Seguindo Em Frente escrita por sayuri1468


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686981/chapter/1

Não posso dizer que esperava algo a mais. Seria mentira!

Eu sempre soube que ninguém tiraria Menma do seu coração, e se alguém fosse tirar, esse alguém não seria eu. Talvez fosse por isso que eu estava adiando o que queria fazer, porque eu sabia qual seria a resposta dele, e eu não queria ouvi-la.

— E nem vai mesmo contar para ele da sua mudança? – Tsuruko tinha olhos realmente firmes e intimidadores.

— Não sei como contar!  - rebati.

— Tem certeza, Anaru? Pode acabar se arrependendo depois!

Eu sei. Eu sabia que iria! Mas...

— Não quero contar ainda, porque se eu contar, vou ficar esperando uma reação que talvez ele não tenha, e isso vai me magoar!

— Mesmo vocês terem ficado tão próximos nos últimos dois anos?

Respirei fundo.

— Não se deixe enganar! Jiten só me vê como amiga. Afinal, sou a pessoa mais próxima que viveu com ele e com Menma!

Senti que abraçava minhas pernas involuntariamente, em uma tentativa inconsciente de colocar uma barreira em mim. Esperei que Tsuruko dissesse mais alguma coisa, mas ela apenas fitou o chão. Pude ver em seus olhos que ela me compreendia.

— E como vai fazer? – ela perguntou após alguns segundos.

— Vou me despedir silenciosamente...

Mas eu tinha um plano, apesar de tudo. Um plano onde eu poderia realizar meu próprio desejo e partir em paz.

—--------------------------------------

 

— Festival do Verão? !

Pelo tom na voz dele eu sabia que ele não tinha gostado da ideia, mas afinal, eu também já esperava por isso.

— Vamos lá, Jitan! Só aceite! – insisti – Já não é chato o suficiente uma mulher ter que te convidar?!

Pude ver que ele hesitava ao mesmo tempo em que seu rosto assumia uma coloração avermelhada. Corei imediatamente ao  perceber o motivo pelo qual ele estava sem jeito. Tinha que interromper agora, senão ele daria a resposta ali, agora mesmo.

— Idiota! Não estou te chamando para um encontro amoroso!

Pude notar que imediatamente ele relaxou. Prossegui.

— Eu só quero ir ao festival! Chamei a Tsuruko, mas ela está bastante ocupada e não pode ir comigo!

— É... só isso? – ele perguntou, como se quisesse ter certeza.

Suspirei.

— Claro que é!

Ele desviou o olhar, visivelmente incomodado. Aposto que estava desconfiado da veracidade das minhas palavras. Mas, se eu tinha que fingir, então não podia deixar transparecer a minha insegurança.

— Ok! Então a gente se encontra as oito, na entrada do templo! Vê se não se atrasa!

E sem esperar uma afirmativa, eu simplesmente fui embora.

—------------------------------------------

 

Que opção eu tinha há não ser confiar nas palavras da Anjou?  Eu nunca fui capaz de responder aquilo que ela me confessou na loja, muito pelo contrário, fingi que nada havia acontecido. E, aparentemente, ela também.  Eu agradeço a isso, pois pudermos continuar amigos.

Gostava de conversar com ela. Ela tinha um jeito bem divertido, e fora isso, com Poppo, Yukiatsu e Tsukuro ocupados constantemente, ela era a única com quem eu podia conversar sobre Menma.

Mas, se ela se declarasse, eu teria que recusá-la, e eu odiaria vê-la magoada. Isso certamente, acabaria por nos afastar, e eu não queria que isso acontecesse de novo. 

Deitei na minha cama e admirei o teto por alguns minutos.

Bom, se ela disse que não era um encontro amoroso, então não era. Ir pro Festival poderia até ser divertido. Tenho certeza que Menma gostaria que eu fosse. Não pude deixar de refletir que, se ela estivesse aqui, ela iria pro Festival usando uma yukata. Ri da visão de como seria aquela menina estrangeira usando uma yukata. Certamente ela ficaria uma gracinha. Será que Anaru também usaria uma yukata? Com certeza não! Aquele não era o estilo dela e certamente não ficaria bem! Não pude deixar de gargalhar com a visão que veio a minha mente.

De repente, era até melhor ela ir de yukata. Serial algo para rir no meio daquele festival.

—-------------------------------------------------

 

Dei os passos nervosa. Andava devagar, em passos curtos, porque era só assim que a minha yukata permitia que eu andasse. Confesso que não gosto muito de yukatas, mas essa era uma ocasião especial, por vários motivos, então decidi usar. Sabia que Jitan iria rir assim que me visse, mas de uma forma geral, não me importei.

Pude vê-lo ao lado das escadarias do templo, usando roupas comuns. Poxa, ele pelo menos podia se arrumar um pouquinho. Bom...mas é do Yadomi que estamos falando, né!

