Ele bateu a porta e me deixou sozinha em seu quarto, sentada em sua cama e com cara de tacho, sem entender muito bem o motivo dele ter ficado estranho daquele jeito.

Eu até pensei em ir atrás, mas uma sensação estranha de formigamento e ansiedade me impediu de parar de inventar mil e uma teorias para o que havia acabado de acontecer, e eu me aquietei na cama.

Fiquei olhando para o teto e o meu coração só acelerava ainda mais ao lembrar das coisas que ele havia me dito:

“Era melhor antes…”

“A gente sabia que não ia acontecer nada, porque éramos crianças…”

Só de lembrar dessa frase, meu corpo inteiro estremeceu. Eu não queria pensar naquilo, mas tantas besteira vinham na minha cabeça naquele momento.

Meu Deus, que calor.

Revirei os olhos. Olhei para o lado, e notei no criado mudo um porta retrato com a foto dele sorrindo minimamente. É, o Kaze não é muito de sorrir abertamente -, é muito raro alguém conseguir tirar aquela cara amarrada que ele tem, mas mesmo assim, ele estava lindo nessa imagem.

De repente meus olhos rolaram para cima e eu desviei o olhar da foto. Que besteira eu estava pensando?

Vendo que eu não ia conseguir dormir, levantei-me e fui mexer em suas coisas, suas roupas, seus cadernos e os livros que ele estava lendo atualmente, tudo isso pra suprir a falta que ele me fazia naquele momento…

~*~

— Sorvete depois da escola?

— Sim, e você ainda tá me devendo aquele de chocomenta que você derrubou na mesa, lembra?

Ela parou repentinamente de andar enquanto caminhávamos com a maior calma pra escola, fez uma cara pensativa e depois pôs as mãos na bochecha, se fazendo de assustada.

— Você ainda lembra disso?!

— Lógico, foi o meu sorvete!

Rebati e não olhei que reação ela teria, até que chegássemos na frente da escola. Ela reclamou do sorvete pelo resto do caminho e no fim, se conformou, virou-se para mim, me deu um beijo no rosto e acenou indo embora…

E esse sou eu acenando se volta com a maior naturalidade do mundo, como se não houvesse acontecido NADA ONTEM E UMA CERTA PESSOA NÃO ESTIVESSE DESGRAÇANDO A MINHA CABEÇA!

— Hmm, ela tá com a sua blusa, será que isso significa algo?

Uma voz do além ridiculamente irritante surgiu perto do meu cangote, porém a minha cabeça tá tão louca ultimamente que, mesmo olhando pra cara do Handa e vendo aquele sorriso malicioso que me fez sentir vontade de socá-lo, eu não parei de sorrir e ser educado.

— Bom dia, Handa!

Ele me olhou de lado, meio desconfiado.

— Bom dia… - Mas logo se animou para saber as fofocas da minha vida - E aí, falou o que você sente pra ela?

— Eu espero que sim, ou então todo o meu plano vai ter ido por água abaixo!

Uma outra voz, desta vez mais feminina - do que a minha -, e alta soou atrás de mim, era o Matsuno, esse maldito! Ele que estragou tudo!

— Então o plano foi todo seu, né?! Eu sabia! - Fui para cima dele cerrando o punho bem forte mesmo para não socá-lo - Você contou pra escola toda que eu tava com conjuntivite!

Ele riu um pouco abaixando mais a sua touca para não me encarar, logo um terceira voz se pronunciou. Tem dia que ninguém fala comigo nessa escola, mas tem dia também que até parece que nunca me viram, e vêem todos de um vez pra encher o saco, hoje é um desses dias. Virei para trás com minha cara mais séria e… É, eu não deveria ter feito isso.

— Olá Ichirouta. Já terminou a sua licença pela conjuntivite?

A inspetora? Sério que você contou até pra inspetora, Max?!!

— O-olá… Bom, na verdade… - Cocei a nuca, agora sim eu tô definitivamente fodi…

— Foi alarme falso! - Handa disse de repente, e o Max prosseguiu:

— Isso! Ele teve uma irritação no olho e pensou que fosse a conjuntivite, mas…

— Eu me perguntei pra ele e não pra vocês.

