Esquecida escrita por calivillas


Capítulo 2
Rejeitada




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Preciso correr, chegar em casa e me arrumar para o jantar do meu irmão Jason, irei com os meus pais, pois não dirijo mais depois do acidente. Minha mãe estava agitada, é quase seu estado natural, não parece que ela é uma competente arquiteta de interiores, talvez, seja por isso que eu escolhi arquitetura, mas eu não me lembro bem do motivo.

— Vamos, Leila! Não quero me atrasar — ela diz, aflita, assim que entro em casa.

Eu me arrumei rapidamente e saímos. No carro, tivemos que ouvir minha mãe descrever como seria o casamento sonhado por ela para seu filho.

— Rute, pare de sonhar – meu pai a interrompe, já cansado daquela conversa – Você nem sabe se eles anunciarão o casamento. Além do mais, o casamento é deles e Maísa também tem mãe, que pode estar fazendo planos como você.

— Você não quer que eu dê opinião no casamento do meu único filho, Daniel? – Pergunta minha mãe, indignada.

— Não é isso – meu pai responde, em um tom conciliador, como sempre tentando impedir sua esposa de fazer uma tragédia – E só estou falando, para você não ficar cheia de esperança, planejando grandes festas, sem saber se é isso que eles querem

— Claro que eles vão querer – finaliza minha mãe, sem dúvidas.

Meu pai se calou, sabia que ponderar com ela não dava em nada, pois acabaria bancando a vítima e ele se aborrecendo.

Eu tentava ouvir as músicas no rádio do carro e me abstenho da discussão, uma música começou a tocar.

— Mãe, por favor, aumente o volume, eu gosto desta música – peço, ela aumenta um pouquinho o volume. É uma sensação estranha, pois não me lembrava dessa música, mas havia algo familiar, que me tocava no fundo no meu coração, como se fosse importante para mim, então lágrimas encheram meus olhos, contudo faço um esforço para não chorar, tento disfarçar, não queria que meus pais vissem isso, espero que o locutor diga o nome dela, digito rápido no meu celular, para não esquecer. Wherever you will go.

Jason já nos esperava no restaurante, tinha reservado uma mesa grande o suficiente para todos das duas famílias, mal conseguia dissimular sua agitação. Meu irmão sempre foi bonito, porém hoje estava mais ainda, o cabelo escuro arrumado e camisa social azul e calça preta, bem diferente do jeans e camisa xadrez, que usava no dia-a-dia, e sempre com os cabelos despenteados pelo capacete das obras, o que mais me impressionou foi seu sorriso enorme e os olhos brilhantes. Ele se levantou para nos receber.

— Maísa, vem com a família, eles já devem estar chegando — ele comunica, antes que alguém perguntasse.

Como se fossem palavras mágicas, sua namorada e seus pais e irmãs apareceram na porta do restaurante. Maísa era bem pequena, alegre e descontraída, parecia quase uma adolescente, tinha cabelos castanhos compridos e ondulados, bem diferentes das outras namoradas de Jason. Eles se conheceram quando mochilavam pela Europa, em umas férias de verão.

Depois das tradicionais trocas de cumprimentos, sentamos para o jantar, na hora da sobremesa, apareceu um bolo com velas faiscantes, cantamos parabéns para Jason, nessa hora ele se levantou, bateu no copo com a colher repetidamente, o fazendo tilintar, todos olhamos em sua direção.

— Por favor, eu queria a atenção de todos – Jason pediu, os olhos de minha mãe cintilaram e um enorme sorriso estampou na sua face pela expectativa. A mesma expressão podia ser vista no rosto da mãe de Maísa. Jason prosseguiu.

— Queria agradecer a todos pela presença. Também, queria fazer um comunicado importante – minha mãe e a da Maísa seguraram a respiração, ansiosas – Vocês sabem que eu e Maísa estamos juntos, há muito tempo, e nos damos muito bem – Jason fez uma pequena pausa para olhar para Maísa com carinho, ela retribuiu olhar e ele continuou: — Por isso, resolvemos morar juntos.

