Quem Nós Somos? escrita por AndreZa P S


Capítulo 4
K - Tem que ser forte pra te aguentar, viu?!




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"Não somos, não, nós não somos amigos
Nem nunca fomos
Nós apenas tentamos manter esses segredos à luz
Mas se eles descobrirem, tudo vai dar errado?
E o céu sabe, ninguém quer isso

Então eu poderia tomar o caminho de volta
Mas seus olhos vão me levar de volta pra casa
E se você me conhece, como eu te conheço
Você deve me amar, você deve saber"

Friends - Ed Sheeran

 

Por Kile Woodwork

 

Eu observo Eadlyn sacar o seu celular de dentro da enorme bolsa. Ela me assusta. Até onde eu sei, ela está namorando com Erik há quase 8 meses e, mesmo assim, parece indiferente com o fato de terminar com ele. Talvez eu curse psicologia quando concluir este de Arquitetura, somente para poder ter uma noção mais ampla de como funciona a cabeça das pessoas. Eadlyn digitou o número na tela de seu celular, e então aguardamos em silêncio o tu tu da chamada que não era atendida. 

— Acho que ele está te evitando. - Murmuro, um sorrisinho do mal arqueou um dos cantos da minha boca. 

A garota me lança um olhar maligno, como se quisesse esfregar a minha cara no chão. Porém, assim que escutamos uma voz rouca vinda do outro lado da linha, um sorriso triunfante apareceu em seu rosto. Faço uma careta. 

— Oi, Erik. 

— Eai, princesa. Tô com saudade de você, do seu corpinho no meu. 

Reviro os olhos pra aquela frase, e pra como a expressão de Eadlyn tornou-se presunçosa. Ela já era péssima sozinha, mas quando se juntava com Erik, não tinha como não sentir o estômago embrulhado. 

— Então, preciso conversar com você. É importante. - Diz, seus olhos fixaram-se em mim por uns dois segundos, e então desviou o olhar para a multidão de jovens que, por conta do sol que já estava a ficar quente, começavam a migrar para o canteiro de árvores majestosas que circundavam a área verde do campus. No caso, próximo de onde estávamos. Aquilo não pareceu agradá-la, no entanto, pra mim está sendo divertido.

— Pô, não posso conversar nada importante agora. Tive que viajar, aconteceu uns problemas aqui com os meus pais. Você acredita que o meu velho quer que eu administre a empresa por algumas semanas? - Se lamenta Erik, a voz realmente desapontada. Esse cara é a pessoa mais inútil que eu já tive o desprazer de conhecer. 

— Ah... - Eadlyn mordeu seu lábio inferior, e eu gesticulei de forma impaciente para que ela dissesse o que tinha pra dizer logo. Não estou com disposição para ouvir os problemas do Erik. - Então, mas é realmente import...

— Olha, meu pai está me chamando, vai me chantagear, com certeza. Já disse pra ele que eu não tenho nada a ver com aquela empresa de merda. 

— Não é essa empresa de merda que paga a mensalidade da sua faculdade? - Pergunta ela, a voz doce. Porém, seu rosto está entediado. 

— Não importa. Vou desligar. 

— Mas Erik! - Reclama Eadlyn, a voz subindo algumas oitavas. Mas não adiantava mais chamá-lo, o cara desligou de verdade. 

Ela parecia que estava entrando em combustão. Praticamente jogou o celular dentro da bolsa, e suas sobrancelhas franziram-se de uma forma bizarra. Começo a rir - rir muito -, e Eadlyn me encara. 

— Você é tão idiota. - Praticamente grunhe. Dou de ombros, erguendo um pouco os meus óculos para limpar uma ou duas lágrimas que acabaram saindo de meus olhos de tanto que ri. 

Ergo as mãos na altura dos ombros. 

— Ei, calma. Não foi eu quem desligou na sua cara. - Falo.

Ela revira seus olhos azuis e joga seus cabelos para tras dos ombros. 

— A ligação deve ter caído, ele não faria isso comigo. 

— Claro, e unicórnios existem, não é mesmo? - Provoco. Edlyn estreitou os olhos, suas feições me dizendo que está furiosa. Agora se é comigo, ou pelo o seu namorado eu não sei... e pouco me importa, de fato. 

Ela bufa, e eu começo a guardar meu caderno e meus livros dentro da minha mochila. Tinha muita coisa para estudar, minha última prova do semestre estava marcada para daqui 3 semanas, e eu não estava disposto a deixar para a última hora pra estudar. Dou um salto do banco quando a garota bate uma das mãos na mesa. 

— Você é louca? O que foi? - Perguntei enquanto revirava os olhos e me levantava. 

— Você prometeu que me deixaria te dar uma repaginada. - Murmura, seus olhos menos hostis, mais impacientes. 

