O Livro de Eileen escrita por MundodaLua


Capítulo 24
A Decisão e o Embate


Notas iniciais do capítulo

Eu preciso me retificar pelo fato de que no capítulo anterior eu escrevi que ela estava tentando alcançar o quarto poder, quando na verdade era o terceiro, me desculpem pela falha.
Espero que vocês gostem desse capítulo ♥



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— Nós teríamos que usar Dean como isca. - Foi o que Chuck disse, logo no início da “reunião” onde eles deveriam decidir como agir em relação a Amara. A reação geral foi a mesma, a exceção de Lúcifer é claro. Sam fechou sua expressão olhando para o escritor como se ele fosse o mais baixo dos criminosos, Eileen pareceu ofendida com a ideia, enquanto Castiel virou seu olhar para o Winchester mais velho, esperando para ver o que ele achava, mas também não parecendo particularmente feliz.

Apesar disso, Dean pareceu concordar com a ideia, era a melhor opção, uma vez que a Escuridão mostrava um interesse especial por ele, se havia alguém na Terra que poderia chamar a atenção dela, era Dean. Claro que Chuck produziria o mesmo efeito, mas não sem começar uma guerra celeste, o que eles queriam, a todo custo, evitar, já que Deus deixara bem claro que ele não daria conta. Sam estava pronto para externar sua insatisfação quando aquela ideia, quando o mais velho o cortou – O que eu precisaria fazer? - Perguntou, a determinação em sua voz calou qualquer protesto que pudesse surgir.

— Ela não pode tentar lutar com Eileen, mas uma vez que você – Ele se virou para a menina – Chegar perto dela, minha magia de proteção será inútil, ela notará que algo está errado. Amara gosta de você Dean, mas “gosta” talvez seja um eufemismo, o que a escuridão sente é mais como uma obsessão, se você conseguir tirar a atenção dela, talvez Amara não percebe que Eileen está por perto.

— “Talvez”? - Eileen repetiu, não muito feliz com aquela incerteza toda.

— Eu estou contando que o que Amara sente por Dean será distração suficiente para que você possa usar seu poder sem que ela se quer pense em revidar.

— E se não for? - A menina fez a pergunta que estava na cabeça de todos os outros ali presentes.

— Um confronto seria o pior dos casos, você não tem todos os seus poderes, e, bem… Eras de clausura, mas Amara é uma destruidora nata, essa é a essência dela, assim como a sua. Se se ver em perigo, eu acho que todos podemos imaginar como ela reagiria. - Houve um momento de silêncio entre eles assim que Chuck completou sua fala.

— Certo, então no melhor caso Dean consegue distrair ela por tempo suficiente pra que eu possa usar meus poderes, e eu morro. No pior, Amara fica superirritada e me explode em milhões de pedaços, o que talvez me mate e talvez não. Se o livro estiver certo há uma grande possibilidade da Escuridão não conseguir me matar usando os poderes dela, mas isso não vai impedi-la de matar todo mundo ao meu redor. Eu sugiro que se a gente for tentar essa abordagem, Sam, Castiel e Lúcifer fiquem o mais longe de nós que eles conseguirem.

Todos concordaram, a bem da verdade seriam de bem pouca utilidade naquele plano. Até mesmo Castiel, que antes tinha a função de curar Eileen, não seria de serventia, uma vez que eles esperavam pelo pior.

Ficou acertado então, que por mais falhas que o plano apresentasse, não havia muitas outras possibilidades na mesa. Não poderiam esconder Eileen por mais tempo, e por mais que Amara talvez não pudesse matá-la, ainda sim se ela tentasse confrontar a menina, poderia mantê-la em algum feitiço, encarcerada como a própria Amara um dia fora. Quem trouxera essa possibilidade a conversa foi Eileen, perguntando se seria possível que alguém a prendesse, e a expressão no rosto de Chuck foi tudo do que eles precisaram para saber que sim, se a Escuridão não pudesse matá-la esse seria seu mais provável plano B.