Os rostos das mães derreteram com o sorvete no sol, pela decepção, de forma cômica

— Como morar juntos? – pergunta minha mãe, quase ofendida. – Vocês não vão casar?

— Não, por enquanto, talvez depois – meu irmão responde, sem rodeios.

— Como talvez depois? Por que não agora? – Minha mãe era mais teimosa que a mãe de Maísa, que agora parecia feliz e abraçava a filha.

— Porque a gente quer experimentar, vê se vai dar certo morar junto, primeiro – Jason argumentou, com paciência.

— Casamento não é roupa para experimentar e se não gostar, devolver. Isso não tem sentido – Minha mãe estava bastante aborrecida, por não poder realizar o casamento que sonhara.

Eu assistia tudo, me divertindo, quando vi uma mulher entrar no restaurante, acompanhada por um grupo de pessoas. Ela tinha cabelos curtos e escuros e usava grandes brincos de argolas de prata, foi como se ligasse um interruptor na minha cabeça, me lembrei, imediatamente, de Adele. Tínhamos estudado juntas, desde a alfabetização, éramos muito amigas, por isso eu me recordava dela, mas não dessa imagem atual, a Adele das suas lembranças era outra, de cabelos compridos e roupas cheias de estilo. Nós perdemos o contato, mas quando? Eu não me lembro. Adele não me viu, observei o seu grupo sentar se do outro lado do restaurante, relutei por um tempo. Por que estaria com medo de falar com ela? Não sabia, então criei coragem e me dirigi até ela.

— Oi, Adele. Lembra-se de mim? Sou Leila, estudamos juntas – eu falei de maneira cordial.

Ela permaneceu sentada, impassível, me olhou com indiferença, ou melhor, até um certo rancor.

— Sim, lembro de você, Leila. Como vai? – Adele me cumprimentou de um jeito polidamente frio, foi como um balde de água fria, não entendia o porquê daquela atitude, eu me recordava que havíamos sido grandes amigas na escola, no entanto, agora, sentia uma certa animosidade, talvez fosse só impressão.

— Estou bem, mesmo depois de tudo que aconteceu. Você soube do acidente que eu sofri, não soube? – Tento manter o clima amigável, mas não encontro resposta no seu olhar duro.

— Sim, eu soube, vejo que você ficou bem, sorte sua – Adele diz, pressinto um certo desprezo na voz dela.

— Foi bom ver você, Adele. Tenho que ir minha família está ali. Hoje é aniversário do meu irmão. Até a próxima – despeço, apressada, sei que ela quer que eu vá embora, que aquele encontro termine o mais rápido possível.

— Adeus, Leila – ela responde, secamente, depois volta para sua conversa, me ignorando, ainda fiquei parada por alguns segundos ao lado da mesa dela, desnorteada.

Então me virei e voltei para a nossa mesa, a passos lentos, me sentei, abatida, sem entender o que se passou ali, minha mãe percebeu o meu estado

— O que foi Leila? Que cara é essa? – perguntou preocupada, desde da minha hospitalização, meus pais estavam sempre em estado de alerta para qualquer alteração no meu humor.

— Olhe, mãe, naquela mesa ali! – Eu fito de soslaio, disfarçadamente, minha mãe acompanha meu olhar – Aquela é Adele. Lembra dela? Estudou comigo.

— Sim, claro que eu me lembro, vocês se davam muito bem.

— Mas, ela me tratou de forma tão estranha e não sei porque.

— Deve ser só impressão, afinal vocês ficaram tanto tempo afastadas, as pessoas mudam.

— Pode ser, mas acho que tem outra coisa. Algo que eu não sei, que não me lembro. Por que nós nos afastamos, se éramos tão amigas?

— Você foi fazer arquitetura e ela, acho, que jornalismo. Tomaram caminhos diferentes, só isso. Depois, você ficou muito tempo hospitalizada.

Contudo, eu tinha a impressão que a resposta não era tão simples assim.


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