Os Howard - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 16
Chapter XV


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Chapter 15

“Garanto que com o tempo qualquer vestígio dela desaparecerá e a morte dela será um mistério até mesmo para mim” – A Janela Secreta

 

ATO II

Na sala de chá da casa Howard, encontravam-se quatro damas da alta sociedade, com seus pires a frente de xícaras quase intocadas, sentando-se acomodadamente em suas cadeiras estofadas com linho e rosas vermelhas, os vestidos todos de cores pasteis, como requeria a moda durante o dia. Acoutando-lhes cada uma, com seu sorriso gentil e suas palavras de fina lisonja, entre trocas de carícias ao amor-próprio em mútuo afeto, que somente as moças sabem se dar, levando em consideração que as mais jovens se esquecem no próprio bel-prazer e as mais velhas se esquecem no esquecer de si mesmas.

— Tens uma casa adorável, senhora Howard. – elogia Jane, enquanto segura a xícara com uma mão, guiando-a a boca com o pires logo abaixo, apoiado em seus dedos longos e finos. Julianna Howard é toda sorrisos, pois finalmente havia reunido os melhores futuros para seus filhos debaixo do próprio teto. As debutantes, jovens e belíssimas senhoritas sentava-se de acordo com as suas escolhas de acordo com o que imaginava ser apropriado. A sua direita, um lugar de honra ao convidado, pois estava muito próximo ao anfitrião da casa, Jane Lancaster podia exibir-se voltada para a janela, como quase uma igual na sala de chá da Casa Howard. Ela era sua escolha para Henry, o filho que mais prezava para entrar em um matrimônio (tinha fé de que Bernard conseguiria isto sozinho). Ela era uma jovem rica, com títulos fortes e um espírito muito semelhante ao de seu próprio rebento, por isso Julianna logo tratou de convidá-la para se juntar a uma tarde de chá onde as senhoras da Casa Howard pudessem testá-la. Ligeiramente ao lado de Jane, encontrava-se Katherine Northumberland, o que era o troféu assentado na mesa, com seus lindos cabelos longos e o leque fechado sobre o colo, mostrava-se a vontade e experimentava cada biscoito com delicioso entusiasmo, degustando as receitas da cozinha dos Howard. E, por ser a mais velha e a mais responsável de acordo com Julianna, era dela o lugar ao lado de seu primogênito. Mas nada fazia valer menos a senhorita pequenina e tímida entre Katherine e Mary Howard, a debutante de poucos dezesseis anos, filha de um militar e não tão nobre, Lolita Fairchild, exibindo-se com graça e... simplicidade. Colocava fé de que ela poderia se guardar para o pequeno Edward, três anos não era uma diferença muito gritante e Lolita ficara nos pensamentos do caçula por toda a semana, ele não podia falar de outra coisa além da belíssima filha de militar que lhe roubara a liberdade da infância, a despreocupação dos garotos que não conhecem o mundo. – Minha casa é pálida, não possui cor ou sensação alguma. Todavia a vossa tem cheiros por todas as paredes, é deveras muito emotiva.

— Não me esperava ouvir de minha casa como um quadro pintado, mas agradeço-vos por tal comparação. Mary, por favor, sirva o chá a senhorita Fairchild.

Sua filha mais velha obedeceu imediatamente. Para o desapontamento de Julianna, Julie não quisera comparecer ao chá, como sempre. Ela raramente saia de seu quarto ou da biblioteca, tinha uma doença muito grave de se vender aos romances que enfraquecem o coração da mocidade, ela se envenenava com as ideias do amor e esquecia que a cada baile havia uma real chance de encontrar o amor de sua vida, mas ela estava mais preocupada em achar defeitos em cada cavalheiro a dar-lhes uma chance.

— Não precisa, eu não estou com fome... – Lolita murmurou, tentando não chamar a atenção para si, em vão, pois nenhuma ali ignoraria voz tão vida e doce, que soava como o canto do rouxinol no quintal vizinho, onde as flores crescem mais alegres e a relva mais verde.

— Ora, mas é grande desfeita não tomar o chá em uma tarde de chá! Por acaso não querias vir?

