Tempestta escrita por Krika Haruno


Capítulo 20
O filho de Soren


Notas iniciais do capítulo

O nome do capitulo já diz tudo...



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Depois dos ataques, não houve alerta algum na galáxia. Parecia que Haykan havia recolhido seus tentáculos a espera de um novo embate. Na sede da policia, Rihen transferia para um dispositivo pessoal, muitas informações. A hora de se rebelar estava chegando. Ele já tinha tudo planejado. E se tudo corresse bem, naquele horário no dia seguinte, estaria a frente de uma nave de guerra.

— Chegou a hora de GS cair. - murmurou.

Na sua jurisdição, Niive chefiava um grupo de segurança. Depois dos ataques a Eniac, ela temia que Clamp e Alaron fossem almejados novamente. Estava tão envolvida que mal conseguiu falar com Kanon. Sabia que ele estava bem, mas sentia falta dele.

Esse era o mesmo pensamento de Urara. A segurança de sua área vinha em primeiro lugar, mas ansiava por ver Shaka.

Em Orion, Stiepan fiscalizava os reparos na Titan. Ela precisava está perfeita para um novo combate. Aumentou também a segurança em torno da lua artificial, a Ramaei e a Genesis não poderiam ser descobertas.

A quilômetros dali...

Haykan olhava para a foto do pai e dos irmãos. Tinha levado quinze anos para que seus planos acontecessem. O pai e o irmão mais velho perderam a vida na guerra e o outro irmão era um fraco que não faria nada. Para que a vingança desse certo, teve que eliminá-lo. Não se arrependia e tampouco se importou em afastar pessoas proximas, pois como sempre dizia: os meios justificam os fins.

— Senhor, estamos prontos. - disse um soldado.

O líder levantou e seguiu por um longo corredor. Não bastasse o poderio militar que sua galáxia possuía, ainda contava com algo a mais. O corredor terminava numa grande janela de vidro. Dali via-se um campo aberto. No centro dele, uma base circular feita de aço, que sustentava hastes de aço que subiam metros, formando uma espécie de pirâmide. No centro

uma grande bola maciça sustentada pelas hastes.

— Ela está pronta para ser transportada.

— Levará quantos dias até ser montada naquele local?

— Três dias.

Ele sorriu.

— Podem disparar.

O soldado deu a ordem. A bola foi energizada, emitindo um brilho azul, a medida que girava. Com o aumento da  rotação, a base de aço girava. As hastes se moveram formando uma espécie de ponta de lança. A energia azul concentrou-se na ponta e depois partiu num disparo.

Haykan abriu um grande sorriso ao ver o brilho dourado semelhante a fogo se espalhar pelo local atingido.

— Perfeito.

O.o.O.o.O

Evans, Marius, Ren, Mask e os cavaleiros estavam reunidos na sala de reunião. O capitão da Euroxx trazia recente noticias dos ataques do dia anterior.

Iskendar estava parado diante do palácio real. Todas as vezes que pisara ali, sempre estava em alguma missão, agora sua estadia traria uma grande reviravolta.

— Está com medo? - brincou Dara tocando-o no ombro.

— Medo não, apreensão. - o fitou. - sei que as coisas serão diferentes de hoje em diante.

— Coragem.

— Para nós dois. - disse olhando para as vestes dele: uma túnica branca.

Os dois entraram. Hely os conduziu até a sala, achando curioso o eiji. Nunca tinha visto-o.Iskendar aguardou do lado de fora até ser chamado por Dara.

Dara entrou no recinto, ficando surpreso ao ver tantas pessoas. Marius assim que o viu o achou muito parecido com um velho amigo.

— Majestades. - fez uma reverencia.

— Senhor Dara...? - Mask estranhou vê-lo com as vestimentas dos Eijis e de olhos azuis claros. - Obrigado por ter vindo.

— Primeiramente aceite o meu agradecimento. - o fitou. - todos estão a salvo em Kiesza.

— Não fiz mais que a minha obrigação. - sorriu. - eu pensava que seus olhos eram negros.

Shaka o fitava, ele se assemelhava muito aos conselheiros de Obi.

— Naquele dia usei lente. Eu não poderia expor minha verdadeira identidade. Sinto muito por ter omitido.

— Verdadeira identidade? - indagou Evans.

— Eu sou um Eiji. Sou filho de Shoo Bertie e irmão mais novo do conselheiro de Obi, Noah.

— Você é irmão do Noah? - Marius assustou. - ele não tinha desaparecido logo após a guerra?

— Realmente depois da guerra eu “desapareci”. Não queria que o passado voltasse a me assombrar, mas uma nova guerra obrigou-me a voltar a ser quem eu era.

— Noah sabe? - Lirya estava surpresa.

— Sim, mas ele foi delicado o suficiente para não revelar a ninguém quem eu sou. Eu não poderia governar Sidon.

— Estou surpreso. - Mask sorriu. - Ainda bem que foi uma surpresa boa. Sendo um eiji creio que as informações que possui sejam boas.

— São importantes, alteza - o rosto ficou sério. - temos um traidor dentro da policia.

— O que??! - berraram todos.

— Desculpe senhor Dara, - iniciou Evans. - mas um traidor dentro da policia?

— Era assim que S1 sempre estava um passo a frente. - foi até a mesa, colocando um objeto. - vejam essas imagens.

Dara colocou a comunicação de Jhapei na tela principal. Viram o diretor Athos Eduk conversando com um militar de S1.

— Isso foi gravado na base militar construída em Sidon. Este homem é um alto militar de Haykan.

... Não há erros... mesmo com toda a investigação não irão descobri-los.... os dados enviados por Niive sobre o atentado e a invasão de Ox foram apagados...

A medida que escutavam ficavam perplexos.

...S1 tem livre acesso a GS, retirarei as patrulhas de combate...

— Jamais imaginei que Athos fosse um traidor... - murmurou a rainha estarrecida.

— Todo esse tempo entrando e saindo da policia... - Marius estava chocado. - hipócrita!

— Fil #@$! - gritou Mask. - ele vai pagar muito caro por isso.

— Era assim que S1 tinha informações.

— Podemos confiar nisso senhor Dara? - indagou Evans. - onde conseguiu esses dados?

— Infelizmente não posso revelar. Enquanto a pessoa não estiver sobre minha guarda, qualquer vazamento pode implicar na morte dela.

Mask fitou diretamente o governador de Sidon.

— Essa pessoa pode nos fornecer mais informações?

— Na medida do possível.

— Quando ela cumprir o que tem que fazer, faça-a vir para cá. Terá nossa proteção.

— Agradeço alteza. - fez uma leve mesura.

