Entre Linhas escrita por Hoshino Yume


Capítulo 5
Entre (o que ficou no passado)


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi bem rápido para compensar o outro! Haha

Acho que ele ficou melhor também, para ser sincera! Ele fluiu melhor.

Bom, leiam ~



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Liberdade. Liberdade de escolha, liberdade de viver como um pássaro, livre. Desde a mais tenra idade sabia que essa era uma palavra que passaria longe de seu vocabulário. A princípio, não se importou com fato de seu futuro estar decidido em linhas vermelhas e sonhos nebulosos. Ao crescer, porém, viu que a vida era muito mais que encontrar alguém para “viverem felizes para sempre”.

Queria uma vida só sua, conhecer várias pessoas sem depender até a última gota delas. Uma vida simples e feliz, fazendo o que bem entendia. Que não precisasse de outra pessoa. E, mais importante, que não a fizesse reviver a dor de perder quem mais amava. O sofrimento que sentiu, pensava, devia terminar com ela — não queria ter filhos para passassem pelo mesmo. De maneira nenhuma, jamais.

— Mamãe, papai, acham que eu devo seguir o meu destino? Ou será que posso mudá-lo?

Agachou-se perto do túmulo, colocando flores sobre este. Sentou-se e olhou para o céu, tentando recuperar o máximo de lembranças que podia de seus pais. Não eram muitas: seu pai cortando cenouras e sua mãe fazendo o arroz; sua mãe cantando e seu pai tocando violão; seus pais a abraçando com todo o amor que podiam dar quando ela contou-lhe sobre o sonho que tivera.

Lágrimas correram por sua face. Ah, se ela soubesse o que significara o sonho à época. Talvez tivesse entendido o motivo dos choros da mãe e dos beijos tristes do pai. Aqueles abraços tão quentes como o calor que a panela elétrica exalava quando a família se reunia à mesa para comerem sukiyaki. Sorriu pela comparação.

“Nós te amamos muito, Tenten-chan. Tudo o que queremos é sua felicidade, mesmo quando não estivermos mais aqui. Não culpe sua avó ou a família Hyuuga, por favor. Siga o caminho que achar melhor, e espero que um dia você consiga nos perdoar por te deixar.”

— E nunca tive motivo para culpá-los por nada... A vovó cuidou muito bem de mim nesses últimos dez anos, mesmo depois de o vovô morrer. Ah, mas sinto tantas saudades...

Debruçou-se sobre o túmulo, cobrindo os olhos que não paravam de soltar lágrimas. Era doloroso estar lá, por isso evitava visitar seus pais, mas ao mesmo tempo era reconfortante. As lembranças a faziam feliz, ainda que chorasse por cada uma.

A jovem ouviu alguns passos aproximando-se. Escutou o barulho de água sendo derramada em um recipiente, e por fim viu mãos pegaram as flores que deixou sobre o túmulo e as colocarem em um vaso.

— Vamos, Tenten-chan. Já está há bastante tempo aí. A chuva vem logo, olha a cor desse céu.

— Vovó... — abraçou a mais velha. — Obrigada por vir comigo.

~x~

“Então ela é a famosa Tenten-chan?”

A garota de cinco anos trajava um vestido rodado ornado por vários babados; seu cabelo estava em costumeiros coques que sua mãe sempre lhe fazia: eram os seus preferidos e não saía de casa sem eles. Sorria de mãos dadas com seus pais, um de cada lado.

“O senhor é o senhor Hyuuga. Eu te vi vestindo negro no enterro outro dia.” disse deixando o mais velho confuso.

A mãe de Tenten deu um sorriso constrangido, desculpando-se pela filha que “não sabe muito bem o que fala. Tem apenas cinco, quase seis anos. Uma criança com imaginação fértil que não sabe a diferença entre sonhos e realidade.” Levou a menina para outro canto da festa e a sentou a uma mesa preenchida de quitutes, dirigindo-se a outros rostos conhecidos.

Era uma festa da empresa Hyuuga e a família Mitsashi era próxima, amigos de longa data. O ambiente era de negócios e muitos tentavam aproximações por interesses comerciais.