NOSSA KKKKKKKK ok, eu não deveria ter rido disso enquanto ela olhava feio para os dois, eles estão me defendendo! Eu sou um ser humano horrível… Ela olhou para mim e eu parei de rir na hora, o pessoal não tava brincando quando disseram que ela não aguentava desaforos.

— Perdeu a língua, Ichirouta?

— Ãhn, n-não senhora, desculpe. Eu tive mesmo um alarme falso, meu olho só ficou irritado depois de eu deixar cair shampoo nele…

Expliquei. Credo, aquela mulher parecia o cão! Ela acenou em positivo com a cabeça e me olhou de cima a baixo, deve ter me achado um gato hahaha… É, acho que não. E depois saiu como se não tivesse dito nada… Mulher doida.

—... Tomara que o salto dela quebre no bueiro.

— Matsuno! - O repreendi enquanto Handa ria. Quero morrer sendo amigo desses dois, é cada praga que eles rogam nos professores, que eu não sei como eles ainda estão dando aula depois delas.

— Ah! Me fala de ontem! - Disse o de cabelo rosa pulando no meu ombro feito criança - Conseguiu falar tudo pra ela?

— É, eu também quero saber.

Suspirei. Porra, eu não queria mesmo lembrar de nada do que aconteceu ontem… Só passar uma borracha em tudo e bola pra frente, mas não; eu tenho que ficar contando todos os detalhes pra essas duas misérias que eu tenho que aturar! … Se bem que, foi eu que meti eles nessa né… Ah, que se dane!

— Podemos falar sobre isso depois da aula? - Pedi ao ouvir o sinal bater, ia ter revisão hoje, nem podia sequer cogitar a ideia de faltar - Eu não quero perder as aulas…

Os dois não disseram nada, só ficaram me olhando meio confusos, meio estranhos… Será que tem alguma coisa desenhada na minha testa e eles não param de olhar?!!

—... Cara, tu tá estranho hoje. - Max afirmou do nada. Ué, eu tô normal.

— Verdade, nem quis matar o Matsuno por ter contado pra todo mundo… Tá com o olhar triste, olheiras, até o seu cabelo tá bagunçado hoje…

— Meu cabelo tá bagunçado?! Ai meu Deus!

— É mentira kkkkkk.

— Babaca.

Eles ficaram rindo por, pelo menos 20 minutos, até a hora de entrar nas salas, onde EU tive que puxar os dois ou então íamos ficar pra fora. Não sei o que eles querem dizer com “Você não tá bem”, eu tô… Normal, eu acho.

~*~

— Então, foi isso que aconteceu…

 Disse por fim depois de explicar toda a história pra eles, parei de sugar o nada na caixinha de suco vazia com o canudinho e tentei arremessar no lixo, mas caiu muito longe de onde eu queria acertar. As vezes odeio ter essa franja!

— Bela mira.

— Cala a boca, Handa.

— Fala sério… - Max disse balançando negativamente a cabeça, quer ver que ele vai falar besteira…

Estavamos no mesmo lugar em que eu tive a chance de acabar com a raça do Handa e não o fiz, nos fundos da escola, perto da casa do caseiro… Por que todas as escolas têm um caseiro todo esquisito que mora lá e age como se ninguém pudesse vê-lo? Sempre tive vontade de entrar na casinha dele - que parece um depósito, de longe -, mas eu tenho de medo de ficar lá pra sempre… Não ria!

— Kazemaru, seja muito sincero comigo! - Ah é, o Max ainda não tinha falado nenhuma besteira. Acho que esse momento tá chegando… - Tu é gay?

— É o que?!

— Nada contra! Mas cara, você no mesmo quarto que ela! Na mesma cama! Pertinho! E pelo que você falou, ela tava te dando mole! - COMO ELE DIZ UMAS COISAS DESSAS COM TANTA CALMA?!! - Porque você fugiu?!

— E você ficou a aula toda olhando pra ela, que EU VI!

