O Livro de Eileen escrita por MundodaLua


Capítulo 11
Christine?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo longo, com ação, um pouquinho de fluffy e um toque de drama. Se existir qualquer erro, por favor, me perdoem, embora eu leia diversas vezes, fica difícil achar meus próprios erros.
Enfim, espero que gostem :D



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Eileen havia acordado com o barulho dos irmãos conversando. Tinha sonhado coisas estranhas novamente, mas dessa vez mal conseguia lembrar-se das imagens. Assim que levantou, foi direto para sua pequena mala, e descobriu que já estava no seu ultimo conjunto de roupas limpas, mas felizmente era sua camiseta da sorte do Misfits. Não se importou em trocar a calça do pijama, se sentia estranhamente em casa ali, o suficiente para até mesmo sair com sua antiga touca de dormir. Deixou o aposento para encontrar a figura de Sam, que provavelmente voltava para seu próprio quarto.

— Bom dia. - Parecia meio grogue, e demorou alguns segundo para processar a imagem da menina, mas quando o fez mal pode se conter. Pensou que Charlie teria adorado conhecê-la. O mais novo mal reparara, mas havia começado a sorrir.

— O que? - Eileen perguntou, também sorria, se dirigindo para a cozinha em busca de qualquer coisa doce – Bom dia Dean! - A reação do mais velho não foi diferente, e logo ela se viu retirando a touca e passando para Dean, que a usou até um pouco antes deles saírem.

Os acontecimentos ocorreram em Littleton, e a viagem até lá foi longa. Em alguns pontos do percurso até mesmo Eileen dirigiu, e ela nunca soube o que era se sentir de fato humanamente poderosa até pegar a direção do impala, mesmo com os constantes olhares de Dean, e as repreensões. Na maior parte do tempo o rádio ficou sintonizado na estação favorita do mais velho, o que quer dizer que eles não ouviram nada muito diferente de rock, mais especificamente as bandas que surgiram nos anos 70. Eileen não poderia estar mais confusa quando aos próprios sentimentos, estava feliz pela situação presente, viajar com amigos era algo que ela de fato gostava, mas sempre que pensava no motivo da viagem e no que esperavam que ela fizesse, seus ânimos esfriavam e ela dirigia o olhar ao chão pensativa.

Chegaram na cidade por volta das dez horas da noite e como de costume se hospedaram em um motel. Novamente optaram por um quarto com três camas, mas dessa vez Eileen não entrou em um transe de leitura, ela apenas deixou o livro no criado-mudo e sentou-se na cama.

— Amanhã nós vamos conversar com o tal Logan, e ver do que ele lembra. - Dean começou, tirando algumas roupas da sacola.

— E como vocês vão fazer pra conseguir falar com ele? - Dean alcançou os distintivos falsos da mala – Eu vou ganhar um também? - Perguntou de forma séria.

— Não se ofenda Eileen, mas ninguém acreditaria que você trabalha pro FBI. - Sam disse, também de forma séria – Existem normas de estatura e... Bem…

— Certo. - Falou injuriada – Se vão me deixar pra trás, eu vou aproveitar e comprar algumas roupas, eu não trouxe quase nada e vou ficar por mais tempo do que imaginei.

— Nós te atualizamos sobre tudo depois.

— Agora vamos achar algum lugar pra beber e comer. - Dean já estava a meio caminho da porta, vinha desejando uma cerveja desde que chegaram na cidade. Esperava que pelo menos naquela noite nada de extraordinário acontecesse e eles pudessem só jantar em paz. Sem nem mesmo deixar o motor do impala esfriar, estavam novamente os três no carro, Eileen com o livro no colo, Sam e Dean procurando por algum lugar onde pudessem comer.

Na manhã seguinte os rapazes colocaram seus ternos e se prepararam para encontrar Morrison, depois passariam na delegacia e tentariam descobrir alguma coisa a respeito do carro. Eileen estava sentada em sua cama, olhando os irmãos com um misto de apreciação e revolta.

— Vocês são 80% homens de preto agora. - Soltou em gracejo, mas logo mudou o tom de voz – Eu realmente não posso ir? - E seus olhos de coruja pareceram aumentar de tamanho.

— E nós vamos dizer o que? - Dean começou, ajeitando a gravata, tentando amenizar a sensação de sufocamento – Que é dia de levar os filhos ao trabalho?