— Você não terminou com Erik ainda. - Observo. Ponho minha mochila em um dos ombros e lhe dou as costas, caminhando rumo ao meu doce, aconchegante e silencioso dormitório. No entanto, minhas expectativas de chegar logo ao quarto são barradas quando escuto o som de passos vindo em minha direção. 

— Ei! - Chamou a voz da Eadlyn. 

Paro e me viro para trás pra poder fitá-la. Arqueio uma de minhas sobrancelhas, perguntando silenciosamente o motivo dela ainda estar me importunando. 

— Como você tem coragem de dar as costas pra mim e me deixar falando sozinha? - Questiona, sua voz indignada. Seus olhos indignados. Seu rosto inteiro indignado. Ela está transbordando indignação. 

E se eu não estivesse achando a sua atitude tão frustrante, provavelmente estaria rindo agora, mas não estou.

— Oh, me perdoe, vossa majestade, mas pensei que já estivesse acostumada a ficar no vácuo. - Digo. 

Ela pisca algumas vezes, seu cenho ficando franzido. 

— Você é muito topetudo pra alguém que mal tem uma vida social. 

Olho pra cima, pro céu. 

Deus, por favor, dai-me paciência. 

— Tenha um belo final de tarde e uma ótima noite, cherie. Tenho coisas mais importantes pra fazer agora. - Murmuro, já retomando a minha caminhada. 

— Estudar? - Debocha, fazendo pouco caso. Dessa vez não me dou a trabalho de parar e dar-lhe atenção, apenas sigo em frente, fingindo que não estou escutando. 

Alguns passos adiante, constatei que não estava sendo seguido e nem nada do gênero. Solto um suspiro aliviado, aquela garota ainda me deixaria com os cabelos em pé. Me sentindo muito mais tranquilo, e mil vezes menos tenso, destranco a porta do quarto e tomo um banho quente e relaxante. Marcus ainda não chegara, então eu teria um tempinho a sós com os meus pensamentos.

O banho poderia ter sido ainda mais relaxante, se não fosse a voz de Eadlyn invadindo a minha cabeça a cada segundo. Ai meu Deus, já estava começando a ficar fora de mim! Será que eu conseguiria resistir ficar 6 meses próximo dela sem cair na tentação de afogá-la no lago da Universidade?

Tateio os ladrinhos brancos da parede em busca do registro e, assim que o encontro, desligo o chuveiro. Durante todo o processo de me secar, vestir roupas limpas e dar uma geral no banheiro - e isso incluia passar um pano com água sanitária nos ladrinhos do box -, a voz de Eadlyn ainda invadia a minha cabeça, e eu estou começando a achar que estou tendo alucinações... auditivas. Menos do que um dia com ela, já tinha me deixado com um parafuso a menos. 

Porém, graças aos céus, quando comecei a me empenhar a tirar as manchas da pia - eu simplesmente odiava imundice, bagunça e desorganização -, e deixar toda a minha concentração focada no processo de tirar todo e qualquer vestígio de sujeira do chão, que consegui me desligar e ouvir somente as músicas que eu entoava dentro da minha cabeça. 

Quando o serviço está completamente feito, e sinto que posso finalmente retomar os meus estudos em paz, abro a porta do banheiro e minha cara fica no chão. Eadlyn está sentada na minha cama, as pernas cruzadas, fingindo que presta atenção nas bobagens que Marcus com certeza lhe dizia. Assim que percebe que eu estou no quarto, ela abre um sorriso maroto, as suas sobrancelhas erguendo-se. 

Faço o sinal da cruz. 

— Vai de retro, satanás. - Murmuro. Ela imediantamente fecha a cara, enquanto que Marcus solta uma gargalhada alta. Nós dois o encaramos com a expressão séria. Eadlyn, provavelmente por estar ofendida pela a sua reação. Eu, porque falei sério, não estava brincando. Quando ele terminou de rir, apenas trocou olhares com a gente e levantou-se do sofá com as mãos erguidas. 

— Ei, vou deixá-los a sós, já estou indo. - Comunica, já dirigindo-se à porta. 

— Não precisa, Marcus. - Falo eu - Eadlyn já está indo embora, não é? - Volto minha atenção para ela. 

— Na verdade, não. Vou ficar aqui com vocês, garanto que Marcus não se importaria, né? - E então ela abre um sorriso cheio de dentes para o meu amigo, que só faltou se ajoelhar e pedi-la em casamento naquele exato momento. 

— Não mesmo. - Responde com um sorriso imbecil no rosto. 

— Primeiramente, Marcus, limpe a baba que está escorrendo da sua boca. - Falo, minha voz entendiada, mas no fundo estou desesperado para ela ir embora logo. - E em segundo lugar, Eadlyn não tem motivos para estar aqui. O que quer? 

— Você é grosso. - Ela diz, ofendida. Ela se ofendia por pouca coisa, não devia estar acostumada a ouvir verdades. 

Reviro os olhos. 

— Sou.

A garota solta um suspiro alto e dramatico. 

