Eu sou Charlie escrita por Hinata Plusle


Capítulo 1
Papa.


Notas iniciais do capítulo

Inaugurando essa categoria.
Espero que eu não seja a única a postar nela...
Esse gênero não é bem o que queria, mas era o único que não fugia completamente do propósito.
Pós-eventos do jogo.



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Papa.
Faz alguns meses que estou tentando achar as palavras certas. Pois é, isso estava me preocupando a ponto de eu não sair simplesmente falando o que me deu na telha, como eu acabo fazendo na maioria das vezes. Mas eu já entendi que não vou conseguir isso nunca, então cheguei à conclusão de que era melhor parar de ficar dando voltas e dizer logo o que eu tinha pra falar, sem rodeios.
Pare de me chamar de Charlotte. Eu me sinto desconfortável quando você faz isso.
Antes que me pergunte, não, nada disso tem a ver com a Mama. Eu sinto saudade e ainda a amo tanto quanto a amava antes de ela morrer. Não estou tentando esquecer ela, nem suprimir memórias que eu tenho da Mama ou... De todos nós quando ela estava com a gente.
Mesmo assim, não gosto do som de Charlotte quando se refere a mim. Não importa que seja como a Mama me chamava, não importa que seja como você sempre me chamou. Isso tudo não ajuda nem um pouco a aliviar o meu desconforto. Quando eu percebi que isso acontecia, no começo achava que era porque eu guardava alguma mágoa sua ou da Mama, mas depois entendi que não era esse o caso.
Eu não sei se você percebeu, mas todo mundo me chama de Charlie. Isso começou mais como um apelido, mas o tempo passou e percebi que eu realmente preferia que me chamassem de Charlie e, não sei se você ficou sabendo, mas agora eu estou até corrigindo quem me chama de Charlotte. Eu me sinto muito melhor quando me chamam de Charlie, mesmo quando estou usando aqueles vestidos horríveis que eu preciso vestir pra escola. Claro que me sinto melhor usando meu casaco ou o uniforme do time de futebol, mas as pessoas me chamarem de Charlie é até mais importante pra mim. Talvez você ache tudo isso muito esquisito, mas é 100% verdade. Me chamarem de Charlotte piora o meu estado de espírito como poucas outras coisas são capazes, eu acho que não preciso falar mais para você entender que tudo isso é real. Não dói fisicamente, como levar uma bolada enquanto estou atrás de um certo ladrão, mas não faz ser menos doloroso.
De verdade, não queria precisar fazer isso, porque sei como você gosta do nome Charlotte e das memórias que teve com a Mama escolhendo ele. Honestamente, também não quero nenhum dos outros nomes que você considerou com ela enquanto escolhia. Realmente não queria colocar o nosso relacionamento já bem instável em xeque, mas não dá pra aguentar. Dê prioridade ao meu bem-estar em relação as suas memórias com a Mama. Não vou desistir disso. Não consigo e não quero nem tentar conviver com uma coisa dessas.
Não sou Charlotte. Faz tempo que não sou Charlotte.
Eu sou Charlie.
Espero que entenda o que quero dizer com isso.


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Notas finais do capítulo

Durante o jogo, Charlie me lembrou muito um menino trans ainda descobrindo sua identidade de gênero. Eu escrevi o original em inglês meio que numa tacada só e depois decidi também fazer em português, porque 1) as pessoas precisam conhecer esse jogo; 2) as pessoas precisam conhecer o Charlie; e 3) as pessoas trans precisam de visibilidade, e o homem trans acaba ainda mais invisível, não raro.



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