— Continua com isso e eu vou destruir todas as latas de cerveja e revistas pornos que você comprou. - Disse em falsa ameaça, vendo o mais velho sorrir como se disse “Experimente”.

— Certo vocês dois. - Sam interrompeu – Vocês podem deixar pra namorar depois. - Tanto Dean quanto Eileen olharam de forma séria para o mais novo – Vamos logo. E você Eileen, não tinha dito que precisava comprar roupas, essa é sua chance. - Dito isso eles saíram, Deixando a menina para trás.

Eileen não esperou muito tempo, saiu do motel em busca de qualquer lugar que vendesse roupas baratas. Perambulou por um longo tempo até achar. Desceu a rua em direção a uma loja que parecia promissora. Ainda estava um pouco irritada com os rapazes por nem se esforçarem em tentar levá-la. Por certo não passaria por uma agente, mas a menina também não se importaria em ficar no carro, observando de longe. Mas agora já estava ali, indo atrás de algumas mudas de roupa para poder passar o mês. Deu mais alguns passos e quando estava prestes a atravessar a rua, ela avistou, uma peça clássica sobre rodas, um Maverick 73. Na luz da manhã não parecia tão ameaçador quanto Eileen o havia imaginado, mas mesmo assim a garota pode sentir os calafrios em sua espinha. Estava parado em um beco ao lado da loja.

A menina pensou em ligar para os irmãos, mas a tentação e a curiosidade foram maiores. Ela mal percebeu quando já andava em direção ao carro, os olhos argutos brilhando pela possibilidade de um encontro fantasmagórico, o medo suplantado por um desejo de ver mais de perto, de tocar. Mais tarde ela diria que talvez a presença do livro, e seus inegáveis poderes a haviam dominado, uma vez que Cimmeries também representava a curiosidade, ela não poderia se negar a chegar tão perto, perigosamente perto. E nisso sua mão já tocava o capo, as sombras parecendo se adensarem ao seu redor conforme as paredes do beco aparentavam enverga-se em direção umas as outras, se fechando.

— Olá. - Ela disse, como se falasse com um animal encurralado, e em resposta ouviu o motor ligar. Eileen deu um salto, enquanto o ronco aumentava. Ela foi andando para trás, ouvindo o carro acelerar sozinho. Nesse momento seu celular tocou – Sim? - A voz tremera um pouco, ela não parou de recuar – Dean!

— O que foi? - Eles haviam acabado de falar com Morrison, e estavam voltando para contar a Eileen assim que ela chegasse. Dean ligara com a intenção de perguntar se ela queria que comprassem algo em especial para comer, mas a voz da garota não deixava dúvidas, ela não perdera tempo em ir atrás do do problema.

— Eu acho que encontrei nosso carro. - Disse apenas. Já estava no meio fio, longe dos paralamas cromados, novamente sob a luz do sol.

— Você não pode tentar destruir ele? -O mais velho fez sinal para que Sam entrasse no carro, eles iriam atrás da menina.

— Eu não acho que ele vá me deixar chegar perto. Talvez eu possa tentar transmitir o feitiço do chão até ele. - Com o telefone bem preso a uma mão, Eileen começou a se abaixar vagarosamente, levando a mão livre com cuidado ao chão, a mochila onde carregava o livro caio toscamente ao seu lado. Assim que seus dedos tocaram o cimento sujo da calçada, ela proferiu as palavras, pensando que queria que o feitiço chegasse até o carro. Quando o fogo verde saltou de sua mão, formou uma linha sobre o solo, percorrendo como uma serpente o caminho até o carro. - Eu acho que deu certo… - Mas falou cedo demais, antes que o fio verde o alcançasse, o Maverick ligou. Eileen espantada mal ouviu Dean perguntando se havia funcionado. Dando ré o carro saiu pela parte de trás do beco, sendo perseguido pelo feitiço por mais alguns metros enquanto dirigia para trás. Fazendo uma manobra ele acelerou em direção a rua, deixando a magia se dissipar a meio caminho de tocá-lo. A menina estava atônita, não só vira o carro se mover sem um motorista, como também o presenciara fugir do feitiço – Ele fugiu. - Disse apenas.

— Como assim ele fugiu? - Dean perguntou - Ok. Onde você está? Nós vamos te buscar.

