos de giz no silêncio da noite onde apenas se ouvia o barulho da chuva, o que ele escreveu foi:

“ O próximo estará no Raio X.”

A frase logo me conectou à pedra, e aos lugares onde encontrei cada uma. Até agora foram quatro, uma no terapeuta, outra no sanatório, mais a do auditório e por fim esta. Como ele poderia saber? Se quem me orientava era a minha outra eu, por que eu obtive esta joia com o Tag? Qual era a ligação com ele? Isso tudo está ficando cada vez mais estranho.

Tag se virou, ficando de frente para mim. Os olhos ainda estavam fechados, mas eu desejava muito que ele acordasse. Não aconteceu. O tailandês apenas saiu correndo, rápido demais e fazendo barulho com seus passos, e eu não quis segui-lo desta vez.

Chequei o meu bolso e a pedra ainda estava lá, brilhante. O que eu não esperava era outra luz no cômodo, parecia uma lanterna e estava se movendo pelo corredor, alguém a estava comandando. Droga, devia ser algum guarda.

Não pude pensar em algo a tempo. Uma mão escura segurou a porta e o homem, portador da lanterna, surgiu, alto e imponente, vestido de branco, à minha frente, e ao seu lado, também vestida em branco, a silhueta conhecida da minha doutora, Margarete.

— O que pensa que está fazendo? Te procurei por toda parte! – Ela disse me olhando por debaixo das lentes dos óculos.

*

— Sabe que horas são isso? – Exclamou fechando a porta do quarto 15, o meu quarto. Estava furiosa, com razão, mas ela estava me tratando como uma criança, o que eu não era e muito menos sua filha. – Não preciso perguntar com quem você estava, não é? Aquele garoto, que também sumiu misteriosamente nesta noite. Antes eu apoiava vocês dois se aproximarem mais, só que isso foi longe demais! Você é minha responsabilidade, e mesmo sendo quase maior de idade, não posso permitir isso. Aquele paciente é provavelmente louco. Foi o que o médico dele disse, e eu não o conheço muito bem. Sua mãe não vai gostar nada de saber disso.

— Por favor, ele não tem nada a ver com isso! E ele não é louco, o médico dele que pensa assim! – Intervi, tentando acalmar um pouco as coisas, porém só devo ter piorado ainda mais. Ela estava tensa, e enquanto eu estava deitada na minha cama, ela remexia gavetas até encontrar uma seringa e a encher de um líquido que eu temia saber o que era. Lá fora, o temporal continuava, os clarões dos relâmpagos não cessavam e as trovoadas tremiam o prédio, assim como uma dor de cabeça me tomava pouco a pouco.

— O que ele pensa não importa mais – a mesma se aproximou de mim, com a agulha em mãos, e segurou no meu braço, com sua mão fria pronta para perfura-lo.

— O que é isso?

— Isso é para te manter sobre controle. E em segurança. – Sem delongas, minha pele foi perfurada e a dor, somada com a dor de cabeça, me enlouquecia, enquanto um vento ensurdecedor e congelante tomava o ambiente.

— Você pode fazer isso? – Perguntei, em voz alta. Não obtive resposta, e logo o remédio fez efeito e eu estava dormindo.

*

Tudo que eu vi foi um parque repleto de crianças, haviam escorregadores, uma piscina de areia, balanços, gangorras, e em um dos bancos, um casal jovem e bonito. A mulher era loira, as longas madeixas lisas tinham mexas pintadas de azul nas pontas, exatamente como minha mãe costumava usar há um tempo atrás. Ela sorria. O homem era alto e de pele escura, o corte de cabelo curto e igualmente preto como a noite, pareciam felizes juntos e lembravam muito os meus pais, porém na juventude.

Logo uma menina se aproximou dos dois, baixa e de roupas coloridas, o cabelo cacheado preso. Ela entregou alguma coisa ao pai. Eu a via de costas, mas pude notar que sua mão era negra como a minha. O rosto do casal ficou sério.

— Onde conseguiu isso, filha? – O pai falou, sua voz era grave.

— Eu achei. – A criança respondeu.

— Você prometeu que isso iria parar, Victory. – A mãe afirmou, séria. A pequena segurava uma pedra, ou melhor, uma joia.

A garota era eu. E de alguma forma eu lembrava deste dia, só havia esquecido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se ler, deixe um comentário, isso é muito importante. Abraços e continuem acompanhando :3