Os Howard - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 14
Chapter XIII


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura.



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Chapter 13

“Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...” – Mário Quintana

Roupa Nova - Anjo

Ato III - Final

Deixou os cavalos nos estábulos e correu para acompanhar as damas, que sorriam entre si, trocando segredos que Alberto pagaria muito para poder ouvir. Charlotte parecia feliz com a tarde que tiveram, puderam conversar a tarde inteira e Victória até parou de reclamar após as primeiras horas. Saber mais sobre Charlotte era algo muito bom, mas poder ouvi-la cantar... Não havia como comprar um presente tão bom para recompensá-lo pelo passeio. Ansiava ouvir novamente a voz doce dela em alguma melodia romântica, porém não podia exagerar ou acabaria se viciando antes do tempo. Victória segurava o braço de Charlotte, ambas como damas comportadas, muito próximas, para deixar avisado aos cavalheiros que Charlotte tinha uma acompanhante e não era qualquer uma na sociedade.

— Eu realmente me diverti muito hoje – falou, tentando manter a atenção de Charlotte para si, mas ela parecia entretida com a conversa que tinha com sua tia. Uma pontada de ciúmes inflamou em Alberto. Mas você não passou uma tarde inteira com ela agora mesmo? Sentiu-se egoísta, mas não completamente culpado. Ela também era culpada de ser tão irresistível.

— Ah, eu também. – ela sorriu, aquele sorriso iluminado que fazia seu coração explodir e suas veias dilatarem com o sangue que pulsava rapidamente, até deixar suas bochechas coradas. Alberto virou o rosto imediatamente. – Poderíamos cavalgar novamente. Aposto que desta vez você ganharia na corrida.

— Não tenho nem mesmo a metade de vossa maestria para a equitação. – respondeu, com um sorriso brincalhão, e ela alargou seus lábios, aqueles grossos lábios. Estavam tão próximos, e mesmo assim seus ombros não se tocavam. Poderia fingir tropeçar para esbarrar nela, mas seria uma completa falta de educação e nenhuma dama do salão que visse aquilo iria tomar a palavra com ele. Mas que importava as outras damas do salão? – Acho melhor irmos nos banhar antes que fique frio e...

Alberto enroscou suas botas de cavalgar na saia do vestido de Victoria, enquanto a mesma dava a volta por ele para cumprimentar uma amiga também acompanhante. Ambos foram ao chão como chumbo, o que fez o salão inteiro explodir imediatamente em gargalhadas, embora em poucos segundos estivessem todos retomando a compostura e pedindo desculpas à quem estivessem tomando a palavra. Alberto sentiu as bochechas ruborizarem ainda mais, pois além de ter planejado aquilo, havia colocado em prática por acidente, completo acidente. Victória tinha as duas maçãs vermelhíssimas e arrumava o vestido com fúria, embora seu rosto estivesse completamente calmo e composto. Ela pediu desculpas a ele com uma voz doce e voltou a cumprimentar a conhecida, que não escondia o sorriso grande. Charlotte se aproximou, falando ao seu ouvido.

— Ela irá te matar assim que estiverem em um local propício.

— Certifique-se de que ela não me encontre sozinho. – ele pediu, no mesmo tom confidencial, porém muito mais envergonhado pela proximidade e por seu peito estar tocando o ombro de Charlotte. A moça voltou a tomar espaço apropriado para um casal de conhecidos.

— Isso é um convite?

— Convite? – balbuciou, tão confuso quanto poderia estar após ser atacado brutalmente por duas mulheres, uma muito zangada e outra toda sorrisos ensolarados.

— Ah, não era um convite? – Charlotte pareceu murchar um pouco, o que o fez se apedrejar por não ter entendido o que ela queria dizer. – Então tudo bem. – deu de ombros, um ato descontraído, como ela tinha feito várias vezes no piquenique. – É melhor que eu vá me banhar, estou cansada do suor grudando o vestido em meu corpo. – confessou.

— Sim, é o melhor a se fazer. – Alberto murmurou, ainda atônito, confuso e angustiado. – Boa noite, senhorita Cattaro.

— Boa noite, Senhor Albuquerque.

E se despediram nas escadas.