— Não entenda por este lado! Apenas não quero ser um estorvo! – Lolita agitou as mãos, logo segurando a xícara para beber o chá, um sinal de que realmente não queria desrespeitar a anfitriã. Julianna sorriu-se por dentro, compreendendo um pouco mais a jovem a sua frente, a quem agora lhe parecia boa também para Henry.

— Conte-me, Kathe, posso chamá-la assim?

— É claro, Sra. Howard.

— Julia, por favor.

— Senhora Julia.

— Conte-me, como andou a saúde de teu pai, até o terrível incidente?

— Era muito doente já e não resistiu por mais um ano. Batalhou muito contra, mas acabou por falecer. – mentiu Katherine, de tal forma e maestria que nem mesmo a veterana Julianna Howard conseguiu vislumbrar falsidade em sua voz. – Não quero falar deste assunto. Lolita, fale-nos de vosso pai. Acredito que nenhuma de nós teve o pai em uma guerra.

Lolita afastou a xícara, que até então estava bebericando, um tanto mais acanhada que antes.

— Ele é um marechal muito atarefado, um dos melhores em seu batalhão, por isso o convocam tantas vezes. Em suma, costumo passar sozinha em nossa casa em Londres, recentemente nos mudamos para o campo, pois a cidade estava prejudicando minha saúde. Não sou muito resistente, e desde que os carros tomaram as ruas de Londres, não há como abrir a janela de manhã e inspirar o zéfiro da manhã sem tossir muitas vezes.

Os droguetes estavam entrelaçados entre seus dedos, enquanto ela explicava o motivo de sua mudança para Birmingham, e Julianna ouvia tudo atentamente, vasculhando cada gesto da mocinha. Katherine passara a deixa a Lolita, pois não estava com vontade de falar sobre si mesma, conhecia aquelas tardes de chá e sabia que certamente a Senhora Howard as estava avaliando para decidir quais seriam os melhores partidos para seus filhos e então correr atrás de cada uma, como poucas mães podiam se dar ao luxo de fazer por seus rebentos. E, como também era de seu conhecimento, a língua era a maior traidora das mulheres, e por isso pretendia se manter quieta, para que suas adversárias se condenassem. Não que estivesse torcendo pela desgraça de Lolita ou Jane, mas se livrar de um casamento infeliz e nojento com um pervertido era mais importante que ser honesta e justa como as damas deveriam ser.

— ...muito divertido. – Jane terminou de contar sua vida nos Estados Unidos, sorrindo. Julianna assentiu, estava muito curiosa sobre suas candidatas, e tudo teria continuado a correr calmamente, se ela não fosse mãe dos rebentos que tinha e aquela não fosse a família Howard. Henry subiu as escadas, debatendo fortemente com seu irmão, Bernard, sobre algum assunto sem importâncias e que atrapalhava muito ao chá das mulheres com todo aquele volume. Ela sorria ainda, contendo-se enquanto a xícara em suas mãos tremia.

A porta abriu-se violentamente.

— Mãe, o Bernard está dizendo que... – ele parou a centímetros da cadeira de Julianna, olhando ao redor a sala cheia de moças da aristocracia e compreendendo o que se passava, afastou-se o suficiente da cadeira, temendo o que Sra. Howard pudesse fazer caso se aproximasse demais. -... Bom dia, senhoritas. – fez uma mesura educada. A porta, Bernard também fez uma mesura, um tanto mais recomposto que seu irmão menor, porém ainda muito corado. – Espero que não tenhamos interrompido ao chá. Não queríamos tal coisa.

Cada uma das três jovens (eliminando Mary e a Sra. Howard) teve uma reação diferente. Katherine pousou a mão sobre seu leque em cima da mesa, pronta para abri-lo em frente ao rosto caso fosse necessário, o que não julgava o ser, entretanto. Seus olhos não se demoraram sobre Henry, quando encontrou Bernard logo atrás, sorrindo-lhe. Isto foi notado por Mary Howard, que piscou ao irmão mais velho. Lolita Fairchild agarrou seu leque e atrapalhou-se inteira ao tentar abri-lo, e quando, enfim, conseguiu, agitava-o tão fortemente em frente ao rosto, que quase parecia que estava a dizer “Sou casada, muito bem casada, muito, muito, bem casada” (acontece que balançar o leque com rapidez simboliza o noivado, assim a mulher pode enxotar seus pretendentes sem precisar ser descortês, mas a velocidade com que Lolita o fazia era desigual e muito superior. Talvez pudesse ser um grito de viuvez!). Isto foi apercebido por Sra. Howard, que somente não gargalhou por se tratar de uma reunião formal. E, por fim, Jane, que exclamou uma risada, ignorando o leque ou a reunião formal.

