Tempestta escrita por Krika Haruno


Capítulo 42
Era de Paz


Notas iniciais do capítulo

Ultimo capitulo



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Iskendar e Mask dormiram praticamente a tarde toda. Quando acordaram Gustavv não poupou xingamentos. Claro que o alvo foi Mask, mas o policial também não escapou do sermão. Depois do jantar, o italiano recolheu-se alegando dor de cabeça.

Ele tomou um longo banho e depois foi sentar-se na varanda. A noite estava agradável com o céu límpido e vento fresco. Olhava a paisagem. Shermie tinha voltado ao normal com seu trafego aéreo e a iluminação vinda dos arranha-céus.

Pensou na sua vida. Seria maravilhoso, se Atena e seus amigos pudessem permanecer em Ranpur. Teria a presença da sua família mais a dos amigos. Porém sabia que aquilo não era possível.  Afrodite e Iskendar haviam dito. Ele tinha que escolher.

Sorriu ao se lembrar da primeira vez que viu Evans e Marius. Achou os dois loucos quando disseram que era um "alienígena".

— "Quanta coisa se passou desde então..."

Pensou, lembrando-se dos primeiros dias em Shermie, a morte de Célica, o início da guerra, a descoberta do irmão e tantas outras coisas... Agora até mesmo Shion seria pai!

Levantou, pegou a urna da sua armadura, levando-a para a varanda.

— O que acha que eu devo fazer? - indagou como se ela pudesse responder. - quero proteger meu lar, mas não quero abandonar o santuário... não quero te abandonar, logo agora que começamos a nos entender.

Os raios lunares fizeram a urna brilhar. Por vontade pronta, a armadura saiu da urna e revestiu o corpo do canceriano. Ficou por alguns minutos, até sair ficandomontada ao lado dele. Giovanni sorriu.

— Obrigado pelo conselho. Já tenho uma decisão.

Logo de manhã, Eron informou que faria uma reunião a tarde. Pediu a presença de todos, inclusive dos dourados que estavam fora. Marius e Beatrice também foram chamados.

O dia passou ligeiro e a tarde, Shaka, Kanon, Kamus e Shion chegaram. 

— Espero que esteja lúcido e não diga asneiras pelo efeito do álcool. - disse Dite procurando um lugar para sentar.

— Estou bem Peixes. - ralhou. - já tive porres piores.

— Eu sei muito bem disso. - observou Shion com a expressão fechada. – Me contaram sobre ontem.

Ele não retrucou.

— O que tem a nos dizer Giovanni? - perguntou Atena, já imaginando o teor da conversa.

Ele ficou em silêncio, observando os presentes. Praticamente de um lado estavam sentados os pertencentes a GS e do outro, os da Terra. Aquilo era um sinal, que só havia uma alternativa.

— Quando o senhor Marius bateu na porta do templo, meses atrás, eu juro que pensei que tudo não passava de um sonho, melhor um pesadelo. Queria acordar e ver que tudo não havia passado de um mal entendido... - sentou-se. - mas não foi bem isso que aconteceu e até por uma guerra eu passei. Perdi pessoas queridas, ganhei amigos e descobri um irmão. - fitou Iskendar.

A sala estava num profundo silêncio.

— Hoje, sei quem eu sou. Sou um Tempestta com uma missão a cumprir. - fez uma pausa. - Quando me sagrei cavaleiro, não tinha noção do verdadeiro significado em ser um. Fiz escolhas equivocadas, que poderiam ter mudado o rumo das coisas. Perdi uma pessoa querida, ganhei amigos e um propósito de vida. - fitou Atena. - Hoje, sei quem sou. Sou um cavaleiro de Atena.

Ficou calado. Foi tão difícil chegar a aquela escolha e ainda se perguntava se estava fazendo o correto.

— Não posso ter os dois, e uma hora teria que escolher.

Fitou Atena e a mãe. Lirya trazia o coração apertado. Por mais que dissesse que apoiaria o filho qual fosse sua decisão, queria o perto dela.

Giovanni levantou de onde estava e caminhou lentamente até Atena, ajoelhando na frente dela. A rainha sentiu o coração parar.

— Atena... - as palavras sumiram. - Atena, eu... errei muito com a senhorita. E agora que compreendo meu papel, queria recompensar todos os anos que fui um péssimo cavaleiro.

Iskendar ficou surpreso. Eron voltaria para VL?

— Giovanni, - Atena tocou gentilmente os cabelos azuis. - tudo que fez em Asgard e aqui compensaram seus anos obscuros. Defendeu GS como um autêntico cavaleiro. - sentiu os olhos marejarem.

— Atena... - foi a vez dele derramar algumas lágrimas. Não imaginou que fosse tão difícil, mas... - eu vou ficar. - as lágrimas simplesmente caiam.

— Está livre para cumprir seu destino, príncipe Eron.

Não esperava ouvir aquilo de Atena. Ela o compreendia.

Abaixou o rosto lentamente até tocar o chão, começando a chorar. Sentia alivio por um lado, mas uma grande tristeza por outro. Era como se arrancasse um pedaço de si.  Era um choro baixo e melancólico. Atena levantou envolvendo-o.

Lirya e Iskendar ficaram surpresos, enquanto os cavaleiros apenas sorriram. Antes de ser Giovanni, ele era Eron. Afrodite levantou de onde estava e agachou diante dos dois.

— Eu vou tomar conta dela por você. Eu prometo.

Afrodite abraçou o canceriano. Sentiria muita falta dele.

Iskendar fitava o irmão, que era confortado pelos companheiros. Realmente era o destinodele viver em GS?

Diante da decisão de Mask, Lirya deu continuidade aos preparativos. A coroação seria em dois dias...

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... Como na condecoração, o povo estava nas ruas. Um enorme palanque foi armado na entrada principal do palácio, tendo como objetos principais, o trono e um pequeno suporte onde estavam depositados a coroa e o cetro real.

