"O Cara" com O maiúsculo escrita por Dora Alice


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Oe gente então essa é uma postagem experimental então verei se vou continuar, não sei muito bem se vão gostar da temática e se esse capítulo vai cativar vocês já que é mais explicativo, mas espero que sim.
Bjks



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Lucy Heartifilia

Eu não sei o que jovens de vinte e três anos costumam fazer em uma manhã normal de segunda feira, talvez trabalhem meio período para pagar a faculdade ou algo do tipo. Não sei se a maioria dos jovens de vinte e três anos acordam cedo para levar crianças à escola, mas aqui estou eu deixando Mavis e Michelle na escola primária.

                ―Sargento Mavis nada de morder o seu coleguinha, certo? –Semicerrei os olhos. ―CERTO? –Disse novamente em um tom mais alto e a vi soltar uma pequena gargalhada.

                ―Sim senhora, capitã! ―Fez uma continência desajeitada soltando sua gargalhada doce.

                ―E Michelle, nada de deixar que roubem o seu lanche, entendeu? ―Ela acenou que sim, Michelle sempre foi o tipo de criança excessivamente dócil e incapaz de pensar em confrontar alguém. ―Se eles fizerem isso novamente chute o meio das pernas e não, não estou falando do joelho. Certo, sargento?

                ―Sim senhora, capitã! ―Bateu uma leve continência de forma séria, era incrível Michelle e Mavis, gêmeas tão opostas.

                Eu tinha dezoito anos quando minha irmã morreu dando à luz as duas, eu e Jenny éramos bastante próximas apesar de sermos gêmeas completamente diferentes fisicamente e muito unidas pelo principal fato de nunca termos conhecido nossa mãe, ela também morreu em nosso parto. Michelle e Mavis tem uma semelhança muito grande na feição, loirinhas de olhos claros e cabelos ondulados meio volumosos, dois anjos em minha vida.

                ―Agora a Capitã Lu quer um abraço. –Pronunciei com uma voz grossa forçada, não demorou muito para que as duas me cercassem de forma acolhedora, as abracei forte como em todas as manhãs eu abraçava, beijei a testa de cada uma dizendo para que tivessem um bom dia e então as deixei dentro do colégio primário integral de Magnólia.

                Magnólia nunca foi o tipo de cidade que pode se chamar de metrópole, fica um pouco distante da capital e por isso acaba meio esquecida no quesito turismo e nas questões da economia que por aqui é basicamente movida por pequenos negócios e pequenos fabricantes, parece um ritmo lento para se viver, mas nem tudo é o que parece.

                Eu e Jenny fomos criadas por uma madrinha muito amorosa, hoje já falecida que se chamava Laki, ela tinha alguns problemas de saúde e por conta de uma complicação acabou morrendo de enfarto com cinquenta e três anos deixando eu e Jenny com dezesseis anos sem fazer a menor ideia de como nos virar. Mas nós duas conseguimos, até essa idade nunca havíamos ouvido falar do nosso pai, só sabíamos o básico como nome e idade e que ele havia tido outro filho que talvez fosse mais novo que nós duas e só sabíamos disso porque mamãe deixou uma carta contando que quando “ficou” com meu pai ele já estava noivo de uma outra mulher, ela chegou a contar para ele sobre nós duas, mas ele não mostrou muito interesse.

                Me lembro que próximo ao nosso aniversário de dezoito anos em um dia que chovia muito, até porque em Magnólia quase sempre chove, um garoto loiro de olhos verdes e com um pouco mais de dez anos bateu na porta do nosso pequeno apartamento alugado.

                Me lembro perfeitamente desse dia.

                ―Quem é você e o que está fazendo aqui? Os seus pais sabem que você está aqui? –Perguntei sem dar tempo para que o garoto que parecia ter olhos inchados responder.

                ―Lucy e Jenny? –Ele perguntou nos encarando como se a vida dele dependesse da resposta que daríamos.

                ―Se for alguma cobrança, não. –Jenny respondeu começando a fechar a porta.

                ―Ei, espera. –O garoto colocou os pés na frente a impedindo que fechasse, ousado. ―Eu sou Eve Heartfilia o meio irmão de vocês.

                Heartfilia, Jude Heartfilia, nosso pai de sangue, o cara que decidiu que simplesmente iria esquecer que tinha duas filhas. Me lembro que fizemos Eve entrar e explicar o que havia acontecido e então ele disse que sua mãe havia o abandonado junto a Jude quando ainda tinha quatro anos, contou sobre como Jude comentava as vezes sobre alguns erros que gostaria de corrigir um dia e também contou que seu pai havia sofrido um acidente de carro muito grave e falecido, tudo que Eve havia encontrado em seu escritório eram pastas com os nossos nomes e nossos endereços, aparentemente ele pretendia nos procurar.

