Tempestta escrita por Krika Haruno


Capítulo 10
Novos aprendizados


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora em postar. Tive alguns contratempos no final de semana, por isso atrasou um pouco.
Boa leitura!



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Shion e Alisha estavam sentados sob a copa da Nias, em silencio apenas admirando o bailar das flores com o vento. Há muitos anos Shion não tinha um inicio de noite como aquele. Estava num lugar tranqüilo e sem ameaças. Ficou pensando em Sage, Hakurei e nos demais da sua raça. Queria que eles tivessem tido a oportunidade de conhecer aquele lugar.

Alisha o fitava discretamente. Em que ele estaria pensando? Ou em quem?

— Onde estão os seus pensamentos?

— Na Terra. - a fitou. - queria que meus amigos estivessem aqui. Tendo essa experiência.

— Consigo te entender. Me sinto da mesma forma com o meu pai. Ele iria adorar conhecê-los.

Os dois sorriram.

— Pelo que me disse, - ela voltou a atenção para as flores. - o Eron serve a  um elementar. Ele irá voltar para VL?

— Eu não sei princesa. - não gostou de ter o nome de Giovanni na conversa. - Eron estava muito relutante para vir e agora... parece entender quem realmente ele é.

— Independentemente da escolha dele, você irá voltar?

— Eu tenho que voltar. Tenho deveres com a minha elementar. - realmente os tinha, mas a armadura de Áries já era de Mu e o cargo de grande mestre passaria para Aiolos.

— Então não gostaria de viver aqui? - o fitou.

Ficou surpreso com a pergunta. Ainda não tinha pensado sobre aquilo.

— Eu não sei... não sei se me adaptaria a viver aqui.

— Claro que conseguiria. - pegou nas mãos dele. - está entre os seus.

Shion nem escutou a frase, a atenção estava nas mãos de Alisha que envolvia as suas. Era um toque suave.

— Com sua ajuda seria fácil. - sorriu.

Ela sorriu de volta, mas quando percebeu o que tinha feito, puxou as mãos de forma delicada.

— Seu título ainda é de princesa ou pode ser chamada de rainha?

— Princesa. Quando eu me casar serei coroada.

— E será quando?

— Já era para ter sido. - voltou o olhar para o céu. - Meu pai seria rei por muitos anos, ele ainda tinha cinqüenta anos quando morreu, mas com sua morte sou sua sucessora. Eu só casaria quando fizesse trinta, mas...

— Quantos anos tem? - indagou curioso.

— Vinte e quatro.

— É mais velha do que eu...

— Não sou não. - sorriu divertida. - teoricamente você já é um ancião.

— Tem razão. Está tentando postergar o máximo que puder. - levantou.

— Estou. Não quero me casar para cumprir obrigações. Todo ano aparece um pretendente, - torceu a cara. - mas...

— Eu ouvi dizer que seu pai e o rei Soren queriam casar Eron e você. - disse. Queria ouvir a versão dela dos fatos.

— Meu pai e suas maluquices. - riu. - Eron e eu? Nunca daria certo.

— Por que? - ficou intrigado com a resposta.

— Porque ele é como um irmão. Não tenho esse tipo de sentimento para com ele.

Shion sorriu ao ouvir aquilo.

— Contudo...

O sorriso morreu na hora.

— Se tiver que ser obrigada, que seja pelo menos com ele. Poderíamos viver de aparências sem levantar suspeitas.

— Sucessão ao trono sempre envolve obrigações.

— Sim, mas enquanto eu conseguir adiar, eu farei. Sou a princesa, minha palavra é lei.

Riram.

— Gostaria de ir até Sigma amanhã? Não fica muito longe daqui.

— Eu adoraria.

— Combinado. Então precisamos nos recolher mais cedo. Para aproveitarmos ao máximo.

— Tudo bem.

Shion estendeu-lhe a mão. Alisha aceitou e com isso ficaram bem próximos. O olhar do grande mestre foi dos olhos claros para a boca rosada. A princesa sentia seu coração bater acelerado. Nunca tinha sentido isso por ninguém.

— É melhor irmos. - Shion afastou um pouco, não era correto pensar algo a mais.

— Está bem.

xxxxxxx

Rana e Mu procuravam nos livros há algum tempo e nada de encontrar. O ariano já estava cansado.

— Não tem problema se não encontrarmos Rana.

— Eu queria encontrar sobre a sua família. - suspirou desanimada.

— Podemos procurar amanhã. - sorriu.

— Deve está cansado. - virou uma página. - Desculpe a minha insistência. - levantou.

— Não é insistência. Eu agradeço o empenho. - também levantou.

— Há essa hora a princesa deve ter recolhido. - disse. - será que aconteceu algo?

— Algo como? - indagou sem entender.

— Ora Mu. - pegou a mão dele para levitar. - coisas que acontecem entre casais.

— Mestre Shion e a princesa??? Nãoooo.... - balançou a cabeça negativamente. - Meu mestre jamais faria algo.

— É só criar a oportunidade perfeita. - pousaram no térreo.

— Os livros podem ficar daquele jeito? - olhou para trás.

— Ninguém vem aqui. - passou o braço pelo dele. - conte-me dos gostos de Shion.

— Rana...

Sorriu divertido. Os dois saíram. Uma brisa entrou pelas janelas que ficavam no alto, passando pelo livro. Com a força, virou a página do livro que Rana lia. O nome Raijin era o primeiro.

O.o.O.o.O

Enquanto caminhavam para o laboratório, Stiepan enchia Aioria de elogios e o leão tinha o ego inflado.

— Não foi tanto assim senhor Stiepan, - disse. - nem usei toda a minha força, pois fiquei com receio de estragar algo.

— Você conseguiu um feito rapaz! Foi o primeiro a registrar o nível setenta na nossa medição. Normalmente as pessoas fazem entre cinqüenta e sessenta.

— Mas todos desse planeta podem fazer aquilo?

— Sim nas devidas proporções.

Aioria achou o fato curioso. Um planeta onde as pessoas poderiam usar o "relâmpago de plasma" sem ter cosmo. Kardesini seguia em silencio, bem intrigado.

— "Será que isso é o poder de um elementar?" - pensava.

Chegaram ao laboratório. As primeiras amostras do cavaleiro haviam sido enviadas para lá e então não tiveram que esperar muito pelo resultado.

— Leia Kasideri. - pediu Stiepan.

O médico leu o resultado, com a expressão ora de espanto ora de seriedade.

— O corpo dele não agüenta a radiação na mesma proporção que o nosso. Uma incidência acima de vinte por cento já traria problemas a ele.

— Eu pensei que suportaria. - disse o presidente.

— E quanto vocês suportam? - indagou o grego.

— Numa escala de um a dez, você seria dois e nós seis, há indivíduos que chegam a oito. Em todo caso, teve melhor resultado do que os humanos de Ranpur e os demais, que só suportam dez por cento.

— Extraordinário. - o presidente o fitou. - irá conhecer nossas instalações amanha, por enquanto providenciei um hotel para você. Descanse e amanha conversaremos mais.

— Obrigado.

— Eu vou acompanhá-los amanha. - disse Kasideri. Seguiria Aioria de perto.

Voltaram para o prédio do governo e de lá o presidente deixou o cavaleiro num hotel. 

 

O.o.O.o.O

Saga, Mask e Kamus acordaram cedo indo para Maris onde teriam novas aulas. Encontraram os demais dourados na sala de simulação.

— Bom dia a todos. - disse o geminiano.

— Bom dia. Resolveu aprender a pilotar uma nave? - indagou Dohko.