  …  

Acabei de descobrir que não sei disfarçar nada, que legal! Eu tava começando a me sentir quente de novo só de lembrar: ela estava na janela e hora ou outra virava pra trás pra me ver. E… sim, é isso mesmo que você tá pensando…

EU NÃO DISSE NADA PRA ELA SOBRE ONTEM!

 Flashback

— Kazemaru.

— Hum. - Respondeu sem muita queixa, com os olhos grudados na fatia enorme de seu omelete com tomates e presunto. Estavam tomando café da manhã e ele nem havia tirado o pijama ainda, visto que o azulado estava bem sonolento.

— O que houve ontem a noite?

— Hum! - A repentina questão o fez esquecer-se de assoprar a comida e acabar queimando a boca - Droga!

Assoprou a boca de dentro pra fora para ver se aliviava, mas a ardência ainda permanecia. Contudo,  a morena nem se abalou com a cena.

— Você tá bem? - Inquiriu com a voz rouca e preguiçosa, ela já estava arrumada, apenas seus cabelos continuavam bagunçados e a cara toda amassada e inchada de sono.

— S-sim… Só esqueci de assoprar…

— Ainda bem… Então, o que deu em você ontem?

Ichirouta gelou, apesar de seu corpo exteriormente estar MUITO quente naquele momento. Por sorte, podia contar temporariamente com sua franja e as mexas soltas de seu cabelo para cobrirem seu rubor e seu olhar perdido.

— Nada, ué.

— E por que você saiu daquele jeito? - Calma ela o questionou de novo, estudando todas as suas reações - ela o conhecia como ninguém, afinal -. O coração do azulado estava tão acelerado que parecia até que ia sair para fora do peito, ele não imaginou que ela fosse perguntá-lo sobre aquilo.

— A que se refere? - Olhou-a pela primeira vez após longos segundos, mantinha falsamente uma seriedade que, ele sabia que vacilaria a qualquer momento.

— Você sair do quarto daquele jeito! Com um papo de que, as coisas não eram como antes… O que você acha que não é como antes? Ainda somos amigos, certo?

— Sim, mas eu não falo disso… - Replicou de maneira pouco controlada, se levantando da mesa para levar seu prato já vazio até a máquina de lavar louça.

Atsuki ouvia o barulho dos botões sendo apertados enquanto a lavagem se iniciava, ela o mirava pelo canto do olho até suspirar penosamente e debruçar na mesa por cima dos próprios braços.

— Foi uma droga ficar sozinha no seu quarto… - Murmurou - Eu senti sua falta…

— Yasmin, não podemos mais dormir juntos! - Alterou-se um pouco ao falar. Vendo a expressão surpresa da morena, ele engoliu em seco e preparou-se para dar a volta por cima - Só poderíamos fazer isso se fossemos namorados…

CADÊ O MEU ÓSCAR DE MELHOR ATOR?!

Pensou e quase deixou que escoasse o berro por entre seus lábios, e engolindo sua vontade de sorrir vitoriosamente, continuou:

— E… Ao menos que isso aconteça, não vamos mais dormir na mesma cama.

Finalizou com autoridade, virando-se de costas para ela ficando de frente a geladeira para esconder seu sorriso triunfante. Porém, as coisas não saíram como ele planejava e a garota começou a rir debochadamente, e continuou assim por quase cinco minutos, o enlouquecendo de tanto ódio.

— Kazemaru, isso é ridículo. Somos amigos! Você é praticamente um irmão pra mim, seria como… - Pensou na palavra certa e o rapaz já não queria mais ouvi-la - Seria como se fosse um incesto!

— Eu não sou seu irmão, não me trate como um!

— Eu sei, não tô dizendo literalmente, mas é que…

— Ah, tá bom, eu já entendi.

Exprimiu irritado, deixando a cozinha e a morena falando sozinha enquanto rumava seu próprio quarto. Não ia aguentar ouvir mais baboseiras vindas dela sem sentir uma vontade gigantesca de xingá-la, por isso tratou de se arrumar e esquecer tudo o que havia sentido na noite anterior.

Fim do flashback

— Ei, ei, Kazemaru!