— O que vai fazer com essa gravação? - Shion fitou o canceriano. - vai levá-la ao presidente da policia?

— Não ficará restrito ao presidente. - Mask olhou para Beatrice. - convoque uma reunião de emergência com todo o conselho e lideres militares para amanha. Ele será desmascarado diante de todos.

— Tem certeza filho?

— Absoluta. Não irei tolerar qualquer traição.

— Tem mais uma questão alteza. - disse Dara. - é sobre o exército de S1.

— Diga.

— O superintendente Madden tem mais informações.

— Faço o entrar. - disse.

— Eu pensei que ele tivesse morrido na batalha. - murmurou Ren.

— Ele fingiu-se de morto para investigar.

Iskendar entrou na sala. Marius o achou familiar, Lirya arregalou os olhos. O rapaz parou diante de todos. O olhar correu pela sala, fitando os amigos do príncipe. Vendo-os de perto pareciam homens normais. As iris azuis foram para Eron. Era a segunda vez que o via cara a cara. Achou-o muito parecido com o rei Soren.

— Seu rosto... - murmurou Mask. - eu te conheço.

— Já nos vimos antes alteza. - disse.

O italiano forçou a memória. Lembrou-se imediatamente de Ikari.

— Você me salvou, quando minha nave caiu em Ikari.

— Tem boa memória. -  a voz saiu fria.

— Como assim ele te salvou? - indagou Afrodite.

— Agora me lembro. A tempestade acertou a minha nave e eu caí. Ele me salvou e me deixou em orbita. Apesar do soco, obrigado.

— Tudo que Dara disse é verdade. - ignorou a frase. - Athos é o informante de S1 e acredito que ele possa está por trás do seu acidente. - apontou para o príncipe.

— Acidente? - estranhou.

— Do que está falando? - indagou Marius.

— Sua nave caiu não por conta da tempestade e sim porque foi acertada. Havia uma terceira nave em Ikari. Seja quem for o queria morto e quase conseguiu.

— Não foi um acidente? - Lirya estava perplexa. - tentaram matá-lo?

— Sim majestade. Há muitas pessoas que querem a cabeça dele.

— E você não? - Saga o fitou desconfiado. - se sabe de tudo isso é porque estava lá. E quem garante que não armou tudo isso?

— Se não fosse as circunstancias, - olhou para o geminiano. - eu mesmo faria o serviço, mas infelizmente não posso.

Shaka que o analisava lembrou-se das visões e ao se lembrar da pintura...

— "Por Atena!"

— Não valeria a pena sujar  minhas mãos com esse sangue imundo. Eu teria vergonha perante minha mãe.

— Sangue imundo? - indagou Beatrice sem entender.

— Você é um Tempestta. - disse Shaka, chegando a conclusão.

Todos os olhares foram para o virginiano. Dara apenas sorriu. O falso eiji honrava a raça.

— Como assim ele é um Tempestta? - Mask o olhava.

— Não há como. - disse Marius. - Tempestta apenas Eron e Soren, a não ser que... - o chanceler fixou o olhar nele. Cabelos brancos e olhos azuis era uma característica dos Tempesttas e... - não pode ser... - as palavras morreram.

Os dourados ficaram em silencio. Realmente ele era parecido um pouco com Giovanni...

Lirya estava pálida. Aquele rapaz era idêntico a Soren quando jovem.

— Deixe me contar como tudo aconteceu. - esperou ter atenção de todos. - na época que Soren ainda era um príncipe, ele viajou para o planeta Arong. Era um evento social e minha mãe, que era jornalista, estava cobrindo. Eles se conheceram e passaram uma noite juntos. Minha mãe sabia que ele era o herdeiro Tempestta e que havia sido uma única noite.

— O Soren...- murmurou a rainha desapontada.

— Foi anos antes dele te conhecer majestade. Eu já tenho trinta anos. Minha mãe achou melhor manter-me oculto dele e também não me revelou quem era o meu pai. Cresci achando que era órfão.

Marius sentou. Se aquela história era verdadeira...

— Minha mãe ficou doente e não tinha parente a quem recorrer. Então ela apelou ao rei de Alaron, Samir.

Shion lembrou-se imediatamente da foto encontrada em Sora. Então ele era o menino.

— Ela confidenciou a ele sobre a minha origem e o fez prometer que nunca contaria a mim e Soren  a verdade. Cresci no palácio nos arredores de Sora.

—--Flashback----

Iskendar olhava atentamente as flores da Nias. Nunca tinha visto uma árvore como aquela.

— Iskendar.

Ele olhou para a mãe.

— Mamãe viu como aquela arvore é grande? - apontou.

— Sim. - agachou diante dele. Ela o olhou carinhosamente. - filho esse é Samir, ele vai tomar conta de você por algum tempo.

— Por que? - olhou para o atlantik.

— A mamãe precisa resolver algumas coisas por isso vai ficar com ele. Ele é nosso amigo.

— Por quanto tempo? - a voz saiu baixa.

— Não sei... - disse tristemente. - mas ele vai cuidar bem de você e te ensinar muitas coisas. - sorriu.

— Eu vou ajudar a sua mãe Iskendar. - Samir também agachou diante do garoto. Ele era uma cópia de Soren.

— Mas eu não quero ficar... - choramingou.

— Será para o seu bem. - ela o abraçou.

— Promete que não vai demorar?

— Prometo. Mesmo estando longe, sempre estarei no seu coração.

O menino fitou os cabelos loiros e olhos verdes.

— Ta bom.

— Pode pegar uma flor para mim? - sorriu na tentativa de não preocupar o menino.

— Sim.

O garoto saiu correndo.

— Ele é um bom menino. - disse a jovem fitando o filho. - preciso que guarde segredo sobre quem é o pai dele.

— Guardarei.

— Tenho outros dois pedidos a fazer. - fitou o atlantik. - promete?

— Sim.

— Jamais conte a ninguém sobre os antepassados materno dele. - a voz saiu triste. Izanami contou sobre sua história. A medida que Samir ouvia ficava perplexo.

— Que peso ele carrega. - Samir fitou o garoto.

— Madden, esse é sobrenome dele. O meu seria muito perigoso. - disse tristemente. - Promete que sempre vai protegê-lo.

— Não se preocupe Izanami. - Samir a fitou. - Tem a minha palavra que cuidarei dele.

— Eu sei que sim.

—---- Fim do Flashback----

— Foi a ultima vez que a vi. - a voz dele era calma. - por ser um Tempestta, minha aparência logo poderia denunciar a minha origem, então Samir me levou para Sora. Há essa altura, já estava esperando o Eron. - olhou para Lirya. - na medida do possível Samir supriu a falta da minha mãe e do meu pai que supostamente tinha morrido. Até que teve coragem de me dizer que ela tinha morrido por causa de uma doença.