— Aprender nunca é demais.

— Eu já vou indo. - disse Miro. - a minha já vai começar.

— Aposto que está apanhando feio. - brincou Mask.

— Estou me saindo muito bem príncipe. - a palavra saiu com ironia. - logo logo verão as minhas habilidades. Fui.

Pouco tempo depois da saída de Miro, alguns estudantes começaram a chegar. Muitos deles, jovens de dezesseis anos, acharam estranho o grupo, mas não deram importância, porem outros ao fitarem o príncipe ficaram surpresos. Mask notou os olhares.

— Ótimo. Vou virar o centro das atenções. - cruzou os braços sobre o peito.

— Você é o príncipe. - disse Dite.

Um deles, o que parecia ser mais corajoso, aproximou.

— Bom dia, você é o príncipe de Ranpur? - indagou cauteloso.

— Sou.

O rapaz ficou pálido.

— Alteza. - fez uma reverência.

— Nada de alteza. - Mask o fitou sem paciência. - meu nome é Giovanni, quero dizer Eron.

— O que o senhor faz aqui? - ficou calado. - desculpe, eu não queria...

— Sem cerimônia, estou aqui para ter aulas. Não sei pilotar uma nave.

O rapaz ficou em silencio.

— Qual o seu nome?

— Alexei.

— Muito bem Alexei, diga aos seus amigos, que esqueçam que eu sou o príncipe e que sou um aluno como qualquer outro aqui. Estamos entendidos?

— Sim senhor.

— Sem o senhor. É Eron.

— Desculpe.

Alexei acenou e saiu. Os demais estudantes que acompanhavam a conversa, ficaram surpresos com o relato de Alexei e não pararam de olhar para Giovanni e o grupo.

— Imagino que numa escola deva ser assim. - brincou Shura.

— Vou avisar ao senhor Sttup do nosso combinado.

Na sala ao lado, Miro se juntou aos outros estudantes para a aula de Lego.

 As aulas seguiam nos simuladores, num dado momento o professor pediu para formar duplas. Todos os estudantes olharam entre si ressabiados. Fazer dupla com o príncipe? Mask notou os olhares, ficando irritado com eles.

— Esses moleques me olhando...

— Lembra do nosso tempo de aprendiz? - indagou Dite. - quando Saga aparecia?

— Você me tratava diferente. - disse o geminiano. - mesmo eu pedindo o contrário.

— Claro! Já era um cavaleiro praticamente. A gente te achava um máximo.

— Mesma coisa. - disse Kamus.

Mask bufou e em seguida levantou a mão.

—  Sim alteza. - disse o professor.

— Desculpe senhor Arthus... - disse num tom de voz brando, mas o suficiente para todos escutarem.

— Sim Ceratto. - lembrou-se do pedido do príncipe, ele nem queria ser chamado pelo sobrenome do pai, adotando o da mãe.. - o que deseja?

— Nada.

Todos entenderam as frases. O professor formou as duplas. Nenhum dos dourados ficaram juntos, inclusive Giovanni que acabou fazendo dupla com Alexei.

— Espero que tenha paciência Eron, não sei pilotar muito bem.

— Então estamos no mesmo barco. - brincou. - sei menos ainda.

O exercício era simples, os dois pilotos tinham que chegar ao final da missão o mais rápido possível. A dificuldade seria é que cada um teria uma parte do controle, então teriam que agir juntos para que a nave chegasse ao objetivo. A principio os dois tiveram dificuldades, mas depois conseguiram completar a prova em um tempo razoável.

— Nada mal. - disse Mask.

— Poderia ser um pouco melhor.

— Não seja tão exigente.

— É porque não conhece meu irmão. - sorriu. - se eu não tiro a nota máxima ele acaba comigo.

— E o que seus pais dizem disso? - ficou curioso para saber sobre o jovem.

— Eu não tenho pais. - a voz saiu entristecida. - eles morreram na guerra, poucos meses depois que eu nasci.

— Seu irmão é da policia?

— Era. Ele tinha acabado de se formar na academia geral e ia começar a academia de engenharia, mas foi convocado pois muitos soldados tinham morrido. Numa das batalhas a nave dele caiu, ele perdeu as pernas. Mask ficou em silêncio. Aquela guerra tinha dizimado sua galáxia.

— De qual planeta é?

— De Ox, fica perto de Lain.

— Você tem razão, temos que melhorar nossa nota. - pensou no pai. - meu pai também era exigente.

Alexei o fitou. Aprendera na aula de história sobre o rei Soren e o sumiço do príncipe. Ele também havia perdido o pai.

— Vamos pedir para refazer o teste?

— Vamos 

O.o.O.o.O

Urara acordou bem cedo. Fez sua higiene e depois seguiu para a cozinha preparar algo. Enquanto a comida ficava pronta, foi até o quarto onde Shaka estava. Bateu na porta, mas não foi atendida. Estranhou e pensando que poderia ter acontecido algo, abriu a porta. A cama estava arrumada. Sentiu uma brisa, vendo que a janela da varanda estava aberta. Quando chegou ao local viu o virginiano sentado na posição de meditação.

— Costuma meditar de manhã?

— Sim. - a fitou.

Urara sentou perto dele, ficando na mesma posição.

— Como se sente? - o fitou.

— Bem melhor. Dormi tranqüilo.

— Que bom.

Shaka a fitou diretamente. Ela era muito bonita e não aparentava ter aquela idade. O olhar foi dos olhos azuis claríssimos para os cabelos. O indiano pegou algumas mechas, eram tão loiros que os fios sumiam na sua mão.  Urara achou o ato inusitado, mas não questionou. Sentia-se estranha perto dele.

— Qual a sua história? - o olhar foi dos fios para ela.

— Sou filha única. Meu pai era da policia e minha mãe trabalhava para o conselho. Eles morreram na guerra.

— Foi por isso que se tornou policial?

— Não queria seguir a carreira administrativa, então optei por entrar na academia. Me formei com vinte e um anos e com vinte quatro comandava uma tropa de Legos. Veio a guerra e hoje sou diretora.

— Seus pais devem si orgulhar.

— Acho que sim. E você?

— Eu cresci num mosteiro desde que nasci. Eu nunca os conheci.

— Não tem ideia de quem sejam? - indagou surpresa.

— Não. - o olhar foi para o horizonte. - de tempos em tempos sinto curiosidade para saber de onde venho, mas depois passa. Aprendi a me conformar com isso.

Olharam-se por alguns segundos.

— Preparei algo para comermos. - ela levantou. - devemos chegar cedo ao conselho.

— Como quiser. - Shaka também levantou seguindo-a.

Fizeram o desejum conversando coisas amenas e cerca de duas horas depois estavam a caminho do prédio do conselho. Urara o levou diretamente ao salão principal.

— Sejam bem vindos. - foram recepcionados por uma senhora. Seus cabelos outrora loiros agora eram brancos, mas o azul dos olhos continuavam brilhantes. - meu nome é Endah.

Urara e Shaka fizeram uma reverencia respeitosa e seguiram com ela. Diferente do dia anterior, os doze conselheiros não estavam ao redor da bola azul. Estavam dispostos em fila atrás dela. Endah os levou até eles.

—  Espero que esteja melhor, Shaka. - disse Noah.

— Estou sim senhor Noah, obrigado.

— Deve está se perguntando o que aconteceu ontem e da forma como ocorreu. Venha.

Noah convidou-o para que se aproximasse da bola azul.