A cerimonia seria transmitida a toda a galáxia. Todos os principais líderes estavam numa tribuna especial, assim como os cavaleiros. Sendo os primeiros a esquerda e os outros a direita.  Somente os santos de Atena que voltariam para a Terra estavam trajando suas armaduras. Os demais vestiam as roupas tradicionais dos planetas que ficariam.  Shion era a exceção. Como príncipe consorte de Alaron vestia se como tal e estava na tribuna política.

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Giovanni mirava-se no espelho. Meses atrás se olhou naquele mesmo objeto não se reconhecendo. Trajava a mesma roupa daquela ocasião, mas agora ainda mais requintada. Trazia no peito os emblemas reais e a faixa azul. Um manto negro completava a vestimenta. Os cabelos azuis estavam emoldurados por sua tiara.

O olhar desviou para a urna de Câncer. Ele tirou sua tiara e abrindo a urna pegou o elmo colocando-o. Ainda se sentia os dois, mas quando o elmo fosse retirado, Giovanni Romanelli ficaria na lembrança.

Iskendar entrou, já que bateu algumas vezes e ele não respondeu. Ficou surpreso ao ver o elmo. Andou calmamente parando ao lado dele. Ao contrário do cavaleiro, o policial trazia um uniforme militar na cor azul marinho. Também usava uma faixa e as insígnias.

Olhavam-se através da imagem refletida.  A única diferença deles era a coloração azul nos cabelos do mais novo. Mask fitava o irmão e por segundos imaginou que fosse o pai ao lado dele. Iskendar percebeu o olhar.

— Vai dar tudo certo. – disse. – E mesmo que tenha que entregar a armadura, sempre será um cavaleiro. Sempre será o cavaleiro de ouro de Câncer.

— Eu sei. –soltou um suspiro. - quem diria que eu o veria vestido assim.

— A gente se acostuma. –o policial ficou sem jeito.

— Já está na hora?

— Sim. Todos o aguardam.

— Estou indo.

— Estou muito orgulhoso de tê-lo como irmão. - Iskendar tocou no ombro antes de dar dois passos para trás. - longa vida, vossa majestade real, rei Eron.

Fez uma mesura. Giovanni sorriu.

O evento já havia começado com desfile militar, tanto em terra quanto no ar.

Assim como em Alaron, Atena participaria efetivamente da cerimonia. Tanto que Lirya pediu que ela coroasse seu filho. A deusa estava com seu traje completo. O bracelete, cinto e gargantinha em ouro. Na sua mão direita o báculo.

O som de trombetas silenciou o povo. A realeza sairia por um portão lateral e subiria para o palanque. O primeiro a passar pelo tapete vermelho foi o príncipe Iskendar. Dara sorriu orgulhoso ao ver "seu" menino. O policial posicionou-se ao lado de Atena.

A próxima pessoa anunciada foi a rainha Lirya. Ela usava um vestido todo azul, inclusive o manto. Exibia as jóias da coroa e tendo ao alto da cabeça uma coroa de diamantes. A medida que ela passava era saudada pela população. Lirya parou ao lado do trono.

As trombetas anunciaram a entrada de Giovanni. Um grupo de policiais surgiu, marchando de forma elegante. Eron estava no meio deles e outro grupo atrás. Trazia o olhar fixo no palanque, principalmente no trono em formato de quatro estrelas. Desviou a visão vendo a coroa e o cetro real. Quando estivesse com eles, deixaria de ser Giovanni para sempre.

Do alto os dourados ficaram surpresos ao verem o elmo de Câncer.

Quando ele chegou ao palanque a cerimonia começou com a pompa e tradições cabíveis.

Marius ficou encarregado de realizar o juramento. Parou em frente a Mask.

— Leia isso. - abriu um livro dourado.

O italiano voltou-se para a multidão.

— Juro e prometo governar Ranpur e todos os povos a mim confiados. Usarei meu poder para manter a lei e a justiça. Colocarei os interesses das nações acima do meu próprio interesse. - Giovanni ficou em silêncio por alguns segundos, o olhar desviou para os companheiros de causa. - e a partir de hoje minha vida pertence unicamente a GS.

O povo aclamou. Lirya sorriu. Lembrou-se de quando Soren foi coroado. Os cavaleiros fitavam-no, a cada minuto Giovanni transformava-se em Eron.

Iskendar pegou o cetro e entregou ao irmão. Atena aproximou. Ela o fitou demoradamente. Estava feliz por Giovanni. Ao contrário dos seus antecessores ele estava tendo um final feliz.

Delicadamente tocou no elmo, retirando-o. A medida que sentia o peso diminuir, Mask sentia que um pedaço dele estava adormecendo. Toda sua vida como cavaleiro passou por sua mente.

— "Prometo Câncer, que serei um rei valoroso, como um autentico cavaleiro."

Surpreendendo a todos, a armadura surgiu ao lado dele. Atena sorriu. A vestimenta estava se despedindo de seu guardião. A grega pegou a coroa.

Como num ato que estava deixando de vez sua vida como cavaleiro, Giovanni elevou um pouco seu cosmo, tornando seus cabelos brancos. A marca dos Tempesttas.

— Em nome de Kasnner e dos ancestrais Tempesttas, eu corôo o príncipe Eron Ceratto da casa real Tempestta, o rei de Ranpur e governante de toda GS.  - depositou a coroa.

Mask caminhou até o trono, sentando.

Com exceções de Alisha, a rainha e Atena, todos curvaram-se.

— Salvem vossa majestade, o rei Eron!

A multidão repetiu entusiasmada. Em seguida uma grande salva de palmas. Fogos de artificio estouraram no céu. Mask ficou de pé. Ainda um pouco acanhado acenou para a multidão.

— Majestade.

Olhou para o lado, Atena segurava seu báculo.

Rapidamente Giovanni ajoelhou diante dela, sendo seguido pela multidão.

— Eu abençoo seu reinado e toda GS.

Atena fez seu cosmo se espalhar por todos os presentes, que sentiram os corações aconchegados e cheios de paz.

Aiolos aproximou-se de Mask.