Assim que findaram a reunião, a menina não estava mais feliz do que antes, com a nova possibilidade de acabar presa. Embora Chuck tenha garantido que se algo assim acontecesse havia uma boa possibilidade de ele conseguir libertá-la. Mas Amara sempre estaria lá, esperando, e não haveria feitiço protegendo a menina.

Naquela tarde ela exercitou o segundo poder o máximo que pode, e embora ele estivesse cada vez menos consumindo sua energia, ainda não fora o suficiente para alcançar a nova magia. Restou a Eileen cair pesadamente em uma das cadeiras da biblioteca, soltando um longo suspiro de derrota. Ela olhou para os rostos cheios de expectativas de seus amigos e desejou que, pelo menos por algumas horas, ela pudesse ficar sozinha. Eileen deu um aperto carinhoso em seu livro. E tentou dar um leve sorriso de encorajamento, mas o cansaço não a permitiu.

— Eu acho que deveríamos fazer isso logo. - Ela soltou por fim, chamando a atenção de todos.

— O que você quer dizer? - Sam perguntou.

— Vamos logo atrás dela, não deixar até que o feitiço que me protege chega ao seu limite. Acho que já ficou bem claro que o terceiro poder não vai ser tão fácil de alcançar, então pra que perder tempo aqui. Se ela já está curada, provavelmente começou a machucar as pessoas de novo. - Eileen disse, se levantando a indo até perto de uma das estantes, sem olhar para os rostos que a encaravam – Quanto antes resolvermos isso, melhor. - Falou por fim, resoluta.

—Nós precisamos decidir um lugar. - Chuck começou – Algum lugar afastado, mas quanto a isso, penso que eu posso achar um lugar na Terra, que eu mesmo criei, que seja isolado o suficiente. Eu já até tenho uma ideia.

— Hei! Calma ai. - Sam interrompeu – Vocês querem simplesmente ir? Eileen, você tá exausta.

— Que diferença faz Sam? - Ela perguntou abruptamente, o rapaz não respondeu.

— Mas você quer ir agora mesmo, nesse exato instante? - Castiel perguntou, sua expressão entre a dúvida e preocupação.

— A cada minuto que passa, ela pode estar em algum lugar do mundo exterminando pessoas e animais, tentando chamar a atenção dele. - Disse apontando cegamente para onde Chuck estava – Eu pensei muito nisso enquanto tentava alcançar o novo poder, se valeria a pena esperar até amanhã, usar até o ultimo segundo da magia que me protege, e se querem mesmo saber, não, não vale a pena. Como diria o dito popular “ou vai ou racha”. Se nós vamos fazer isso, então que seja agora que eu me sinto mentalmente preparada. - Disse por fim, virando-se e olhando para seus amigos.

Apesar de sua voz trêmula e de sua postura curvada, os olhos da menina relevavam grande determinação, do tipo que não poderia ser contrariada. Todos assentiram, e Eileen se voltou para o Winchester mais velho – Você tá pronto? - Perguntou o encarando intensamente. Dean apenas acenou positivamente. Ele concordava com a menina, se fossem fazer isso o melhor momento era agora que uma onda de coragem tomou conta de Eileen.

— Você tem certeza que vai conseguir enganar ela? - Eileen insistiu.

— Eu vou tentar. - Foi só o que ele disse, e era tudo que ele poderia prometer.

Eileen respirou fundo. Não poderia deixar que Amara a visse, ou que ela atacasse antes, ou entrariam em um loop de destruição constante, onde ela talvez não morresse e ficasse a merce da Escuridão. Ela deveria ser a primeira a atacar, e a única também. Além dessa dificuldade, havia algo no olhar de Dean que não passava a mesma confiança que sua voz. Ela sabia que a irmã de Deus produzia alguma tipo de “efeito” no mais velho, e esperava que, quando aquela história culminasse para seu fim, ele não se traísse, e, por consequência, levasse o resto do grupo e talvez da Terra com ele.

