- Qual é Gabriel, duvido muito que isso vai funcionar.

- Eu tenho certeza que vai, Jonathan!

- Eu também duvido um pouco.

- Confia em mim Marvin. Façam que nem o Vinícius.

- Não me inclua nessa! - respondeu Vinícius.

Os quatro jovens estavam em frente à nova invenção maluca e fantasiosa de Gabriel: um dispositivo de materialização virtual. Parecia mais uma câmera com um buraco no meio, sem tela e trilhões de fios conectados a um notebook.

A função dessa geringonça seria materializar "objetos" virtuais na vida real. Ou seja, qualquer imagem 2D seria materializada em 3D no mundo real. Mas a ideia parecia muito absurda para os colegas do jovem. E realmente era.

- Acha mesmo que uma câmera pode trazer qualquer coisa de dentro de um computador para o mundo real? - Marvin questiona.

- Acho que voce é que precisa voltar para o mundo real, Gabriel. - Vinícius completa - Isso é impossível em qualquer aspecto.

O rapaz revirava os olhos enquanto terminava de instalar um programa que ele mesmo criou. Tinha 16 anos mas sabia criar programas graças ao curso. Não era tão difícil, mas se não soubesse os códigos e suportes corretos, nunca conseguiria fazer aquilo.

- Pronto! Terminei. Agora vocês verão que eu estou certo.

Gabriel iniciou o programa, que abriu uma janela na tela de seu notebook. Uma garota de anime vestida como uma empregada apareceu, falando a frase "Olá mestre, como posso ser útil?". Sim, Gabriel era um otaku.

- O programa... É uma garota? - Jonathan indagou.

- Não insulte as maids desse jeito.

O rapaz acoplou um microfone ao dispositivo. O programa tinha um conversor de voz, parecido com o do Joogle. Então disse em bom tom:

- Olá Virtubase. Por favor, conecte-se ao hardware de código DK-3700. Após isso, execute o procedimento de materialização com o arquivo neko-32.png.

- Como quiser, mestre.

O som da "câmera" sendo ligado pode ser escutado na sala. Uma luz verde indicou que havia sido conectada.

- Iniciando procedimento de... Proce... De... Proce... De... - a fala da garota virtual travou, assim como a tela.

- Era pra acontecer isso, Gabriel? - Marvin perguntou.

- Não, parece que o programa bugou.

A fala da máquina mantia-se travada, enquanto Gabriel tentava fechar o programa e reiniciar. Mas todos os códigos não serviam de nada, pois a fala persistia. De repente, o computador deu tela azul, mas a voz da empregada continuava, dessa vez ainda mais alto e travando num espaço de tempo mais curto do que antes.

- Droga, essa merda deu pau!

Tentou desligar a câmera e o notebook da tomada, mas não adiantou. O computador tinha fonte de bateria própria, então não desligaria daquele jeito. A câmera tinha uma segunda fonte que acessava diretamente pelo dispositivo a que estivesse conectada, e estava travada. De repente, a tela pareceu voltar ao normal.

Mas não estava normal...

As cores da garota estavam invertidas, com a tela dando interferência repetidamente. A voz se estabilizou, mas ressurgiu distorcida, assustadoramente grave.

- Iniciar procedimento de materialização.

* * *

Árvores. Vento. Pássaros. Isso era tudo o que se ouvia. As folhas das árvores se mexendo, o vento soprando e assoviando no ar, os pássaros piando. Gabriel então abriu os olhos, e viu que estava em uma espécie de campina. Seus amigos estavam com ele, acordando quase ao mesmo momento.

- O que houve? - Jonathan perguntou.

- Como eu vou saber, idiota?! Eu não codifiquei o programa pra isso acontecer!

Um som de códigos de computador foi ouvido. Vários numeros se organizaram e formaram uma garota, parecida com a da tela do notebook, mas sua roupa era diferente. Esta se vestia com uma saia e botas de salto pretas que subiam até seus joelhos. Estava com um sutiã branco e um sobretudo preto, sem mangas. Seus seios eram levemente avantajados, além de usar óculos e ter cabelos e olhos azuis-turquesas.

- Senhor Gabriel, seja bem-vindo!

- S... Senhor?! - o jovem indagou.

- Voce está dentro de Neumond. De acordo com a sua codificação, o lugar de onde voce veio é totalmente diferente, então te explicarei. Aqui voce deve se tornar um guerreiro ou comerciante. Se for um comerciante, deve vender tudo o que puder enquanto for vivo. Se for um guerreiro, deve evoluir sua especialidade para derrotar o grande Schadel e se tornar uma lenda.

- Espere... - Gabriel começou.

- Estamos dentro de um RPG?! - os quatro garotos falaram em coro.