— Tenha uma vida longa e próspera, majestade. - sorriu, fazendo uma leve reverencia.

— Obrigado grande mestre do santuário. - retribuiu o gesto.

Foi saudado por todos os amigos.

Ao final, seguiram para um almoço que a rainha ofertou.

Gustavv, num canto, observava o amigo conversar com o presidente de Clamp. Os trejeitos e postura séria eramdignas de um rei. Giovanni não existia mais.

— Vai sentir falta dele não vai?

O sueco olhou para o lado.

— Sim Alisha. Foram muitos anos compartilhados. Estou me sentindo como se tivesse perdido um irmão de sangue.

— Você não o perdeu. - tocou gentilmente no ombro dele.

— Não completamente. Sei que ele estará bem, mas não será a mesma coisa como vê-lo todos os dias na quarta casa. Não vou poder vir aqui visita-lo e a vocês também. - a fitou.

— Vou tomar conta dele. - sorriu. - e Shion também. - riu.

— Agradeço.

Depois do almoço, foi a vez de Atena reunir todos. Já estavamhá um mês naquele local e era necessário voltar para a Terra. A viagem seria em dois dias, nesse interim os cavaleiros aproveitavam a estadia. Como no caso de Afrodite, que aceitou o convite da rainha Lirya para um passeio.

Um pequeno meio de transporte os levou para os arredores de Shermie. Ele ficou impressionado ao ver um imenso jardim em meio a uma mata. O jardim era composto por rosas de várias cores. Elas estavam acomodadas em ilhas, tendo arbustos em volta. No meio delas, caminhos de pedras que levavam a um pequeno e elegante coreto.

— Não imaginava que tivesse algo assim. Seria ainda mais perfeito, se o céu estivesse limpo.

— Queria ter vindo num dia assim, mas só ficou pronto dias atrás. - ela o fitou. - espero que não chova. - olhou para o céu.

— Eu não vi muitas rosas na cidade...

— Elas não são o forte de Ranpur, mas depois de salvar a minha vida virou a minha flor favorita.

Dite a fitou fazendo uma rosa azul aparecer.

— Para combinar com seus olhos. - ofertou.

— Obrigada. - colocou nos cabelos. - quer ver mais de perto?

— Claro.

Afrodite ofereceu o braço. O inicio da caminhada foi em silêncio.

— Eu pensei que meu filho fosse escolher a Terra.

— Ele não faria isso. - o sueco fitava o jardim. - por mais que ele goste do santuário, ele é de GS. Mais cedo ou mais tarde isso pesaria.

— Eu sinto por vocês dois ficarem separados. - o fitou. - sempre foram tão unidos.

— Uma hora isso tinha que acontecer. Mas fico aliviado por saber que ele ficará bem. Giovanni tem aquela pose de durão, mas é sensível.

— As vezes acho que o entende melhor do que eu.

Dite riu.

— Ninguém entende melhor uma pessoa do que a mãe, senhora Lirya. Anos de convivência é que facilitaram as coisas.

— Vai continuar sendo cavaleiro de Atena?

— Ainda tenho vigor por muitos anos.

— Eu não entendo muito bem como funciona a sua ordem, mas não gostaria de ficar aqui? Seria tratado como um príncipe.

O cavaleiro a fitou confuso.

— Para mim não a distinção entre você e Iskendar. São irmãos do Eron.

— Eu agradeço a consideração, porém... - pegou nas mãos dela. - não posso aceitar. Ainda me sinto endividado com Atena.

— Fico admirada com o senso de lealdade de vocês. É raro de se ver.

— Atena é uma deusa digna. Merece toda a nossa consideração.

Os dois sorriram. Afrodite sentiu um pingo de água em seu rosto. Olhou para céu.

— Acho que vai chover...

Mal terminou de falar, a chuva desceu. Não era forte, mas o suficiente para encharcar caso ficassem muito tempo expostos.

— Vamos nos abrigar no coreto. - disse Dite. - Não parece ser uma chuva demorada.

Os dois correram para o abrigo. Vendo que a rainha tinha molhado muito, Dite tirou a jaqueta que usava, colocando nos ombros dela.

— Mask me mata se ficar doente.

Afastou-se um pouco, passando a olhar a chuva. Lirya sentou-se num banco de madeira. Olhava o jardim, mas desviou a atenção para o cavaleiro.

— Tem família?

— Apenas uma avó. - não a olhou. - meus pais morreram quando eu tinha cinco anos.

— Sinto muito.

— Tudo bem. Foi há muito tempo.

— É por isso que me protege? Sente-se que me protegendo está protegendo sua mãe?

 Ou encara como um pedido do meu filho?

Afrodite voltou o olhar para ela.

— Essas duas razões e uma terceira. Eu sofri muito quando a minha mãe morreu. Protegendo-te é uma maneira de recompensar Giovanni por não ter salvo Helena e por último porque tenho carinho pela senhora. Da mesma forma que tenho por Atena.

Ela sorriu e Dite teve que desviar o olhar.

— Por que pergunta? - fixou o olhar em uma rosa.

— Tem a pose de durão, mas é sensível.

Foi inevitável o sorriso do sueco. Lentamente ele caminhou até ela, sentando-se ao seu lado.

— O que mais os homens de Atena sabem fazer é chorar. - disse.

— Pode ser egoísta um pouco. - Lirya tocou no rosto dele. - não precisa fingir para mim que deseja que Mask fique. Família sempre quer seus membros perto de si.

Ele abaixou o rosto. Ela estava certa. Durante muitos anos, Giovanni tinha sido seu único amigo e mesmo agora, com a amizade entre os demais cavaleiros, não era a mesma coisa. Sentiria-se sozinho.

— Não disse que as mães entendem melhor? - pegou nas mãos dela. - queria que ele voltasse mesmo, mas o melhor para ele é permanecer aqui. Ser rei vai colocar juízo naquela cabeça.

Lirya riu.

Dite desviou a atenção para as mãos da rainha entre as suas, as soltou imediatamente levemente ruborizado. Desviou o olhar para o jardim percebendo que a chuva tinha diminuído. Levantou.