Quando os irmãos apareceram, encontraram uma Eileen chocada sentada no meio feio, a mão apoiando a cabeça e o olhar perdido no asfalto. Não perguntaram nada, apenas disseram que entrasse no carro, o que ela fez depressa. Andaram o caminho todo em silêncio, esperando que a qualquer instante um Maverick fosse irromper por algum cruzamento e acertá-los.

Assim que chegaram ao motel, a menina recobrou sua fala, perguntando o que haviam descoberto com o Morrison.

— É um espírito vingativo. - Sam começou, sentando-se próximo dela – Segundo o que ele disse, quando era jovem ele e alguns amigos implicavam com um rapaz, Adrian Martin.

— Ele estava juntando dinheiro pra comprar um carro. - Dean continuou – Assim que ele conseguiu e comprou o Maverick, as brincadeiras começaram a ficar mais pesadas.

— Uma noite Adrian tentou fugir deles, dirigindo. E foi parar próximo ao lago pelo qual nós passamos no caminho até aqui. Ele achou que estava seguro mas não quis sair do local e acabou cochilando dentro do carro, quando os demais finalmente o acharam, decidiram que seria uma boa brincadeira empurrar o Maverick na água.

— Eles sabiam que ele estava lá dentro? - A menina perguntou, mal podendo crer na história que ouvia.

— Morrison diz que não. - Dean falou em tom descrente – Deram Adrian como desaparecido e ninguém nunca soube o que aconteceu, isso por vinte anos.

— Então o carro está possuído pelo Adrian. Mas por que só atacar agora.

— Nós conversamos com o delegado, ele falou que o pessoal do ferro velho local achou o Maverick afundado no rio e o tirou de lá. Isso provavelmente despertou o fantasma de Adrian.

— Ele é realmente uma Christine… - Eileen soltou – E é inteligente, fugiu do feitiço.

— Sim, mas pelo menos agora nós sabemos quem ele vai atacar. - Sam disse – Morrison entregou quem foram os colegas que ajudaram a derrubar o carro. Três deles ainda moram aqui.

Sem demora eles foram atrás das possíveis próximas vítimas. Mas nenhum dos outros três rapazes quis admitir que levara a sério a história, riam em falsa descrença, chamavam Morrison de louco. Nenhum deles aceitou vir com os irmãos e Eileen, e só restou ao grupo se separar e aguardar do lado de fora das respectivas casas, esperando para ver qual delas seria atacada primeiro. Ambos deixaram o celular ligado, mantendo comunicação sempre que necessário.

Por volta da meia noite Eileen já não suportava mais a espera, sentada na escada de um mercadinho no outro lado da rua. Ficaram mais de dez horas em vigilância quase silenciosa. E ela já estava começando a achar que naquela noite a Christine deles não sairia para brincar, quando ouviu o ronco característico de um V8, o Maverick vinha subindo a rua. Sem demora ela se escondeu atrás de um grande latão de lixo e observou.

O Carro estacionou em frente a casa de Malcon Page, atualmente casado e pai de um menino, não parecia o tipo que assassinava colegas sem querer. A casa não tinha cercado, logo o carro praticamente invadiu o gramado. Com o farol alto o Maverick inundou a casa com sua luz amarelada e começou a acelerar fazendo o motor roncar baixo. Por um momento Eileen não entendeu quais eram os planos do carro, mas assim que compreendeu só pensou em avisar os irmãos.

— Hei. - Dean soltou um arquejo como se tivesse sido acordado – Alerta de Arnie*. - Falou apenas.

Se esgueirando ela tentou chegar mais perto enquanto os irmãos não apareciam. Para seu desespero viu as luzes da casa serem acesas e a porta foi aberta por um Malcon furioso.

— Ei! Ei você, gritou em direção ao carro, o farol o cegava e impedia de discernir qual tipo de veículo era – Dá pra desligar essa merda de farol?

O plano do Maverick dera certo, ele fizera com que sua vítima saísse. Eileen não poderia esperar por Sam e Dean, teria que agir logo. Viu quando o Maverick apagou seus faróis, Malcon pareceu perder todo o sangue do corpo, lívido tentou gritar, mas nada saía. Antes que pudesse voltar para dentro de casa, o carro já acelerava para cima dele, que só pode desviar em direção a calçada.

Assim que Eileen chegou perto o suficiente, tentou chamar a atenção do carro.

