— Já chega, Dapne! - Sienna arrombou a porta do meu escritório, assustando-me. - Essa é a última vez que aviso para você chamar um homem de verdade para arrumar a porcaria do chuveiro! Eu não aguento mais tomar banho gelado!

Contive o riso e tirei meus olhos dos documentos sobre o teclado do notebook os direcionando á minha amiga.

— Você não vai chamar ninguém, eu darei um jeito. Prometo ver se está tudo certinho no disjuntor e, quem sabe vemos se é algo menos grave que um problema com a afiação.

— Nem me venha com suas ideias! Esse será minha última ducha fria - ajeitou a toalha rosa-choque no corpo -, ou então esqueça seus relaxamentos de banheira.

Mordi o lábio inferior e arrumei as planilhas sobre a mesa de mogno.

— Sabe que faço qualquer coisa por você, menos arrumar o chuveiro quando estou trabalhando.

— Providencie seu jantar então! - bufou e saiu, batendo a porta. - Ah! - exclamou abrindo uma fresta. - Comprei sorvete. E não vou te dar.

Organizei as pastas coloridas gravadas com o nome da empresa numa caligrafia delicada. Fechei a porta do escritório e fui até a cozinha onde Sienna tentava quebrar um ovo.

— Ai que merda! - ralhou. - Essa porcaria não que... - bateu o ovo com um pouco mais de força na panela, fazendo-o se espalhar pelo chão e em sua roupa. - Não!!!

Gargalhei até sentir minhas bochechas ficarem vermelhas e finalmente caminhei até a geladeira tirando de lá o sorvete de morango, sob o olhar atento de Sienn.

— Ei! Tire as patas da minha sobremesa!

Sienna eu não éramos a mesmas quando longe  e na faculdade percebi que uma amizade duradoura e seria formada. Ela sabia que logo mais eu arrumaria pela trigésima vez seu chuveiro, principalmente se havia um pote de sorvete me esperando no congelador. Ele era gelado, servia como calmante e apagador de memórias ruins. Eu descobrira o uso do melhor remédio para o coração - vulgo sorvete - quando levei meu primeiro fora aos quatorze anos, depois aos quinze e assim sucessivamente. Até finalmente Isaac entrar em minha vida e, terminar comigo também, a única diferença é que continuávamos amigos.

— Estava pensando em pedir pizza, mas pensando bem... - olhou para o pote em minhas mãos.

— Você pega as taças.

Arrumei a sala de estar para que ficássemos mais confortáveis e tirei os objetos decorativos da mesa de centro, peguei cobertores no quarto e inundei os sofás de estofamento amarelo com travesseiros e almofadas. Quando Sienna sentou-se com as taças e outra porção de doces tive a certeza de que enfim a "Noite das Garotas" começara.