— Poderemos andar sem molharmos muito. - estendeu-lhe a mão.

A rainha aceitou. O cavaleiro acabou por colocar um pouco de força, puxando-a. Os rostos ficaram próximos. Gustavv fitou a rosa que emoldurava o rosto sereno da rainha. Os olhos abaixaram passando a fitar os olhos e de maneira inconsciente os lábios rosados. Lirya engoliu a seco ao perceber a direção do olhar. Sentia o coração bater um pouco mais forte...

— Gustavv...

O nome pronunciado fez os pensamentos do pisciano voltarem ao normal. Ele deu um passo para trás.

— Vamos? - deu passagem a ela.

— Sim.

A rainha seguiu com Dite a dois passos atrás dela.

No palácio... As vestes molhadas fizeram o canceriano arquear a sobrancelha.

— Para onde levou minha mãe? - cruzou os braços sobre o peito.

— Fomos até o jardim das rosas, filho. - respondeu a própria. - queria mostrar a Gustavv, mas como havia previsão de chuva foi inevitável.

O canceriano fitou a jaqueta sobre os ombros dela.

— Nem para levar um guarda chuva... - revirou o olhar. - depois fala que pensa em tudo.

— Ela está sã e salva. - respondeu seco.

— Que seja. Troque de roupa, vou leva-lo para passear.

— Onde?

— Ver o presente de Shura.

Dite não disse nada, mas antes de sair lançou um olhar para a rainha. Ela até pensou em dizer algo, mas ficou em silêncio.

— E a senhora já para o quarto. Pode pegar uma gripe com essas roupas molhadas.

Ela concordou saindo.

Cerca de meia hora depois um transporte levava Eron e alguns cavaleiros para uma base militar, nas mediações de Shermie. Entraram nas dependências e os cavaleiros seguiam o canceriano a espera da tal surpresa. O espanhol já imaginava o pior. Pararam em frente a uma porta de aço.

— Seu presente está aí dentro.

— Tem certeza que não vai fazer sacanagem? - ainda temia.

— Shura, eu arrisquei a sua vida te mandando para S1. Merece uma bela recompensa. - disse sério.

O cavaleiro ficou surpreso.

— Então abre a porra da porta! - exclamou Aioria muito curioso.

Giovanni a abriu e as luzes acenderam. Shura arregalou os olhos.

— É brincadeira?

— Não. Apenas um mimo. - sorriu. - É seu.

Ainda sem acreditar, Shura aproximou da Ferrari vermelha.

— É minha mesmo?

— E nós?! - exclamaram Dite, Miro e Aioria. - nós também salvamos seu povo.

— Vocês não pediram nada. - zombou.

— Eu não sabia que aqui tinha esse tipo de carro. - disse Deba impressionado.

— E não tem.

Todos olharam para Giovanni.

— Eu desenhei o modelo de uma Ferrari e pedi para os engenheiros construírem uma. Por fora, ela se parece como um carro da Terra, mas por dentro... contem a tecnologia de GS. Babem...

Giovanni destravou o carro. As duas portas abriram para cima, deixando os cavaleiros assombrados.

— Tive que ensinar como funcionam os carros da Terra e fizemos algumas adaptações. Os bancos são com um material parecido com o couro, cambio automático e ele estaciona sozinho. Computador de bordo, funciona com comando de voz. É só dizer onde quer ir, que o carro vai.

— Não preciso nem dirigir?

— Não. Ele te leva, mas tem a função manual se quiser. Entra.

Shura sentou no banco do motorista, passando lentamente as mãos no volante. Os demais dourados se espalharam para ouvir as explicações de Mask.

— Tudo é por controle de voz. Ele só liga quando reconhece sua voz. Façam silencio. - disse para os amigos. Mask apertou um botão.

— Bem vindo senhor...— soou a voz metálica.

Mask deu um cutucão em Shura.

— Shura Martinez.

— Voz reconhecida. Bem vindo senhor Shura Martinez.

Giovanni mostrou o painel que mais parecia de uma nave espacial. Todas as funcionalidades que uma nave possuía, a mais alta tecnologia de GS, aquele carro tinha. Seu motor era movido a energia solar e como suporte, motor a hidrogênio.

— Sem dúvidas levará anos para a Terra ter um carro assim. - disse Aiolos.

— Você vai ser assaltado com um carro desses. - brincou Dite.

— Não vai. - Mask entregou um pequeno dispositivo a Shura. - é uma tecnologia nossa. Você saberá onde seu carro está em qualquer lugar da galáxia. Não existe qualquer sistema da Terra que impedirá o sinal do carro. Pode está no Himalaia ou numa fossa submarina, ele emitira sinal.

— Só falta voar. - brincou Mu.

— Mas ele voa.

— O QUE?! - berraram todos.

— Vejam... diga Shura: modulo vôo.

— Modulo voo... - o espanhol não acreditou nas próprias palavras.

Ouviram um som.

As portas, que estavam para cima, mudaram de forma ficando retas. Onde, anteriormente era o espaço da porta, fechou-se, isolando o compartimento de dentro. O carro flutuou.  As quatro rodas inclinaram, ficando deitadas por baixo do carro.

De dentro, o espanhol arregalou os olhos.

— Eu quero um... - murmurou Miro.

— A decolagem é na vertical, como qualquer nave. Com o "tanque" cheio tem autonomia de cinco horas.

— Mas e os radares da Terra? - perguntou Saga. - satélites, torres de comando de aeroportos, vão pega-lo.

— Saga, GS está a milhares de anos a frente da Terra. É claro que podemos camuflar o carro.

— Você tinha que dar um para cada. - disse Aioria fazendo bico. - é injusto.

— Eu queria um... - murmurou Aldebaran. - não precisava voar, mas eu queria...

— Vocês dão sorte que sou bonzinho.

Giovanni estralou os dedos, sete portas abriram, revelando sete modelos de carros diferentes.