— Você sabe o que eu quero. - Constatou.

Meus olhos em fendas agora.

— Depois que fizer o que foi acordado. - Retruco. 

Eadlyn, inesperadamente, abre um sorriso maroto. 

— Não vou te deixar em paz. - Avisa, uma de suas sobrancelhas se arqueou. 

Eu aperto a ponte do nariz e fecho os olhos. Não sabia o que era pior: achar que estava imaginando a sua voz, ou verificar que não era imaginação, que ela estava diante de mim, pronta para me fazer ficar louco. De verdade. 

— Tudo bem. Quando? - Pergunto, soando cansado. Cansado dela. 

Seus dentes faíscaram pra mim. 

— Hoje.

— O quê?!

— O que é hoje? - Quis saber Marcus, que mantinha os olhos fixos em nós dois. 

— Depois conto tudo pra você. - Respondo a ele, que abriu a boca para me dizer algo, mas Eadlyn foi mais rápida e o cortou:

— Hoje e então estará livre. É simples, e já está escuro lá fora.

Dou de ombros.

— E o que que tem?

Ela observa uma de suas unhas, e não se dá ao trabalho de me fitar enquanto responde:

— Não quero ser vista com você em plena a luz do dia. - Seus olhos encontram-se com os meus, sua expressão dando a entender que era óbvio. - Pelo menos por enquanto. - Concluiu. 

Solto um suspiro alto e áspero. 

— Então vamos logo. - Digo, agora me sentindo ansioso pra me livrar disso de uma vez por todas. Eadlyn dá um pulinho e bate palmas duas vezes, enquanto eu observo aquilo em silêncio, com cara de paisagem, e não comento nada. 

Marcus quis ir conosco, mas lhe disse mais uma vez que explicaria tudo mais tarde. Ele devia estar morrendo de curiosidade, mas se eu fosse ele também estaria. Seguimos para a parte de fora do dormitório, mantendo uma distância mais acentuada do que seria normal entre duas pessoas conhecidas e que estavam indo para o mesmo lugar. Graças a Deus, ela se manteve quieta durante todo o trajeto, até que chegamos no estacionamento dos alunos. Ela põe as mãos na cintura, dá uma rápida olhada ao redor, e depois seus olhos azuis param em mim. 

— Onde está o seu carro? - Ela quer saber. Coço a lateral do meu rosto, minha testa franzindo-se. 

— Que carro? - Pergunto, confuso. 

— O seu. Ou você usa carroça? - Retruca, um humor sombrio iluminando o seu rosto. Reviro os olhos e ponho as mãos dentro do bolso do meu casaco de moletom. 

— Por que não vamos no seu?

— Não gosto de dirigir, e não quero que você dirija o meu carro. 

Sabendo que não adiantaria discutir, e já me sentindo exausto demais para pensar em alguma resposta ácida para ela - sério, Eadlyn parecia uma vampira que sugava minha energia só de estar no mesmo ambiente -, entro mais para dentro do estacionamento. Escuto os passos da peste vindo logo atrás de mim, e então dobro para o final da extensa fileira de carros. Meu carro era o último. Um velho - bem velho - e bom Fiat. 

— Aqui está sua carruagem, cherie

Ela dá uma analisada no carro, e seu rosto se franze inteiro. 

— Seus tios não são ricos? - Ela pergunta. 

— Meus tios são. Eu não. Vai entrar logo ou vai ficar fazendo doce? - Retruco, já abrindo a porta do motorista e entrando. 

Ela demora um pouco pra entrar, enquanto eu massageio minhas têmporas. Fechou a porta com um baque alto, sem necessidade... , respiro fundo duas vezes. 

— Deveria ter aberto a porta do carro pra mim. 

Faço uma careta. 

— Não me coloque no seu mundo encantado, princesa. Eu não faço parte dele, e nem pretendo. 

— Não sabe o que está perdendo. - Diz, enquanto escorrega pelo o banco, provavelmente tentanto ficar escondida dentro do carro para não correr o risco de alguém conhecido reconhecê-la. 

— Tá. - Reviro os olhos e dou a partida no carro. O som era ensurdecedor, e eu sempre odiei isso. Só que hoje, excepecionalmente, eu estava adorando. Eadlyn se encolheu no carro e eu abri um sorriso malicioso. - E só pra te avisar, eu não vou gastar um mísero tustão hoje. 

— Será meu presente de aniversário pra você.

— Você nem sabe qual o dia do meu aniversário, cherie

Ela dá de ombros. 

— Não importa, e não seja mal agradecido, estou te fazendo um favor.

Não respondi nada. Minha cabeça já começava a doer, e eu já começava a me arrepender dessa história toda de me vingar de Erik. Será que não era castigo o suficiente para ele ter uma namorada como a peste da Eadlyn? Suspiro. Não há vitória sem esforço, ao que parece.

 

 

 

 

 

 


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