Mask tinha até sentado. Aquela história...

— E a princesa Alisha? - perguntou Shion. - A conheceu?

— Não.  Eu desconfiava que Samir tinha filho, mas ele nunca me disse diretamente. Talvez por medo de me sentir rejeitado.

— Soren nunca mencionou a sua mãe. - disse Marius completamente abismado.

— Foi apenas uma noite. -  disse sem pesar. - com Samir, - continuou. - aprendi muitas coisas, inclusive meus poderes. Ele me ajudou quando as habilidades de teletransporte, regeneração, barreira e mentais apareceram.

Eron estava atônico. Jamais imaginaria que tivesse um irmão.

— Você nunca conheceu o Soren? - indagou Evans igualmente surpreso pela história.

— Pessoalmente não. Eu o vi apenas uma vez. - o fitou num misto de magoa e rancor. - Foi em Sora, quando Samir o presenteou com isso.

Iskendar mostrou a sua nave. Ficaram de boca aberta.

— Samir fez duas. - pegou sua corrente ligando a nave. -  Ela mostra o mapa de Shermie de quinze anos atrás. A mesma imagem sua, já que Samir não estava mais para atualizar. - guardou a nave. - Por muitos dias fiquei me perguntando porque aquele garoto tinha uma nave igual a minha e porque tinha um mapa de Shermie e não de Sora. Cheguei a perguntar, mas Samir se esquivava.  Não o culpo. - guardou a corrente. - ele fizera uma promessa e atlantiks são bons nisso. Vivi em Sora dos cinco aos quinze. Foi quando a guerra estourou.

— O que aconteceu com você? - indagou Mask.

Os dois fitaram-se. O olhar do italiano era de alguém completamente pasmo com a descoberta, contudo o de Iskendar era de alguém que guardava muita magoa e ódio.

— Samir temia que me descobrissem, afinal, muita gente não gostava dos Tempesttas. - disse o nome da família com desprezo. -  Com medo que eu pudesse ser usado como "arma" ele me contou a verdade. - riu. - só fiquei sabendo que sou filho bastardo por causa da guerra.

—--FlashBack---

O jovem de quinze anos aproximou do rei de Alaron. Samir estava perto de uma janela olhando a paisagem.

— Arrumei minhas coisas Samir. Só não entendo porque tenho que ir.

— É para sua segurança. - disse sem fita-lo.

— Sora não é um bom alvo. - sorriu. - muito menos eu. Sou filho de uma pessoa comum.

— Já se perguntou porque tem seus poderes? - o olhar pousou nele. A cada dia Iskendar parecia com o Soren, até mais que Eron.

— Não. Não é normal?

— Você estudou sobre os humanos, eijis e atlantiks. Onde acha que se encaixa?

— Sou humano.

— Domina a eletricidade? Suporta altas temperaturas?

 - Não.

— Não é um atlantiks, um eiji, tampouco um humano. O que você é Iskendar?

O rapaz ficou em silencio pois não sabia o que responder. Como sempre teve seus poderes achava que era normal. Samir olhava para os cabelos brancos. Ele havia herdado todos os genes dos Tempesttas.

— Sua mãe me fez jurar que nunca te contaria, mas estamos vivendo momentos difíceis. - aproximou.

— Contar o que?

— Sobre sua verdadeira origem.

— Do que está falando Samir? - indagou arredio.

— Há quinze anos, sua mãe teve um envolvimento com o rei de Ranpur. Você é fruto dessa relação.

— Como? - não tinha entendido.

— Você é um Tempestta. Herdeiro do trono tanto quanto Eron. Sua mãe não queria que Soren e você soubessem da verdade.  Infelizmente o rei não sabe da sua existência.

— Quem é Eron?

— Seu meio irmão.

Iskendar lembrou-se imediatamente do dia que Samir recebeu duas visitas. Então aquele garoto brincando com uma nave semelhante a sua, era seu meio irmão.

— Isso tudo é mentira não é?! - berrou.

— Não. - Samir respondeu de maneira calma. - é Iskendar Madden Tempestta.

O garoto ficou em choque. Aquilo só poderia ser mentira, não era um Tempestta e sim Madden. Sua mãe nunca mentiria a respeito de sua identidade.

— Pegue suas coisas e parta.

—--Fim do FlashBack----

— Eu senti muito ódio quando ele me contou. - fitou um ponto qualquer. - ódio da minha mãe, de Soren, de Samir, de todo mundo. A minha vida tinha sido construída a base de mentiras. - fitou Mask. - de um indigente passei a ser herdeiro do trono Tempestta. Ao lado de você. - a voz saiu com desprezo. - o pirralho crescia feliz no palácio enquanto eu na mentira.

Poucas vezes Giovanni sentiu-se tão chocado com uma revelação.

— Samir me colocou numa nave e me despachou para um planeta distante. Só voltei meses depois no final da guerra. A caminho de Alaron, soube que ele tinha morrido, que Soren havia morrido na explosão da Euroxx e que supostamente o principezinho tinha tido o mesmo fim.

Começou a andar pela sala, onde todos estavam num profundo silencio.

— A nave onde eu estava foi interceptada por piratas. Mataram algumas pessoas e fizeram outras de escravos. Fui vendido por 500 tiens. - olhou para Giovanni com repulsa. -  Passei três anos nas minas de Gamamion em Hur. Escondendo o meu rosto com medo que percebessem que eu era o filho do rei Soren. - disse com sarcasmo. - a esperança da galáxia estava jogada numa mina enquanto a rainha empregava esforços para achar o filhinho desaparecido. Durante esses anos alimentei um ódio contra você. - ele deu um passo na direção do canceriano, mas conteve-se.

A animosidade no olhar, que Iskendar direcionava ao italiano era quase palpável. Giovanni não ousava dizer nada. Apesar de não ter culpa, sentia-se responsável pelo destino do irmão.

— Meu futuro poderia ter sido diferente. Eu poderia ter tido a minha mãe e quem sabe o Soren, mas não. O bastardo não poderia ter vez, não é? - olhou para Marius. - as convenções políticas não permitiriam mais de um herdeiro. Isso mudaria o status quo, não é senhor chanceler?

Kanon se via em Iskendar.

— Iskendar. - chamou Lirya. - eu juro que se soubesse tudo seria diferente. Estaria com nós...

— Não existe nós majestade. - a voz saiu gélida. - Eu sou Iskendar Madden e nada mais. - fez uma pausa. -  Passados esses três anos fui encontrado pelo governador de Sidon, Dara. Ele me libertou e me deu uma casa.