— O Audi prata é do Dite, Mercedez preta do Saga, Jaguar preto do Miro, BMW branca do Mu, Lamborghini preta do Aioria, Camaro branco do Aiolos e Maserati prata do Deba. Eles não voam, mas tem as mesmas funcionalidades da Ferrari.

— Mas eu nem sei dirigir! - exclamou o ariano.

— Então eu fico com o seu carro também. - disse Dite, correndo até o seu Audi. - finalmente um presente digno da realeza.

— Mandou construi-los também? - indagou Aiolos.

— Não brinco em serviço grande mestre. - sorriu orgulhoso. - espero que façam bom proveito e pegue mulheres. De menos Aiolos e Aioria. - fez a observação.

— Mask valeu! - Miro pulou em cima dele. - eu tenho um Jaguar!!

— Sai! - o empurrou. - não vai bater, pois não tem como vir aqui consertar. Eu pedi para fazerem um manual de instruções para o computador de bordo e outros dispositivos, mas se der perda total, sinto muito.

— Obrigado Mask. - disse Deba. - obrigado mesmo.

— Eu que agradeço por terem me ajudado. - sorriu. - vocês fizeram toda a diferença.

Os dois dias passaram depressa...

Uma nave levaria os cavaleiros e Atena até uma base na orbita de Ranpur, de onde embarcariam para a Euroxx. Estavam na área de embarque.

— Quero agradecer a todos. - iniciou Marius. - graças a vocês nosso lar está salvo.

— Faço das palavras do chanceler as minhas. - disse Lirya.

Shion aproximou-se de Aiolos.

— Desejo sorte, grande mestre.

— Obrigado. - Aiolos o abraçou. - desejo toda a felicidade. Fique tranquilo que cuidarei do nosso santuário.

— Sei que sim.

Alisha aproximou de Mu e Kiki e os abraçou.

— Cuidem-se.

— Obrigado princesa.

— Mu. - surpreendo-o o cavaleiro, o ariano mais velho o abraçou. - honre nossa raça e cuide de Atena.

— Pode deixar mestre. - correspondeu o ato. - sentirei sua falta.

— E eu a sua. A sua também Kiki. - abraçou o garoto.

— Vou tomar conta do mestre Mu. Eu prometo. - Kiki sorriu.

— E eu cuidarei desse ancião. - Dohko aproximou apontando para Shion. - dê recomendações ao Shiryu.

Shaka aproximou-se timidamente do ariano mais novo.

— Tome conta de tudo Mu.

— Pode deixar Shaka.

Deram um abraço.

Etah despedia-se de Miro, quando Beatrice parou ao lado dos dois.

— É uma pena eu não ficar para o casamento. - brincou o grego. - queria muito atazanar.

— Vou sentir sua falta. - Bia o abraçou.

— Eu também. Cuide bem do senhor gelo.

Ela o soltou. Kamus parou de frente.

— Não seja um chato com ela. - disse Miro. - nem ciumento.

— Olha só quem fala... - o fitou. - tenha juízo, por favor.

— Na medida do possível. - o grego estendeu a mão.

Kamus o abraçou.

— Tenha uma vida mais tranquila. - falou Kamus. - e cuide-se.

— Está bem. Pedirei ao Hyoga que cuide da sua biblioteca.

Kanon passava e repassava recomendações para Saga. Ele e Niive apenas rolavam os olhos.

— Ele já entendeu Kanon. - disse a garota. - Faça uma boa viagem Saga. - o abraçou.

— Obrigado. E tenha paciência com ele. Se precisar usar a força não hesite.

— Pode deixar.

— Ei! - ralhou. - quem pensa que eu sou?

— Um irresponsável. - Saga o abraçou. - mas que sentirei saudades.

O marina correspondeu o gesto.

— Eu também. - abraçou-o mais forte.

Giovanni via os companheiros despedirem-se, como sentiria a falta deles.

— Obrigado por dividirem comigo suas vidas e experiências. Sentirei falta de todos.

— Nós também. - Deba o abraçou. - proteja todos.

— Prometo.

— Precisamos ir. - disse Shura, querendo entrar logo. Odiava despedidas.

Dohko fez sinal para os companheiros. Ele estendeu a mão. Um a um foi colocando a sua sobre a dele. Kanon e Shion também colocaram.

— Nós passamos por muitas coisas juntos, - iniciou o libriano. - e foi uma honra lutar ao lado de vocês.

— A honra foi nossa Dohko. - disse Mu. - apreendemos muito com você.

— E agradeço a confiança. - Shion pronunciou. - obrigado por confiarem em mim.

Atena aproximou e começou a liberar seu cosmo que envolveu os quatorze.

— Meus nobres cavaleiros... muito obrigada por tudo.

Sorriram emocionados.

Os cavaleiros que seguiriam para Terra foram para o corredor que dava acesso a Euroxx. Eles levavam as armaduras de Virgem, Aquário e Libra, mais a Escama de Kanon.

O italiano viu as silhuetas deles sumirem. Sentiu um aperto no peito.

Atena aproximou do grupo que restaria.

— Desejo toda a felicidade a vocês.

— Agradecemos por tudo que fez por nós Atena. - disse Shaka. - mesmo não sendo cavaleiros oficialmente, em nossos corações sempre seremos seus santos.

A deusa abraçou o grupo.

Não querendo ver o fim definitivo, Kanon e os demais retiraram-se. Restando apenas a deusa, Afrodite, Mask, Aiolos, Lirya e Iskendar.

Atena tocou no ombro de Giovanni.

— Está na hora do adeus.

O cavaleiro pegou a urna de Câncer, entregando-a a Aiolos. O canceriano a fitou longamente. Era muito difícil dizer adeus a ela.

— Obrigado por tudo. - tocou o objeto. - jamais vou esquecê-la.

— E ela de você Eron. - disse Aiolos. - as armaduras carregam as memórias dos antigos donos. Ela sabe que vestiu um homem honrado. Seja um bom rei.

— Serei.

Deram as mãos.

— E você Iskendar, ajude-o.