— Então essa é a hora. - A menina ajeitou a própria postura, segurando o livro próximo a seu coração. Desde o momento que soubera que enfrentaria a Escuridão, ela nunca imaginou que teria de fazê-lo de maneira tão abrupta. Mas se era assim que teria que ser feito, então ela faria o melhor que pudesse. E a súbita ideia de que a segurança da vida na Terra dependia de como eles se saíssem naquela tarefa, a encheu de uma sensação de dever que pareceu estranhamente familiar. Eileen imaginou que esse não seria o primeiro ato heroico de Cimmeris, mas talvez o primeiro em que ela não contaria com a totalidade de seus poderes. Naquela sala, naquele momento as decisões foram tomadas, e embora o resto do mundo estivesse alheio ao que aconteceria, o incomum grupo de seres ali presentes estava prestes a tentar salvar o mundo.

Um Mitrahá, ou quase. Um Deus, um arcanjo, um anjo e dois humanos. A história, que se bem-sucedida levaria a humanidade novamente para o estado de segura ignorância. Aquelas seis criaturas se entreolhavam agora, como uma última confirmação do que estavam prestes a fazer.

Eileen começou as necessárias despedidas, indo primeiramente até Castiel, que permanecera em pé todo aquele tempo. Trocaram um forte abraço, a menina tentou transmitir alguma segurança para o anjo, e findou o gesto dizendo – Cuida bem deles. - Ao que Castiel acenou que sim. Ele cuidaria dos Winchesters, e, se tudo corresse como o esperado, logo ele cuidaria dela também.

A menina rumou então, em direção a Sam, que conservava sua expressão preocupada, agravada agora por uma profunda tristeza. Também se abraçaram, mas não trocaram qualquer palavra. O mais novo tentava afugentar os pensamentos de que, depois de tanto esforço para não matar mais uma grande amiga, lá estavam eles na mesma velha situação de despedida. Embora não tivessem passado muito tempo com Eileen, foram bons meses, suficientes para criar um laço familiar que não deveria terminar daquela maneira. Bem, não era exatamente um fim, logo eles teriam um bebê Eileen do qual cuidariam, e foi a esse pensamento que Sam se agarrou, quando a apertou ainda mais antes de soltá-la.

Por último ela se aproximou de Lúcifer, que até aquele momento permanecera em um canto mais afastado e carregava uma expressão de total aborrecimento. Eileen tinha chegado a conclusão de que aquela era a cara natural dele, mas quando a menina se aproximou uma metamorfose aconteceu. As linhas duras na testa do arcanjo se suavizaram, o olhar de poucos amigos foi substituído por um te total afeto. Eileen tentou imaginar como era a relação entre Cimmeris e Lúcifer, se seus sentimentos naquele instante fossem algum indicativo, ela diria que em algum momento naquele cosmos, eles foram bons amigos e confidentes. O arcanjo não fez menção de abraçá-la, apenas a observou longamente.

— Eu vou ficar esperando o dia em que você vai ser completamente Cimmeris de novo. - Disse em tom sério, estendendo sua mão quase tocando o rosto de Eileen, mas parou, como que pensando duas vezes. Ninguém ali poderia mensurar o quanto Cimmeris fora importante para ele, e o quanto perdê-la o abalou. Ele ainda se lembrava da época em que eles costumavam conversar sobre terras longínquas e o Mitrahá parecia o mais interessante dos seres. Por um período de tempo, Lúcifer esqueceu dos humanos e de seu tolo pai. E agora ele poderia ter Cimmeris de volta, encarnada naqueles grandes olhos castanhos, que no momento faziam com que sua própria essência quisesse derreter.

Sem esperar por um gesto de permissão a menina o abraçou – Até lá, seja um bom menino. - Disse em um quase tom de gracejo, o que arrancou de Lúcifer algo muito parecido a uma risada sincera, fazendo com que os demais se surpreendessem. Dean jamais ficaria completamente confortável com a ideia de que o arcanjo nutria algum tipo de bom sentimento por Eileen, mas se isso o mantivesse na linha pelo resto da eternidade, o mais velho não reclamaria. Sam por outro lado não poderia e nem esqueceria o que Lúcifer fizera, e se num futuro ele pudesse manter a menina longe do arcanjo, ele o faria.