Os olhares foram para Dara.

—-- Flashback----

Iskendar puxava um carrinho carregado de gamamion. Estava trabalhando a duas semanas direto, mais de quinze horas por dia e sentia as forças esvaírem. Até sua capacidade de regeneração estava mais lenta.

Parou por segundos para beber um pouco de água.

— Continue trabalhando! - o responsável deu um tapa na garrafa derrubando todo o liquido.

O rapaz o fitou com ódio. Estava prestes a fazer algo, quando uma mão o segurou. Virou-se para ver dando de cara com um homem de cabelos claros e olhos azuis.

— Dara. - disse o responsável. - que surpresa! Veio comprar mais materiais? - a voz saiu melosa.

— Sim. - respondeu mas sem desviar o olhar de Iskendar.

— Venha. - sorriu, pois Dara era um ótimo comprador. - e você volte ao trabalho!

Dara foi levado para a tenda do responsável. Iskendar jogou a corda nas costas voltando a puxar o carrinho.

— Então Dara? O de sempre?

— Sim. - respondeu com os olhos ainda no rapaz. - quem é ele?

— Quem?

— O rapaz.

— Ah sim... - murmurou entediado. - um dos meus homens o comprou de um pirata. Parece que saquearam a nave em que ele estava. Foi no período da guerra.

— Ele é da onde?

— Não nos disse. Ele não é de falar muito. Mas a nave estava indo para Alaron.

— Qual o nome?

— Iskendar. - conversava sem dar importância. - e o pagamento?

— Aqui. - colocou um pequeno dispositivo sobre a mesa.

— Excelente.

— Estou precisando de alguns servos. Quanto quer por ele, Donny?

O homem o fitou.

— Está querendo meu escravo?

— Você consegue outros. Quanto pagou por ele?

— Dois mil tiens.

— Donny. - cruzou os braços sobre o peito. Sabia que ele estava mentindo.

— Quinhentos.

— Te dou os dois mil. Negocio fechado?

— Ele é todo seu. - sorriu por receber um bom dinheiro.

Donny e Dara foram para onde Iskendar estava. O rapaz estava carregando uma nave.

— Pegue suas tralhas e dê o fora daqui! Tem outro dono!

Iskendar desviou o olhar para Dara.

— Meu lugar é aqui.

— Seu lugar é onde eu quiser! - bradou Donny. - Dá um fora daqui antes que eu te mate seu merda. - deu as costas. - está achando que é alguém?

O sangue de Iskendar ferveu. Já estava na hora de acabar com aquela vida miserável. Que se dane o governo de Ranpur. Revelaria quem ele era.

— Dobre a língua para falar assim comigo.

Donny virou-se imediatamente.

— Como?

— Já chega. - Dara entrou no meio. - vem comigo garoto, vai ser melhor para você.

Iskendar o fitou. Não disse nada indo para perto de Dara.

Dara o levou para sua nave e depois seguiram para Sidon. O garoto não fazia idéia que lugar era aquele, mas sabia que estava muito longe da capital. O governador providenciou um quarto, banho, comida e roupas para ele. Depois o levou ate seu escritório.

— Sente-se melhor?

— Sim. - respondeu ríspido.

— Bom. - sentou a mesa. - saiba que paguei dois mil por você.

— O que quer comigo? Vi que tem servos suficientes.

— Não são meus servos, são meus empregados. Eles não são escravos.

— Então serei o primeiro. - riu cinicamente.

— Não te comprei para ser meu escravo. - disse frio. - diga Iskendar. Nota-se que teve boa educação, é culto, não está acostumado a serviços pesados. Sondei com outros escravos, enquanto te esperava. A nave que estava ia para Alaron, mas você não é um atlantik.

— Meu passado não te interessa.

— Interessa pois é meu empregado. Preciso saber quem coloco dentro da minha casa.

Iskendar não disse nada.

— De onde é?

— Sou de Arong.

— Tem família?

— Morreram.

— Na guerra?

— Sim.

— Nomes dos seus pais.

— Só tive mãe. Izanami.

Os dois ficaram em silencio.

— Pode parecer que não, mas fui com sua cara. Parece ser um bom menino e pode me ser bem util. Descanse uns dias antes de começar o trabalho.

Ele não disse nada. Foi para o quarto onde dormiu por dois dias inteiros.  Quando acordou, foi levado para o bar que pertencia a Dara, começando a trabalhar como garçom. Nunca mais Dara perguntara sobre o passado dele. Com o passar dos anos o governador de Sidon percebeu que o garoto tinha boas habilidades. Usando seus contatos, conseguiu que ele entrasse na academia mesmo tendo vinte anos.  Iskendar cursou numa filial da policia nos arredores Orion. Os anos os tornaram amigos. Numa conversa ao final de um dia de trabalho, Dara contou sobre sua vida.

— Você compartilhou comigo sua vida e me tirou daquele esgoto.

— Fiz isso porque gosto de você. - levou um copo a boca.

— Eu sou um Tempestta. - disse sem olhá-lo.

Dara depositou o copo sobre a mesa.

— Desconfiava. Quando te vi pela primeira vez, pensei que estava na frente de Soren. Ainda não sei como as outras pessoas não perceberam isso.

— O rei morreu há muitos anos e a maioria que o conhecia também. - o fitou.

— Como?

Iskendar contou sua vida para ele.

— Seu pai morreu sem saber de sua existência?

— Sim. O único que sabia também morreu.

— A grosso modo isso te faz o primeiro na linha de sucessão. Mas Eron é o filho legítimo.

— Ele está morto. - disse com frieza.

— Será?

— Aquele idiota está morto... se não tiver eu mesmo mato.

Dara não disse nada diante da frase.

—-- Fim do Flashback----

— E Soren morreu sem saber a verdade. - lamentou a rainha. Tinha certeza que se o marido soubesse tinha criado-o.

— Ele soube. - a voz saiu fria.

Todos o fitaram.

— Antes da Euroxx explodir Samir o contou.

— Como sabe?

— Logo após você deixar a sala oval, - fitou Mask. - ele apareceu para mim e me contou tudo.

—---- Flashback-----

Ikari...

Eu sei. – Soren soltou o italiano. – lembre-se que sempre estarei com você. E que sempre contará com uma ajuda especial. - fitou o pingente que Mask carregava. - Samir e suas ideias.

— Ainda conservo a minha nave.

 - Agora vá. Sua mãe deve está preocupada.

Abraçaram-se mais uma vez, antes de Mask partir.

Iskendar escondeu-se para que o italiano não o visse. Depois pensou em ir atrás dele, contudo...

— Iskendar.