 Droga, eles vão me matar se souberem que eu deixei aquela chance pass… Ué, de quem é essa mão balançando na frente da minha cara?

—... - Desperta de seu transe com os estalos de dedos do moreno em frente ao seu rosto - Para com isso, idiota.

— Quem tava com cara de idiota aqui era você - Disse o Matsuno. De que lado ele tá?!! - Olhando pro nada com cara de medo.

— Vai defender o Handa agora, é?! É por isso que algumas pessoas acham que vocês são um cas…

— Nem ouse terminar essa frase! - Ameaçou-me o Shinichi chegando perto do meu rosto - Se minha namorada souber disso, eu tô morto…

— SUA O QUÊ?!! - Dissemos ao mesmo tempo.

— Não é possível que você tenha uma namorada e o Kazemaru não!

— Exatamente! Não é possível que até o Handa namore, e eu não!

— Fazer o que se eu tenho charme… - Sorriu tentando seduzir alguma mosca, e penteou o cabelo para trás com os dedos. Totalmente ridículo.

— Então era por isso que você não dava em cima dela…

— Eu não dava em cima dela, porque ela não faz meu tipo, ué.

— Todas as garotas fazem o seu tipo, Handa.

Nossa, depois de ouvir aquilo do Matsuno eu só consigo imaginar o quanto o Handa deve ser galinha.

— É mentira!

— Ah, vocês são muito complicados. Adeus.

— Adeus nada, agora você vai ouvir!

Eu estava em choque. Só ouvi o Max dizer algo sobre “complicados” e o Handa começar a brigar com ele enquanto tirava o celular do bolso, rindo ao dizer que tinha roubado a senha do Wi-Fi da escola, e clicou no ícone do YouTube.

O Handa namorando esse tempo todo e eu tendo ciúmes idiotas pra nada!

— Ih, olha isso, essas garotas parecem o Kazemaru!

Disse o de gorro ao meu lado, clicando num clipe que estava em suas Sugestões de Vídeos. Hmmm muito suspeito.

Espera, ele disse o que?!

— Caramba, é mesmo! Hahaha! Todas emos.

Inclinei um pouco o pescoço pra ver o que era tentando não mostrar muito interesse, na verdade, eu não estava interessado, mas o nome da música era… Não, não acredito!

— I Want You to Want Me… Ei, essa música não é daquele filme “10 Coisa Que Eu Odeio Em Você”?

— Caramba Handa, é mesmo! Sabia que conhecia ela de algum lugar.

— Combina muito com o Kazemaru kkkkk.

— É, até as garotas se parecem com ele e o jeito que ela grita.

Hã?! Eles falam como se eu não estivesse por perto! Filhos da mãe… Tem como isso ficar pior?!!

— “Didn't I, didn't I, didn't I see you cryin!”*

Mas é claro que tem, não é mesmo?!! Eles começaram a cantar! Olhei pra aquela cena como se fosse vomitar, mas de nada resolveu.

— “Feeling all alone without a friend you know you feel like dying!”

— Canta, Kaze! É a sua música!

Enfurecido o suficiente pra fazer uma besteira, Ichirouta nem sequer respondeu a gozação do moreno -,tomou da mão de Matsuno o celular e o jogou com furla no chão, fazendo o menor quase se descabelar pelo ocorrido.

— MEU CELULAR! - O pegou rapidamente, vendo se ainda estava inteiro - Se tivesse quebrado você ia comprar outro!

— Ora, mas que pena que não tenha quebrado! - Rebateu se preparando para socar o garoto, mas uma voz muito familiar se situou sobre o grupo -, a mesma voz de dois dias atrás, Kazemaru o conhecia muito bem:

— O que tá acontecendo? - Perguntou o moreno com certa inocência e dúvida.

— Endou! - Comemorou o azulado ao ver o amigo se aproximar com uma bola de futebol debaixo do braço. Correu até o Mamoru e apoiou o braço sobre o ombro do rapaz, sorrindo para Max e Handa, que não se mostravam muito contentes com a presença do garoto - Finalmente alguém inteligente pra eu conversar!