— Os elementares puros tinham o dom da vidência e parte disso passou para nós. - começou. - Cada eiji consegue ter lances de um futuro próximo, com poucos ou nenhum detalhe. Para previsões mais concisas usamos a Enraiha, essa bola azul que nos foi dada pelos elementares. Mesmo com o uso dela nossas previsões não são detalhistas ou reveladas o suficientemente para que possamos agir. Para tal precisaríamos liberar o poder interno da bola, algo que não temos.

— Desde que a Enraiha foi traga para nós, havia uma profecia. - Endah aproximou da bola. Urara e Shaka viram a inscrição do lado de baixo. "Em tempos de guerras, irá surgir um falso Eiji, com poderes semelhantes a de um elementar. Ele chegará a Obi e com seu poder irá extrair a energia da Enraiha. Bastará apenas um toque para que saibam quem ele é." - a senhora leu. - Houve muitos de nós que interpretaram de forma errônea o "falso Eiji" e tocaram na bola, - fez uma pausa. - não resistiram. O ultimo que tentou foi a trinta anos, desde então proibimos nosso povo de tocá-la.

Urara lembrava-se perfeitamente dessa profecia.

— E como conseguiriam se não tentassem? - indagou Shaka.

— Não havia necessidade, pois tínhamos decifrado o significado inteiro da frase. - disse Noah.

— E qual seria?

Em tempos de guerras, havia necessidade de estarmos em conflito. Nos últimos cinqüenta anos, Obi só entrou em guerra uma única vez contra S1. Além disso precisávamos que fosse alguém que não fosse um eiji. Tínhamos o rei Samir de Alaron e o rei Soren de Ranpur, ambos com ramificações de elementares, mas eles tocaram a Enraiha e nada aconteceu.

— Não a ativaram e nem morreram. - disse Endah. - o que foi surpresa para nós.

Urara estava pensativa. Aquela profecia poderia ser até falsa, já que Samir e Soren não tiveram sucesso. Se não era um Eiji, um Tempestta ou um Atlantiks, não havia ninguém que poderia realizar, há não ser que... fitou Shaka imediatamente. Ele tinha as características físicas de um Eiji,  em VL servia a uma elementar e havia chegado num momento de tensão...

— "Não pode ser..."

Esse era o mesmo pensamento de Dara. O governador de Sidon estava escondido num canto, protegido por Noah. Quando aceitou o convite o fez apenas em respeito a ele. Aquela profecia não passava de boatos e nada que o conselheiro dissesse mudaria sua opinião, mas assim que viu o rapaz ao lado de Urara começava a se questionar.

— "Quem é ele?"

— Estão dizendo que sou eu?! - exclamou Shaka juntando as peças.

— Tivemos a convicção ontem, quando a tocou.- disse Noah. - você é a pessoa da profecia.

Shaka ficou surpreso. Como ele poderia fazer parte de uma profecia de um lugar tão distante?

— Mas... - murmurou.

— A Enraiha só pode ser ativada por alguém ligado a profecia, Shaka. - disse Endah. - Não queremos que a ative para satisfazer a nossa curiosidade quanto ao futuro, mas sim para nos ajudar a tomar decisões para o bem de todos. Ela só nos mostra o que nos é permitido ver.

Shaka buscou o olhar de Urara, estava perdido quanto a aquela situação. A diretora também não sabia o que pensar. Quando conheceu o virginiano não pensava que ele fazia parte das lendas do seu povo.

— Explique tudo a ele Urara. - Noah notou a troca de olhares. - depois conversaremos.

Os conselheiros retiraram-se, deixando-os a sós. Dara também retirou-se as escondidas. Shaka olhou para a bola azul, a simples menção de tocá-la a fez emitir um brilho dourado.

— Estou tão surpresa quanto você. - Urara aproximou. - Não imaginava que essa profecia fosse verdade.

— Nem faço parte do seu mundo, como é possível? - a fitou.

— Não tenho como te responder Shaka. - a voz saiu sincera. - isso tudo também é diferente para mim.

— E o que eu devo fazer?

— Faça o que a sua consciência disser. Não tem a obrigação de liberar essa energia. Sou contra qualquer intervenção no futuro, por menor que seja.

Shaka lembrou-se da conversa que teve com ela.

— Mas e se pudermos evitar outras? Se os elementares agraciaram sua raça com esse dom é porque eles tem um propósito. Não pode ignorar isso.

— O futuro não nos pertence Shaka. - a voz saiu mais dura.

— Então por que previ que iria te conhecer? E você previu o nosso encontro? Éramos porque precisávamos nos conhecer. Também sou contra a intervenção de "deuses" ou elementares, mas as vezes se faz necessário.

Ela ficou em silêncio. Era contra, mas entendia as razões dele.

— Faça o que achar certo. - saiu de perto.

— Urara. - segurou a mão dela. A mulher o fitou surpresa. - pode achar que não, mas sua opinião é importante.

Os olhos azuis o fitaram com espanto, não esperava ouvir aquilo.

— Fico feliz que a minha opinião valha alguma coisa. - deu um pequeno sorriso.

— Vale muito. - sorriu de volta.

— Eu estarei ao seu lado. - disse por fim.

Os dois trocaram um grande sorriso. Quase que imediatamente Noah, Endah e os demais voltaram. Dara voltou para a sua posição.

— Qual decisão tomou?

— Vou ajudá-los.

Eles sorriram. Os conselheiros afastaram da bola. Apenas Shaka e Urara permaneceram perto.

— O que tenho que fazer?

— Eleve sua energia e despeje na Enraiha.

— Tem algum efeito colateral? - indagou Urara, temerosa pelo que poderia acontecer a Shaka.

— Infelizmente não sabemos.

A diretora olhou para o indiano. E se acontecesse algo?

— Não estará ao meu lado? - disse Shaka sorridente, diante da hesitação no olhar dela.

Ela apenas concordou. Shaka aproximou da bola, fechando os olhos a tocou. Não aconteceu nada. O cavaleiro começou a liberar seu cosmo, todos puderam ver uma luz dourada circundando-o. Urara que estava mais perto sentiu-se aquecida, não imaginava que ele tivesse aquele tipo de poder. A energia de Shaka começou a abandoná-lo indo para a bola azul, que reagiu brilhando em dourado. Para a surpresa de todos a Enraiha também começou a emitir um barulho de vibração. A sala foi invadida pelo som e por luzes douradas. Dara que assistia a tudo, estava perplexo. Shaka sentia seu cosmo se esvair, como se fosse sugado pela bola. Precisou abrir os olhos. A carga foi alta, tanto que fez a bola brilhar intensamente cegando todos que estavam ali. O brilho durou por segundos até estabilizar. O cavaleiro sentiu-se tonto e só não foi ao chão pois Urara o segurou.

— Shaka!

— Estou bem... - disse baixo.

A diretora tocou a face dele delicadamente.

Noah e os demais aproximaram da Enraiha. Ela brilhava ternamente.

— Como dizia nos livros. - disse Endah.

A bola ficou opaca e segundos depois mostrou uma imagem, muito nítida para os padrões. Aquilo era prova que Shaka conseguira ativar a energia dela. A imagem era o palácio de Ranpur, coberto por uma faixa negra. Noah lembrou-se imediatamente da visão de Dara.

— Noah... - murmurou um dos conselheiros.

— Avisaremos a Ranpur. - disse.

— O que viram? - indagou Shaka amparado por Urara.

— Haverá luto em Ranpur. - disse.

O indiano lembrou-se de sua visão. Então alguém seria morto.

— Quem irá morrer?

— Não nos foi revelado, mas certamente é alguém que mora no palácio.