Ele voltou a atenção para trás. Soren ainda estava lá.

— Aproxime-se.

Um pouco apreensivo, caminhou até onde estava o pai. Era a primeira vez que ficava diretamente frente a frente. Era como se estivessem num espelho, já que Iskendar tinha os cabelos e olhos como pai.

Você também cresceu. – o fitou.

— O que quer? – indagou sem graça.

Era muito estranho estar diante de uma pessoa tão próxima a você, mas ao mesmo tempo tão distante. Não tinha qualquer laço afetivo com ele, pelo menos achava que não.

— Agradeço todos os dias por Samir ter cuidado de você e não me perdôo por ter sido tão irresponsável.

— Isso não faz diferença agora. – disse fitando um ponto no horizonte. – não poderia imaginar que teve um filho antes de Eron.

— Samir me contou poucas horas antes de eu morrer. Não tinha como te pegar e colocar na mesma nave que Eron. Eu realmente queria que as coisas tivessem sido diferentes.

— Já passou. Pelo menos não teve a preocupação de ter que esconder outro Tempestta e nem passar por uma situação difícil com a rainha.

Nós nem nos conhecíamos na época. Não tem motivo dela ficar magoada. Iskendar,— tocou nos ombros dele. — não existe distinção entre você e o Eron. Eu amo os dois igualmente. Quando eu soube da sua existência...

— Ficou no passado. - afastou-se.

Soren o observou.

— Posso lhe pedir algo?

— O que?

Sei que não tenho o direito a isso, tão pouco vou obrigá-lo, mas gostaria que protegesse seu irmão.

— Como?? - o fitou incrédulo. - Proteger aquele pirralho?

Soren ficou em silêncio. Compreendia os sentimentos de Iskendar.

— Eron não teve culpa de nada. Ele não sabe da sua existência. Se tem que odiar alguém, odeie a mim.

— Ele é adulto e tem quem cuide dele. - disse seco.

— Eu sei que tem, mas ele não sabe como as coisas funcionam na nossa galáxia. Ainda mais se S1 resolver fazer alguma coisa.

— Não posso fazer isso.

— Iskendar. - Soren aproximou. - por favor, proteja o seu irmão.

— Não vou fazer isso! Eu não me importo com a vida de alguém que sempre teve tudo. Se sou um Tempestta ou não, eu não ligava, apenas queria o que era meu por direito.

Soren fitou o pingente que Iskendar carregava.

— Está certo.— disse por fim. - não posso obrigá-lo a isso. - afastou um pouco. - Da mesma forma que Eron, — mudaria de assunto. - você tem um poder oculto que no momento certo irá despertar.

— E terei que descobrir sozinho. - disse zombeteiro. - dispenso.

— Iskendar...

— Eu já vou. Tenho mais o que fazer.

Iskendar não esperava por aquilo. Soren o abraçou.

— Me solta! - o empurrou. - não chegue perto de mim! Não encosta em mim!

Soren o fitou com tristeza. Por que as coisas tinham que ter sido daquele modo? Destino?

— Cuide-se.— disse. Seu tempo estava acabando e em poucos segundos sua imagem dissiparia. - sua mãe manda lembranças.

— Não fala da minha mãe! - os olhos marejaram. - lave a boca para falar dela! Vá embora, desgraçado!

A imagem de Soren foi dissipando...

Iskendar enxugou o rosto e saiu. Esqueceria aquele dia.

—--- Fim do flash-----

Iskendar controlou-se para não derramar lágrimas, pela dor da perda da mãe e pelo odio que sentia.

— Então aquela sensação... - murmurou Mask ao se lembrar daquele dia. - então era você.

— Sim.

— Na sede... - murmurou. - todo esse tempo estava perto de mim.

— Sim.

— Por que? - perguntou Afrodite. Pôde perceber que ele era tomado por vários sentimentos. - por que o salvou em Ikari?

Iskendar olhou para o pisciano.

— Se ele morresse seria o fim da galáxia.

— Só por isso? - indagou Mu igualmente intrigado.

— E o que mais seria? - o fitou de forma seca. - por que eu o salvaria?

— Então se a guerra não estourasse eu nunca saberia que tinha um irmão?

— Não somos irmãos. - disse frio. - Eu sou um Madden.

A mente de Marius trabalhava. Seu lado político estava atordoado. Nas leis de Ranpur, o primogênito era o primeiro da linha sucessora, isso fazia de Iskendar o futuro rei, mas ele era fruto de uma união não oficial, o que fazia Eron o sucessor legal. Quando essa história chegasse a publico, o conselho entraria em crise. Não só o conselho. As conseqüências poderiam chegar até em S1.

— Quer queira quer não, é um Tempestta. - disse Marius levantando. - e isso te faz um alvo de S1 e dos conspiradores.

— Sou um bastardo.

— Não é, e essa informação por enquanto não pode sair daqui. Tem o sangue Tempestta. Basta olhar para a sua aparência, é o retrato de Soren. É até mais parecido que o Eron.

Os dois irmãos se olharam.

— Quais informações tinha sobre S1? - indagou querendo mudar o foco.

— Eles tem três naves maiores que a Antares.

— Maiores? - foi a vez de Evans manifestar. - impossível!

— É possível sim capitão. - mostrou as imagens. - E tem outra coisa. Eles podem usar os hadrens.

— O QUE?! - berraram Evans e Ren.

— Eles desenvolveram tecnologia. Se não estivermos preparados, vão dizimar a galáxia.

— Não vão. - disse Mask chamando atenção de todos. - não irão vencer.

— Você não faz ideia do poder deles.

— É eles que não fazem ideia do nosso poder. - sorriu. - Não estão enfrentando um Tempestta e sim dois.

Dara deu um sorriso. As coisas ficariam interessantes dali em diante. Iskendar o fitou surpreso. Ou ele era muito confiante ou muito ingênuo.

— O que leva a pensar que vou te ajudar?

— A mesma sensação daquela vez na nave, quando te disse que confiava em você. Depois disso podemos até discutir nossas diferenças, mas até lá temos um único objetivo. Proteger nossos lares. Ranpur e Arong.

Evans, Marius e Ren formaram um grupo com Dara e Iskendar, onde os dois estrangeiros contavam os detalhes que sabiam.

Os dourados estavam num canto.

— Primeiro Giovanni ser príncipe e depois ter um irmão... quantas surpresas. - disse Dite.

— Isso muda completamente o jogo político. - Beatrice estava entre eles. - temos dois na linha sucessora.

— Mesmo ele sendo meio irmão? - indagou Dohko.

— O que importa é ter sangue Tempestta e ele tem essas características. Basta olhar para o físico dele.