— Inteligente? Nossa, você é a primeira pessoa que me diz algo assim, Kazemaru! - Replicou Mamoru contente com o elogio à sua “inteligência”.

— Beleza, se ele é melhor do que a gente, então não precisamos ficar aqui. Vambora Handa. - Disse Matsuno meio irritado e saiu com as mãos no bolso do uniforme, seguido por Handa que ainda olhou o azulado com certo desprazer.

— Vocês estavam brigando?

— Ér… Mais ou menos… - Coçou a nuca - É que eu tô gostando de uma pessoa e, ao invés deles me ajudarem, ficam zombando de mim e criando planos idiotas que nunca me ajudam… - Terminou revirando os olhos chamando Endou com um aceno para eles irem pra outro lugar - Mas que bom que você chegou, Endou. Que tal a gente jogar um pouco pra passar o tempo?

— Só se for agora!

Ele realmente não ia negar. Nisso, eles foram para o campo perto do rio, nem se lembraram com o final das duas últimas aulas. Começaram chutando a bola um para o outro e logo Endou estava no gol, pedindo chutes fortes de Kazemaru para ele defender enquanto conversavam.

A tarde ia caindo e o céu já se tornava mais alaranjado, conforme o sol se despedia. Cansados, ambos deram uma pausa naquela espécie de treino e sentaram em baixo das redes do gol, cada um encostado em uma trave.

— Meu Deus, Endou… - Ofegou Ichirouta - Se eu não tivesse pedido pra parar você estaria até agora jogando, né?

— Claro… - Respondeu o moreno exaurido - Eu nem me cansei tanto.

Endou podia estar quase desmaiando de cansaço, mas ele não ia parar. Era como se os chutes dos adversários com que ele jogava lhe dessem XP* pra continuar dando o melhor de si.

— E sobre a garota? - Questionou Mamoru. Kaze não tinha dito quem era, pois podia ser que Endou deixasse escapar o que estava acontecendo, e aí sim ele se meteria em muitos problemas - Vai falar com ela?

— Não sei ainda… Tô inseguro…

— Eu acho que você devia ser direto, mas já devem ter te dito isso. - Riu o de bandana na cabeça.

— Sim, disseram…

— Até porque, as férias estão chegando…

— As férias…! Eu tinha me esquecido completamente!

— Como alguém pode esquecer das férias? Eu tô ansioso por elas, vou passar o mês inteiro treinando!

Levanta a mão quem sabia que ele ia dizer isso! ~Levanta a mão imaginariamente.

Só faltava três dias para as férias de Junho começar, isso explicava a falta de professores, pois já haviam fechado a nota. Tecnicamente durantes aqueles três dias eles nem precisavam estar indo pra escola, ao menos que alguém tivesse de recuperação, o que não era o caso de Kazemaru.

Felizmente o azulado havia dito uma ótima ideia para aquelas férias, e ele colocaria seu plano em prática daqui a exatos três dias.

~*~

Três dias depois, no final da tarde de aulas…

— ALELUIA! ALELUIA, SENHOR ALELUIA! - Berrou a morena de cima do banco da praça em frente a escola - Eu passei sem nenhuma nota vermelha!

— Para com isso, sua doida, as pessoas estão olhando. - Pediu o azulado rindo sentando em outro banco.

— Entrar de férias sem ficar de recuperação é motivo de festa! Principalmente se for comigo. Não acredito que tirei nota azul em Química!

— Com o Handa te ajudando também… - Que bom que não preciso mais semtir ciumes do Handa com ela, mas àquela frase ainda me doeu um pouquinho... 

— Verdade, o Handa é muito inteligente… - Replicou saindo de cima do banco e sentando-se sobre ele - E então? O que vamos fazer nessas férias?

— Nós não vamos fazer nada - Disse seco segurando o riso quando a garota murmurou um “Que?!” meio alarmado - Eu vou viajar hoje.

Beleza, agora só preciso convencer minha mãe a me deixar viajar.

— Nãaaaao! - Manhosa, ela esticou a mão sobre a mesa de xadrez fazendo uma carinha de choro, só pra alcançar a minha e segura-la.