Urara fitou o virginiano, seria ele?

— Precisa descansar. - disse, sentiu um aperto no peito só de pensar que algo poderia acontecer a ele. - vamos.

— Obrigado Shaka. - Noah apertou sua mão. - Com sua ajuda talvez poderemos evitar essa morte. - o olhar foi para a linha vermelha. - Depois peça a Urara que lhe conte sobre as nossas lendas.

Ele apenas acenou sem entender muito bem a ultima frase.

Os conselheiros dispersaram, restando apenas Noah. 

— Acredita agora?

Dara saiu de onde estava.

— Como ele conseguiu? - estava perplexo. 

— Ele era o predestinado. - o olhar estava na bola. - sua visão está correta. Alguém irá morrer e será do palácio.

— O príncipe?

— Não nos foi revelado. - o fitou. - se tiver mais algum me avise.

— Está bem Noah.  Quem é esse homem? - indagou.

— É amigo do príncipe.

— Como ele tem esse poder? - não conseguia acreditar.

— Eron, ele e os outros que vieram servem diretamente a um elementar. Todos possuem algum tipo de poder.

Dara franziu o cenho.

— O príncipe tem seu próprio exercito de elementares.

— É o que irei verificar. - Noah voltou a atenção para a Enraiha. - Estou indo para Ranpur. O príncipe solicitou uma reunião com o grupo dos nove.

— E ele? - Dara olhou na direção que Shaka tinha saído.

— Voltará amanha para o palácio.

O.o.O.o.O

Como combinado Célica e Aldebaran seguiriam para a cidade natal dela. Antes de partirem deixaram Kanon nas imediações do apartamento de Niive.

O marina subiu e acabou não vendo o carro da diretora deixar o prédio. Ele bateu na porta, mas não obteve retorno, então decidiu sentar e esperar.

A jovem estava indo para a sede da polícia daquele distrito, porém no meio do caminho lembrou que havia esquecido algo tendo que voltar. Estacionou o carro na porta e subiu.

— Bom dia!

Ela gelou quando escutou a voz.

— Kanon??? O que faz aqui???

— Esperando você. - levantou. - ontem quando cheguei Célica e Deba não estavam e quando acordei idem. Então não tive escolha. - deu nos ombros.

— E veio para cá? Como...?

— Fui perguntando. - inventou. - é bem conhecida aqui. - sorriu. - posso ficar aqui? Eu não tenho para onde ir.

A diretora bufou.

— Venha comigo, mas se atrapalhar te deixo em qualquer lugar.

— Serei obediente. - sorriu.

Kanon seguia calado atrás de Niive, enquanto ela ditava ordens para seus funcionários. Eles por sua vez, olhavam com estranheza a diretora Jay sendo seguida por um homem no mínimo suspeito.

— Diretora Jay. - um jovem bateu continência para ela.

— Relatórios dos últimos dias capitão Yoku. - passou direto entrando na sua sala.

— Já estão a sua disposição... - parou de falar ao fitar Kanon. - diretora...

— Amigo do príncipe. - respondeu seca.

— Oi eu sou o Kanon. - ele estendeu a mão.

— Oi...- retribuiu achando tudo muito estranho... - a reunião...

— Já estou indo. - ela apenas pegou alguns aparelhos e rumou para a porta. - fique aqui e não mexa em nada. - olhou para o grego. - se mexer vai preso.

— Ficarei quieto. - sentou no sofá.

— Bom mesmo. Vamos capitão.

O jovem apenas concordou sem entender nada. Alias nem queria, ao julgar pela expressão de sua superiora sabia que ela estava de mal humor.

Durante toda a manhã, Kanon ficou sentado sem mexer em nada, contudo a fome havia batido. 

O.o.O.o.O

Shion, Mu, Alisha e Rana acordaram cedo, partindo em direção a cidade de Sigma. A viagem não durou mais que uma hora. A cidade era muito parecida com a capital. Alisha levou os dois lemurianos para conhecerem os principais pontos turísticos. Rana que seguia de perto apenas observava as ações de sua princesa. O passeio seguia animado, mas a autoridade de Alaron recebeu um comunicado para comparecer a Ranpur.

— Eron convocando uma reunião? - fitou o servo que lhe entregou o comunicado.

— Sim alteza. Será uma reunião entre o grupo dos nove.

Ela franziu o cenho.

— Se é com todos.... - murmurou. - importa-se de voltarmos para Ranpur? - olhou para Shion. Estava triste pelo passeio ter sido interrompido.

— De maneira alguma princesa. É um bom sinal o Giovanni convocar uma reunião.

— Obrigada por entender. - pegou na mão dele. - Rana prepare tudo. Você também vai.

A ruiva comemorou.

O.o.O.o.O

Logo de manhã Kasideri foi buscar Aioria, levando-o para outro departamento de Energia. O leonino escutava atentamente as explicações sobre como os motores vandreds funcionavam. Foi um intensivo, mas o grego conseguiu absorver muito bem as informações. Ele até conseguiu alimentar um motor usando sua cosmo energia.

Logo após o horário do almoço, o presidente do planeta recebeu um comunicado para se apresentar em Ranpur. Stiepan comunicou a Aioria sobre a viagem e o leonino achou melhor seguir com ele.

O.o.O.o.O

As aulas terminaram com os estudantes aceitando mais naturalmente a presença do príncipe. Alexei despediu de Eron.

— Giovanni fazendo amizade. - zoou Dite. - está aprendendo a socializar.

— Ele é um bom garoto. Saga, Kamus e Shura será que podem voltar comigo? Para a reunião com o conselho.

— Claro.

— E vocês aproveitem a estadia, - olhou para os demais cavaleiros. -  está custando horrores para o cofre dos Tempesttas.

— Você é rico. - Miro deu um tapa nas costas dele. - pode pagar do bom e do melhor para nós. 

— Abusado.

O.o.O.o.O.

Marius, Beatrice e demais membros do governo de Ranpur, preparavam a sala de reunião do palácio real para receber os membros do grupo dos nove.

— Está tudo pronto senhor Marius. - disse Beatrice.

— Obrigado. Avise a rainha.

— Sim senhor.

O chanceler de Ranpur tomou seu assento. Esperaria por todos ali mesmo, enquanto cuidava de assuntos administrativos. Teve sua atenção chamada quando anunciaram a chegada do primeiro conselheiro: Noah do planeta Obi.

— Não esperava encontrá-lo já, chanceler. - Noah estendeu  as mãos.

— É uma reunião importante. - retribuiu.

— Fico aliviado por encontrá-lo primeiro. - Noah fez sinal para que ele se afastasse da mesa. Caminharam até as janelas. - tenho um assunto que achei melhor avisá-lo primeiro.

— Algum problema com o garoto eijiano? - referia-se a Shaka.

— Não. - sorriu. - Ao contrário, graças a ele conseguimos ativar o poder da Enraiha.

— O que?

Noah contou sobre as ações de Shaka. Marius escutava impressionado.

— Não imaginava que ele fosse tão especial. - comentou.

— Se os outros forem como ele. - disse Noah. - vossa alteza está muito bem amparada. Ou não...

— O que aconteceu? - Marius sabia muito bem que Noah não era de desperdiçar palavras.

— Um dos meus conterrâneos sonhou com alguém sendo morto. Hoje tivemos a confirmação que será aqui, no palácio.

— O que???

— Alguém ligado ao palácio será morto. Não conseguimos precisar quem ou quando, mas sabe sobre nossas visões.

Marius ficou em silêncio. Sabia muito bem que as previsões feitas pelos Eijis aconteciam. Acionaria Evans imediatamente.