— Dean, velho Dean. - Eileen disse, logo que se soltou de Lúcifer. O mais velho tentou dar seu melhor sorriso, aquele que ele reservava somente para as beldades nos bares. Eles se abraçaram, e ele poderia dizer, sem dúvida, que ela era a irmã mais nova que ele jamais quis – Está nas nossas mãos agora. - O mais velho acenou positivamente, e eles se abraçaram – Vê se maneira na cerveja e no bacon, eu preciso de você vivo tempo o suficiente pra me ver virar uma adolescente. - O mais velho fingiu uma expressão de nojo, e com isso eles se separaram.

— Chegou a hora. - A menina continuou, virando-se para Chuck, que concordou com um aceno de cabeça – Chegou a hora de lutar contra a Escuridão.

Eles começaram a pôr o plano em prática. Chuck encostou na testa de Dean, e logo o mais velho foi transportado para um cenário praiano e deserto. Ele recebera instruções finais a respeito do que deveria fazer, o que consistia em basicamente não deixar que Amara percebesse a chegada de Eileen. Nesse ponto é que o primeiro problema começava, já que não havia total garantia de que a Escuridão fosse aparecer quando ele chamasse, mas, mesmo assim, ele tentou. Concentrou sua mente em Amara, esperando que ligação formada pela marca de Caim fosse o suficiente para que ela viesse em seu encontro. O mais velho se esforçou ao máximo para livrar sua mente de qualquer outro pensamento, qualquer coisa que pudesse delatá-los.

Nada aconteceu a princípio, e tudo que ele pode fazer foi encarar as ondas quebrando. Mas logo ele sentiu uma presença atrás dele, rapidamente se virou e seus olhos encontraram os de Amara – Dean – Ela começou, esboçando um pequeno sorriso – O que você quer? - O tom dela era suspeito, e o sorriso não deixou seus lábios.

Ali, no momento do clímax ele não soube muito bem o que dizer. A influência que ela exercia sobre ele fora mais pesada do que ele supôs. Mas ainda sim ele tentou algo – Nós queremos saber quais são seus termos, o que você quer de nós.

— Eu acho que já deixei isso bem claro. - O sorriso começando a se tornar malicioso, assustador – Eu quero conversar com o meu irmão.

— Não acho que isso vá acontecer. Deus saiu pra comprar cigarro e nunca mais voltou. - Disse, tentando levá-la a se fixar na conversa. Chuck garantira que poderia ver tudo que fora sua criação, ou que fora criado com ele, logo Amara estava dentro do radar divino, habilidade que, por sorte, não era compartilhada por sua irmã. Ele havia explicado que Amara só podia sentir Eileen porque a essência de ambas era algo parecida em poderes e emanações.

— Ah ele vai. Eu vou garantir que ele apareça, mesmo que para isso eu tenha que destruir cada pedaço da criação dele. - A voz dela começou a se alterar, e algo como fúria nasceu em seus olhos. Dean tinha acertado o ponto certo ao falar de Deus e não da conexão que ele próprio tinha com Amara, nada deixava a Escuridão tão cega quanto seu ódio pelo irmão – E quando não restar mais nada além de mim e você vivos sobre esse planeta, ele não vai poder me ignorar, e eu vou fazê-lo pagar por todo o tempo em que eu estive presa.

— Se ele não apareceu até agora, o que te faz pensar que ele vem?

— Ah Dean, Dean… Será que ele vai conseguir se manter ausente quando eu pisar em cada uma das criações dele? Será que o artista consegue se manter passivo enquanto vê sua obra queimar? - O ódio aliado ao sorriso de escárnio que ela dava no momento fizeram suas feições se tornarem totalmente psicóticas – Mas você não precisa se preocupar, Dean Winchester – Ela estendeu uma das mãos e encostou no rosto do mais velho – Mesmo que dessa Terra sobre somente o pó, eu vou garantir que nada de mal te aconteça, mesmo que você não goste – Ela começou a trazê-lo mais para perto – Eu e você juntos é o certo, e nada do que você, seu irmão, aquele anjo, ou a menina tentem, vai mudar isso. - Ela sussurrou a milímetros da boca dele, e antes que Dean pudesse registrar o que ela havia dito, Amara o beijou.