— Com certeza.

A grega deu um abraço em Iskendar, em Lirya e em Giovanni.

— Seja feliz.

— Obrigado minha deusa.

Atena e Aiolos partiram.

Foi inevitável o canceriano derramar algumas lágrimas, quando viu a armadura sumir de sua visão.

— Cuide dele Iskendar. - falou Dite. - sabe bem como ele é.

— Pode deixar Gustavv. - estendeu a mão. - boa sorte.

— Igualmente.

O príncipe mais velho retirou-se restando os três. Gustavv e Giovanni se olharam.

— Vou com você até a metade do caminho. - Mask começou a andar em direção ao corredor. Não tinha coragem de despedir do amigo.

Os três caminhavam em silêncio, cada um mergulhado em seus pensamentos. O canceriano prolongava ao máximo o tempo, assim como Gustavv que não queria dizer adeus para o amigo e para Lirya. A rainha tinha os mesmos pensamentos.

Pararam no meio do corredor.

— Para ser sincero, queria aproveitar mais a cidade. - disse Mask.

— Temos que sair com elegância. - respondeu Dite.*

Os dois sorriram.

— Pelo menos não estamos mortos. - brincou o pisciano.

Mask o abraçou.

— Sabe que sempre será meu irmão, não é?

— Sei. Nós tivemos uma vida divertida. Cheia de altos e baixos, mas divertida.

— Sim. - Mask trazia os olhos rasos.

— Cuide de todos. - correspondeu ao gesto. - proteja todos.

— Eu prometo.

Mask afastou-se, limpando o rosto das lágrimas que caiam.

— Anda muito chorão.

— Não amola.

O canceriano ficou surpreso ao ver o amigo, com os olhos marejados.

— Despeça da minha mãe e vá embora logo. - deu as costas saindo.

Segurou o máximo que pode, mas quando pisou na sala chorou. Iskendar que tinha voltado aproximou e o abraçou.

— Eles ficarão bem.

No corredor...

Afrodite olhava por onde Mask tinha saído. Lirya o fitava intensamente.

— Obrigada por tudo.

— Não foi nada majestade. - limpou o rosto. - foi um prazer conhecê-la.

— Isso é para você. – a rainha lhe entregou uma caixa ricamente decorada, com o emblema da família real incrustado na tampa.

O pisciano pegou a caixa, abrindo-a. Ficou surpreso.

— É uma coisa simples. Você gostou tanto dos nossos chás que pensei em presenteá-lo.

— Muito obrigado. Vou apreciar cada momento.

— Fico feliz que tenha gostado. –sorriu. - lembre-se de mim quando bebê-los.

Dite contemplou aquele sorriso. Nos últimos dias, o rosto da rainha era presença constante em seus pensamentos,e aquilo o deixava confuso. Não havia mais a ameaça de guerras, então não deveria pensar nela, na forma como estava. Esse sentimento não cabia nas três razões que deu a ela.

— Gustavv?

Ele não esboçou reação... Lirya ficou surpresa com a carícia recebida no rosto e ainda mais quando sentiu os lábios do sueco sobre os seus. O beijo começou terno e não durou muito, mas os rostos não se afastaram. A rainha olhava estática para o cavaleiro. Jamais imaginou que ele faria aquilo. Dite não se contentou com aquele rápido beijo. Beijou a rainha novamente, mas desta vez aprofundou o contato, trazendo o corpo dela para mais próximo de si. Lirya acabou deixando-se levar. O beijo ficou mais intenso. Dite não pensou nas consequências apenas nas sensações que aquele ato trazia. Era algo que queria fazer a algum tempo e que tentou resistir, contudo aquela seria a última vez que a veria.  A intensidade foi diminuindo, ate que os rostos se afastaram um pouco.

— Cuide-se. – tocou mais uma vez o rosto dela.

O cavaleiro deu um beijo casto na testa dela antes de seguir pelo corredor.

A rainha estava perplexa demais para dizer algo. Apenas via a silhueta de Gustavv sumir no corredor...

— Mãe.

A voz de Mask a trouxe de volta. Sentiu os olhos marejarem... ele... Gustavv...

— Mãe... – o príncipe a envolveu. – eles ficarão bem.

— Sim.... – tentava conter as lagrimas. - sei que sim... - chorou.

Estavam todos na sala de comando. Evans sentado em sua cadeira deu o último comando.

— Ativem os motores vandreds.

— Terra, estamos voltando. - Aldebaran brincou novamente, fazendo-os rir.

Atena e seus cavaleiros voltaram a atenção para a grande janela de vidro.

...Viram aos poucos uma luz avermelhada aparecer diante da Euroxx. A luz transformou-se em vários círculos que se propagavam como ondas. Segundos depois os círculos transformaram se em cones e a nave transpassou...

No lugar, restou os rastros avermelhados, que foram perdendo a coloração e desaparecendo em meio a escuridão e silêncio do universo...

 

~~Fim~~

 

PROLOGO

Galáxia GS quinze anos atrás...

Área 1, Ikari...

 

Soren tinha dificuldades de segurar a nave. Apesar de ser um Tempestta, o planeta era hostil a qualquer um que não fosse um elementar. A duras penas conseguiu pousar e em poucos minutos estava dentro da sala oval do palácio. Já estivera outras vezes ali, inclusive com o filho, contudo sentia que aquela vez seria diferente... talvez a última. Foi até o altar e quando pisou no último degrau o cenário mudou. A paisagem de Ikari foi substituída pela imagem da galáxia.

— Aqui estou, como me pediram em sonho. - disse em voz alta.

— Descendente de Kasnner... provas difíceis esperam por ti... a paz tão desejada será ameaçada e sua família sofrerá um duro golpe...

— O que vai acontecer a eles? - indagou preocupado. - Minha esposa e filho.

A jovem humana terá o coração dilacerado com uma dupla perda e você... terá o filho perdido, ele irá para um lugar remoto e só no momento certo aparecerá  para cumprir seu destino... assim determina a lei do universo...