— Obrigado Noah. Irei reforçar a segurança do palácio. Tenho certeza que o alvo será Eron.

— Meu conterrâneo não sentiu que seria ele, mas todo cuidado é pouco. Muitos lucrariam com a morte do jovem Tempestta.

— Sim.

Marius aproveitou que a reunião não tinha começado e fez uma comunicação, através de um canal privativo, a Evans. Contou sobre as suspeitas de Noah e o capitão da guarda real garantiu que o palácio seria fortemente vigiado.

O.o.O.o.O

Dara saiu aturdido do prédio. Sem ser visto, rumou para onde sua nave estava parada e em segundos já estava na orbita de Obi. Dali pegou um hadren em direção a sua casa. Depois de deixar a nave em piloto automático foi para o pequeno quarto.

 Iskendar.

— Oi.

 Dara?? - a voz do outro lado estava surpresa. - para onde foi?? Nem me avisou!

— Já estou voltando.

— Onde esta?

— Obi.

 O que esta fazendo aí? — notou a voz baixa. - o que houve Dara?

— Qual noticia quer primeiro?

— Está me assustando amigo. O que aconteceu??

— Lembra que te contei sobre as lendas dos Eijis? A da Enraiha?

 Claro que sim! Pera aí? Alguém conseguiu ligar essa coisa?

— Sim.

— Isso é bom. Esse povo vive de lendas! 

— Não é o fato de ter ligado a bola e sim quem. - estava nervoso.

— O pirralho????

— Não foi o Eron.

— Então...

— Foi um dos amigos do príncipe. Ele fisicamente é um eiji.

A linha ficou muda por segundos. Iskendar estava pensando.

— Mas como ele fez isso? Você disse que era necessário ter energia de um elementar para fazer isso.

— Ele tem. - a voz saiu fria. - não só ele como todas as pessoas que vieram com Eron. O príncipe e os demais servem a um elementar em VL. Eles têm poderes Iskendar. Poderes de elementares. São treze com poderes de elementares. 

Iskendar ficou em silencio novamente, agora assustado.

— Tem certeza disso?

— Eu não vi os demais, mas vi o Eiji. É algo que não consigo explicar, mas é poderoso. Eron tem doze "elementares" a sua disposição.

 Qual a outra noticia?

— A bola previu uma morte no palácio de Ranpur. Eu tinha previsto, mas não sabia precisar onde. Alguém será morto no palácio.

— Vão matar o Eron??

— Não dá para saber se é ele. Estarei aí no meio da noite, então conversaremos melhor. Ah, já ia esquecendo: ele marcou uma reunião com o grupo dos nove. Até mais. - despediu sem dar chance de resposta a Iskendar.

Do outro lado da linha Iskendar estava igualmente perplexo. Aquelas informações poderiam mudar o jogo. Decidiu investigar.

XXXXXXX

Urara levou Shaka de volta ao apartamento. Ele não se sentia bem, tanto que não se opôs a deitar. O cavaleiro logo pegou no sono, dormindo a tarde toda. A diretora a todo o momento conferia se ele estava bem. Tentou entrar em contato com Noah, mas ele tinha partido para Ranpur. Tentou adiar a volta de Shaka para dali a dois dias, mas já estava programado para o dia seguinte na parte da manhã. Se soubesse que isso aconteceria não tinha permitido, pensou, enquanto puxava as cortinas.

— Urara...

— Shaka. - sentou ao lado dele. - você está bem?

— Estou.

— Vou buscar algo para você comer.

Rapidamente a diretora preparou algo parecido com uma sopa. Ele bebeu rapidamente e já se sentia mais revigorado. Conversaram mais um pouco a respeito do ocorrido e logo quando a noite caiu, Shaka pegou no sono novamente. Apenas depois de certificar que ele estava bem é que ela recolheu-se.

No quarto, enquanto fazia uma trança no cabelo, pensava no virginiano. Ficou impressionada com a força dele, para uma pessoa tão jovem. E com os pensamentos voltados para ele adormeceu.

A noite seguia alta. Urara não tinha um sono tranqüilo, sonhava com os pais e o dia que eles tinham morrido. Depois sonhou com Shaka, ele não parecia bem. Acordou de repente. Sentindo uma angustia levantou indo até o quarto onde ele estava. Quando aproximou da cama, os olhos arregalaram.

— Shaka!

O cavaleiro mexia-se, mas ainda dormindo. Estava suando muito. Ela tocou na face dele vendo que ardia. Saiu as pressas, voltando com uma maleta nas mãos. Pegou um aparelho colocando próximo a ele, o mostrador marcava quarenta graus. Teve o ímpeto de pegar um remédio, mas parou. Não sabia se poderia medicá-lo com os remédios de Obi e se ele tivesse alguma reação alérgica a uma substancia? Rapidamente foi até a cozinha pegando compressas, colocou-as no tronco e nos braços e pernas. 

— Shaka.

Ele abriu os olhos, a fitando longamente.

— Estou te dando trabalho... - tentou sorrir.

— Claro que não. - sorriu. - está doendo alguma coisa?

— Não, só me sinto quente. Deve ser reação.

— Provavelmente. Agora durma, vou ficar aqui com você.

Voltou a dormir. Pelas próximas horas, a febre abaixou, o que deixou Urara bem mais tranqüila, porém minutos mais tarde, a febre voltou e ainda mais forte. Ela estava relutante em dá-lo medicamento, mas se não o fizesse poderia ser pior. Aplicou lhe uma injeção e o efeito veio na hora. Mesmo vendo que a febre tinha baixado, não quis ir para seu quarto. Puxou uma cadeira e ficou ao lado dele.

O.o.O.o.O

Felizmente estava tudo tranqüilo na sua jurisdição. Tinha despachado as ultimas ordens para o patrulhamento de todo o setor que englobava suas áreas e agora tinha a tarde livre. Lembrando do conselho dado por Kanon, pensou em ir visitar os avós e sobrinhos.

Niive abriu a porta de sua sala num rompante, para surpreender Kanon. Tinha certeza que ele estava fazendo algo errado. O surpreendeu, enquanto ele levava um copo a boca.

— Surgiu de dentro de sua mesa. - largou o copo na hora. - eu não toquei nada.

Ela segurou o riso. Todas as salas, tinham um computador ligado a cozinha. Nos horários pré determinados, uma refeição era servida. Ficou  com dó do geminiano. Ele ficara a manhã toda sem comer nada, deveria está com fome.

— Pode comer. - fechou a porta. - É hora do almoço.

— Não tem importância? - perguntou desconfiado.

— Não. - sentou numa cadeira de frente a ele, já que ele estava acomodado na sua. - coma.

Nem precisou repetir, Kanon devorou toda a comida. Niive o olhava, queria gargalhar, mas não podia.

— Desculpe... eu estava com muita fome. - disse sem jeito.

— Imaginei.

— Não vai querer comer?

— Vou comer na casa da minha avó.

— Ah... - murmurou. - e eu...?

— Não tenho outro lugar para deixar a mala. Tenho que levá-la. - deu um sorriso debochado.

— Prometo que fico quieto.

— Não precisa prometer. - levantou. - sei que cumpre. Vamos.

A viagem durou cerca de uma hora, da polícia até um lugarejo ao norte do planeta. Da janela, Kanon pôde ver a vila. Ela era composta por duas aglomerações de casas e pequenos prédios, cercados por um muro oval. Ligando um lugar ao outro, uma ponte de pedra, de onde descia uma cachoeira. Ao contrário de Bright que era no meio do deserto, Sher ficava entre montanhas verdejantes. A nave pousou num campo próximo e a pé os dois dirigiram para a casa dos avós de Niive.