Dean não teve nenhuma outra opção além de corresponder o beijo, era o que o laço o impelia a fazer, mas isso não o impediu de entrar em desespero quando ele ouviu, ao longe, o som de Eileen dizendo o poder. Tudo que ele pode registrar foi Amara findando o beijo bruscamente e com um gesto de mão ela parou o fogo verde que vinha em sua direção. A próxima coisa que o mais velho se deu conta, foi a expressão horrorizada de Eileen, e um segundo depois a menina estava de joelho sobre a areia.

— Eu não sei se me ofendo ou me honro com essa tentativa de ataque. - Amara começou, se afastando de Dean e indo em direção a Eileen – Eu ouvi falar de você enquanto me recuperava. A princípio eu pensei que você não fosse representar muito perigo, mas então seu poder só aumento a cada dia. Mas, embora eu deva admitir que tive medo do que você poderia fazer, agora eu vejo que não deveria ter me preocupado. Por mais que você tenha tentado Dean, não conseguiu tirar essa menina de sua cabeça. - Ela pareceu pensar um pouco, e sua expressão se tornou de irritação – Sem laço, ou nada que os una, e ainda sim você gosta dela dessa forma. Como? - A dúvida era genuína, mas logo ela pareceu voltar a si e seu discurso – Se veio aqui achando que poderia usar seus poderes contra mim, então você e seu grupo são mais incapazes do que eu poderia imaginar.

Amara estava agora a não mais que dois metros de Eileen, que ainda se mantinha no chão, presa sob o efeito de qualquer magia que a Escuridão estava usando. Dean estava paralisado, não eram muitas as vezes que ele não sabia como agir, mas sob essas circunstâncias tudo que ele pode fazer foi esperar que Chuck aparecesse, o que ele não fez.

— Eileen, você é agora a única coisa que eu poderia chamar de ameaça, mas para isso teria que estar com a totalidade de seus poderes. Vocês trouxeram para mim a única arma eficiente, mas ela não está completamente carregada.

— Você não precisa fazer isso. - Eileen começou, precisou de muito esforço para conseguir falar – A vingança não vai mudar nada do que aconteceu. Olha pra mim, ele despedaçou a mim e minhas irmãs. Fomos deixadas em duas partes, jogadas na Terra sem memória por culpa de Deus, mas atentar contra ele vai mudar alguma coisa? - Perguntou, seus olhos se abrindo ainda mais.

Amara pareceu refletir por um segundo, e até mesmo se virou para Dean, tentando achar no olhar dele qualquer coisa que delatasse que aquilo era mentira. A Escuridão não vivera o episódio dos Mitrahás, ela não sabia, mas uma rápida e mais profunda vistoria na mente do Winchester mais velho foi tudo de que ela precisou. Por um segundo sua determinação vacilou, e Eileen achou que a venceria na conversa, mas quando aquele breve momento de dúvida se esvaiu, Amara começou:

— Então se junte a mim, vamos derrotá-lo juntas, ele merece, não pode negar isso.

— Esse não é o caminho Amara, nós podemos resolver isso de outra maneira.

— Não existe outra maneira. - Ela gritou, a fúria retornando mais forte do que nunca. Ela se aproximou até estar em frente a menina, e, se agachando para ficar cara a cara com Eileen, finalizou – Se você não vai se aliar a mim, então, não me deixa outra escolha. Embora, eu tenha de admitir, você seja algo fascinante. Eu sei agora que não posso findar sua vida, mas eu tenho mais ideias do que meu estúpido irmão poderia imaginar, eu preciso de você fora do meu caminho, e vou me certificar disso te jogando no mesmo lugar onde estive presa todo esse tempo. Parta sabendo que eu não obtive prazer algum em minhas ações. - Dizendo isso, ela fez mais um gesto de mão, mas para a surpresa tanto dela, quanto de Eileen e Dean, a magia nunca chegou a encostar na menina.

