O bosque escrita por Malu


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá! Boa leitura, espero que gostem!



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Caminho silenciosamente pela trilha entre as árvores. A lua cheia ilumina vagamente o chão. Alguns animais se escondem nas sombras. Posso ouvir a respiração ruidosa de outra pessoa. Não devia, uma vez que deveria estar sozinha. Curiosa, dirijo meus passos na direção do som.

Um homem. Não muito alto, não muito magro. Cabelos castanhos desgrenhados com algumas folhas presas. Ele está de costas para mim, com as mãos apoiadas nos joelhos, ofegante. Seus tênis estão sujos de terra, sua calça jeans com alguns rasgados, a camisa amassada. Pego-me imaginando o que ele estaria fazendo que o deixou nesse estado.

Lembro-me das lendas existentes no vilarejo e estremeço. Cresci ouvindo os mais velhos me dizendo para nunca ir ao bosque após o anoitecer pois haviam criaturas das trevas perambulando por entre as árvores. Nunca acreditei, achava que era apenas para nos manter afastados e evitar que ficássemos perdidos. Principalmente quando passei a fazer caminhadas pela trilha antes de dormir. E, com o passar do tempo, aprendi a caminhar silenciosamente madrugada afora quando tinha insônia. Nunca encontrei nada sobrenatural, portanto conclui que eram apenas lendas.

Começo a me aproximar do homem para lhe oferecer ajuda, apesar de ir para o bosque em busca de paz. Paro ao pisar em um graveto seco, sabendo que ele ouviu e vai se virar na minha direção. Como previ, ele levanta e gira o corpo. Um feixe de luz cai diretamente sobre ele, cujo olhar está recoberto de medo. Percebo que ainda estou nas sombras e me aproximo no exato instante em que ele recua.

Suspiro ao afastar os pensamentos sombrios. Ele não me reconhece, mas obviamente não sou o que lhe assusta, de forma que ele corre em minha direção. Recuo um passo, mas ele me segura pelos ombros com força, olhando fixamente para mim com os olhos arregalados. Diz algumas coisas que não entendo, ele fala muito rápido. Tiro suas mãos dos meus ombros, tentado fazer com que ele se acalme.

“Respira fundo e me diga com calma o que aconteceu”, falo, inutilmente. Ele segura minhas mãos, está tremendo. Insisto para que se acalme e pergunto se ele é da vila e ele nega com a cabeça. Estava visitando um parente e recebeu o desafio de passar a noite no bosque. Mas precisava voltar, o bosque não é seguro, eu também devo ir.

Solto minhas mãos das dele e reviro os olhos. São apenas lendas, um homem como esse deveria ser mais corajoso, pelo menos mais do que uma garota. Ele se irrita e me segura outra vez pelo ombro, dessa vez com mais força. Diz que se eu não me preocupo com a minha segurança e não temo a morte ele não se importa e implora para que eu o tire de lá pois não sabe voltar e não quer encontrar aquela criatura outra vez.

Peço para ele me soltar e ele atende. Olho ao meu redor, percebendo que entrei em uma trilha desconhecida. Respiro fundo para manter a calma. Escolho uma direção e começo a caminhar confiante, com o homem logo atrás. Ele está ofegante, o que me incomoda. Ele me pede para ir mais rápido e eu ignoro. Não pretendo correr por causa de um covarde.

Olho para o céu, tentando me orientar pelas estrelas. Não quero admitir que estou perdida, apenas continuo andando. Ele percebe primeiro que eu que estamos andando em círculos. Nego, mas sei que ele está certo. Saio da trilha, me embrenhando na escuridão das árvores, mas ele não me segue, aliás a criatura se esconde nas trevas.

Volto para a trilha e me sento no chão. Ele me olha com desespero, mas digo que só saio quando souber o que está acontecendo. Por que tanto desespero? O bosque sempre foi um lugar de paz, um refúgio, Nunca tive nenhum problema, queria saber o que o assustava tanto.

“Éramos em três. Os outros dois são moradores do vilarejo, eu não. Trouxeram-me para o bosque, eu estava vendado. Deveria passar a noite aqui ou tentar encontrar uma saída. Tiraram a venda e fiquei sozinho. Seria fácil, eu gosto de acampar. Não estava em nenhuma trilha, então comecei a andar em uma única direção, sabendo que encontraria alguma.

Andei, andei, e nada. Cerca de uma hora depois comecei a ouvir passos. Estranhei, pois haviam me falado que nenhuma pessoa se aventura por esse lados após o anoitecer. Mas do mesmo jeito que eu estava, outra pessoa também poderia estar. Os passos estavam cada vez mais próximos. Apenas continuei andando, procurando um lugar para passar a noite. E ele me alcançou.

