Esquecida escrita por calivillas


Capítulo 20
Desvairada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686071/chapter/20

Novamente, estávamos na rua, o ar frio cortante, mas o céu era azul e um sol fraco tentava, inutilmente, aquecer.

— Adele, ele falou que avó de Adam frequenta essa igreja, então pode ser que ela more aqui perto – cogitei, cheia de expectativa, Adele me devolveu um olhar melancólico.

— Leila, o que você pretende bater de casa em casa perguntando se mora alguma Magareth Evans ali? Vamos esperar, o pastor prometeu – Adele considerou, ela também não parecia nada bem.

— Eu sei, mas não vou aguentar ficar sentada no hotel, esperando um telefonema do pastor – disse a beira de um ataque de ansiedade.

— Leila, será que vale a pena? – Adele questionou, abatida. – O que vamos encontrar uma pedra com um nome escrito? – Já ia abrir a boca para contestar, quando Adele se sacudiu em um soluço e começou a chorar, fiquei chocada, mas a envolvi em um abraço e choramos juntas por algum tempo. Mais calmas, limpamos as lágrimas do rosto com as mãos.

— Eu não vou desisti, Adele. Não depois de estar tão perto – declarei, com certeza.

— Então, você tem alguma ideia? – ela murmurou para mim, com a voz rouca.

— Na verdade, tenho, mas primeiro vamos procurar um lugar que tenha wi-fi.

Achamos um restaurante perto dali, que pudéssemos nos conectar na internet, usando o tablet, sentamos, pedimos hambúrgueres e refrigerantes para o almoço, mesmo sem fome, assim poderíamos demorar o tempo necessário.

— E agora, Leila? – Indagou Adele.

— Agora, vamos pesquisar o nome Margareth Evans e o seu endereço.

Na nossa pesquisa, apareceram umas 10 Margareth

— Agora, vamos excluindo pelo endereço – continuei com uma expert em pesquisa.

Uma a uma foram descartadas até restar somente um inacreditável único nome e endereço.

— Essa, só pode ser ela! – exclamei, triunfante.

— E o que você pretende, Leila. Bater na porta dela e falar: Estou procurando o seu neto?

— Quem sabe eu faça isso – respondi, com um sorriso triste.

— Acho melhor esperar o que o pastor tem a dizer, antes de tomar alguma atitude.

— Esse será o plano B, mas poderemos ir até lá, só para reconhecer o terreno.

Nunca saboreei um sanduíche tão bom, não que ele fosse assim maravilhoso, mas tinha um gosto de vitória, apesar de ser um tanto duvidosa.

— É aqui – disse, assim que a voz do GPS confirmou a chegada ao nosso destino, uma casa de dois andares de madeira pintada de verde, com uma varanda na frente e no andar de cima, eu gostei da casa, achei elegante, fazia um belo par com a casa do lado no mesmo estilo, só que pintada de vermelho queimado.

— E agora, vamos ficar paradas aqui até quando? – Adele indagou, impaciente.

— Só um pouco mais – pedi, olhando ao redor a procura de algum milagroso sinal, que seria ali mesmo a casa da avó de Adam

Adele deu uma pequena ré no carro para não ficarmos, exatamente, na frente da casa, e a vantagem de usar tanta roupa de frio era que podíamos ficar irreconhecíveis, escondi meu cabelo debaixo do gorro, ainda bem que estava mais curto agora, amarrei meu cachecol até quase cobrir a metade do meu rosto, colocamos óculos escuros e esperamos, mas nada acontecia, as poucas pessoas que passavam, olhavam para o carro estranhando duas mulheres ali paradas, vestidas daquela maneira, até virmos uma pessoa se aproximar da casa, era uma homem alto e magro.

— Acho que alguém vai acabar chamando a policial, suspeitando da gente – falei para ela, preocupada.

— Se abaixe, Leila! — Adele ordenou, de repente, também se abaixando, obedeci.

— O que foi? – perguntei assustada, enquanto ela levantava um pouco a cabeça para espiar através do para-brisa.

— Ali! Era o pastor, não queria que eu nos visse aqui. Ele entrou casa — respondeu Adele, levantando-se com cuidado. Aquele era o meu milagroso sinal, não podia acreditar.

— Então, eu estava certa é a casa da avó de Adam – falei baixinho, mesmo que ninguém pudesse nos escutar.

— O pastor Michael cumpriu a palavra – Adele observou, no mesmo tom.

— Vamos esperar agora – Decretei.

Esperamos por um bom tempo, até ele sair, nos escondemos, novamente, mas com altura suficiente para ficarmos espiando. O pastor se despedir na porta de uma senhora pequena de cabelos brancos curtos e, ao lado dela, estava uma outra mulher, mais jovem, cabelos castanhos claros, na minha memória veio a lembrança da mãe de Adam, Mary. Também, percebi que o pastor estava desanimado, enquanto Mary balançava a cabeça negativamente, aquilo não me pareceu um bom sinal, vimos eles se cumprimentarem pela última vez, ele andar no sentido oposto em que nós estávamos e as mulheres entrarem na casa.

— Vamos voltar para o hotel agora – Adele falou – Ele deve telefonar para lá, assim saberemos o que eles resolveram.

— Não podemos ficar um pouco mais? – insisti.

— Para quê? Vamos esperar o telefonema do pastor, talvez ele tenha boas notícias, além do mais está muito frio aqui – ela disse, em um tom otimista.