— Siiiim… - Afirmei no mesmo tom que ela, só que muito mais desanimado - Vou ir pra casa da minha avó em Kamakura*.

— Droga! E o que eu vou fazer aqui sem você? Eu não tenho muitos amigos…

A Yasmin é muito anti social, e só sai de casa ao menos que você chame ela pra comer, praticar algum esporte ou ir a algum parque de diversões, caso contrário cria raiz em casa, até porque eu acho que já disse: ela odeia multidões.

— Será que… - Sussurrou pensativa - Ah, deixa pra lá…

— Fala.

— Não, esquece isso...

— Fala logo!

— Não!

— Eu tô mandando!

— Você não manda em mim!

— Então eu mando você não falar nada!

— Eu falo se eu quiser!

— Não fala!

— Ah! Eu ia pedir pra você perguntar pra minha mãe se eu podia ir junto, seu idiota!

Psicologia reversa, aprendam com o papai, crianças.

— Hmm… - Fiz suspense, ela tava quase me comendo com os olhos de tanta curiosidade - Eu posso tentar…

— KHYAAAAA! - E começou a berrar, levantando do banco e me abraçando. Ela é tão apegada a mim que não consegue ficar longe, aaawwn!

— Sim, mas… - Fiz ela me soltar, mas permaneci com os braços envoltos em sua cintura, a olhando de baixo pra cima, já que ela ficou em pé - A Leona vai estar lá…

— Merda.

— Para!

— Ah, qual é?! Aquela garota é um saco!

Escondi dentro do meu ser o sorriso diabólico que eu quis dar ao ouvir aquilo; e você ainda não sabe quem é Leona, mas eu explico!

Leona Braws é a minha prima, e bom… Eu tenho uma melhor amiga extremamente ciumenta. Conseguiu unir as coisas? Não? Então vamos lá; basicamente, Leona é tudo o que a minha Atsuki não é: loira, alta, pálida, cabelos ondulados feito de sereia, peitos gigantes, olhos azuis e ainda é modelo. Pra “piorar”, eu sou o primo favorito dela e ela só é dois anos mais velha do que eu (17 anos).

Eu vou matar a Yasmin de ciúmes, até ela perceber que me ama, até porque a gente só sente ciúmes de quem realmente gosta, e eu tirei o BV dela! Não é possível que ela não sinta nada por mim!

Observei-a fazendo biquinho com os braços cruzados e uma cara emburrada, que intimidava qualquer marmanjo.

— Acho que perdi a vontade de ir…

— Não! -... Puts, acabei me levantando e falando muito alto. Me exaltei aqui, gente - Quero dizer, nós vamos aproveitar a viagem juntos, eu nem vou ligar pra Leona!

— Você sempre diz isso quando ela vem aqui, mas o que você faz? Isso mesmo, FICA O TEMPO TODO COM ELA!

— E-eu… - A culpa não é minha! Ela é gata demais! - Eu prometo que vou ficar com você o tempo todo, ok?

— O tempo todo também não, porque eu não gosto de grude…

 Meu Deus, que menina chata!

— Aahhh tá bom! O tempo que você quiser, então…

Talvez eu esteja sendo um pouco… Submisso demais (Um pouco?!!), mas eu preciso fazer isso.

— … Tá bom… Mas não fica dando mole pra ela! - Pediu enquanto desviava o olhar do meu com… as bochechas coradas?

— Ok… - Cantarolei passando o braço ao redor de seus ombros, a puxando para um meio abraço - Por que você tem tantos ciúmes de mim?

Perguntei me fazendo de malicioso e ela me olhou de um jeito, que eu podia jurar que um soco seria dado no meu estômago, mas o que me relaxou foi a vergonha estampada na sua cara, PORQUE EU ESTAVA CERTO, ELA MORRIA DE CIUMES DE MIM E NÃO PODIA NEGAR!

— Você é meu, Kazemaru. Eu já disse e vou repetir quantas vezes eu precisar. Você. É. Meu.

Uau… Beleza, agora vamo se beija.