— Desculpe, demorei muito? – falei assim que me aproximei o suficiente.

Ele se virou pra mim e me mediu dos pés a cabeça.

— Você veio de yukata mesmo! – exclamou surpreso.

— Sim,sim! – rebati com certa impaciência.

Jitan, claro, começou a rir, e apesar de ter dito que não me importava, naquele momento meu rosto corou violentamente. Ele sabia ser bem insensível às vezes. Iniciei as subidas das escadarias sozinha. Ele veio me acompanhar assim que notou que eu já tinha ido, embora continuasse a rir.

— Desculpe! É que é estranho! – falou em uma tentativa vã de melhorar.

— Certo, certo!

Eu sabia que ele não teria a reação que eu queria, mas também, me iludi porque quis. Eu não ia ficar brava, afinal, era a minha última oportunidade.

— Mas não ficou ruim! Pelo contrário, ficou melhor do que eu esperava!

Meu esforço para me controlar perante esse comentário inesperado foi grande.  Eu sabia que não podia me deixar enganar.

— O que quer dizer com “melhor do que esperava”? Você é um idiota, sabia! – falei em tom de provocação, que o fez rir.

Quando alcançamos o templo, pudermos ver várias barracas. Comidas, jogos, presentes. Fomos em todas e, apesar de ter tido que não era um encontro amoroso, eu me sentia em um. Ríamos e brincávamos o tempo todo.  Mas eu sabia que essa alegria não iria durar muito, e apesar de aquele ser um dos dias mais felizes que já tive na minha vida, eu sabia que eu estava prestes a destruir essa doce lembrança.

— Quer ir ver os fogos do outro lado do templo? Vai estar mais vazio! – sugeri.

Yadomi me olhou desconfiado, mas eu mantive meu olhar confiante, então, ele aceitou.

Realmente, não havia ninguém lá. O que era um desperdício, pois estava claro que daquele lado, daria para ver os fogos  ainda mais perfeitamente.

— Ótima sugestão, Anaru! – falou Jitan – Realmente, aqui tem uma vista melhor!

— Quanto tempo temos para os fogos? – perguntei.

— 5 minutos!

Suspirei fundo, era agora.

— Jitan, tem uma coisa que preciso te dizer...

Ele olhou para mim em pânico, eu sabia o motivo disso.

— Anjou, pare! Você disse que não era um encontro amoroso! – ele rebateu.

— E não é! – respondi com calma, e talvez por isso ele tenha se calado. – É nosso último encontro!

— O que? – ele perguntou.

— Eu vou embora, Jitan! Minha família decidiu me mandar pros E.U.A!

Jitan me encarou por alguns instantes.

— Mas...quando você vai embora? Quero dizer...podíamos fazer uma festa de despedida...ou...quero dizer, E.U.A?! Você vai mesmo embora?

—------------------------------------------------

 

Como assim? Ela iria embora? Porque? O que era isso tão de repente?!

— Eu vou embora amanhã de manhã!

— O que? Mas...

Eu não sabia o que dizer. Sequer sabia o que pensar.

— Desculpe te contar tão repentinamente! Mas eu nunca conseguia encontrar coragem pra te contar isso!

Não havia nada que eu pudesse fazer ou falar. Estava totalmente paralisado e, de alguma forma, sentia que meu coração estava parado, sem qualquer tipo de batimento cardíaco.

— Desculpa, apesar de ter dito que não era um encontro amoroso, será que você poderia realizar meu último desejo, assim como fez com a Menma?

— Cla...claro... – naquele momento, eu só podia concordar, até porque, não havia mais nada que eu conseguisse fazer.  

Foi então que Anaru se aproximou de mim, e inclinando-se em minha direção, depositou um leve beijo nos meus lábios. Eu não retribui e tampouco recusei. Dentro de mim um turbilhão acontecia, e foi nesse momento que percebi a tristeza que me invadia. Anaru estava realmente se despedindo, ela realmente iria embora, eu a perderia de novo...e pra sempre.

— A...Anar... – comecei assim que ela se afastou.

— Desculpe! – ela falou imediatamente, com o rosto avermelhado. – Mas agradeço! – pude ver lágrimas se formando em seus olhos – Obrigada por ter sido meu primeiro amor, e agora, o meu primeiro beijo!

Aquela confissão me fez ficar ainda mais imóvel.  Eu queria dizer alguma coisa, queria fazer algo, mas não pude e não fiz, apenas contemplei aquela garota de cabelos ruivos com um yukata se afastando de mim, enquanto os fogos iniciavam seu show.

—------------------------------------------------------

— Tsuruko, eu fiz! Você tinha razão, não me sinto mais culpada!

 

—---------------------------------------------------

Estava irritado. Estava muito irritado. Me sentia impaciente e andava de um lado para outro inquieto. O que estava acontecendo? Por que eu estava me sentindo assim? Estava sentindo uma dor forte em mim, uma vontade de gritar, de correr.  Estava bravo!