No instante seguinte ao que Amara usou seu poder, algo fantástico aconteceu. Primeiro foi como se o próprio tempo desacelerasse, e os três espectadores puderam ver claramente cada coisa que se passou. Assim que o poder de Amara se aproximou de Eileen, o livro de Cimmeris começou a brilhar em um verde forte, e, para o espanto geral, se desfez em milhares de pequenos pedaços, se reorganizando e formando um escudo ao redor da menina, que repeliu a magia de Amara. Eileen tinha agora um campo de força verde a rodeando. A essência que ela ainda não absorvera estava batalhando junto a ela, a protegendo naquele momento crucial, o que restava de Cimmeris não deixaria nada ferir Eileen.

— Você nunca mais vai machucar ninguém – A menina começou, a expressão perturbadoramente vazia - Livahnoun. - Eileen disse por fim, e, dessa vez, Amara estava embasbacada demais com o que vira para poder atinar em revidar.

O mais velho assistiu em completo estupor quando o fogo verde adentrou o corpo da Escuridão. Os olhos de Eileen, que naquela noite quando ela fizera aquela mesma magia pela primeira vez, haviam se tornado negros, agora tinham adquirido o mesmo tom de verde brilhante do livro. Foi uma batalha silenciosa, mas nem por isso menos épica. A menina de um lado, a mão estendida inerte, os olhos completamente pintados e reluzindo, envolta em sua própria essência de Mitrahá. Do outro estava a Escuridão, os olhos rolaram para fora da órbita, e tudo que sobrara fora o branco, ela tinha os braços caídos ao lado do corpo, e parecia que logo seu joelho cederia, a guerra sendo travada em seu interior, seus poderes lutando para permanecer.

A sensação de que o tempo desacelerara ainda presente. Tudo que o Winchester mais velho pode fazer foi se mover. Foi como andar em uma piscina de mel, ele caminhou até estar próximo da menina. Se ele dissesse que ver Amara daquela forma, sofrendo para manter seus poderes, não o afetou, ele estaria mentindo. Algo dentro dele até mesmo sugeriu que ele implorasse para Eileen parar, ou quem sabe até mesmo a fizesse parar a força, mas ele não deu vazão a esses pensamentos, se manteve firme ao lado da menina.

Por fim, depois do que pareceu uma eternidade de batalha interna, o fogo verde de Cimmeris saiu vencedor, deixando o corpo de Amara junto com uma substância que se assimilava muito a graça dos anjos, mas que, ao contrário do azul angelical, era dotada de um profundo tom de roxo. A escuridão tombou, desacordada

Ainda com a expressão vazia e os olhos completamente verdes, Eileen começou a tatear alguma coisa no bolso de seu casaco, e logo ela tinha em mãos um frasco cheio de sigilos que Dean nunca tinha visto antes. – Diath. - disse por fim, e os poderes da Escuridão, atrelados a sua essência adentraram o recipiente de vidro. Uma vez que tudo estava terminado, o campo ao redor de Eileen se desfez, voltando a ser o livro que sempre fora.

Dean mal pode registrar o que acontecera, quando Eileen também foi de encontro ao chão. Ele foi até ela, a envolvendo em seus braços, o efeito que Amara exercia sobre ele há muito esquecido. O mais velho finalmente deu passagem ao desespero e ao pânico ao notar que Eileen não respirava. Pegou-lhe gentilmente o pulso só para confirmar a verdade que embora terrível não era surpresa, não havia pulso, o coração de Eileen não mais batia. Muito provavelmente a vida dela se esvaíra no momento em que a magia se findou.

— Você conseguiu. - Ele sussurrou para ela, os lábios encostados na bochecha da menina – Você conseguiu. - Ele repediu, a voz embargada e as primeiras lágrimas começando a se formar, enquanto ele beijava delicadamente a pele sobre a maçã do rosto de Eileen. Dean alcançou o livro que caíra ao lado dela, e o colocou entre os braços da menina – Nós vamos cuidar de você. - Disse em tom de promessa.

E antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, ele se viu uma vez mais no bunker. Ainda segurava o corpo sem vida de Eileen, de joelhos no meio da biblioteca. Logo ouviu as exclamações de tristeza dos demais, mas mal pode enxergá-los pelos seus olhos marejados. Só muito depois ele percebeu o corpo de Amara estendido em uma das poltronas. Chuck tinha em mãos o frasco que há pouco a menina usara.

