Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 16
If we could only have this life for one more day


Notas iniciais do capítulo

Músicas:
Moments - One Direction
1000 Hands - Fifth Harmony



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Henrique sentia sua cabeça girar. Desde a morte de Leo ele se sentiu em uma montanha russa que só ia para baixo, mas ele vinha questionando tudo isso ultimamente e se a vida fosse algum brinquedo num parque de diversão – igual ele estava com Augus naquele momento – de fato, a vida seria uma roda gigante porque é o que ela é: a vida é uma roda gigante de primeiras vezes. Em toda a parada que ela dava para que você possa admirar o horizonte, algo extraordinário – ruim ou bom – pode acontecer nesse milésimo de segundo.

O susto que Henrique e Izabelly levaram quando descobriram um casal qualquer tentando adotar Augusto veio antes do medo aterrorizador. Henrique tinha, desesperado, tomado cinco minutos quando percebeu que havia demorado para pagar a conta de luz da casa.

Eles tinham agora, uma bela multa de alguns dólares e com problemas financeiros porque Henrique não trabalhava mais e o que Izabelly ganhava com os preparativos do festival não era o suficiente. Eles praticamente viviam de doação do governo e com o dinheiro que receberiam dos ingressos porque, lógico, aquele trabalho todo não seria de graça.

— Papai! – Augusto guinchou ao ver uma lojinha do parque, Izabelly tinha ido ao banheiro, deixando os dois juntos. – Eu quero! – Ele se referia a fantasia de Panda. Era uma graça. E Henrique até entrou na loja com o menino em seu ombro, que estava implorando para comprar aquela peça. Mas ao ver o preço, Henrique recuou. $150. Ele não poderia gastar oitenta dólares naquilo! Ele mal tinha $150 para começar a pensar em pagar a multa do atraso do pagamento da conta.

— Augus – O menino mordeu os lábios. Ele sentia que tinha algo errado. Seus pais estavam o levando para aquele parque não só porque ele pediu, mas para se distraírem também. Augusto era um menino novo, mas esperto para a sua idade. Ele observava as coisas. Ele sentia—as. Ele fora abandonado tantas vezes que mal podia acreditar que agora estava se encaixando em algum lar.

— Na próxima vez você compra pai? – O homem se surpreendeu com a pergunta do menino, que se abaixou para ficar na altura do mesmo. Ele mantinha um bico nos lábios, apenas porque era uma criança e crianças ficavam tristes quando não ganhavam o brinquedo que queriam.

A verdade era que Henrique se surpreendeu por Augusto não ter feito uma birra que, provavelmente, Leo faria. Ao se abaixar, ele balançou a cabeça. Não queria pensar em Leo. Ele tinha medo de deixar-se afogar pelas memórias e ainda não estar pronto o suficiente para dizer que superou, que as memórias não doem mais e nem trazem saudade, apenas sorrisos por saber que aconteceu. Afinal, era esse o ponto de superar, não? Henrique não sabia exatamente, por isso ele preferia não pensar.

— Sim, na próxima nós compramos. – Era uma promessa. Henrique sabia que nunca deveria se prometer algo tão difícil e inalcançável no momento, gastar cento e cinquenta dólares em uma fantasia daquela, mas era um Panda. Mas, o sorriso que Augusto deu em seguida, fez a promessa valer a pena.

— Queridos? – Os dois viraram a cabeça para a frente e viram Belly. Ela sorria minimamente para a interação dos dois e só depois de se levantar, ele reparou que Izabelly segurava sacola. Augus também reparou.

— O que é isso, mãe? – Augus perguntou curioso.

— Um presente. – Ela sorriu – Ainda bem que cheguei antes de comprarem a fantasia, ou se não, teríamos duas iguais.

Augusto sorriu abertamente e correu para abraçar a mãe para agradecer. Ela riu da animação da criança enquanto o menino a apertava o mais forte que podia.

— Obrigado, mãe.

Henrique suspirou. Ele queria poder fazer com que aquele momento durasse para sempre. E ele não queria que isso fosse pedir demais. Eles teriam que deixar Augusto no orfanato, com medo de que nem pudessem mais tirá-lo daquele lugar. Ele só queria poder voltar no tempo e viver aquele momento – quase— despreocupado para sempre. Ele só queria que sua família pudesse ter a paz que todo coração merecia ter.  

***

Henrique não conseguia dormir. Tinham acabado de voltar para casa depois de deixar Augusto de volta no orfanato e seus olhos ainda não haviam sido pregados por nenhum minuto, tanto que ele acabou indo para o quarto no qual havia um piano. Ele se sentou na frente do instrumento e fechou os olhos. Ele não tocava nada, mas podia lembrar das melodias. Era bom tocar. Ele se lembrava da época que o fazia, assim como também da sua última consulta da psicóloga que ela sugeriu para que retornasse. Mas ele não havia encontrado um motivo para voltar, até agora. Faltava paz. Música e Belly – agora Augusto – davam—lhe paz, e ele estava excluindo a música de sua vida de uma forma que ele não deveria.