Isto foi notado por Henry.

— Minha querida Jane, não sabia que viria para o chá. Se soubesse, teria me achegado mais cedo – ele disse, arrastando prontamente uma das cadeiras ao redor da mesa (já pequena) e servindo sua xícara com chá e açúcar. – Mãe, por que não me disse que jovens tão adoráveis estariam em casa?

— Pois se trata de uma reunião de mulheres. – Julianna demarcou bem a palavra mulheres, mas se Henry percebeu, não deixou aparente, logo virando o rosto para Jane, que tentava conter as crises de riso que lhe afligiam, olhando ora para Sra. Howard, ora para Henry.

— Posso me juntar a vossas majestades? – perguntou polidamente Bernard, sendo recebido por todas as damas,  que não poderia negar o pedido quando Henry já estava assentado. Julianna Howard sentiu seu plano ir por água abaixo. Mas apenas suspirou, pousando o queixo sobre sua mão e vendo seus rebentos se entretendo tão bem com as companhias. Henry não deixava a pobre moça americana em paz, sempre arrumando meios de fazê-la roncar de rir. Bernard travava um debate político intenso sobre o Parlamento com a requintada e inteligente Katherine, e Mary conversava sobre... coisas de moça, com Lolita.

Sentia-se um tanto excluída, embora fosse Julianna, e ela não se abatesse facilmente, continuou bebendo chá e pediu por mais quando este acabou. Os empregados não lançaram olhares confusos para a mesa que havia crescido, conhecedores dos filhos que a marquesa possuía e devedores de todos os favores que ela já lhes havia feito, era muito submissos e respeitosos para com sua madame.

— Um passeio no jardim, é disso que precisamos! Esta sala é pequena demais para tantos assuntos!  - sugeriu Henry, e Mary apoiou-o, enroscando seu braço ao de Lolita, que sorria com vivacidade, sentindo-se parte da família. Ela nunca esperou ter Mary como sua amiga! – Querida mãe, deixe-me acompanhá-la.

Seu rebento levantou-se e deu-lhe o braço, que Julianna segurou com certa desconfiança. Mas é claro que Henry não deixaria por isso mesmo, ele não era um cavalheiro comum, e era isso que o tornava tão... atraente. Julianna sentia certo orgulho de seu filho menor.

— Querida Jane, deixe-me acompanhá-la. – ele ofereceu o outro braço a senhorita Lancaster, que se levantou e segurou-o, rindo para Julianna, que não conseguiu segurar a sua própria risada.

Amava seus filhos. Amava a prudência de Bernard, a gentileza de Mary, a astúcia de Julie, a seriedade de Edward. Mas nenhum deles poderia fazê-la tão feliz em apenas alguns minutos, quanto Henricky, com seus olhares sugestivos e suas frases sarcásticas. Ele a lembrava seu pai, um homem esperto e cheio de traquinagens, pronto a lisonjear uma viúva idosa ou a rejeitar uma jovem rica e bela, que fazia sua única filha rir e chorar, rolando no chão da sala da lareira, em seus invernos na Escócia. Sentia-se orgulhosa.

Talvez Henry não precisasse de sua ajuda para contrair matrimônio. Do modo como Jane ria, decerto tudo estava sob controle.

Quem estava fora de controle era Lolita Fairchild, com seus bracinhos finos e seus pés pequenos feitos pés de boneca, ouvindo todas as palavras de Mary Howard, cultivando aquela amizade dentro do coração. A doce menina ora pendia de um pé para o outro, como se algo a incomodasse em permanecer muito tempo sobre um apoio só, ora esfregava os braços, como se algum inseto a estivesse picando várias vezes, mas ainda permanecesse calma o suficiente para não tentar persegui-lo. Mary falava sem parar, adorava ouvir a própria voz e achava-se muito esperta, todos os seus assuntos eram variados e ela tinha opinião para todas as coisas, o que fazia dela muito interessante.

— Por que você tem medo de dançar?

