Paciente 99 escrita por Elliot White


Capítulo 13
Debutante


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Eu deixei o consultório da ginecologista e consultei o mapa. Todos os pontos marcados em vermelho eu já havia ido, não tinha mais lugar algum para ir. E já era tarde da noite. Enquanto percorria um corredor escuro, segurando a lanterna em uma mão e o baú cheio de pedras na outra, eu tinha cada vez mais a sensação de estar sendo espionada. Ao olhar para trás, nada via. Devia ser paranoia.

Continuei andando até a lanterna falhar, novamente, e eu precisar agitá-la e dar pancadas na mesma, sem sucesso. No momento em que fazia isso, uma brisa invadia o local; dei uma olhada, e mesmo não tendo tanta iluminação, pude ver um vulto distante dando passos. Logo o sujeito se afastou e se retirou.

— Espera, volta aqui! – Exclamei. Sei que seria loucura chamar a atenção de quem quer que fosse, mas o chamei e em seguida parti em direção ao estranho.

O desconhecido ainda fugiu por um bom espaço pelos corredores do hospital. Enquanto o seguia, percebia o que vestia: um roupão verde padrão, o mesmo que eu. E estava descalço, o corpo era esguio e magro. Quando parou e se virou, notei que não se tratava de ele, e sim uma mulher. Uma mulher que começou a rir, sozinha e desesperadamente, como se fosse louca, uma risada aguda e alta.

Aparentemente, era a minha ‘outra eu’. Os cabelos cacheados e escuros, a pele, na mesma tonalidade. Mesmo estando a uma certa distância e sem a luz devida eu a reconheceria.

— O que você quer? – Perguntei, sem ter resposta. Apontei a lanterna em sua direção; antes não estava funcionando, porém, ao apertar o botão novamente a luz se acendeu em seu rosto, e um sorriso insano se revelou.

A mesma tornou a caminhar, mas eu não a deixaria escapar. Fui atrás dela, no entanto precisei correr para alcança-la.

— Pare agora mesmo! – Gritei, e ela voltou a gargalhar. Eu estava ficando louca. A clone não iria parar de correr nunca, e eu estava quase jogando uma das pedras nela.

Foi aí que me surgiu uma ideia maluca. Se ela sou eu, se eu me machucar ela também deverá sentir dor. E é esse o objetivo, fazê-la sofrer. Mexi no pequeno baú e peguei a joia que eu reconhecera como ametista, a superfície era esférica e o outro lado, pontudo, a coloração era roxa, quase rosa. Talvez fosse a única capaz de me ferir. Foi então que eu atingi a minha pele com a parte pontiaguda, e me furei. Enquanto via o vulto da sósia sumir na minha visão, e o sangue escorrer pelo meu braço, ela finalmente parou. E pôs a mão no ombro direito, o mesmo lugar que eu dei o golpe. A dor não me incomodava, eu só queria vê-la sendo torturada.

Os nossos olhares se encontraram, e eu estava preparada para o próximo movimento, com medo, mas preparada. Espero que ela não desapareça apenas se eu morrer, porque não há espaço para duas de mim aqui. Ergui o braço, com a gema em mãos, soltando um urro e a fulminando com o olhar, e logo desci o objeto em direção a qualquer órgão vital meu, ainda sendo observada pela mesma, e antes que pudesse me golpear a ametista tremeu na minha mão, fazendo com que eu precisasse segurá-la mais firme e então ela se expandiu, sozinha e sem explicação, alongando sua forma até ficar do tamanho de uma vara, o que pareceu bem ameaçador para a minha adversária.

Ela não ficou nada contente com isso. O seu sorriso malicioso havia sumido. A minha coragem também se foi, eu apenas fiquei imóvel e sem reação, confusa. Eu tinha feito aquilo? Assim que fiz a pergunta mentalmente, a ‘outra eu’ passou a gritar, não rindo, mas sim lamentando, como se estivesse sentindo muita dor. Enfim sua imagem se dissipou, como se nunca estivesse aqui. E a única versão de mim no local que sobrou fui eu.