— Hei! - Gritou. O automóvel parou de súbito, a meio metro de Malcon e a pelo menos cinco metros dela. Antes que o Maverick fizesse qualquer movimento Eileen correu em direção a ele, esperava conseguir fazer o feitiço rapidamente sem ser atropelada. A essa altura Malcon já se levantara e corria para a entrada de sua casa, o carro estava mais preocupado com a presença que o ameaçava.

Assim que chegou perto o suficiente, o Maverick acelerou um pouco e ela foi obrigada retroceder, avistando pela primeira vez algo que fez seu sangue gelar. Sentado no banco do motorista estava uma figura etérea e esquelética, agarrada ao volante mãos apodrecidas. Os olhos carregavam uma fúria sem igual. O fantasma de Adrian mostrava sua forma. E sem pensar mais acelerou o carro para cima de Eileen, que atabalhoadamente tentou correr para onde era seguro.

O Maverick quase a acerto, mas ela conseguiu subir em um outro carro estacionado ali perto, fazendo Adrian desviar de súbito, arranhando a lateral do Opala, quase fazendo a menina cair. Avistou em desespero os irmãos que chagavam a pé. As casas eram próximas então decidiram deixar o impala ali perto. Adrian pareceu sentir as novas ameaças e deu ré, indo para cima dos Winchesters, que recuaram e também se esconderam.

Os dois tentaram atirar nas rodas, mas era como se as balas não surtissem qualquer efeito, por mais que os tiros houvessem acertado os pneus, estes continuavam intactos.

— Eu vou atrair e você destrói ele. - Dean disse ao celular, resoluto. Eileen havia guardado o telefone ligado no bolso, mas conseguira ouvir. Ele achou que poderia correr a distância até onde a menina estava sem que o carro o pegasse, tentaria subir nos mesmo lugar em que Eileen estava, dando a ela uma oportunidade de tocar no automóvel e realizar o feitiço. 

Assim sendo, o mais velho saiu correndo tentando atrair o Maverick. Mas a menina pressentiu, e até mesmo o mais mínimo osso de seu corpo pode sentir, aquilo não daria certo, o carro o alcançaria e seria o fim do Winchester mais velho. Com isso em mente ela se jogou do veículo onde estava. Dean vinha em sua direção e pareceu horrorizado ao vê-la correndo para cima do carro que acelerava ruidosamente. A menina passou por ele, e quando Dean tentou segurá-la e impedi-la de ir em direção ao Maverick, ela o jogou longe com uma força sobre humana. Estava a centímetros de ser acertada quando de repente se abaixou e gritou – Ignihs. - O Maverick não pode desviar, e vinha rápido demais para poder frear. O poder serpenteou pelo asfalto alcançando o carro, começando a consumi-lo e deteriorá-lo e no instante em que ele deveria ter acertado Eileen em cheio, já não existia mais carro algum.

A menina cambaleou para trás, assustada, a mochila escorregando de suas costas e tombando ao seu lado. Os efeitos do feitiço foram fracos, ela apenas sentiu o estômago revirar um pouco. Como estava, caída no asfalto, ela ficou. Sam tinha corrido em direção a Dean, que fora jogado pela menina em direção a arbustos num gramado, os dois assistiram espantados o que Eileen fizera e agora vinham de encontro a ela.

— Nunca… - Dean começou baixo, o tom de voz irritado – Nunca mais faça isso. - Mas não explicou se falava do empurrão que ela lhe dera, ou da atitude imprudente que tomara.

Sam estendeu a mão para ajudá-la a levantar. Eileen olhou em direção a casa de Malcon, ele provavelmente se escondera lá dentro.

— Isso… - A menina começou ofegante – Isso vai acabar com o fantasma?

— Você destruiu o corpo dele junto com o carro, eu imagino que sim. - Dean disse, ainda parecia nervoso.

— Desculpa. - Pediu - Mas eu pressenti, eu sabia que ele te alcançaria antes de chegar até mim, se eu não tivesse corrido, se eu não tivesse te tirado do caminho, o carro teria... - Ela disse em um fio de voz, notando os arranhões na pele do mais velho, resultado de cair em meio aos galhos secos dos arbustos.