— Só mais um pouco. Eu tenho um pressentimento.

— Leila, daqui a pouco um dos vizinhos vai chamar a polícia pensando que somos ladras – Adele estava aflita, por estarmos ali parada por tanto tempo.

— Olhe! Eu estava certa! – gritei animada, quando vi a Mary, saindo toda encasacada, e entrando no carro estacionado em frente da garage da casa – Ali, é Mary. Vamos segui-la!

— O que? Segui-la? Você enlouqueceu? A gente nem sabe para onde ela vai! – Adele retrucou, exasperada.

— Pode ser uma oportunidade de descobrirmos onde Adam está. Ela pode estar indo visitá-lo – tentei convencê-la, mesmo com medo que fosse em um cemitério. Adele vacilou, mas ligou o carro

— Anda, senão vamos perdê-la! – exclamei, enquanto o carro de Mary virava a esquina.

— Mas, se eu me aproximar demais, ela pode perceber que a estamos seguindo – ela declarou, atenta no carro a sua frente.

A uma distância segura do carro de Mary, dobrávamos em ruas à direita, à esquerda, acabamos em uma estrada, um pouco mais movimentada.

— Ela ligou a seta para a direita – anunciava e Adele fazia o mesmo, felizmente, Mary não corria muito, por isso foi uma perseguição fácil.

— Acho que ela não está indo ao supermercado – comentei, depois de andarmos por certo tempo.

— Espero que ela não esteja indo viajar – Adele cogitou.

Após algum tempo na estrada, já estávamos me arrependidas da ideia da perseguição, quando ela pegou uma saída à direita, depois entrou em uma estrada menor cercada por árvores dos dois lados, até parar em frente de um portão de ferro.

— Isso não parece um cemitério – comentei, com um certo alivio, quando paramos bem mais distantes, observamos enquanto Mary falava algo no interfone ao lado do portão, que se abriu, e ela dirigiu para dentro e o portão se fechou novamente atrás dela. Temos um tempo e nos aproximamos do portão, até conseguir ler o nome.

— É uma clínica de reabilitação. Adam deve estar aí —   conclui, animada

— Não sabemos, ela pode está visitando outra pessoa – Adele foi mais cuidadosa.

Peguei meu telefone e tirei uma foto da placa com o nome da clínica, iria pesquisar quando voltasse para algum lugar que eu pudesse me conectar à internet.

— Será que a gente consegue entrar aí?

— Acho que não é bom arriscar, se você fizer alguma besteira vai ser deportada e acaba sua busca bem aqui – Adele ponderou.

 — Posso perguntar sobre o Adam pelo interfone.

— Mas, se alguém perguntar a Mary, ela já sabe que você está aqui, pode proibir a sua entrada, definitivamente – Adele argumentou, com bom senso.

— Podemos esperar ela sair e tentar entrar – expus a minha ideia.

— Sim, podemos, mas vamos esperar um pouco mais distante, para que ela não nos veja ou alguém suspeite de nós.

Retornamos pela estrada alguns metros e paramos no acostamento por algum tempo, estava frio, tivemos que manter o aquecedor do carro ligado, ouvimos música, conversamos, Adele até cochilou, até que vi o carro de Mary retornando pela estrada, já começava a anoitecer, mesmo cedo, pois isso era comum nessa época do ano.

Esperamos o carro dela tomar distância e voltamos no sentido da clínica, paramos em frente ao portão, cruzei meus dedos, quando Adele falou no interfone, que ficava ao lado da janela do motorista.

— Boa tarde, viemos visitar Adam Donover.

— Lamento, senhora, mas a hora de visitas acabou há 15 minutos – respondeu a voz no interfone, que não se podia definir com feminina ou masculina, soltei um grito de felicidade e raiva ao mesmo tempo, pois tinha descoberto onde estava Adam, que estava vivo e, por pouco tempo, não consegui vê-lo.

— Pergunta como ele está? – sussurrei ao lado dela.

— Ah! Que pena! Viemos de tão longe! Ele está bem? – Adele usou seu jeito encantador.

— Lamento, senhora, não podemos dar informações sobre os pacientes dessa maneira – explicou a voz.

— Pergunta sobre a próxima visita? – sussurrei, novamente

Ela pediu para me acalmar com as mãos.

— Só poderia nos dizer se como ele está, é muito importante para nós – insistiu Adele, delicadamente.

— Vou ver o que posso fazer – disse a voz seguido por silêncio, depois a voz retornou – ele está estável, com uma boa evolução.

Não entendi muito bem o que isso queria dizer, mas estava feliz que tinha descoberto onde estava Adam, e que ele ainda estava vivo.

— A próxima visita? – Insisti na pergunta.

— E qual será o dia da próxima visita? – Adele usou sua vozinha doce.

— Depois dos feriados. Boa noite, senhora – encerrou a voz do interfone.

Não podia acreditar naquilo, só depois dos feriados que seria daqui há dois dias, e nós já teríamos ido embora, precisávamos voltar para Houston de onde nosso voo para casa sairia, nossas passagens já estavam datadas, corríamos contra o tempo.

— Vamos comer algo, voltar para o hotel. O pastor Michael deve ter ligado, saberemos o que ele tem para nos falar e pensar sobre isso tudo, deve ter uma solução – Adele falou, vendo minha cara desanimada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Esquecida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.