                Naquele dia minha vida mudou completamente.

                ―Eu não queria vir aqui. ―Ele soluçou. ―Mas eu não tenho mais ninguém, não consegui achar mamãe e se ninguém ficar comigo o conselho vai me pegar. –Soluçou ainda mais alto. O banco quer pegar a minha casa, tá tudo sumindo. –Eve escondeu o rosto nas próprias mãos e naquele instante senti que não dava para negar nada para aquele garotinho.

                Daquele dia em diante eu e Jenny acolhemos nosso irmão Eve, porque depois de conhece-lo já não existia um “meio” que nos separasse, ele nos contou que Jude havia falido e em como ele era um bom pai, eu nunca saberei se Jenny perdoou Jude, mas eu o fiz e não me arrependo, rancor é uma coisa muito destrutiva.

                Quando completamos dezoito anos conseguimos legalizar a guarda de Eve e o pequeno havia herdado apenas um pequeno comércio abandonado e completamente acabado visualmente.

                Magnólia e Fiore em geral tem uma política muito aberta para adoção, anos atrás a cidade ficou conhecida nacionalmente como “cidade do abandono” por conta de uma reportagem em uma rede de TV famosa que mostrava que em todo país Magnólia era a cidade com mais indicie de adolescentes grávidas do país, também com o maior índice de abandono de crianças e abortos clandestinos, a estratégia do governo foi então facilitar o processo de adoção de modo que qualquer pessoa que tivesse uma residência fixa conseguisse a guarda de uma criança. Não sei ao certo se isso pode ser chamado de bom, mas foi a solução que encontraram.

                Decidimos que montaríamos alguma coisa no estabelecimento que Eve havia herdado e acabamos optando por um restaurante que concordamos em batizar como “Lucky”, porque nós três sabíamos que precisávamos de mais sorte. Eu sempre gostei de cozinhar e Laki era uma cozinheira de mão cheia e me ensinou boa parte do que sabia, eu e Jenny havíamos terminado o colégio a dois meses e seu sonho sempre havia sido se tornar uma grande jornalista e eu uma chefe de cozinha. Então concordamos que naquele semestre ela entraria na faculdade enquanto eu tentava pegar a prática de controlar um restaurante e cozinhar para tantas pessoas, matriculamos Eve em um colégio perto do apartamento para que ele pudesse ir e voltar sozinho. Jenny e eu dormíamos no sofá cama e Eve em um colchão no chão, apesar de tudo conseguimos encontrar um ponto de equilíbrio no meio daquilo tudo. E então um pouco depois de nosso aniversário Jenny saiu uma noite para se divertir com algumas amigas do seu curso de jornalismo e eu concordei até porque revezávamos para tentar aproveitar a juventude no meio de toda aquela loucura de restaurante, cuidar de Eve e pagar as contas. No dia seguinte Jen me contou que havia “ficado” com um cara que nunca havia visto na vida e no momento até fiz algumas brincadeiras sobre o quanto isso era inapropriado, dois meses depois ela descobriu estar grávida, não apenas grávida, mas grávida de gêmeos e então as coisas ficaram malucas novamente, nos mudamos para um apartamento um pouco maior em uma região mais pobre da cidade, transformei o restaurante em um restaurante-bar-cafeteria para que conseguíssemos lucrar durante todos os períodos do dia e passei a viver lá dentro. Jenny teve uma gravidez que ia bem até o quinto mês e desde então algumas complicações apareceram e Michelle e Mavis nasceram pleno os sete meses, Jenny faleceu um pouco depois por razões que no dia não consegui entender muito bem, eu estava perdida, não fazia ideia de como se cuidava de crianças, não fazia ideia de como seguir em frente e nem sabia se conseguiria fazer isso algum dia, até que olhei aqueles dois pares de olhos claros no berçário e senti o abraço de Eve, eles só tinham a mim e então naquele dia eu decidi que seria o que eles precisassem, fosse uma mãe, uma tia coruja, uma capitã, uma professora ou uma mulher que consegue ficar acordada por 48 horas seguidas, não importa o que fosse eu seria.

                Eve uma hora dessas já deve estar em seu colégio, o garotinho cresceu e agora é um adolescente invejável e eu tenho certeza de que atrai muitas garotas, apesar da personalidade um pouco difícil.

