Nada.

Essa era resposta.

Não tem como você ser menos você.

A destruição faz parte de ti.

Esse seu apego pelo ruim, seus cigarros de fim de tarde, seus sorrisos esnobes, suas palavras doces e afiadas, seus engradados à meia noite, seu caos, sua confusão.

Você parece o oceano.

Quando quer, pode parecer calmo, mas sempre têm suas tempestades, seus ataques de fúrias.

É tão constante, ao mesmo tempo em que é tão instante. Mesmo com toda essa pose, você não me engana. Já sei muito bem de onde vêm essas lembranças. Esse charme, esse olhar carinhoso.

Me perdi em todos os seus prótons e elétrons, cobertos pela embriaguez de ter que continuar com essa vida. Aguentei tanto suas ondas que nem sei mais como elas não me levaram.

Mas ao mesmo tempo, sinto que encontrei seus tesouros. Vi sua diversidade, descobri seus segredos, pude ouvir a calma melodia que recobria seu ser.

Essa tempestade toda não era nada, meu bem. Eu te desvendei. Olhei dentre seus desastres, me afoguei em suas mágoas, nadei sobre suas angústias.

Reconfortei-te em seus abismos, aventurei-me em seus corais, vi suas espécies mais estranhas. Transitei entre sua pele rasa e sua mente profunda.

Devaneei com suas mitologias, seus cânticos irreais. Imaginei suas cidades submersas, conquistei seu lado ‘’atlântico’’ e ‘’pacífico’’.

Emergi em meio a suas pedras e pedregulhos, e, quando pensei que finalmente tinha te dominado, você vem e me mostra o quanto é livre. O quanto não pode ser desvendado.

Em sua ira, pude ver o quanto me enganei. Em seus gritos descobri que nunca soube nada concreto sobre você. Esses 4% que todos sabiam não eram suficiente para mim. Mesmo assim, eu não havia descoberto mais que isso.

Eu descobri o que você queria que eu descobrisse. E agora não tinha mais nada.

Em meio a sua maré alta, você me afogou.

No final das contas, eu estava certo. Você era mesmo como um oceano, mesmo inofensivo, é destrutivo.