Sem dizer palavra o mais velho apenas a puxou para um abraço. Eileen ficou sem reação, jamais esperara algo assim do mais velho. Demorou algum tempo até abraçá-lo de volta, sentindo seu corpo ser apertado como que para verificar se ela estava inteira e bem. A diferença de altura fez com que Dean a tirasse do chão, e ela ficou lá com os pés voando enquanto Sam assistia emocionado a cena. Já era a segunda vez que ela fazia algo potencialmente mortal para salvá-los. Assim que Dean a colocou no chão, ainda a encarou por algum tempo.

— Eu estou bem. - Disse decidida – Mas você, nós precisamos…

— Não se preocupe comigo, esses arranhões não chegam nem perto de ser meu pior ferimento em uma caçada. - Começou – Mas você… Sua força aumentou, literalmente. - Disse, recordando como ela o jogara como se ele não pesasse nada – Desde quando você é tão forte assim.

— Acho que foi o calor do momento. - Era a única explicação na qual ela conseguia pensar para o que acontecera.

Estavam prontos para dar aquela noite por encerrada, certos de que o fantasma havia encontrado seu fim. Mas de dentro da casa de Malcon veio a terrível constatação, Adrian não fora destruído. Um grito de completo horror irrompeu da casa, e logo eles avistaram uma mulher e uma criança saindo porta a fora em completo espanto.

— Não funcionou. - Eileen balbuciou – Por que não funcionou?

Sem dar qualquer resposta Sam e Dean correram em direção a casa, sendo seguidos por Eileen, que cambaleante tentou acompanhá-los. Assim que adentraram o lugar avistaram o corpo inerte de Malcon Page estirado no chão do que parecia ser a sala de estar. A mulher lá fora começara a chorar escandalosamente. Eileen os alcançou alguns momentos depois, e assim que se viu junto a eles na sala enxergou algo que os irmãos não conseguiam ver, o fantasma de Adrian em pé ao lado do corpo.

— Ele está ali. - Ela gritou e retrocedeu, Sam e Dean apenas ficaram confusos– Está olhando para mim, me encarando. - Adrian a olhava com uma raiva redobrada, Eileen havia destruído seu carro. A menina viu com pavor quando o fantasma apontou para ela, e então sumiu. Os olhos de Eileen estavam arregalados, dando ao visual geral do rosto da menina um tom de psicopatia. Ela saiu porta a fora, respirando fundo o ar noturno, apoiou as mãos nos joelhos e fechou os olhos com força. Ouviu quando Sam e Dean saíram, e sentiu a mão do mais novo pousar em seu ombro. - Ele virá atrás de mim. - Estava certa disso, o olhar de Adrian não deixava qualquer dúvida – O que aconteceu, por que não funcionou?

— Talvez ele tivesse algum outro objeto em vida ao qual fosse muito apegado. - Dean começou, ele não podia acreditar no que estava acontecendo – Nós precisamos descobrir o que é antes que ele retorne.

De volta ao motel, Dean cuidou de forma superficial de seus arranhões. Sam entregou uma pé de cabras para Eileen – Se ele chegar perto de você, acerte nele. É feito de ferro puro, repele fantasmas por algum tempo. - A menina assentiu.

— Eu imagino que ele estivesse preso ao carro, até que eu o destruí… - Ela disse – Eu liberei ele. - Começou a se dar conta do que havia feito, na intenção de resolver o problema, acabara criando outro. Não precisava olhar para os irmãos naquele momento, sabia que encontrariam alguma forma de amenizar seus sentimentos de culpa. Apenas agarrou firme o pé de cabra – Eu vou resolver isso. - Completou em um sussurro.

— Nós precisamos falar com os outros dois que sobraram. - Dean começou – Eles devem saber de alguma coisa.

Sem se preocuparem com o horário, eles apenas bateram na casa de Richard Young. Diferente do falecido colega Malcon, Richard vivia sozinho, talvez porque realmente preferisse assim, ou talvez porque gostasse mais de bebida do que qualquer outra coisa. Eileen contou vinte garrafas jogadas no quintal da casa, e quando o homem, irritado, veio atender a porta, ela teve certeza que dentro da casa ela acharia mais e mais daquele bourbon, espalhado por todos os cômodos.

— Vocês de novo? - Perguntou, a voz arrastada – Eu já disse tudo que eu sabia da merda que aconteceu com o Adrian, e se ele e aquele carro maldito quiserem vir me pegar, que venham – A voz foi se alterando, algo entre o medo lúcido e a valentia de um bêbado – Agora me deixem em paz. - Gritou por fim, batendo a porta na cara deles. Dean revirou os olhos e deu um forte chute na madeira, que se abriu com um estrondo – Mas que porra é essa? - Richard virou-se espantado.

