Paciente 99 escrita por Elliot White


Capítulo 4
B R U X A


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco, eu sei, estava com um leve bloqueio, mas agora saiu! Boa leitura.



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Como ele poderia saber? Era só um menino, com problemas mentais aparentemente e um desconhecido. Por que ele escrevera aquilo? Tudo bem, eu não sou inteiramente bruxa. Minha mãe é, por isso eu sou metade bruxa. O meu pai, não. Mas ela sabe fazer feitiços, encantamentos, poções e eu não. Eu nunca me dei bem com este tipo de coisa. Mesmo assim, já fui chamada por esse nome muitas vezes pela minha família.

            E agora por esta criança que eu nem conhecia.

            Fiquei a observar aquelas letras em giz de cera tentando entender o propósito.

            - Victory? O que faz aqui? – Tag me interrompeu, então cobri a palavra com os desenhos do garoto, o impedindo de ver.

            - Estou ajudando o Denis, ele é um menino com problemas mentais. – Respondi, tentando ser natural.

            - Ele é invisível? Não estou o vendo. – O mesmo perguntou, parado em frente a porta.

            - Engraçadinho. Ele... foi dar uma volta.

            - Ah, certo. Hã... você poderia ir ao auditório depois que terminar aqui? Ele fica ao lado do refeitório, o lugar costumava ser um teatro. Eu gostaria de falar sobre uma coisa com você – ele explicou, parecendo aflito em escolher as palavras, mas sincero.

            - Hm, tudo bem, eu estou livre o dia todo. – Respondi, e o moreno sorriu se despedindo.

            Sobre o que ele quer falar afinal?

            Bem, eu descubro isso depois. “Bruxa” ainda estava escrito na mesinha de artes, então se aquele moleque queria brincar, era isso que ele iria ter. Passei cola em cinco desenhos dele, desejando que fossem os seus preferidos, e colei em cima de cada letra as escondendo. Quando ele descolasse, já não seria mais legível. E também perderia cinco desenhos, ele aprenderia a lição.

            Acabei chutando a mesinha sem querer, e algo caiu no chão. Ah, não, de novo isso? Era outra pedra brilhante e grande, e não parecia nem um pouco que pertencia à criança. O objeto havia rolado até debaixo da cama do infante, e precisei me abaixar para pegá-lo. A superfície era esférica e o outro lado, pontudo, parecia ser do mesmo tamanho que a outra joia, mas era roxa, quase rosa, ao contrário do azul forte da pedra anterior. Aparentava ser igualmente preciosa e valiosa.

            Estava sozinha no cômodo, então a pus no bolso, e isto já estava se tornando um hábito.

            *

            Quando eu fui procurar o tal auditório, o sol já estava se pondo, e as paredes brancas da clínica se tingiam da luz laranja. Realmente devia ter sido um teatro, era um salão amplo com muitos assentos e um belo palco no centro.

            Sentei em uma das poltronas, esperando por Tag, que já estava demorando. O lugar estava bem iluminado com lâmpadas que realçavam a cor mais presente lá, o branco, como em todo o resto do hospital. De repente algumas luzes piscaram, o que eu achei um pouco estranho, e ficou ainda mais quando um vento frio tomou o ambiente, bem atípico sendo que é verão. A brisa balançou as cortinas do palco, fazendo um barulho bizarro.

            Por entre o véu do palco surgiu um vulto, uma silhueta que eu já conhecia: a minha sósia. Seu rosto estava péssimo, além de estar forçando uma cara feia, parecia abatida e os cabelos cacheados e negros estavam despenteados, bagunçados, ela parecia com a maioria dos pacientes daqui – como se tivesse passado por um mau tratamento.

            - Vejo que conseguiu o objeto que lhe pedi. Ou melhor, dois em um só dia. Parabéns. – A outra eu falou, forçando um sorriso torto.

            - Você me fez roubá-las? Estas joias pertenciam a outra pessoa, certo? – Questionei, me remexendo no assento.

            - Não, eles estavam lá para você achar, Victory. Guarde-as bem. E por ter se saído bem até aqui, receberá mais uma como recompensa. Em breve precisará caçar mais objetos. – Explicou, me deixando mais confusa, e sua imagem estava tremulando, as luzes voltaram a piscar. Acho que ela estava indo embora.

            - Espera! Qual é o objetivo disso?! – Exclamei, me levantando, porém, a minha gêmea já tinha ido embora.

            Uma mão fria tocou o meu ombro.

            - Victory? – Chamou Tag.

            - Tag! – Respondi, de súbito, um pouco alterada e com dificuldade em me concentrar – você demorou.

            - Desculpa. Com quem estava falando? – Perguntou, me fitando com seus olhos escuros. Me sentei de novo, colocando uma mexa atrás da orelha.

            - Ninguém. – Respondi. O oriental se sentou também, estava vestindo o mesmo roupão verde que eu e todo o resto dos pacientes daqui.

            - Vic, você estava gritando. – Afirmou. Quem deixou ele me apelidar?

            - Eu estava falando sozinha, eu faço isso as vezes. – Assegurei, não me importava de parecer louca para Tag, a maioria aqui era. Além disso, não somos muito mais que conhecidos.

            - Está suando.

            Eu estava mesmo, aquela aparição mexeu comigo, e como não mexeria? Eu estava assustada, antes era só um sonho, no entanto eu estava acordada e a vi mesmo assim. Devo estar enlouquecendo.

            - Pode falar logo o que queria por favor? – Exigi.

            - Tudo bem.... Eu sei que pode parecer esquisito, mas queria que você me acompanhasse na minha consulta amanhã ao urologista. – Ele deu uma pausa e eu o encarei – Não que entre comigo, só que fique vigiando de longe.

            - Está brincando? Eu vou à ginecologista toda hora.

            - É, mas você sabe que para nós homens não é tão fácil assim, é a minha primeira vez. Sei que te conheci ontem, e...

            -Está bem, eu vou. – Anunciei. Estava aceitando muitos favores, entretanto precisava ocupar minha mente neste lugar bizarro.

            - Sério? – Um sorriso se abriu no rosto do tailandês.

            - Claro, eu preciso de algo para me entreter, e não ficar louca neste hospício! – Respondi, recebendo um beijo de Tag de surpresa na bochecha.

            - Muito obrigado! Eu não sei como te agradecer! – O moreno se empolgou, me deixando um pouco sem jeito, se minha pele não fosse tão escura estaria corada. Isso devia ser um cumprimento comum na sua terra, mas não era comum para mim.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima, e comentem!