Encontro Marcado escrita por Jessica Calazans


Capítulo 29
Capítulo 29




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Ja anoitecia quando o celular de Gema começou a tocar num som estridente, e ela estranhou ao ver o nome de Vitória no visor

 

Emília, que estava com Pedro em seu colo, distraía-se vendo um filme infantil com o afilhado. Não era difícil  distrair-se com o garoto de sorriso fácil, ainda mais com pipoca e refrigerante ao lado.

 

A tensão entre as comadres ainda estava presente, apesar de não voltarem no assunto de mais cedo. Gema estava calada e pensativa na maior parte do tempo, mas Emília não quis pressiona-la, já era um avanço não ser expulsa daquela casa



— Quem é? – Emília perguntou notando a expressão confusa da loira

 

— É, Vitória. Será que está procurando por você? – Desconfiou

 

Ao ouvir o nome da mãe, a aparente tranquilidade de Emília se dissipou

 

— Por tudo que é mais sagrado, não conte a essa mulher onde estou. Por favor, eu suplico –  A confusão de Gema se acentuou, chegando a formar uma ruga na tez macia. Vitória pareceu desistir, mas segundos depois, voltava a ligar

 

— Pode me dizer o que está acontecendo, Emília? – Decretou



— Juro que explicarei. Atenda e diga que não sabe onde estou – Mesmo desconfiada, Gema assentiu.



Quando ela atendeu, foi sufocada pelo relato confuso e desesperado de Vitória. E Gema estaria mais confusa se fosse possível

 

— Calma, Vitória, eu não consigo entender, por favor – Os olhos castanhos suplicaram para que Emília mudasse de ideia, mas a promotora apenas acenou nervosamente vários “nãos” com os dedos



— A Emília e eu.. Nós… Tivemos uma discussão e… Gema, ela saiu como uma louca com o carro e até agora não deu noticias. Não que, não quen eu.. Tá, eu sabia que ela não ia me dar noticias, mas achei que ao menos pra casa ela voltaria. To aqui esperando ela e nada.  Ele nem comeu nada, Gema.. Eu não sei mais o que fazer… Tenho medo de que.. Bento, meu filho saiu com o carro para procura-la.  E.. Raimunda está me ajudando a ligar para os mais próximos pra saber se…

 

— Vitória, calma. A Emília tem seus rompantes, ela é egoísta assim mesmo. – E nesse momento nem era necessário que Emília olhasse para Gema para saber que a loira tinha os olhos cravados nela ao dizer aquela direta – Mas olha, eu vou ligar pra minha mãe pra ver se ela sabe de algo, está bem? –

 

— Por favor, Gema!. Agradeço muito! –

 

— Fique calma, vai ficar tudo bem  –

 

A ligação teve término e Gema se sentiu mal. Nao sabia porque, mas se colocou no lugar de Vitória. Era justo brincar com o desespero de alguém? E se fosse Pedro?

 

— Eu.. vou e depois preparar o Pedro pra dormir. E você, Sartorini, espero que tenha uma ótima explicação pra isso tudo – Emília assentiu

 

— Pedro, mamae ja volta, está bem? - Mas o menino apenas imitou o gesto da madrinha, num leve assentir, Gema achou graça

 

— A gente espera um pestinha por 9 meses na barriga para ser trocada pela “diinda” – Gema resmungou, falsamente ofendida. Emília conseguiu sorrir e nem suspeitou das verdadeiras intenções da cunhada.

 

Ao chegar no quarto que dividia Raul, Gema discou rapidamente o numero de Vitória. A mesma nem esperou dar o segundo toque

 

—  Gema, graças a Deus!  Alguma noticia pra mim? – Perguntou ansiosa

 

— Vitória, fica calma! Emília está aqui e está bem.... apesar dos pesares –

 

A sensação de alivio foi tão grande na Ventura que Gema pode sentir pelo outro lado da linha, só de ouvir sua respiração – Desculpe ter mentido naquela hora, é que Emília praticamente implorou para que eu dissesse mentisse –

 

— Tudo bem, minha filha, tudo bem! Você não sabe o quanto lhe sou grata, Gema. Passeis as horas mais  tensas da minha vida aqui sem resposta. Não sei como te agradecer –

 

 O alívio era tão grande que a mulher do outro lado começou a chorar. Não sabia porque, mas Gema se emocionou, os olhos cheios d’agua. Depois da noticia tão triste que recebeu, era boa a sensação de estar fazendo o bem.



Ambas, emocionada, desligaram o celular.  Finalmente Vitória pode ligar para Bento e pedir para ele voltar pro apartamento, era hora de ir pra casa.

 


(...)

 

Depois de se banhar e arrumar o quartinho do filho, Gema voltou a sala para pegar o pimpolho. Como ele já tinha tomado banho antes do filme, e já estava de pijaminha, o plano era coloca-lo para dormir.  Mas os seus planos foram frustrados, pois quando ela voltou Pedro na dormia, ronronando no colo da madrinha. O único trabalho que Gema teve foi leva-lo para o quarto.



Ao voltar,  parou em alguns degraus da escada, observando a cunhada que nem sequer notara sua volta. Ele tinha o olhar perdido em algum ponto da janela. Mais atentamente, ela podia ver o quão cansada e abatida Emília estava. Era uma mulher tão imponente e forte, era difícil vê-la assim

 

— Você devia descansar, por que não dorme aqui? – Emília sobressaltou-se ao ouvir a voz da cunhada, comprovando a teoria de Gema.