Sim, bravo! Por que aquela idiota da Anaru não me contou antes? Por que ela deixou pra me contar daquele jeito? De uma forma que eu não podia fazer nada a respeito? Droga! Ela iria embora! Eu não a veria mais na sala, na loja e nem no nosso clube secreto! Com quem eu iria conversar, agora? Droga, ela não podia ir embora! Quem iria me fazer rir? Quem iria me dar bronca? O gosto de despedida daquele beijo me preenchia cada vez mais. Não! Eu não quero que ela vá! Eu não quero perde-la desse jeito!

 Quando estava prestes a sair correndo, percebo meu celular vibrando. É o Yukiatsu.

— Não é uma boa hora! – disse assim que atendi.

— Já está sabendo da Anjou então?! – ele falou naquele tom irritantemente calmo.

Meu coração sentiu uma pontada ao ouvir aquilo.

— Ficou sabendo agora também?

Ele riu do outro lado.

— Estou sabendo disso há 3 meses!

— O que?! – perguntei incrédulo.

— Não culpe a Anjou, ela estava se poupando! Ela tinha medo de que você não se importasse!

— E como eu poderia não me importar? – vociferei.

— Ah, então agora você se importa?

Pude sentir o tom provocador.

— Ela é minha amiga, nem tive a chance de me despedir direito!

— Bom, não se preocupe com isso! Se ela é só sua amiga pra você ainda, é melhor mesmo que não se despeça direito, pelo bem dela!

— Do que esta falando?

— Bom, depois de 13 anos apaixonada por você, ela está disposta a aproveitar a mudança de país pra te esquecer! Se houvesse uma despedida cheia de gentilezas a palavras carinhosas, seria mais difícil pra ela recomeçar quando chegasse aos E.U.A!

Sabia. Então aquele beijo era mesmo uma despedida.

— Isso é ridículo! Ela está fugindo de mim, é isso?!

— Acho que ela está fugindo dos próprios sentimentos, pois descobriu que ele jamais serão retribuídos! Você devia respeitar isso!

— Eu não quero! Me recuso! Não vou deixar que ela vá embora de novo!

Não sei quando começou, mas sei que percebi no momento em que desligava o celular e corria para a casa de Anaru que eu gostava dela, gostava do tipo que quer ir em Festivais, andar de mãos dadas, trocar presente de dia dos namorados e sair e rir com ela. Eu gostava de verdade dela, eu a amava. Ela ficou do meu lado todo esse tempo, mesmo quando não nós falávamos mais, ela permanecia por perto. Nunca se afastou de verdade. E agora, eu nunca mais iria vê-la, ela iria para bem longe... iria conhecer outras pessoas e... iria me esquecer, me tirar do coração dela. Não, Anaru! Por favor, não faça isso! Me espere, só mais um pouco, por favor! Insista em mim só mais um pouco!

—-----------------------------------------

 

Guardei a yukata em cima do armário. Não iria precisar dela nos Estados Unidos.  Foi por isso que a coloquei em primeiro lugar, pois sabia que não haveriam ocasiões para usá-la lá.

Me joguei em minha cama e respirei aliviada. Fiz o que deveria ter feito há 10 anos atrás.  Agora era a hora de seguir em frente. Esquecer de uma vez o Jitan, e deixar ele guardado em um pequeno pedaço do meu coração, onde ficam as lembranças nostálgicas de uma infância feliz. Sim, ali era o lugar dele agora.

— Anaru!! – ouvi alguém gritar pela janela.

Levantei em um susto. Será que era imaginação?

— Anaru!!

Aquela voz? Jitan?

Fui até a janela e abri a cortina. Ali vinha ele, descendo a rua. O que ele fazia aqui a essa hora? Será que estava bravo comigo?

Ele tocou a campainha da minha casa e eu congelei em meu quarto. O que ele vinha fazer aqui? Antes mesmo que eu pudesse refletir a respeito, minha mãe abria a porta do meu quarto e anunciava a visita.

Jitan entrou e me encarava com os olhos decididos e irritados.  Eu hesitei.

— Jitan, o que você...

— Não faça isso, Anaru! Não me tire do seu coração!

— Jitan...?

— Não fuja de mim! Me dê mais uma chance, por favor! Só não vá pra longe de mim, por favor, não me abandone!

— Mas...Jitan, isso que você me pede é egoísmo! Você quer que eu continue gostando de você enquanto você...

— Eu te amo, Anaru! – ele disse com firmeza. – Eu te amo, por isso, por favor, fique comigo e me deixe ficar com você!

— Jitan...

Não sabia o que dizer. Aquilo era mesmo real?

— Por favor, Anaru! Só me dê mais uma chance!

Talvez eu soubesse o que estava fazendo naquele momento, talvez não, mas a única coisa que consegui dizer foi “sim”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Seguindo Em Frente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.