Parecia uma pessoa normal, apenas um pouco mais alto que a média. Estava inteiramente vestido de preto. Ouvi quando se aproximava e me virei. Ainda estava nas sombras e um capuz lhe cobria o rosto. Perguntei se precisava de ajuda e como resposta ele deu um passo na minha direção e tirou o capuz. Perdi o ar com o que vi. Sua pele era branca como mármore, os caninos lhe desciam sobre o lábio inferior como presas e os olhos… Os olhos eram vermelhos como sangue.

Saí correndo sem pensar duas vezes. Não ouvi passos, então concluí que ele não havia me seguido. Então ele apareceu na minha frente do nada. Corri em outra direção e isso aconteceu de novo e de novo. Estava pensando em desistir quando você apareceu.”

Ouço atentamente a história, apesar de não lhe dar credibilidade. Levanto, limpo a terra da minha roupa e simplesmente volto a andar sem falar nada. Lembranças da minha avó descrevendo uma criatura semelhante insistem em ir e vir na minha mente. Reviro os olhos, imaginando que alguém mandou este homem para me assustar.

Finalmente alcanço a trilha principal. Reconheço diversos sinais que eu mesma coloquei e me direciono mais rápido para a saída. Ele faz muito barulho atrás de mim, respirando alto e pisando em folhas secas. Se realmente algo estiver atrás dele, não teria dificuldade em encontrá-lo. Sorrio com o pensamento. Não havia nada na floresta, o mais perigoso seria algum animal maior.

Abruptamente, a trilha acaba a alguns metros de onde deveria estar o fim. Ele percebe que algo está errado e começa a ficar nervoso. Recuo alguns passos e abaixo, conferindo uma marca na raiz de uma árvore. Encontro-a e fico surpresa. Ela está no início da trilha, que deveria estar no início do bosque. Sem perder a calma, volto e caminho na direção oposta.

Sinto que algo está estranho e começo a ficar nervosa. As marcas de referência não estão onde deveriam. Não demonstro nada, apenas ando mais rápido. Percebo que a trilha desapareceu completamente. Meu coração está acelerado e minhas mão trêmulas. Ele está cada vez mais ofegante, estamos andando faz tempo.

Ouço um barulho estranho e paro. Escuto apenas o silêncio. Silêncio demais, por sinal. Olho ao meu redor. O homem sumiu. Aguço os meus sentidos, procurando qualquer ruído ou movimento. Os dois surgem ao mesmo tempo. Vejo um movimento com o canto do olho e ouço um grito. Não corro para não fazer barulho, mas ando rapidamente, parando nas sombras na beira de uma clareira e congelo com a visão.

O homem está de joelhos no chão com os olhos arregalados, as mãos amarradas nas costas e com um filete de sangue escorrendo da cabeça. Ele não pode me ver, além de estar nas sombras, ele está posicionado lateralmente em relação a onde estou. Enquanto observo, alguém se aproxima dele por trás. Alto, magro, vestido inteiramente de preto, uma capa esvoaçando enquanto ele anda. Ele para atrás do homem, virado levemente na minha direção, se ajoelha e aproxima o rosto do pescoço do outro, que começa a gritar. Não posso ver o que ele está fazendo, mas após algum tempo os gritos cessam e o corpo do homem tomba para frente, sendo apoiado pela criatura que continua com o rosto no pescoço dele.

Ofego, um pouco mais alto do que gostaria. A criatura levanta a cabeça e olha para mim. Solto um grito silencioso, querendo correr, mas minhas pernas não se mexem. O que quer que ele seja, não é humano. Pele branca como mármore, presas com as pontas cor de sangue se sobressaindo sobre o lábio inferior, lábios vermelhos. Uma gota de sangue cai da presa e ele limpa com a língua. O capuz cai e sinto minhas pernas cederem. A última coisa que vejo antes de cair é um par de de olhos vermelho-sangue.

Acordo na minha cama. Ainda está amanhecendo. Após fazer tudo o que preciso, saio de casa. Noto uma agitação e uma aglomeração de pessoas próximas ao bosque. Vou até lá, querendo saber o que aconteceu. O primo de dois irmãos que moram um uma casinha simples entrou na floresta e não voltou, os guardas estavam procurando, mas não havia sinal dele, os cachorros encontravam rastro até uma pequena clareira apenas. Aproximo-me da beira do bosque e a única coisa que vejo na escuridão entre as árvores é um par de olhos vermelho-sangue olhando diretamente na minha direção.


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Notas finais do capítulo

E então, o que achou? Espero que tenha gostado. Se puder, deixe um comentário, favorite, recomende, mostre para os amigos, dê aquela ajudinha básica. De qualquer forma, obrigada por ter lido. Um abraço e até a próxima!



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