— Escuta aqui seu filho da puta… - Dean começou agarrando o homem pelo colarinho – Vocês começaram essa porra toda quando mataram o Adrian, mas deixa eu te contar, ele ‘tá de volta, e não veio perdoar o traseiro de vocês, ele tá aqui pra espalhar essas suas tripas de bêbado por toda essa casa. Agora você ou seu outro colega vão nos contar, e eu espero pelo seu bem que você possa dizer, se vocês pegaram alguma coisa do Adrian naquela época, algo importante pra ele.

Nesse ponto Richard já estava em completo pânico, totalmente a mercê das ameaças de Dean. Eileen pensou que ele começaria a chorar, mas tudo que o homem fez foi soltar uma espécie de lamento esganiçado, as pernas dele amoleceram, e assim que o mais velho o soltou, Richard foi direto ao chão, ajoelhado.

— Eu não queria… - Disse apenas, e mais lamentos saíram, mas nenhum lágrima.

— Ninguém liga se você queria ou não. - Foi a vez de Sam falar.

— Tinha uma coisa. - Começou cobrindo o rosto com as mãos – Uma coisa que nós roubamos, isso foi antes mesmo dele comprar o carro.

— E o que foi? - Dean era pura impaciência.

— Uma foto, uma foto da mãe dele. - Richard parecia mortificado com a lembrança – Ela morreu um pouco depois dele ter nascido,era a única que ele tinha dela. Nós escondemos dele.

Eileen nunca sentira tanta irritação em sua vida, o que aqueles homens fizeram com Adrian era a verdadeira monstruosidade, humanos podiam ser horríveis as vezes.

— Onde? - Ela perguntou, mas Richard nada disse, apenas soltou mais lamentos – Onde está a foto? - Ela gritou, dando passos firmes em direção ao homem, que recuou apavorado.

— Presa em baixo do assoalho da igreja. - Sua voz era tão baixa que eles mal podiam ouvir – A ultima tábua antes do altar.

— Vamos logo. - Eileen disse enquanto saía.

— Você vem com a gente. - Sam e Dean ergueram Richard, que tentou protestar a princípio, mas viu que seria em vão tentar lutar – Nós temos que buscar seu amigo agora.

O ultimo membro daquela macabra história era Neil Gallagher, atualmente o dono de uma loja de peças de carro, divorciado há dois anos, sem filhos. Tinha uma aparência melhor que a de Richard, mas não merecia menos desprezo. Debulhou-se em lágrimas assim que contaram o que havia acontecido a Malcon, e apesar de receoso no início, aceitou ir com eles. Logo estavam todos no impala que seguia em direção a igreja. Eileen estava sentada entre os dois, pronta para agir a qualquer sinal de rebeldia, mas eles nada fariam, estavam aterrorizados com as lembranças e os acontecimentos atuais.

Dentro de pouco tempo chagaram a paróquia local. Eileen correu em direção ao altar, mas algo a fez travar a meio corredor. Era como se em toda a igreja a temperatura tivesse caído para baixo de zero. As respirações condensavam e todos começaram a tremer. - Adrian está aqui. - Sam gritou – Eileen, ache a foto e destrua ela. - A menina concordou com um aceno, voltando a correr em direção ao púlpito. Virou-se apenas quando ouviu Richard soltar um berro de horror. Pela primeira vez os irmãos puderam ver o fantasma de Adrian.

— Anda logo Eileen. - Dean gritou enquanto acertava o espírito com uma barra de ferro, por um segundo Adrian desvaneceu no ar, mas logo depois lá estava ele de novo tentando alcançar Neil com suas mãos apodrecidas.

Sem perder mais tempo a menina se abaixou em frente a ultima tábua antes das escadas que levavam ao altar. Usou seu poder para tirar a madeira do caminho, revelando a foto desgastada de uma jovem mulher sentada no capo de um Cadillac, ela dava um largo sorriso para a câmera, e por um momento Eileen se sentiu incapaz de destruir aquele retrato. Olhou para os irmãos que tentavam impedir que Adrian atacasse os outros homens, ou que ele chegasse até ela mesma. Voltou-se novamente para a foto, pensando em como deve ter sido difícil perder a ultima lembrança de alguém tão importante e ainda aguentar as provocações quando tudo que queria era ser deixado em paz. Sem pensar duas vezes ela se levantou e caminhou até a confusão de barras de ferro e gritos de pavor.