O cenário voltou ao normal, Soren estava apreensivo quanto aos dizeres. Em seu intimo sabia que algo iria acontecer, mas temia a proporção.

Meses depois...

 

A guerra entre GS e S1 seguia violenta. Milhares de vidas haviam sido perdidas de ambos os lados. Com a expressão séria Soren caminhava para seu escritório. Aguardava ansiosamente pela informação de um tratado de paz.

Deixou o corpo cair na cadeira de veludo enquanto olhava para a foto de sua família. Seu comunicador apitou.

— Soren.

— Saudações velho amigo.

— Samir... - deixou um sorriso sair. - é bom ouvir uma voz conhecida em meio a esse caos.

— Trago boas noticias. Nossa pesquisa deu resultado. Existe um hadren que liga nossa galáxia a antiga terra dos Atlantiks.

— Está certo disso Samir?

— Sim. E com esse hadren poderemos entrar em contato com os remanescentes. Comprovar nomes e localizações trazidas pelos atlantiks do êxodo.

— Eu poderei ativar esse hadren?

— Assim espero.— sorriu. - quando essa guerra acabar iremos organizar uma expedição para lá.

— É o que mais desejo. Estou aguardando noticias de Evans e Rihen. Haypen irá assinar o tratado.

— Quando isso acontecer precisaremos conversar sobre algo sério. — o tom de voz de Samir mudou.— será um assunto que irá mudar toda a galáxia.

— Do que se trata?

— Paciência Soren. Em breve saberá.

— Está bem.

Não muito distante dali, o governador de S1, olhava o espaço.

— Mandou me chamar senhor? - um jovem soldado bateu continência.

— Sim major Orrin. Onde está Haykan?

— A caminho de S1. Sua nave está bem protegida. A nave de GS que pegamos também já está a caminho da nossa galáxia.

— Ótimo. - voltou a atenção para ele. - quero que siga para nossa terra.

— Mas... e o tratado de paz? Não o deixarei sozinho nessa humilhação.

— Agradeço a fidelidade, mas preciso de você vivo ao lado do meu filho. Essa guerra não acabará hoje.

— Vamos contra atacar?! - exclamou animado.

— Sim, mas não agora. Perdemos essa batalha, mas não a guerra. Vamos precisar de tempo e de homens dedicados. Parta imediatamente para S1.

— Sim senhor.

Orrin cumpriu as ordens do seu senhor e voltou para S1. Haypen deu a ordem de carregar todo armamento da nave. Tinha consciência que morreria nesse ataque, mas levaria a família Tempestta junto.

Em Obi, Noah estava ao lado da Enraiha. Seu mentor não estava presente e por isso o solicitou que ficasse de olho em qualquer imagem que a bola azul mostrasse. A guerra estava chegando ao fim, mas alguma coisa poderia acontecer. O jovem aprendiz estava muito preocupado com o irmão. Dara as vezes agia de forma impulsiva e temia o pior. Já pensava em sair do local, quando a mente foi invadida por imagens.Noah até tentou chamar seu mentor, mas se perdesse a concentração poderia perder a visão. Ele fechou os olhos...a imagem do palácio real de Ranpur manchada de vermelho surgiu.

— Sangue...? - murmurou intrigado. - mas sangue de quem?

Ficou alarmado.

A borda da Euroxx, Soren e o filho Eron seguiam para a sede da policia para a assinatura do tratado de paz entre GS e S1. Ainda tinha focos da batalha, mas tudo tendia para o fim do conflito. Soren estava em seu escritório, as vezes olhava o que Eron fazia, já que o garoto, de cabelos azuis, era muito levado. Desde a conversa com Samir, mais cedo, sentia o coração agoniado. O amigo não era de fazer suspense, por isso achava que o assunto era muito grave. O bip do comunicador trouxe-o de volta.

— Não pensei que entraria em contato tão cedo. - brincou. - vejo que o assunto é sério.

— E é. Preciso que venha para Alaron assim que assinar o tratado.

— Está me assustando Samir. Diga logo o que foi.

— Eu jurei que nunca contaria, mas esse segredo não posso guardar.

— Diga logo Samir! - exclamou impaciente.

— Você tem outro filho Soren.

O rosto do rei empalideceu.

— Que brincadeira é essa, Samir?

Sabe que não brinco.— a voz saiu bem séria. - lembra-se da Izanami?

Soren não lembrou-se de primeira, mas a mente clareou.

— Mas... mas como...? Foi apenas uma noite, a anos atrás!

Iskendar tem quinze anos e é um Tempestta. Veja.— Samir enviou uma imagem do jovem.

Soren estava atônico. O jovem era muito parecido com sua mãe Bruni e o avô Kirin. Era até mais parecido do que o próprio Eron.

— Como?

Samir contou toda a história.

— Um filho... - deixou um sorriso escapar. - tenho outro filho.

— Sim Soren.— a expressão de Samir suavizou. - tem um garoto. Muito inteligente por sinal e tão genioso quanto você. Eu o enviei para Laka, para a segurança dele e agora está voltando. Deve chegar em poucas horas aqui.

Soren era só sorrisos. Lamentava a morte de Izanami, mas saber que era pai era gratificante. Eron não sentiria mais sozinho e GS poderia contar com dois reis.

— Só preciso preparar a Lirya... ela vai me matar.

Você não escondeu essa informação dela. Lirya vai entender. Te espero em Vanahem.

Soren transbordava felicidade e todos achavam que era por conta do tratado de paz. A viagem seguia tranquila, mas Haypen trazia uma última carta na manga.

— Alteza! - o capitão da Euroxx entrou as pressas no quarto.

— O que foi Sanwel?

— Uma nave de grande porte encontra-se vindo em nossa direção.

As sirenes da Euroxx começaram a soar. A nave de Haypen seguia a toda velocidade em encontro com a Euroxx. Devido aos danos da guerra, a nave de Ranpur não estava preparada para uma batalha. Soren sabia que eles seriam alvo.

— Sanwel prepare uma pequena nave imediatamente!