— Como o senhor Marius disse, essa revelação poderá mudar o rumo das coisas. - observou Saga.

— Mas o mais importante agora é eliminar o traidor. - disse Shion. - ele tem acesso a informações sigilosas. Numa guerra informação é algo crucial.

Mask e Lirya estavam num canto, ainda absorvendo a noticia.

— Jamais imaginaria que Soren tivesse outro filho.

— Está magoada com o papai? - pegou nas mãos da mãe.

— Não. Pela idade de Iskendar eu nem imaginava conhecer seu pai. Só lamento ele ter descoberto tarde demais. Soren teria criado vocês juntos.

— As coisas poderiam ter sido diferentes?

— Talvez... - Lirya fitou o filho de Soren. - talvez agora, quem estaria aqui, feliz por ter encontrado seu filho seria a Izanami. Poderia ter acontecido milhares de coisas.

— Sempre tive alguém me odiando, desde que comecei com os meus crimes. Eu não me importava muito, mas vindo de alguém tão próximo... é desconfortável.

— Vocês irão se entender. - acariciou a face.

— Espero que sim.

— E quanto ao Athos?

— Amanha ele será desmascarado. Não duvido que ele esteja por tras da morte de Célica. Ele vai pagar muito caro.

— Tome cuidado. Diante dessa revelação, podemos descobrir outros traidores.

—  Mask. - Shura aproximou. - a Hely acabou de avisar que a nave que vai nos levar até o hospital chegou.

— Está bem. - o fitou. - Eu não demoro mãe. Alguns vão ficar para tomar conta de tudo.

Ela concordou. Mask foi até Marius.

— Senhor Marius vou ao hospital. - olhou para Dara. - espero encontrá-lo aqui quando eu voltar.

— Sim alteza.

Mask fitou Iskendar. Os dois se olharam. Mask sentia-se sem graça. Queria perguntá-lo sobre seus poderes, mas ao mesmo tempo temia um comportamento seco por parte dele.

— Até breve. - conseguiu dizer apenas isso.

Iskendar ficou em silencio, não sabia o que responder.

Enquanto isso, os conselheiros e todos os lideres militares recebiam com surpresa a convocação de Eron.

Terminado as explicações, Marius retirou-se com Beatrice. Precisava organizar a reunião do dia seguinte. Evans e Ren cuidariam da parte da segurança.

Dara aproveitaria a chance para se aproximar do falso eiji. Queria conhecê-lo de perto.

Com medo de algum ataque, Mask pediu para alguns dourados ficarem no palácio e um deles era o virginiano. Ele estava ao lado de Dohko quando Dara aproximou.

— Podemos conversar? - pediu o governador de Sidon.

Shaka concordou e os dois foram para uma varanda próxima.

— Estou surpreso que seja irmão do senhor Noah.

— Acho que muita gente ficou surpresa. - sorriu.

— Quando olhou para Iskendar sabia que ele era filho do rei? - indagou sem receios.

— Desconfiava. - respondeu sem se importar. - fisicamente eles são parecidos.

— E foi por isso que o "comprou".

— Se eu disser que não, estaria mentindo. Eu gosto do garoto, tem sido como um filho para mim, mas também tenho esperanças em relação a ele. Eu nunca confiei no conselho que se formou após a morte de Soren e tinha minhas dúvidas se Eron estava vivo. Se as coisas se complicassem ele seria um caminho alternativo.

— Posso entender.

— Quero aproveitar e agradecer pelo que fez a Enraiha.

— Soube?

— Eu estava lá. - sorriu diante da expressão de surpresa de Shaka. - não sou muito crente em relação a nossas lendas, por isso Noah me chamou para testemunhar. Os elementares partiram a milhares de anos, não era algo que eu esperava ver.

— Tampouco eu.

— Você tem um grande  poder. Como é a elementar que você serve?

— Nobre, bondosa, generosa que não mede esforços para o bem estar de todos.

— Gostaria de conhecê-la um dia.

— Posso fazer uma pergunta?

— Claro.

— Como foi a guerra?

Dara franziu o cenho.

— Foram tempos difíceis e...

Iskendar andava pela sala, estava se sentido deslocado naquele local. Parou diante de um móvel marrom onde tinha uma foto da família Tempestta. Eron não passava dos dois anos.

— "Há essa altura, eu já estava com o Samir." - pensou.

— Iskendar.

O rapaz virou-se.

— Majestade. - disse surpreso.

Ela não disse nada, apenas o olhava atentamente. Até parecia que estava diante de Soren. Ele ficou incomodado com o olhar, era nítido que a rainha via o rei.

— Desculpe causar um desapontamento na senhora.

— Não causou. - sorriu apontando um sofá. - é que olhando-o eu volto no tempo.

— Posso imaginar. - aceitou o convite.

— Se o Soren soubesse tudo teria sido diferente.

— A culpa agora é da minha mãe? - assumiu a defensiva.

— Claro que não. Na condição dela eu teria feito a mesma coisa. Minha família não é tão importante, eu consigo imaginar a situação que ela passou.

— São águas passadas majestade.

— Pode me chamar de Lirya. - sorriu. - sei o quanto deve está magoado. Com Soren e com Samir, mas quero que saiba que não está sozinho.

— Não faço parte da sua família e nem quero fazer. - virou o rosto.

Lirya ficou em silencio por alguns segundos. Anos de mentira e de sofrimentos haviam machucado-o, apenas com o tempo é que ganharia a confiança dele. Iskendar só era mais uma vitima dos acontecimentos. Eron cresceu longe da sua terra natal, mas pode contar com amigos valiosos, já Iskendar não.

— Sei que as coisas não vão se resolver facilmente, mas espero que pelo menos vocês dois apõem um no outro. Ambos são vitimas por carregarem o sangue Tempestta.

Ele a fitou. Olhando-a de mais de perto, Eron se parecia muito com ela.

— Pode me acompanhar? - ela indagou. - quero te mostrar algo.

Concordou.

O.o.O.o.O

Rihen andava apressado pelos corredores da policia. Já tinha todo o necessário para dar continuidade ao seu plano.

— Senhor presidente. - um policial apareceu. - recebemos uma comunicação de Ranpur.

— Qual?

— O príncipe está convocando todo o conselho e os lideres para uma reunião amanha cedo.

— Disse do que se trata?

— Não.

— Tudo bem. Eu preciso ir.

O presidente seguiu seu caminho e só relaxou quando estava dentro de sua nave.

— "No que ele está pensando...?" - pensou enquanto traçava as coordenadas. - seja o que for não será importante.

A nave partiu da sede da policia em direção aos confins da galáxia.