— Adrian. - Chamou, fazendo com que não só o espectro a olhasse, mas todos os demais presentes – Era isso que você queria esse tempo todo? - Mostrou-lhe a foto, e percebeu quando o olhar, antes carregado de raiva e rancor, foi suavizado – Eu não posso nem começar entender o que esses dois homens, e mais o resto do grupo deles, fizeram você passar, mas matá-los não vai mudar o que aconteceu. Por favor… - Ela estendeu a foto em direção a ele – Me desculpe pelo carro, eu e meus amigos estávamos apenas tentando ajudar o Malcon, mesmo que ele não merecesse. Mas agora chegou a hora de parar, pegue essa foto, e deixe esses caras em paz.

— Eileen… - Sam começou em tom de aviso, nunca vira ninguém dialogar com um espírito vingativo e sair inteiro para contar.

A menina apenas ignorou, chegando mais perto, a foto presa entre seus dedos. Ela não destruiria a foto se não precisasse, e não sentia que seria necessário. Era como se houvesse criado uma conexão com Adrian, que embora no momento ela não pudesse compreender, mais tarde o faria. Atenuou suas expressões, encarando o fantasma que parecia confuso quanto ao que fazer, até aquele momento tudo que existia em sua memória era o desejo de vingança, mas quando Eileen lhe mostrara a foto de sua mãe, algo de sua antiga consciência retornou. Adrian então, avançou, pegando enfim o retrato, olhando-o com carinho, apagando de suas feições o ultimo sinal de fúria.

— Me desculpe. - Ela pediu novamente, lembrando-se de como Adrian parecera furioso ao encará-la logo depois dela ter destruído o Maverick. Para sua completa surpresa, o rapaz sorriu para ela.

Nada mais foi tido, o fantasma de Adrian apenas desapareceu, e foi a vez de Eileen cair de joelhos, chorando sem entender bem o porquê. Uma forte onde de tristeza misturada com alívio a acometeu, seu peito doía, e as lágrimas rolavam sem que ela precisasse fazer força. Sam e Dean, ainda tentando processar o que acontecera, mal se mexeram de onde estavam. Os outros dois homens apenas olhavam, espantados, para o local onde o fantasma estava antes de desaparecer.

Passado o choque inicial, Sam foi até Eileen, prendendo-a num abraço, e ali ela chorou, por longos minutos, como se os sentimentos que Adrian tivera, tivessem sido transferidos para ela. A menina não impediu as lágrimas, apenas deixou que fluíssem até que aquele aperto que sentia em sua garganta desaparecesse.

Naquela noite, depois de deixarem Richard e Neil em suas respectivas casas, eles não voltaram para o motel, pararam em um bar ainda aberto, fizeram a menina comer e beber. Pela primeira vez ela aceitou algo alcoólico, e foi junto dos irmãos que ela provou sua primeira dose de uísque. Não se importou se o gosto era bom ou não, ela precisava disso naquele momento. Sam e Dean, preocupados, levaram uma sonolenta Eileen de volta, o rosto de bochechas redondas e maçã do rosto protuberante estava vermelho e inchado. Eles ainda não conseguiam acreditar no que acontecera, Eileen fizera, mais uma vez, algo que eles nunca haviam visto, libertou um fantasma vingativo apenas conversando com ele.

Sam tocou nas madeixas castanhas mescladas de branco assim que a pousou na cama, já adormecida. Notando com certo espanto que, o que outrora fora um branco completo começara a se tornar um verde bem claro. Alertou Dean sobre esse fato, mas isso não espantou o mais velho, era óbvio que o poder estava começando a alterar o corpo dela. No resto da madrugada nenhum dos dois conseguiu dormir, apenas conversaram e vigiaram o sono da menina, que naquela noite, fizera o impensável.


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Notas finais do capítulo

*Arnie é o dono da Christine no livro.
Desculpem pelo capítulo tão longo, mas eu não quis dividir. Se gostaram por favor me deixem saber. E se vocês não curtirem capítulos compridos assim, me avisem que eu divido da próxima vez :D



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