 

—  Sei que Raul está para chegar e amanhã é a folga dele… Acho que devo ir pra…

 

— Pra casa? –  Gema conseguiu sorrir, apenada daquela mulher perdida. Se aproximando novamente e sentando ao lado dela  – Você não parece estar com a minima vontade de ir embora –

 

Emília apenas foi capaz de assentir em concordância, aconchegou-se no colo da comadre e se sentiu aliviada por ser acolhida pelos braços da loira

 

— Eu sei minha amiga, mas não adianta fugir da realidade. Ficar aqui pra sempre, ter meu apoio, se distrair com Pedro, não vai resolver seu problema –

 

— Você ainda me ama, nao ama, Gema? –

 

— Sabe, nunca cheguei a odiar alguém. E por alguns instantes você conseguiu essa proeza. Emília, era meu sobrinho. Meu irmão quando souber… Nem posso imaginar a dor dele. Mas como posso deixar você sozinha? Me diz ? – Gema estava quase a beira de lágrimas –

 

— Me perdoe, eu amo muito você – A voz de Emília estava abafada, Gema quase não ouviu

 

— Eu sei, Milly, infelizmente eu sei – E era notória a tristeza na voz da anfitriã

 

Ela se permitiu aninhar Emília em seu colo até o momento que não pode segurar a pergunta que não queria calar

 

— Por que pediu que eu mentisse para Vitória? Ela disse que vocês discutiram e que você saiu igual uma doida com o carro. Foi por causa do Ben?

 

Emília criou coragem e relatou toda a verdade.. alheia  aos lábios boquiabertos de surpresa de Gema

 

— Difícil de acreditar não? – Perguntou depois de resumir

 

— Na verdade, sempre desconfiei se aquela história era realmente brincadeira. Até agora, eu achava que você tinha mentido pra mim. Eu cheguei a comentar isso com Vitória –  Emília quis saber o motivo, entretanto, ela não queria saber detalhe nenhum sobre aquela mulher

 

— De certa forma menti. Acho que no fundo… Nunca acreditei que minha… Que Maria estivesse brincando quando disse que não era a filha dela. Que mãe faria isso? – Ela ja não se sentia a vontade chamando a mulher que a criou de mãe.

 

— Sim, é verdade. E o seu pai? Quem é seu pai?–

 

— Hum? – Ela peguntou confusa

 

— Você disse que não era filha do Seu Alberto. Disse que sua mae se apaixou por um padre ou quase padre.. sei lá. Então, quem é eu pai? – Emília até agora não pensara no pai. Estava tão transtornada com a notícia que nem sequer parou pra pensar que tinha um pai que não era o Alberto

 

— Eu não sei.. Eu….  Ele me bombardeou com a história dela e eu nem… –

 

— Ela não disse? – Emília negou com a cabeça  – E você não quer saber de quem se trata? –

 

— Eu não sei, não me vejo filha de homem nenhum que não do Alberto. Ele era tão bom pra mim –

 

— Imagino a confusão que isso deve estar fazendo na sua cabeça. Mas vejamos uma as coisas pelo lado positivo, não é? Veja, Emília, agora você tem uma mãe e isso é uma benção –

 

— Como é??? – Perguntou quase exasperada

 

— Agora você tem uma mãe que te ama, que quer cuidar de você. E isso é maravilhoso.

 

— Você só pode estar louca – A voz da Sartorini já tinha subido uma oitava

 

— Eu vi como Vitória cuidou de você naquele hospital, o desespero dela agora para saber notícias de suas… Coisa de mãe, mães sabem dessa coisa Emília –

 

— Ótimo, faltava pouco para você me jogar isso na cara. Você nunca vai me perdoar não é? Quer saber? Vou é sair daqui –

 

— Você quer parar? – Gema segurou o braço da cunhada antes que a mesma se levantasse – Meu Deus, Emília! Para de pensar no próprio umbigo só um pouco. Pais cometem erros. Você não é mãe, não sabe o que é amar uma pessoa mais do que a própria vida. Eu sacrificaria minha vida pela de Pedro.

 

— Você o abandonaria, Gema? Seria capaz disso? Hm? –  A Sartorini fazia um esforço para não chorar

 

— Eu não sei. Não me vejo longe Pedro –

 

— Vê? É simples –

 

— Simples? Olhe ao seu redor. Pedro terá tudo de bom e do melhor Emília. Então é fácil eu dizer isso. Não sei o que é ouvir Pedro chorar fome e eu não ter nada para lhe dar de comer. Não sei o que ver Pedro doente e eu não ter dinheiro para comprar um medicamento. Então é fácil eu responder que não me vejo abandonando-o. Eu tenho um marido ao meu lado, Emília, tenho você, minha família. SUA MÃE – ela frisou bem a junção da palavras  – Sua mãe não tinha ninguém

 

— Ah, por Deus! Não me venha com essa ladainha de história de novela. E se fosse você? Você ia perdoar a Gabriela pura e simplesmente?

 

— Depois de perder recentemente meu pai? Estar passando por um problema complicado na minha vida? Depois de perder o meu bem mais preciso e ter a sensação de tudo ao meu redor estar se esvaindo por minha culpa? Ah, minha querida, eu estaria me agarrando a qualquer ato de afeto –

 

E foi com essas palavras ditas pela cunhada que Emília desistiu da conversa, saindo da mansão Fontana, batendo porta.


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