— Sinto que vou pisar nos pés do cavalheiro a qualquer momento. Sou muito desastrada! – confessou Lolita, entre sussurros, tentando evitar que Bernard logo atrás ouvisse algo tão defeituoso sobre uma dama saindo de sua própria boca.

— Ora, mas eu também sou péssima dançarina! – exclamou Mary, chamando todas as atenções para si, o que deixou Lolita extremamente envergonhada, pois agora todos sabiam que ela não era uma boa dançarina. Suas bochechas pálidas ruborizavam como tomates e seus lábios tremiam, umedecidos pela língua que escapava rapidamente de dentro da boca, também hesitante.

— Seja mais sutil, Mary, a virtude de uma mulher está em sua discrição. – corrigiu-a Julianna, virando o rosto por cima do ombro, embora seus olhos estivessem cheios de alegria. Bernard embarcou em um assunto sobre voto feminino com Katherine, o que prometia gerar uma discussão muito interessante entre ambos, porém eles insistiam em apenas sussurrar um com o outro fingindo que nem mesmo estavam se tocando ou que se conheciam, por mais que Bernard esbarrasse seu braço de propósito contra o ombro de Kathe.

No jardim eles se sentaram em uma mesa ao ar livre, os criados logo trataram de servir o chá ali fora, porém Henry e Bernard não conseguiram conversar calmamente por muito mais tempo, antes que Henry fosse correndo buscar um taco de golfe para jogarem no gramado. As senhoras se conversavam sobre a Temporada, os melhores partidos (o que excluía os Howard presentes) e as debutantes mais comentadas (com sugestões dos Howard presentes). Todos chegaram a conclusão de que o melhor assunto era Lolita, e a menina se encolhia conforme Julianna e sua filha iam tecendo os comentários que “todos em Birmingham” fazem de Lolita Fairchild.

— Uma garota de poucas posses, porém um grande dote. Seu pai almeja vê-la casada com algum nobre rico, por isso a incentiva a tocar violino e piano, a dançar e cantar. Ela sabe bordar, cozinhar, cuidar e é uma excelente ouvinte.

— Eu não sei cozinhar! – corrigiu Lolita, envergonhada com tantos elogios vindos da anfitriã.

— E ela é a mais bela peça que já nos surgiu – continuou Mary, lendo uma das revistas da casa. – Não se iguala a nenhuma das filhas da aristocracia, pálida e de tez branquíssima, ruboriza com facilidade, seus lábios são avermelhados como os de princesas e seus olhos cinzentos fascinam a todos os navegantes deste mar dos apaixonados que anseiam as aventuras de uma tempestade turbulenta.

Lolita apenas gemeu, encolhendo-se na cadeira, o que a fez exclamar, como se algo a tivesse espetado na costela.

— Você está bem, querida? – Julia perguntou, olhando a menina que até então havia sido muito discreta e educada.

— Está tudo bem, apenas a cadeira me machuca um pouco.

— Como de se esperar de uma princesa de verdade, que sente até mesmo uma ervilha debaixo de cem colchões! – comparou Mary, sorrindo. Lolita sentia-se ferver com tais elogios, embora soubesse que nada disso fosse verdade, tudo se tratava de pessoas querendo receber atenção e lisonjear, como seu pai havia tratado de lhe ensinar ainda muito nova. Os homens são maus, e nada que eles te digam é verdadeiro, tudo será usado contra você, como uma arma contra as puras de coração.

— Por favor, tragam uma almofada para a senhorita Fairchild – ordenou Sra. Howard autoritariamente para seus criados, que foram apressadamente obedecer. Henry retornou, chamando Jane para jogar e Bernard sugeriu a Katherine que ela os acompanhasse para que aprendesse golfe com “os melhores Howard da casa”. Mary sentiu-se ofendida e quis reivindicar o título de “A Melhor Howard Jogadora de Golfe da Casa”, porém a mãe a convenceu a permanecer sentada, junto com Lolita, o que era o certo a se fazer, já que a menina não podia ficar sozinha com uma velha chata e entediante como ela.

— É claro, mamãe. – Mary sentou-se novamente, sorrindo para Lolita, e murmurando em seu íntimo – “Ela poderia não existir”.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Hoje terei um sarau! XD Desejem-me sorte.