Atrás dela, havia uma porta. Assim que ela sumiu, a porta rangeu, lentamente se abrindo aparentemente sozinha. Revelou-se um escuro por trás do objeto também. Quando olhei novamente para a joia, ela havia voltado ao seu tamanho normal, então a guardei de novo no baú. Sei que seria loucura, mas me dirigi até lá. Com o baú em uma mão, e o mapa em outra, junto com a lanterna, empurrei a porta e a surpresa foi ver o que tinha do lado: um amplo salão, parecia maior que o auditório, e tudo lá era sofisticado e glamoroso; um lustre se localizava no centro do teto, e havia um segundo piso, mantido por uma extensa escada tapetada.

Eu nunca vi napa parecido na clínica, nem ouvido falar de algo assim. A luz do lustre estava ligada, o que deixava o cômodo iluminado, sem aparentar ser de noite. Ao olhar para as paredes, notei pequenos candelabros acesos. Haviam quadros de pinturas nas mesmas. A decoração era detalhada. Também estavam dispostas janelas grandes, ordenadas de forma que não ocupassem o mesmo espaço que as molduras. Eu não conseguia ver o que tinha do outro lado, porém enxergava o meu reflexo, e eu não conseguia crer no que estava vendo.

Meu rosto estava maquiado, e o cabelo, arrumado em cachos ondulados e reluzentes, ou melhor brilhantes, como resultado de salão. O ferimento no ombro sumira, assim como o mapa e a lanterna, minha mão esquerda estava livre, apenas a direita segurava o pequeno baú ainda, sujo de sangue seco e fedendo. Um vestido que eu nunca vira e imaginara cobria o meu corpo; provavelmente era o mais bonito que eu já tinha posto os olhos: o corpete delicado, delineava a minha cintura, colorido de laranja, mas sem me roubar o folego. As alças que subiam pelos meus ombros, pareciam ser de seda pura; eu me assemelhava a uma abóbora ambulante, ou a uma tangerina crescida, mas de um jeito elegante; a saia rodada era enorme e formava um volume até o chão. Ao levantar de leve, percebi que meus calçados ainda eram as pantufas de sempre. Era bom não ter que usar aquele roupão padrão, no entanto me intrigava como o vestido foi parar em mim. De alguma forma, eu queria continuar vestindo isso.

Ouvi passos.

Ao olhar para cima, notei um vulto se aproximando, ele surgia do segundo andar, de um local que minha visão não alcançava, mas se revelou ser o Tag, então ele finalmente apareceu, e aqui.

Sua aparência estava melhor do que nunca. O cabelo ainda estava curto, embora não parecesse abatido e bagunçado como de costume. A pele bronzeada se destacava pela roupa que estava usando, um traje a rigor em tom muito escuro, lembrava um terno, porém muito mais sofisticado, tinha rendas detalhadas e sapatos caprichados. Estava um perfeito príncipe, um boneco.

— Olá, Vic. – ele me chamou, me fitando do lado de cima das escadas com seu par de olhos negros orientais.

— O que é isso aqui? – Respondi.

— Isso é a sua festa de debutante, Victory. E eu sou o seu príncipe. Não era o que você sempre quis, já que nunca teve uma festa assim?

O quê? Que explicação mais tosca. E como ele sabia disso?!


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Notas finais do capítulo

A pedido de uma leitora, a foto da Victory:
http://i1206.photobucket.com/albums/bb441/Elriuukk-kun/Misticas/WnsEyiwM6JY_zpsjdnif4b8.jpg
E das pedras:
Topázio:
http://www.patrickvoillot.com/images/photos/grandes/topaze-bleue-irradiee-taillee-bresil.jpg
Ametista:
http://www.cristaisaquarius.com.br/media/product/1b0/cristal-vogel-de-ametista-21f.jpg
Granada:
http://d3cznlo0697e08.cloudfront.net/products/26602-218123f5e31a48ec23a3afe18b48c75b.jpg
Rubi:
https://galerie.alittlemercerie.com/galerie/sell/298469/perles-en-cristal-tres-gros-chaton-taille-brillant-r-2178223-rubyttc-57169-16bcc_big.jpg
Urânio:
http://1.bp.blogspot.com/-ob61__U4K2s/VC_ciQDtjHI/AAAAAAAAAlY/szT4d0r24EI/s1600/Carnotite.jpg
Safira:
http://7mais.com.br/wp-content/uploads/2015/09/4.jpg