A caminhada não foi muito longa e Kanon sentia-se em Rodorio ao andar pelas ruas. Aquele lugar parecia ter parado no tempo com sua simplicidade. Os parentes da diretora moravam na ultima casa da rua, aos pés da muralha.

— Tia Niive!!!!

Kanon olhou para onde ouvira a voz. Viu uma garotinha de uns oito anos correr em direção a Niive. A menina parecia muito com a diretora.

— Estelli.

Niive abaixou para receber o abraço da menina.

— Estava com saudades.

— Eu também. - brincou com os cabelos negros. - tem se comportado?

— Sim.

Estelli fitou Kanon, mais precisamente o cabelo dele.

— Cabelo azul... - murmurou maravilhada.

— Oi. - agachou. - eu sou o Kanon.

A garota o fitou desconfiada.

— Quer colocar a mão? - mostrou o cabelo. Percebera que ela olhava para as madeixas.

Ainda meio desconfiada aproximou, passando os dedinhos pelos fios.

— É de verdade mesmo!

— São sim.

— Tia Niive. - um garoto de quinze anos foi ao encontro dela e abraçou.

— Cada dia que passa está crescendo mais, Usain. E o resultado?

— Sai daqui um mês.

— Tenho certeza que passou. - sorriu.

Kanon a fitava. Niive não era de sorriso fácil, então aquilo demonstrava o quanto ela gostava dos sobrinhos.

Usain fitou o cavaleiro, não foi muito com a cara dele. Os avós de Niive saíram da casa. Ela cumprimentou os dois com muitos abraços.

— Veio fazer uma visita aos seus velhos avós. - disse a senhora.

— Não fale assim vó. Até parece que sou uma neta desnaturada.

— Ela é muito ocupada Lya. - disse o senhor de nome Ethel. - seja bem vinda, Nii.

— Obrigada.

— Tia Niive ele é o seu namorado? - a menina estava de mãos dadas com o geminiano.

Usain e os avós arquearam a sobrancelha.

— Não diga bobagens Estelli. - a fitou com a cara de fechada.

— Não somos namorados, - disse Kanon olhando para a menina. - mas se bem que...

— Kanon!

— Já parei. - levantou as mãos. - Eu não disse nada.

— Ele é o Kanon, amigo do príncipe Eron. - a voz saiu desanimada.

— Você veio de outra galáxia?? - exclamou Estelli. - Vó ele é um EG!!!

— EG?

— extragaláctico. - Niive não perdeu a oportunidade. - realmente tem uma aparência estranha. Não se preocupem, o sangue dele é vermelho.

— Ei! -  não gostou da frase. - mais respeito comigo.

Lya achou graça, enquanto Usain e Ethel estavam sérios.

— Vamos entrando. - Lya indicou a porta. - A comida já está pronta.

xxxxxx

Aldebaran e Célica acordaram cedo, deixaram Kanon nas proximidades da casa de Niive e seguiram para Niniveh. Ao contrário de Bright que tinha um clima agradável e vegetação ao redor, a cidade natal de Célica era um oasis no meio do deserto. O taurino viu um grande lago na parte frontal de cidade que estava erguida a mais de quinze metros acima do nivel do lago e protegida por um muro. A cada determinada distancia erguiam-se fortificações, onde naves partiam e chegavam. A cidade tinha cor de terra e tons avermelhados. A nave aterrissou numa dessas fortificações e os dois pegaram uma condução até o centro da cidade. Apesar do clima seco, Deba não se sentiu desconfortável. Andaram um pouco até chegarem a uma construção de dois andares.

— Mãe! - gritou a dama real na porta.

Segundos depois, uma jovem senhora apareceu na porta.

— Cely!

As duas trocaram um afetuoso abraço.

— Nem acreditei quando recebi sua mensagem. - fitou Aldebaran. - oi.

— Mãe, esse é Aldebaran. Ele veio com o príncipe.

— Mas é um Kalahasti... - murmurou sem entender.

— Na aparência.

— Muito prazer. - Deba estendeu a mão.

— Cadê o papai?

— Está na loja. Vamos entrar.

A casa de Célica era bem decorada e grande. Os dois foram acomodados na sala e Enya serviu uma bebida refrescante para eles.

— Mãe, vou mostrar a cidade para ele e já voltamos.

— Tudo bem. Só pode vir aqui um minuto?

As duas foram para outro cômodo.

— Explique-se.

— Não é meu namorado, estamos apenas saindo.

— Célica... - a voz saiu grave.

— É só sexo casual, mãe. Não se preocupe. - deu um beijo na testa dela. - até mais tarde.

Saíram pelas ruas de Niniveh. Aldebaran estava achando interessante a arquitetura. Lembrava muito uma cidade da Terra, mas com os avanços tecnológicos muito acima dos terráqueos. As pessoas se vestiam de maneira diferente, mas nada que fosse muito exótico. A dama real conduziu-o até um prédio, que ficava exatamente no centro da cidade.

— Eu achava que você tinha irmãos.

— Eu tinha. - disse sem olhá-lo. - na verdade eles são meus pais adotivos. Minha família biológica foi morta na guerra contra S1. Nosso planeta foi atacado, só eu sobrevivi. Desde então eles cuidam de mim. Somos ligados pelo destino trágico. Eles perderam o filho na guerra.

— Sinto muito por sua família.

— Tudo bem. - o fitou. - quero te mostrar algo. - Célica pegou a mão dele.

Era um grande jardim bem ao centro da cidade. Havia arvores, flores e vários pequenos lagos. Sentaram num dos jardins.

— Como se tornou a dama da senhora Lirya?

— Eu estudei na academia até os dezenove anos. Eu não sabia muito que rumo tomar, até que teve provas para a escolha da guarda real de Ranpur. Era a chance de eu me tornar alguém. Fiz as provas, passei e comecei a trabalhar na segurança do palácio. - o olhar foi do céu para ele. - a rainha me viu em ação e aí me tornei dama.

— Almeja algo a mais?

— Não por enquanto. Eu gosto do que eu faço.

Aldebaran sorriu afetuosamente e aquilo incomodou a jovem. Tinha medo que ele se afeiçoasse a ela. E ela não tinha nada a oferecer.

— Vamos andar? - indagou levantando. Teria que agir com cautela com ele.

Andaram por todos os lados de Niniveh. Aldebaran estava bastante impressionado, ao mesmo tempo que se sentia em casa. Moraria naquele lugar tranquilamente. A hora do almoço, os dois voltaram.

xxxxxx

A casa era simples porém aconchegante. O marina a achou bem parecida com as casas da Terra. Lya serviu o almoço na sala de jantar. Estelli correu para sentar ao lado do cavaleiro. A todo momento ela mexia nos cabelos dele.

— Deixa o rapaz em paz Estelli. - pediu Ethel.

— Mas eu gosto... - murmurou.

— Não tem problema senhor Ethel. - deu um sorriso amável. Não gostava muito de crianças, mas gostou de Estelli. - Você é uma versão em miniatura da Niive. Claro que mais bonita.

— Obrigada. - sorriu.

Niive resmungou.

— Sirva-se a vontade Kanon. - disse Lya. - coma a vontade.

— Obrigado. A senhora é muito gentil, se preocupa com o bem estar das pessoas. - a frase não foi dita a toa.

A diretora o fitou ferina.

— Ansioso para ir para a academia Usain? - ela resolveu ignorar o marina.