O.o.O.o.O

Noah olhava para a Enraiha. A bola piscava em dourado de forma sincronizada. Nunca havia presenciado tal evento e aquilo era no mínimo estranho. Por alguns minutos a bola azul emitiu luz num padrão, até que se apagou. O conselheiro deu um passo aproximando, nesse momento a Enraiha emitiu um brilho intenso. Noah teve que levar o braço a visão para protegê-la. Quando a luz diminuiu de intensidade, ele voltou a atenção para ela vendo uma imagem: treze sombras envoltas num brilho.

— O que significa...? - murmurou.

A Enraiha brilhou mais uma vez ate que sua luz extinguiu.

— O que quer nos mostrar?

As palavras se perderam.

O.o.O.o.O

Iskendar seguia a rainha em silencio. Andaram por um longo corredor, até pararem diante de uma porta de madeira branca. Lirya a abriu.

— Por favor entre.

Ainda ressabiado, o rapaz entrou, ficando surpreso. Era um escritório.

— Era o escritório do seu pai.

Ele a fitou imediatamente ao escutar a palavra "pai".

— Olhe as paredes. - ignorou o olhar.  - tem a foto dos últimos dez reis Tempesttas.

Iskendar ergueu o olhar. Havia dez grandes quadros.

— É um mistério Eron ser diferente. - disse o rapaz olhando as fotos dos antepassados.

— Sim. Se um dia ele tiver filhos, gostaria de saber como eles serão.

O Tempestta caminhou lentamente até um, onde tinha uma senhora retratada. Os cabelos brancos e olhos azuis não deixavam duvidas.

— É a sua avó, a rainha Bruni.

Ele a fitou, para depois desviar os olhos para o quadro seguinte.

— Ele tinha sua idade quando tiraram. - disse Lirya olhando para a imagem do marido.

— Agora posso entender a expressão de espanto que as vezes Dara tinha. Pareço que estou diante de um espelho.

— São muito parecidos.

— E esse quadro? - apontou para uma moldura vazia.

— Será do futuro rei. Eron ou você.

— Eu não serei rei. - a fitou.

— Tem os mesmos direitos, são descendentes de Kasnner.

Ouviram batidas a porta.

— Mãe?

— Já voltou? Como está Aioria?

— Eu acabei não indo, mas me passaram que ele está bem, - entrou. - inconsciente  mas bem. - achou curioso achar o meio irmão ali. - mas vai se recuperar. Aquele não morre tão cedo. - sorriu. - o leão é forte.

— E a armadura?

— Shion irá banhá-la com oricalco. Atena nos mata se não voltarmos com ela.

— Eu preciso resolver algumas coisas. - disse tocando os cabelos azuis. - pode mostrá-lo o diário de Soren?

Os irmãos trocaram olhares.

— Tudo bem... - murmurou sem graça.

Lirya os deixou e um silencio mórbido abateu-se sobre eles. Mask caminhou até a escrivaninha.

— Mamãe disse que ele gostava de escrever, apesar da tecnologia. - abriu a gaveta e pegou um livro. - veja.

— Não tenho interesse.

— Tem a escrita do ultimo dia de vida dele. - insistiu sentando.

Iskendar olhou para o livro de capa azul. Pegou sentando numa cadeira. A vida de Soren não interessava, mas movido pela curiosidade abriu o livro. O rei não fazia relatos diários, mas datava com dia, mês e ano. As mãos passaram paginas indo para uma data especifica. Queria saber se ele ao menos citava a mãe.

— Sua mãe já leu? - fitou Mask.

— Ela queria achar pistas que poderiam apontar o meu paradeiro.

Aquilo era uma indicação que o nome da mãe, nem o encontro entre eles havia sido relatado. E realmente foi isso. Durante aquele ano, nem uma menção.

— "Não esperava menos." - passou as paginas, lendo o relato da morte do rei Praig, meses depois da coroação. O casamento com Lirya e o nascimento de Eron. É um garoto forte, mas não se parece nada comigo! Tem todos os traços de Lirya! Marius até brincou dizendo que o sangue de Lirya era mais forte do que dos Tempesttas.  Soren conhecia o chanceler há muitos anos?

— Estudaram juntos na academia. Nosso pai, Marius, Evans e Rihen.

Iskendar voltou a ler. Os próximos relatos diziam respeito a Eron, passou as paginas, parando numa que chamou sua atenção. A tinta da caneta estava borrada. Olhou a data e pôs-se a ler. Primeiro meu pai e agora a minha mãe... se não tivesse Lirya e Eron comigo não sei o que seria de mim...

— Ela morreu muito jovem?

— Pouco mais de cinqüenta. - Mask voltou a atenção para o retrato da avó. - eu tinha apenas quatro anos, não tenho muitas lembranças. Minha mãe disse que foi das poucas vezes que viu nosso pai tão abalado.

Iskendar fitou o retrato da avó. Ficou imaginando como seria o convívio com ela. Voltou a atenção para a leitura. Lembrou-se de um fato, passando as paginas rapidamente. Mask o fitava. O filho mais velho parou numa. Ficou surpreso por aquele fato está registrado. Samir as vezes tem cada ideia! Mas devo confessar que ele tem uma grande habilidade e Eron simplesmente adorou a miniatura da Euroxx. Só achei curioso ver dois moldes...

As lembranças daquele dia vieram-lhe na mente.

— Nós ganhamos a nave no mesmo dia. - Iskendar o fitou. - você e o rei foram até Sora. Eu fiquei escondido.

— Você me viu?

— Sim, mas não tinha a menor ideia de quem era. Apenas fiquei intrigado por que tinha uma nave igual a minha. Que ironia...

— Samir realmente nunca te disse?

— Não. - voltou a leitura. Os relatos agora falavam da guerra e do temor que Soren tinha. Fui até Ikari e os elementares me revelaram que eu teria um filho perdido... estou temeroso quanto a isso. S1 pode fazer alguma coisa contra minha família... Avançou algumas paginas. A escrita terminou numa frase inacabada. S1 aceitou a rendição, acredito que agora teremos paz. Estou indo agora mesmo para o local da assinatura e...

— O que aconteceu depois disso? - mostrou a pagina.

— Eu entrei aqui. - Mask sorriu. - o capitão da Euroxx já nos aguardava e vim chamá-lo. - levantou. - o resto você já sabe.

Iskendar ficou em silencio, olhando a letra do pai. E se a Euroxx não tivesse sido acertada?