Sam e Castiel se aproximaram, o Winchester mais novo passou seu braço ao redor do ombro do irmão, sentindo as próprias lágrimas se formarem. O anjo se ajoelhou ao lado da menina e deixou que as pontas de seus dedos tocassem levemente o rosto de Eileen, cujos olhos castanhos estavam cerrados. Lúcifer há muito desaparecera, ele esperaria por Cimmeris. Logo Chuck também desapareceu, levando Amara com ele, restando no bunker somente o anjo e os irmãos, ao redor do corpo pálido e inerte de Eileen.

Na manhã seguinte ao fatídico dia, os irmãos e o anjo se ocuparam em dar um enterro decente para o corpo de Eileen, não se preocuparam porém, com o sal e com os isqueiros, isso não seria necessário naquele caso. - Eu vou sentir falta daquela nerd. - Dean começou, olhando para o monte de terra fofa, incapaz de refrear as lágrimas.

— Ela deixava tudo um pouco mais engraçado. - Sam continuou – Com aqueles olhos de coruja e temperamento maluco.

— Me fez sentir necessário de novo, me deu um propósito. - Castiel completou, até mesmo ele tinha lágrimas nos olhos.

— Felizmente não vamos sentir falta por muito tempo. - Sam disse, e nesse exato momento, Chuck apareceu. Soltou um “Depois precisamos conversar”, e desapareceu novamente. Ele estava mantendo Amara sob seus cuidados, embora com certo esforço, no paraíso. Ele esperava que fosse chegar um tempo quando ela não mais odiaria sua criação, e poderia conviver em paz com os humanos.

Assim que os três voltaram, encontraram Deus sentado em uma das cadeiras na biblioteca. Em seus braços eles puderam ver uma manta enrolando um pequeno corpo de bebê. Algo dentro dos três amoleceu de uma maneira que eles jamais acharam possível. Dean arriscou chegar mais perto e observou a face de bochechas gigantes daquele pequeno ser, e sorriu aliviado quando notou os gigantescos olhos castanhos. Com todo o cuidado que pode reunir ele pegou o bebê. - Acho que todos concordamos qual vai ser o nome dela. - O anjo e Sam assentiram, se aproximando para observar melhor a pequena Eileen.

— Eileen Winchester. - Castiel disse – Soa bem.

Chuck sorria, admirando a cena e apreciando os olhares ternos e suaves que os três destinavam ao bebê. Dean não estava nem a um minuto com Eileen no colo e já parecia um daqueles pais orgulhosos no campeonato de futebol da filha. - Precisamos falar sobre isso. - Ele não queria cortar o momento, mas era necessário. Assim que os irmãos e o anjo se viraram ele mostrou o livro verde.

— Nós conversamos sobre isso ontem. - Sam começou – Nós não sabemos que efeito isso teria nela quando criança, então queremos que você guarde até que Eileen tenha 21 de novo. E assim que ela conseguir o livro de volta, faça com que todos os outros Mitrahás consigam seus objetos também. Até lá nós vamos tentar prepará-la pra isso.

Chuck acenou positivamente e desapareceu, deixando oficialmente Eileen aos cuidados dos três. Sam ressaltou que eles precisariam de coisas para bebês, o que Castiel conseguiu arrumar sem grandes problemas. Dean insistiu que o berço fosse montado no quarto dele, dizendo que desde cedo acostumaria a menina com boa música e ótimas história de ninar. Ao que Sam protestou, afirmando que, se alguém fosse ler para ela, esse alguém seria ele. Castiel também argumentou em seu próprio favor, dizendo que ele não precisava dormir, logo ele era a melhor opção para cuidar da menina durante a noite. No fim nada foi resolvido, naquela noite eles mal puderam dormir, não porque Eileen chorara, na verdade ela se mostrara um bebê quieto, mas sim pelo receio de que algo acontecesse a ela. Eles tinham uma vida agora para cuidar, e estavam dispostos a fazer o melhor que pudessem por ela, já que Eileen fizera tudo o que pudera por eles.


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Notas finais do capítulo

NOOOPPE ainda não é o fim :D
Espero que vocês tenham gostado e me desculpem qualquer erro ♥ ♥



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