— Muito tia. Mal posso esperar para entrar para a polícia!

— Você será um grande policial, como seu pai foi. - ela sorriu ao se lembrar do irmão. - e os estudos Estelli?

— Só tiro notas altas. Eu sou a melhor da turma! - exclamou.

— Continue assim.

Kanon ouvia a conversa, perguntando-se o que tinha acontecido com os pais dos dois.

— O que faz no seu planeta Kanon? - Ethel estava curioso a respeito do rapaz. Conhecia muito bem a neta para saber que ela não tinha vocação de servir de babá.

— Eu sou um protetor de elementar. Na verdade de dois, - pensou no deus dos mares. - se bem que Poseidon não anda merecendo...

Ethel e os demais o fitaram na hora. Protetor de elementar?

— Ele está dizendo a verdade. O príncipe também era. Inclusive trouxe um, que se parece muito com alguém da nossa raça.

— Eu não mentiria isso para você. - a fitou, dando um sorrisinho. - não com a minha namorada.

Tudo que ele sentiu foi um tapa nas costas, bem forte.

— Quer saber se consegue respirar no espaço? - indagou irritada.  

— Esqueci que você é forte... - estava doendo. - não posso nem brincar. - fingiu tristeza.

— Não se esqueça que está aqui apenas pelo pedido da rainha Lirya. Você não é meu amigo. - a voz saiu fria. - portanto não tenho obrigação de tolerar suas brincadeiras.

O marina ficou em silêncio, não esperava ouvir aquilo dela. Os demais ficaram sem graça com os dizeres de Niive.  A diretora percebeu que havia sido grossa, mas não se retratou. Ethel observou os dois, já era vivido o suficiente para saber que havia algo.

— Me ajuda com as vasilhas? - Lya fitou a neta. Tinha que tira-la dali antes que acabasse de vez suas chances com Kanon. - Estelli também.

As duas levantaram seguindo a senhora.

— Quer conhecer a cidade? - indagou Ethel.

— Claro.

Kanon e Ethel andavam lado a lado, com Usain logo atrás. Os primeiros minutos foram em silêncio.

— É protetor há muitos anos?

— Desde os dezesseis. Eu sirvo a um elementar que se chama Poseidon e meu irmão a Athena.

— Ficará aqui muito tempo?

— Creio que não. O chanceler Marius nos convidou por um mês, somado a isso tenho que voltar, tenho obrigações.

— Entendo.

Chegaram a ponte que ligava à outra parte da cidade.

— Usain, vá socorrer sua tia. Sabe como ela "adora" coisas de cozinha.

— Eu sei. - riu.

Ethel esperou o neto distanciar.

— Será que podemos conversar?

Kanon franziu o cenho, pelo tom de voz notou que o assunto seria sério. Ele balançou a cabeça afirmando.

— Na guerra contra S1, eu perdi meu filho, minha nora, meu neto e sete anos depois a esposa do meu neto por causa das seqüelas. Desde então, minha única alegria são meus bisnetos e neta. Niive era uma adolescente e Usain um bebê quando tudo isso aconteceu. Eu sempre fui contra que eles seguissem a carreira militar, mas era os que eles queriam. Tenho medo que uma guerra estoure novamente e eu os perca.

— A Niive é forte senhor Ethel. Já provou inumeras vezes. Vivo apanhando dela.

— Reconheço que ela tem fibra, puxou muito meu filho, mas ela é frágil e impulsiva. Tenho certeza que ela é marcada no meio da bandidagem. Por conta das perdas, ela se tornou implacável com os contrários a lei.

— O que quer de mim senhor?

Ethel tocou nos ombros do marina.

— Niive teve que aprender a ser forte muito cedo e com isso rejeita qualquer tipo de ajuda ou cuidado. Lya não demonstrou, mas aposto que está feliz por ela ter trago alguém aqui em casa. Eu não tenho forças para protegê-la, mas você tem. 

— Senhor Ethel... eu não tenho condições para isso. Ficarei pouco tempo aqui, não tem como.

— Você gosta dela, não gosta?

— Co-mo? - gaguejou. - ela só é minha amiga e está me prestando um favor. Eu nem deveria estar aqui. Além do mais ela deixou claro que não vai com a minha cara.

— É da boca para fora. Você é o primeiro homem que ela trouxe aqui em casa Kanon. Se você não significasse nada,  mal tinha entrado na nave dela. Você é a única pessoa que ela vai aceitar ajuda. O único que eu confio, o único que acho merecedor dela.

— Mas mal me conhece. Meu passado... - abaixou o rosto.

— Seu passado é passado. Vejo no seus olhos o quanto é uma pessoa correta. E eu só entregaria a minha querida Niive para alguém de caráter. - silenciou, para deixá-lo pensar um pouco. - gosta dela?

— Gosto. Só não sei mensurar...

— Isso é construído com o tempo. - sorriu satisfeito. - sei das suas obrigações, mas até lá cuide dela.

— Farei o possível.

O som de risos interrompeu a conversa. Kanon olhou para a entrada do bairro. Niive e Estelli riam de alguma coisa. A expressão da diretora estava tão leve que nem parecia ela.

— Você conhece o rio? - indagou a menina pegando a mão de Kanon.

— Não.

— Tia Niive vai me levar. Quer ir comigo?

— Se ela deixar...

— Não tenho outra opção. - passou por ele. - espero que saiba nadar. - a voz saiu em tom de ameaça.

— Sirvo um elementar que controla a água senhorita Niive.

Ethel sorriu, Niive estava em boas mãos.

O trio atravessou a ponte, passou pelo outro bairro e seguiu rumo ao sul. Desceram numa trilha que saia logo abaixo da cachoeira. Dali a vista era magnífica. Estelli saiu correndo entre as flores.

— Devagar Estelli.

— Deixe-a. Criança gosta de correr.

— Está dizendo isso só para agrada-la? - o fitou intrigada.

— Eu gostei dela. É uma versão sua, só que mais dócil e delicada.

Dessa vez Kanon conteve o punho de Niive, mas não aplicou força.

— Se continuar me batendo terei que avisar a polícia. É abuso de poder. - aproximou dela, quase colando seus corpos. - Se bem que pode abusar se quiser...

Niive ficou sem ação com a frase, ainda mais que se lembrou do beijo do dia anterior.

— Fique longe de mim! - o empurrou.

— Como você me ama.  - saiu de perto dela. - Estelli.

— Olha Kanon. - a garota apontou para a água.

— O que?

Quando ele parou na beirada do rio, foi empurrado.

— Te enganei!

— Eu não sei nadar!! - exclamou.

— Sabe sim. - sorriu marota.

— Então me ajude a sair. - estendeu o braço.

Quando Estelli estendeu, ele a puxou. Os dois começaram a rir e jogar água um no outro. Niive achou graça. A sobrinha tinha realmente gostado do rapaz. Ela sentou na grama, observando-o. Numa determinada hora, Kanon a fitou e ela rapidamente desviou o olhar.

— Não quer vir? A água está boa. - disse.

— Fico por aqui mesmo.

Os dois brincaram por um longo período. 

— Temos que ir embora Estelli. Preciso voltar para Bright.

A menina saiu da água seguida pelo marina. Para que ela não sentisse frio Niive lhe deu sua jaqueta.  Quando os três chegaram em casa...

— Estelli! - ralhou Lya. - Niive por que deixou?

— Eu não tive escolha.

— Já para o banho e o senhor também. - olhou para Kanon. - pode pegar um resfriado.

— Está tudo bem senhora Lya. Além do mais estou voltando hoje.