— Amor? – E então ele não estava mais sozinho no lugar. Ele abriu os olhos e viu Izabelly se aproximando. Ela vestia uma camisola de ceda que acentuava suas curvas. Henrique prendeu a respiração por alguns instantes. Ele nunca se acostumaria do quanto Izabelly era bonita. Mesmo quando já a tivesse visto dessa forma mais vezes do que poderia contar.

— Porque levantou? – Henrique perguntou quando ela se sentou no banco ao seu lado.

— Senti sua falta na cama – Izabelly admitiu passando as mãos delicadamente pela tecla do piano e tocando uma nota – Ela fica muito grande sem você, me sinto desconfortável.

— Desculpe – Henrique pediu observando os atos da esposa, que logo depois de uma nota grave, tocou uma aguda. – Não conseguia dormir de jeito nenhum.

— E achou que a música seria uma boa ideia? – Belly perguntou tentando manter a esperança para dentro de si.

— Música sempre é uma boa ideia.

— Eu tenho uma pergunta – Izabelly disse encarando o horizonte, mas ela ainda conseguia acertar perfeitamente as notas do instrumento, começando uma melodia bem leve, a qual o momento pedia.

— Diga – Henrique perguntou sentindo que estava atrapalhando o momento da esposa com o piano. Belly respirou fundo. Era uma pergunta tão complexa de tão simples.

— Por quem me apaixonei?

A primeira reação de Henrique foi arquear a sobrancelha. Ele não tinha entendido aonde a esposa queria chegar com sua resposta.

— Por mim?

— Rique – Izabelly riu baixinho. – Quem você era quando eu me apaixonei por você? Sobre o que nós conversávamos? Nós sempre conversávamos sobre quem éramos. Quem você era e deixou de ser?

Henrique entendia agora. Engoliu todos os medos de falar aquela palavra em voz alta e apenas disse:

— Eu era um musicista.

Falar quem ele era doeu. Mas foi uma dor boa. Uma dor que era necessária ser sentida.

— A psicóloga falo que nós precisávamos ocupar a mente com algo ou acabaríamos enlouquecendo. E não com o trabalho, porque nos afundaríamos num mar agitado demais para voltarmos a superfície. – Henrique achou uma loucura a esposa falar enquanto tocava, como se não estivesse fazendo as coisas ao mesmo tempo. Não sei se ela chegou a falar isso para você, mas foi o que ela passou para mim.

Henrique sem nem ver, sem nem pensar – porque talvez, se tivesse, não teria o feito – viu suas mãos em cima do piano. As teclas brancas e pretas entre seus dedos tinham ganhado um novo significado naquele momento. Talvez ele quisesse obrigar seu cérebro a pensar ao contrário de seu coração e que tinha posto suas mãos em cima do instrumento porque a esposa não conseguiria falar e tocar ao mesmo tempo e ele queria ouvir o que Belly tinha para dizer.

— Acho que você acabou de encontrar o que precisa fazer para ocupar sua cabeça como ela me disse. Izabelly tirou as mãos do teclado e a melodia continuou ecoando pelo quarto. Henrique estava tocando! Um sorriso rasgou seu rosto e ela sentiu as lágrimas – que pela primeira vez eram de felicidade – invadirem seus olhos. Ela desejou tanto por isso. Tanto que ele voltasse a tocar.

Era desse jeito que Henrique queria que Izabelly fizesse ele se sentir. E ele sentia. Ele sentia como se apenas agora tivesse dado a chance para a música novamente e sentia como se tivessem mil mãos tocando seu corpo sendo que o instrumento estava sendo tocado por quatro.  E mesmo que Belly não estivesse lhe tocando ele se lembrava exatamente de como era enquanto aquela música era tocada. A pressão dos dedos pressionados contra a pele nunca seria o suficiente, era uma sensação gostosa. Ela o aquecia com seus toques, assim como o piano fazia com a alma dos dois agora. Eram mãos em suas lembranças, eram mãos em sua frente. Eram milhões de mãos escrevendo histórias diferentes, mas que nenhuma poderia ser esquecida porque cada uma – exatamente do jeito que eram – eram especiais a sua maneira.

Eles acertavam a melodia juntos e Deus... Henrique sentia tanto amor ali que ele poderia se sufocar e adorar a sensação. Era gostoso. Aquecia seu corpo.

— O que você quer fazer?

Os dois ficaram em silêncio por um minuto enquanto pensavam na resposta para a pergunta que Izabelly havia feito.

— Amanhã? – Henrique riu baixinho dando atenção para o lado agudo do piano. – Procurar um horário para estudar música antes de arrumar um emprego. Hoje? – Os olhos castanhos de Izabelly se abriram em expectativa – Hoje eu só preciso amar você;


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