Soren saiu correndo em direção ao seu quarto.

— Eron! - abriu a porta num rompante.

— Oi papai.

O rei não disse nada, pegou o braço do filho, arrastando-o pelos corredores.

— Papai, para onde está me levando?

— Para um local seguro. - respondeu sem fita-lo. Não estava preocupado apenas com Eron. Havia Iskendar e ele também seria um alvo.

As sirenes da Euroxx tocavam freneticamente. Soren levou o filho para o hangar das naves. Colocando-o em uma nave.

— Para onde vamos papai? - indagou enquanto via o pai mexer no painel. Soren traçava a rota de VL e os comandos para a nave ficar oculta.

— Irá para um lugar seguro. - voltou a atenção para o filho, agachando na frente dele.

— E a mamãe?

— Só você irá. - o fitou.

— Você não?

— Não. Ficará seguro.

— Mas...

— No momento certo retornará para casa.

— Mas eu não quero ir... – choramingou.

— É necessário.

Soren segurou o rosto do filho com as duas mãos e aproximou sua testa da dele. Usando seu poder de Tempestta começou a jogar várias imagens na mente do filho, alterando lugares, percepções e nomes. Deixou também em estado suspenso o poder dele de ativar hadrens. Não que VL teria tecnologia para ir ao espaço, mas temia que algo desse errado. Intuiu também para que ele procurasse os atlantiks de VL.

Levantou, indo até um compartimento a procura de algo. Quando voltou rasgou um pedaço de sua túnica escrevendo algo sobre o pano: Nascimento 24/06.— parou para pensar, precisava lembrar dos estudos feitos com Samir sobre a geografia e línguas de VL. -Ilha itálica, pais Sorrento e Liriana. Nome: Giovanni Ronna Nelly. Protegido por lemurianos.  Ao terminar de escrever amarrou nas vestes do filho.

— Papai...

Soren o abraçou bem forte.

— Lembre-se sempre que o papai te ama muito. E que tudo que está fazendo é para seu bem.

Deu um beijo na testa dele.

— Papai eu não quero ir... eu não quero ir... - começou a chorar.

Soren deu as costas não olhando para trás. Trazia os olhos marejados. Talvez aquela fosse a última vez que veria seu filho. Também tinha Iskendar... era certo que também não o conheceria...lembrou-se das palavras ouvidas em Ikari.

O rei deu a ordem para que as portas fossem abertas. A nave começou a decolar com Eron gritando desesperado.

— Adeus filho...

A nave partiu. Para que Haypen não a visse, Soren ordenou que a Euroxx mantivesse seu curso. Dentro da pequena nave, Eron via a Euroxx se afastar.

— Papai!!

Houve um forte clarão, com o impacto, a nave de Eron foi jogada praticamente dentro do hadren que havia aberto. A Euroxx tinha sido acertada, levando todos que estavam a bordo a morte. Minutos depois, a nave de Haypen também foi almejada levando- o a morte. A guerra findou-se...

Eron em choque, olhava para a frente.

— Papai...

Acabou perdendo os sentidos...

... Os olhos azuis miraram o vidro. Uma forte nevasca abatia o local. Em transe, Eron tirou o cinto e saiu da nave. Olhou para todas as direções só vendo montanhas, gelo e neve. A nave recolheu as asas, tomando a forma de um triangulo. Lentamente ela cavava um buraco sobre si, enterrando-se completamente na neve. Eron voltou a atenção para o céu e usou sua telecinese...

— Ei garoto. Garoto acorde. - um soldado de vestes atenienses cutucava um menino. - acorde.

Lentamente Eron abriu os olhos...

— Você está bem? - indagou o soldado. - qual o seu nome...?

— Giovanni... - a voz saiu mole, fechando os olhos em seguida.

O soldado notou algo nas vestes dele. Leu o escrito no pequeno pedaço de pano, ficando surpreso.

— Bem vindo ao santuário de Atena, pequeno Giovanni. - deu um sorriso. - tem sorte, será protegido do grande mestre Shion.

 

EPILOGO

 

A fundação de Saori Kido tinha organizado uma grande operação e completamente despercebida aos olhos dos governos mundiais. Se algo fosse descoberto poderia trazer grandes problemas a todos.

Uma base bem equipada estava na base da montanha mais alta do mundo: Himalaia. De lá, Atena e alguns cavaleiros de ouro aguardavam o anuncio da descoberta. Cerca de três horas depois chegou a noticia. Usando seus poderes, a deusa mais sua elite subiram a montanha.

— Estava muito bem protegida. - disse o líder da expedição.  - enterrada nas profundezas da montanha.

— Tem algum dano? - indagou a deusa.

— Está intacta.

Giovanni olhava com expectativa. Não pensou que voltaria naquela montanha depois de tantos anos. A equipe fez a ultima operação e o objeto de cor azul metálico despontou aos olhos de todos. As asas que estavam recolhidas abriram imediatamente mostrando um emblema: uma estrela dourada de quatro pontas.

O canceriano não segurou a emoção, indo de joelhos ao chão, começando a chorar.

— Tudo terminou Gio. - disse Dite amparando-o.

— Eu sei. - enxugava as lágrimas. - é que passou um filme. Tudo que aconteceu naquele dia...

— Nosso pai está em paz agora Eron. - Iskendar falou. - tudo acabou.

— Sim. - sorriu.

— E o que pensa em fazer com ela? - indagou Atena fitando-o.

Giovanni olhou para a nave. Aquilo foi o começo de tudo e finalmente o ciclo tinha fechado. Agora poderia olhar para o futuro sem as sombras do passado.

— Está na hora dela retornar para casa.

 

 


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Notas finais do capítulo

* Fala de Afrodite e Mask no último episodio de Soul of Gold

Mais uma fic chegou ao fim, depois de um ano e meio de escrita. Meus sinceros agradecimentos a todos que acompanharam a história. Obrigada em especial aos que comentaram.

Espero vê-los novamente em breve.

 

Krika Haruno

03/09/2017



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