                Olhei para o relógio me dando conta de que já estava atrasada para chegar no café-restaurante-bar, Cana era quem fica encarregada de abri-lo todos os dias úteis da semana já que eu não poso fazê-lo porque tenho que trazer as meninas na escolinha. Corri o máximo que pude para chegar a tempo de assar e finalizar as guloseimas, pães e variantes, Cana sempre foi um desastre com essa parte.

                Quando cheguei a morena estava toda atrapalhada tentando servir as mesas e anotar os pedidos ao mesmo tempo.

                ―Então a madame resolveu chegar? –Disse irônica. ―Os cupcakes estão acabando e acho que troquei o chá por café em algum momento. ―Sussurrou a última parte.

                ―Se acalme plebeia que a rainha do forno chegou. –Isso já havia virado uma espécie de piada interna.

                Lucky não era o estabelecimento mais luxuoso do pedaço, na verdade é tudo muito simples, porém Levy uma amiga minha me deu ótimas ideias e imprimiu alguns posters de artistas dos anos 70 e 80 deixando o lugar com uma pegada retrô.

                O restante do expediente correu bem, por volta da uma hora da tarde Eve saiu da escola e ajudou já que o movimento fica extraordinário no horário de almoço, ficou até por volta das três, apesar de público seu colégio é o número 1 na educação de Magnólia e ele se orgulha muito disso.

                Em geral eu e Cana fechamos o restaurante por volta das dez da noite e as três nos fins de semana, Levy trabalha aqui apenas nos sábados e domingos já que nos outros dias fica ocupada com a faculdade e o bico de babá, então eu e Cana revezamos para que a cada fim de semana uma folgue e a outra fique trabalhando junto a Levy.

                Eu costumava pagar uma babá para ficar com as crianças depois da cinco que já que até dois anos atrás Eve também estudava em um colégio integral, mas então ele cresceu e agora busca Michelle e Mavis e cuida delas até que eu chegue, sei que pareço uma péssima tia e irmã, mas é o que eu consigo ser.

                O expediente já estava no fim, quando Cana começou mais uma de suas lorotas sobre fazer mais amigos.

                ―Qual é você tem vinte e três anos, Lucy você só vive para trabalhar. ―Me bronqueava enquanto esfregava o chão.

                ―Eu vivo para cuidar das minhas sobrinhas e do meu irmão, é totalmente diferente.

                ―Lu, –disse de modo compreensivo largando a vassoura de lado― você não pode deixar de viver só porque tem muitas responsabilidades, você precisa de um cara que te dê um trato!

                Ri do seu palavreado.

                ―Os caras fogem quando veem Michelle e Mavis, isso porque nunca nem chegam a saber da existência do Eve, os caras odeiam crianças, Cana. –Resmunguei desanimada.

                ―Erza me contou hoje que vai dar uma festa surpresa para o noivo que chegou de viagem. ―Erza é uma cliente que vai diariamente no Lucky e por isso acabamos virando amigas. ―Ela disse que é para eu te forçar a ir porque ela vai te apresentar um amigo novo na cidade.

                ―A gente já viu esse filme, aí eu começo a paquerar ele, ele pega meu número, me chama para sair, mas ai começa a pensar que tenho três filhos e saí correndo.

                ―Esse vai ser diferente, aposto que sim. –Deu um sorriso sacana.

                ―Aposto que não. ―Respondi tirando o uniforme que se resumia em um avental com o nome Lucky bordado.

                ―Aposto uma semana de folga que esse vai ser “O CARA com o MÁISCULO”.

                Eu e Cana havíamos criado esse codinome para dizer que “aquele cara provavelmente é O homem da sua vida” e isso pegou, ela já havia ficado com vários caras que eram O CARA com o maiúsculo enquanto eu privava essa espécie de adjetivo para aquele que realmente merecesse.

                ―Aposto uma semana que não. –Desafiei.

                ―Então você vai? –Eu acenei que sim. ―Ótimo, desafio aceito: fazer Lucy encontrar O cara.

                Naquela noite eu havia feito a aposta que me levaria até aquela festa, que me levaria até Natsu. É engraçado que as vezes acreditamos ter nascido para carregar uma responsabilidade sozinha, sem ajuda e que não precisamos dela e que não precisamos de nada mais além do que já temos em nossas vidas e nos fechamos, mas as coisas não funcionam assim porque quando você abre a sua janela você pode ter a sorte de sentir uma brisa entrar. 


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Notas finais do capítulo

Pessoal comentem ><
estou muito insegura a respeito desse projeto e com muito medo que ele não funcione, preciso bastante de saber o que vocês acharam.



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