— De jeito nenhum. - protestou. - vão ficar aqui essa noite. Quando é a viagem dele? - olhou para a neta.

— Amanha cedo.

— Ótimo, irão embora amanha.

— Mas vó...

— Não me desobedeça. Ficarão.

Niive olhou para Kanon dando nos ombros. 

A noite Lya serviu o jantar, depois da sobremesa, eles recolheram pois os dois jovens tinham aula no dia seguinte. Niive saia do quarto de Estelli depois de fazê-la dormir. Estava indo para seu quarto, quando viu da janela do corredor, Kanon sentado na porta de casa.

O cavaleiro olhava para o céu estrelado. Estava tão concentrado que não notou a aproximação.

— Está sem sono?

— Apenas admirando o céu. É muito bonito.

Niive sentou ao lado dele.

— Realmente é. Minha mãe gostava de sentar aqui para admirar.

— O que houve com ela? - a fitou.

A diretora abaixou o rosto, não gostava de lembrar sobre aquilo.

— Desculpe. - pediu o marina percebendo que tocara num ponto delicado.

— Meus pais trabalhavam na sede da policia. Meu irmão, seis anos mais velho do que eu, estava na academia. Ele tinha um futuro brilhante e Usain tinha poucos meses de nascido. Contudo... - calou-se, como se pegando coragem para continuar. - veio a guerra. Meus pais morreram num ataque a sede. A nave que levava meu irmão e minha cunhada foi abatida por S1. Poucos sobreviveram, entre eles, minha cunhada. Mas sofreu ferimentos graves, que nem sua regeneração conseguiu curar. Ela morreu sete anos depois.

O geminiano ficou em silencio, pensando.

— Mas e a Estelli? A diferença entre ela e Usain...

— Eu não sei se tem isso em VL, mas aqui tem-se o costume de congelar óvulos e espermatozóides. Quando meu irmão se casou ele queria ter um casal. Teve Usain e estava planejando ter a Estelli, mas não houve tempo. Anos depois a Luna decidiu ter uma filha. Ela usou um espermatozóide congelado e engravidou artificialmente. Era um recomeço para todos nós... - ela o fitou, Kanon notou os olhos marejados. - porém seu corpo nunca se recuperou do acidente e ela morreu dias depois do parto.

— Eu sinto muito.

— Meus avós já eram idosos, Usain tinha sete anos e Estelli recém nascida. De repente me vi responsável por eles. Me dediquei ao máximo aos estudos para garantir que eles tivessem tudo e em segurança.

— Está fazendo um bom trabalho.

— Obrigada. - deu um meio sorriso.

Kanon tocou no rosto dela e no segundo depois a beijou. Ele pensou que Niive bateria nele, mas isso não aconteceu. Ao contrário ela correspondeu ao ato.

Da janela do corredor, Ethel e Lya viam a cena. Trocaram olhares cúmplices.

Após o beijo, envergonhada por ter cedido, Niive entrou. Kanon ainda ficou por um tempo olhando as estrelas.

xxxxxx

A mesa estava farta, bem ao estilo do taurino. Enquanto comia ele contava para Enya sobre a Terra. A conversa foi quebrada pela chegada de um homem.

— Não sabia que teríamos visita. - fitou o brasileiro. - ainda mais do meu genro.

— Pai! - exclamou Cely.

— Oi minha flor. - o homem aproximou-se dela, dando-lhe um beijo na cabeça. - estou brincando. Meu nome é Kaleb, prazer.

— Aldebaran. - disse retribuindo o aceno um pouco sem graça.

— Apesar de parecer, você não é daqui. - puxou uma cadeira.

— Ele é de VL, pai. Veio junto com Eron.

— Então tem muitas histórias para contar.

Quebrado o gelo de conhecer o pai de Célica, o brasileiro começou a contar sobre sua vida na Terra. Kaleb ouvia interessado. O almoço seguiu animado. Logo após, Kaleb pediu licença pois teria que voltar para a loja e Enya iria ao mercado.

Ao se ver sozinha, Célica levou o taurino para o andar de cima.

— Cely...

— Não tem ninguém em casa... - tirava a camisa dele.

— Mas é a casa do seus pais.

— Você na Terra deve ser muito pudico. - dava selinhos nele. - relaxa garotão.

Célica o puxou iniciando um tórrido beijo. Aldebaran até tentava não ceder, mas não resistia aos encantos da dama real.

Passaram a tarde toda juntos e a noite deram um passeio pela cidade. Não demoraram pois Enya tinha preparado um jantar especial. A refeição foi com clima ameno e ao final as duas mulheres foram para a cozinha. Kaleb convidou Deba para sentarem na porta de casa.

— O que está achando do nosso planeta?

— Interessante. É um lugar que eu viveria.

— Posso perguntar algo? - Kaleb o fitou.

— Claro.

— Quais são suas intenções com a minha filha?

Deba sentiu a garganta ficar seca. Não esperava aquela pergunta e nem sabia o que dizer.

— Seja sincero.

— Senhor Kaleb... - abriu a boca para fechar. - eu tenho as melhores intenções com ela, só que...

— A Cely não quer nada sério com você.

O cavaleiro ficou surpreso com a frase.

— Eu a conheço desde os cinco anos. Sei perfeitamente que ela falou isso.

— Falou... - murmurou sem graça.

— E você pensa o mesmo?

— Eu não poderei ficar aqui por muito tempo. Tenho as minhas obrigações, mas eu gosto da sua filha. Queria ter algo sério com ela, ao menos tentar, mas ela não quer.

Kaleb riu.

— Depois que os pais dela morreram, ela quis se dedicar ao máximo a sua carreira e tudo que atrapalhasse ela descartava. A guerra de quinze anos atrás destruiu uma geração. Observe todos os jovens de vinte e poucos anos. Eles são centrados, cumpridores exemplares de seus deveres. São assim pois cresceram a sombra da orfandade. Aqui em Clamp, agora que estamos desativando alguns orfanatos.

— Ela me considera uma distração para sua carreira?

— Sim.

Deba abaixou o rosto. Realmente era apenas uma distração, mas não poderia culpá-la. Ela havia dito desde o inicio.

— Se sente algo por ela. Dê tempo ao tempo. Debaixo daquele coração racional, tem um coração de ouro.

O.o.O.o.O

Dos membros faltava apenas o presidente de Orion, já que o planeta estava a considerável distancia. Giovanni, Saga e Kamus chegaram ao palácio faltando pouco minutos para a reunião.

— Mãe. - deu um beijo afetuoso na rainha.

— Como está sendo as aulas?

— Boas. - sorriu. - agradeço a presença de todos.

— Alteza, Stiepan irá se atrasar um pouco. - disse Beatrice.

— Não tem importância, também avisei em cima da hora. Pode me fazer um favor?

— Sim.

— Envie um comunicado a Serioja. Diga que quero conversar com ele.

Tirando os dourados que sabiam, as expressões foram de espanto.

— Mas alteza... - murmurou Simon. - sabe muito bem que ele...

— Por isso mesmo senhor chanceler. Temos que ter amigos por perto. - olhou para os demais membros. - e os inimigos mais perto ainda.

Marius sorriu. Eron também tinha herdado a inteligência do pai. Beatrice foi cumprir as ordens, sendo seguida por Kamus.

— Nosso jantar ainda está de pé? - deu um leve sorriso.

— Claro. Te busco as sete, tudo bem?

— Excelente. Vou te deixar trabalhar.

Na sala, MM contava sobre suas aulas enquanto esperavam a chegada de Stiepan.


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