O senhor Hyuuga sabia — muito antes da própria ter consciência disso, já que ainda não conseguia diferenciar suas previsões e fatos que já ocorreram — que a pequena possuía um dom, mesmo que ela só fosse perceber isso em alguns anos.

Fora exatamente por isso que falara com ela; entretanto, jamais esperou que estivesse em uma de suas previsões. As palavras que lhe foram ditas pareciam ter vida própria e não saíam de sua cabeça. Eram repetidas inúmeras vezes, mas não sabia como reagir.

Era só uma menina, afinal. Não havia qualquer comprovação que o que vira não passara de um sonho, ou fruto de sua imaginação. Mesmo assim, tinha que ter certeza.

Esforçou-se a sorrir e foi até a garotinha, sentando-se ao seu lado. “A qual enterro se referiu quando me cumprimentou? O vovô aqui está velho e não consegue se lembrar.”

“Ao de seu filho Hizashi, não se lembra?” a Mitsashi pareceu preocupada. “O vi segurando o choro ao lado do Neji.”

Naquele momento, o idoso fechou os olhos, tentando não demonstrar a agonia que sentiu ao ouvir as palavras da pequena. Seu filho tão querido, deixando uma criança tão pequena sozinha no mundo. Sabia que a nora estava doente e não havia nada a ser feito, mas saber o que lhe esperava era tão pior… Ver morrer quem devia lhe enterrar…

“Por que eu…?”

Não fazia um ano desde que sua esposa morrera, e ele por algum motivo não foi junto. A mulher deu o último suspiro em seus braços e sequer chorou. Os deuses queriam vê-lo sofrer em sua própria avareza, foi a única resposta que encontrou.

“O senhor encontrou o outro lado da linha e não a escolheu por puro interesse. Agora seu filho está sendo punido.” Tenten parecia não saber muito bem o que falava, era como se repetisse algo que lhe era sussurrado. Mantinha a expressão alegre que frustrava o mais velho. “Mas não se preocupe, o senhor poderá dar o amor que Neji precisa. E depois disso... eu também…”

A criança não aguentou mais e acabou fechando os olhos, caindo em um sono profundo sobre a mesa.

O Hyuuga entendia bem de quem a menina falava: a avó dela. Quando jovem, certamente a mais bela que já vira — ainda era, mas agora estava acompanhada, e muito feliz, do senhor Mitsashi.

Quando a conheceu, aos seus 23 anos, era apenas um jovem empreendedor. Apaixonou-se profundamente pela dama e pretendia casar-se o mais breve possível. No entanto, uma moça de família mais rica e mais prestigiada apareceu em seu caminho e, precisando do capital para aplicar em sua recém-fundada empresa, mudou o seu futuro.

A agora senhora Mitsashi talvez tenha ficado aliviada por não se comprometer para sempre com aquela família; era um espírito livre que não podia ser preso por uma simples linha. Namorou muitos outros e por fim apaixonou-se novamente. Não demorou a ter um filho, agora pai de Tenten.

Tenten e Neji. Possivelmente sua redenção, pensou.

“Estão mortos. Os dois!” a mulher gritou. Já era avó, mas continuava com a personalidade forte que tanto gostou. “Meu pobre filho… Deixando minha Tenten sozinha… Não posso crer que o destino seja tão cruel. Não, não foi obra dele. Foi a família Hyuuga. Essa maldição… Não a quero perto da minha querida neta. Eu nunca quis essa linha maldita nos ligando, e agora… Ela está órfã.”

Viu lágrimas tomarem conta do rosto envelhecido pelo tempo. Ela continuava bela, mesmo tomada por suas emoções. Mesmo após tantos anos. Deu um sorriso triste.

“Vou me assegurar que minha família se mantenha longe de sua neta. Mas a linha vermelha... Ela é forte, você sabe. Você consegue vê-la assim como eu. Ainda brilha entre nós dois, e brilhou ao tomar seu filho de você. Assim como brilha no dedo do Neji e de Tenten.”

“Estará tudo bem se nenhum deles tiver filhos. Essa maldição não pode continuar influenciando todos ao seu redor.”


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Próximo capítulo provavelmente vai demorar um pouco mais para sair, mas tentarei fazer o mais rápido possível!



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