— Deveria ter sido uma viagem rápida, - o canceriano começou a andar pela sala. - lembro que estava no quarto, quando ele entrou de repente. O rosto estava sério. Disse que era para seguir com ele, - Mask pegou a corrente que usava, passando a brincar com ela. - nos corredores as pessoas corriam em pânico... Ele me levou para um hangar e me colocou numa nave. Eu não estava entendendo nada e dizia que não queria ir... - fechou os olhos. - a nave partiu e tudo que eu vi foi um clarão... - abriu os olhos. - nunca vou esquecer aquela cena.

Iskendar fechou o livro.

— O que pensa em fazer com o Athos?

— Ele terá o que merece. Ele pisou na morte do nosso pai, de Célica e de todos. Não sou um príncipe virtuoso como pensa, Iskendar.

— Não saímos bem a imagem, de como príncipes devem ser. - deu um meio sorriso.

— Não. Você ficará ao lado de Ranpur?

— Se eu não ficar? - levantou.

— Tem todo o direito de não ficar.

Iskendar sorriu diante da frase.

— Não ficarei contra você. Posso perguntar algo?

— Diga.

— Você também tem aquela proteção semelhante ao seu amigo que está no hospital?

— Sim. Na Terra somos regidos pelas constelações. A minha é de Câncer.

— E como ela é?

Mask elevou seu cosmo e segundos depois trajava a armadura. Iskendar arregalou os olhos. Jamais tinha visto algo como aquilo. Definitivamente Eron não era um Tempestta comum.

— Está mais que provado que você é diferente de toda a família. Soren talvez tenha razão ao dizer que você é o Tempestta mais poderoso. Assemelhando a Kasnner.

— Você também tem poderes.

— Os inerentes a você, apenas isso. - não quis comentar sobre o outro poder. - Eu posso ir embora, ou terei que ficar aqui?

— Não deixa de ser sua casa, mas você decide. Espero que amanha esteja na sede.

— Sou da policia, recebi uma convocação. - caminhou em direção a porta.

— Iskendar.

Ele parou. Mask caminhou até ele parando de frente.

— Espero que pelo menos sejamos amigos. - estendeu a mão.

— Um caso a se pensar. - saiu.

O.o.O.o.O

Marius olhava a capital pela janela de seu apartamento. Em menos de tres horas, a organização política de Ranpur tinha virado as avessas. Escutou batidas a porta.

— Entre.

Evans surgiu, acompanhado por Irian.

— Muito gosto em vê-lo. - sorriu, apertando as mãos de Irian.

— Eu também. Já estava entediado em ficar preso em casa.

— Foi necessário. Evans já adiantou o assunto sobre Athos?

— Sim. - o rosto ficou sério. - é imperdoável. Será que ele não está agindo junto com Serioja?

— Acredito que não. - apontou para os dois sentarem. - ele teria muito a perder.

— Eu deixei para você contar sobre o outro assunto. - disse Evans.

— Que assunto? - Irian fitou os dois.

— Soren tem outro filho.

— O QUE?!

Marius contou a história, a medida que ouvia Irian ficava pálido.

— Eu jamais imaginaria... - murmurou de boca aberta.

— Se não bastasse a guerra, agora temos isso. - comentou Evans.

— E o que vão fazer? - indagou Irian. - o conselho...

— Por enquanto nada. Vamos tentar manter essa informação entre nós o máximo que pudermos.

— Será um baque para o povo de Ranpur. Dois herdeiros. Dois Tempesttas.

— Dois Tempesttas... - o chanceler levantou. - ainda não temos ideia dos poderes de Eron, agora de Iskendar.

— E onde ele está?

— No palácio.

— Ele ficará apenas lá? - Evans fitou o chanceler. - Iskendar não pode ficar circulando por aí livremente. Ele é um príncipe.

— Eu sei. - Marius voltou a sentar. - ele precisa de segurança. Ainda mais quando a noticia se espalhar.

— Gostaria de ver a cara de Serioja ao saber. - Irian sorriu. - terá que combater dois herdeiros.

— Eu gostaria de ver a cara de muitos conselheiros. - Evans riu. - por mais grave que seja, não deixa de ser empolgante. Fico imaginando se Soren tivesse sobrevivido a guerra e os dois estivessem com ele.

— Infelizmente não teremos isso. - lamentou Marius. - eu irei conversar com Dara. Se ele o protegeu todos esses anos vai concordar com nossas ações.

— Noah sabia sobre o garoto? - indagou Irian ao chanceler.

— Penso que não. Fique aqui esses dias, até conseguirmos desmascarar o Serioja.

— Quando o conflito acabar, como resolverão essa situação? Os dois têm direito ao trono.

— Não faço a menor ideia amigo.

O.o.O.o.O

Iskendar deixou o corpo cair sobre a cama do quarto do hotel. Sempre relutou em contar a todos sobre sua identidade e agora os principais envolvidos já sabiam. Dara caminhou até um sofá sentando. Afrouxou sua túnica.

— Contou a Eron sobre seus poderes?

— Temos os mesmos.

— Mas ele não consegue criar campos magnéticos.

— Contei não. - disse despreocupado.

— Sabe que agora não poderá ficar aqui.

— Por que? - continuou na mesma posição.

— Acha que Marius vai deixar o herdeiro do trono andar livremente?

— Eu não sou o herdeiro. - disse seco.

— É. Pelas leis daqui você é o primogênito. O trono é seu.

— Meu nascimento não é oficial. - ergueu um pouco a cabeça. - e faço o que quiser.

— Iskendar, - Dara levantou. - até hoje não quis intrometer na sua vida. Eu entendo toda raiva que sente do seu pai, do seu irmão e de quem for, mas você é um Tempestta e farei que se comporte como tal.

— O que quer dizer? - sentou na cama.

— Marius vai me procurar, isso é fato. Ele vai exigir que te leve para um local seguro e colocará um batalhão para a sua defesa. Eu vou ajudá-lo.

— Serei refém?

— Entenda como quiser. Você e o Eron são a esperança da galáxia, ainda mais com a força destrutiva que S1 obteve. Eu lutei na ultima guerra acreditando que o melhor era continuarmos sobre o controle de Soren e hoje continuo achando o mesmo. Seja você ou Eron. Até essa situação se resolver está sobre meus cuidados.

O policial o fitou, a partir do momento que contara ao eiji sobre sua identidade, sabia que um dia isso iria acontecer. Soltou um suspiro desanimado. Por que não poderia ser simplesmente o superintendente Madden?

— Eu posso falar não?

— Não tem essa opção.

— Está certo. - voltou a deitar. - se sou um príncipe, pode começar a providenciar para mim uma boa refeição.

 - Como quiser vossa alteza. - riu.

 

 


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Notas finais do capítulo

Desculpe a quantidade de flashbacks, mas foram necessários para explicar a vida de Iskendar.



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