Faded escrita por Pisces


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

É a minha segunda one - postada pelo menos - e eu bem que queria uma fanfc completa, mas não acho que vá rolar. De toda forma dei foco pra um casal que eu não vejo muito a respeito, mas que eu gosto e porque a Violate é uma representação feminina forte pra mim. Espero que aproveitem e que não esteja tão confusa ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/687150/chapter/1

Encarou-se no espelho, completamente infeliz com o que via. Maldita fosse aquela leva de cabelo escuro e longo, que mesmo preso atrapalhava seu desempenho nas lutas bem mais do que qualquer outra coisa técnica ou puramente feminina. O ódio não cabia em si, podia enxergá-lo através das íris escuras em seu reflexo imundo. Porque tinha que ter nascido daquele jeito? Uma maldita mulher que todo mês sangrava compulsivamente e sentia dores nos seios cada vez mais apertados pela faixa abaixo da camiseta. Não aguentava mais. Era desmerecida nos ringues, era sexualizada nos ensaios fotográficos e no momento de se pesar. Parecia que tudo o que comia ia para os quadris e dificultava ainda mais seus movimentos, quando – pela dieta que seguia – deveria ser tão leve quanto uma pluma.

 

Levantou a mão, deslizando os dedos ásperos e calejados pelos fios longos demais para serem mantidos. Algo tinha que sair, como se houvesse uma necessidade ali de expulsar um monstro. Todo e qualquer excesso deveria vir abaixo, qualquer vaidade que tinha naquele instante deveria ser ignorada. Violate era uma lutadora, havia dedicado anos de sua vida para dar a volta por cima e consertar seus erros dedicando-se a concentrar sua personalidade explosiva no ringue.

 

Respirou fundo, apanhando próximo a torneira uma faca afiada, que era a única coisa que havia conseguido retirar da cozinha da academia sem que fosse pega por andar por ai com objetos que seu histórico policial considerava de alto risco. Já havia matado com tanta coisa que poderia fazer de qualquer artefato mais próximo uma arma, mas aderia principalmente as próprias mãos. Eles deviam se preocupar com sua custódia bem mais do que com o que fazia consigo mesmo. Prometeu que não iria machucar ninguém, mas entendia porque não confiavam em sua palavra. Inocente como era...

 

Dividiu os cabelos em metades iguais, começando a cortá-los de forma que a força posta na lamina fosse a mesma usada para cortar alguém. Tinha raiva de tudo o que cultivou. Tinha ódio de não poder fazer diferente. Seu sangue fervia por não conseguir abandonar a postura daquela adolescente briguenta que matou o próprio pai. Ele merecia, todos mereciam. Ela própria merecia, mas estava tentando se superar. Sorriu ao observar a primeira leva cheia de cabelos cair entre a pia e o chão sujo. Aquele policial, Aiacos, ele dizia que era melhor do que aquilo. Se ele acreditava em si, porque não acreditaria? Alguém em meio a corja que queria devorá-la como um perigo nacional.

 

Ele confiava em si, porque ela mesma não conseguia confiar?

 

Passou a faca pela outra metade, em um corte irregular, porém não conseguia dar a mínima para estética naquele momento. A falta daquele peso extra foi um alivio, sentia como se ao menos 1/5 de todos os seus problemas tivessem caído por terra. Jogou as costas contra a parede e deixou o objeto tombar sobre assoalho quebrado, junto de um pouco mais do seu excesso de feminilidade desnecessário. Queria mostrar que era forte sem tudo aquilo, que não necessitava exibir os seios ou deixar crescer os cabelos para ser uma mulher. Era um fardo que tinha que carregar, não tinha outra opção se não ter orgulho do que veio no pacote. Sua vida poderia não valer tanto para a corte que a julgaria no fim de semana ou talvez para aquele que a incentivava, mas continuava do outro lado da porta sem abri-la para conferir o que fazia há mais de vinte minutos. Poderia ter fugido, mesmo com a janela não tendo espaço o suficiente para passar nem mesmo suas coxas. Riu de desgosto. Será que ele confiava tanto assim em si?

 

Abaixou-se, apanhando novamente a faca e respirando fundo, como se fosse reconfortante o odor desagradável de um cômodo “público”. Havia tido dificuldade para trazer aquilo consigo e não iria perdê-lo. Aquela talvez pudesse ser sua última chance. Escondeu a arma branca às suas costas e então destrancou a porta de madeira corroída. Aiacos, parado com as mãos para trás em pose militar, fitou-a com curiosidade, mas sorriu de uma forma que abaixasse a guarda da mulher desolada. O que estava fazendo? Aquilo não iria piorar tudo? O homem por fim se aproximou, sem aviso envolvendo-a em um abraço e lhe tomando a faca sem protesto.

 

Violate suspirou, sentindo as algemas tomarem o lugar frio de seus pulsos assim como a respiração alheia ao pé de seu ouvido. Desistiu. No fim das contas, era ele quem a fazia manter a sanidade. Aquele maldito policial.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Faded" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.