º   º   º

Charlotte encostou-se a porta, tentando não deslizar até o chão e se encolher. Queria fugir para a floresta, roubar um dos cavalos e desaparecer nos confins do mundo. Como podia ser tão tola? Tão indecente e promíscua? Mas seu peito batia tão rápido que era quase impossível ouvir essa voz de razão que exclamava em sua mente. Um dia inteiro com Alberto e ainda sugeria mais um pouco depois? Sim, havia achado que ele a estava convidando para um passeio a sós, mas talvez fosse apenas seu desejo falando mais alto. Céus, queria estar com ele por mais todas as horas do dia, não apenas uma tarde! Era tão confortável falar sobre qualquer coisa em sua presença e rir de suas piadas e gracejos, ou senti-lo olhando-a com tanta intensidade...! Charlotte não podia deixar de se sentir desejada e linda quando ele fazia isso, como se fosse uma obra de arte que deveria ser apreciada.

Então por que queria mais? era egoísta por isso, Alberto deveria estar cansado pela cavalgada, a maioria dos aristocratas gostava das atividades ao ar livre, mas apenas para descontrair. Passar horas e horas andando por uma floresta... O que a fez lembrar-se de Victória, pobre mulher, que a havia acompanhado pacientemente (não tão pacientemente) e disposto sua boa-vontade para satisfazer seus caprichos de menina apaixonada. Como era imatura! Charlotte suspirou, caminhando até a cama, onde jogou suas luvas e o chapéu. Seus cabelos caíram sobre os ombros, as madeixas louras enroscando-se no casaco.

Tomaria um banho e iria direto para a cama, para sonhar com aquela tarde a mantê-la consigo até o dia seguinte, quando poderia passar mais um dia inteiro junto de Alberto, talvez passeando nos jardins ou na sala de música, junto de outras senhoritas tentando impressionar cavalheiros com seus dons musicais. Suspirou novamente, agora sonhadora. Quando se tornou essa mocinha tão imatura e boba?

Desamarrou o corselete e desabotoou a saia, colocando ambos próximos a seu baú de roupas, em seguida despiu a camisa de algodão e os calções, colocando-os sobre a cama, dobrados. Caminhou até o banheiro, abrindo a torneira para que enchesse a banheira de água. Em seguida, usou uma das velas sobre o criado para acender o fogo da pequena fornalha debaixo da banheira. Olhou-se no espelho, enfim, observando seu rosto. Riu. Como podia se sentir linda tendo uma boca tão grande e sobrancelhas tão grossas e escuras? Contrastavam tanto com seu cabelo loiro e eram tão feias e indelicadas. Quando sorria, mostrava dentes demais, e eles eram um pouco espaçados.

— Ninguém nunca te disse que você era linda, Charlotte. – falou para si mesma, enquanto entrava nas águas mornas. Os músculos começaram a relaxar, até que apenas do pescoço para cima estivesse fora d’água. Passaria horas ali, se a água não começasse a esfriar em algum ponto entre a meia hora e os quarenta minutos. Esfregou-se com os óleos em pequenos frascos sobre o criado, em seguida enxugou-se e vestiu a camisola, prendendo os cabelos com um laço de renda branca.

Quando voltou ao quarto, encontrou suas roupas arrumadas dentro do baú, assim como as botas de cavalgar lavadas e escovadas, com um pratinho de biscoitos e um bule de chá com um jogo de xícaras de porcelana chinesa. Os criados escoceses eram realmente tão eficientes quanto os ingleses, notou, servindo-se de uma xícara. O cheiro a fez se lembrar de casa e bebericou sem medo de queimar os lábios. Ah, era tão relaxante. O dia não poderia ficar melhor.

Um relâmpago clareou todo o aposento. Chuva! O símbolo da renovação, da esperança. Sorriu, sentando-se na poltrona ao lado do pequeno armário de livros, o candelabro com três velas acesas e a janela, de onde conseguia ver o jardim e a floresta, os estábulos e os carros estacionados. Então os escoceses também tinham carros. Charlotte nunca entendeu qual era a graça dos motores, ser guiada por cavalos em uma carruagem era tão... romântico... assim como aquela tempestade, caindo lá fora, onde o vento balançava furiosamente as árvores, os raios caíam a milhas de distância e a chuva borrava o vidro da janela. Ficou ali, observando a paisagem em aquarela, até que os olhos estivessem quase completamente fechados e a xícara prestes a escorregar de seu dedo.

Levantou-se, sobressaltada, a um segundo de estragar um dia perfeito. Suspirou, acalmando-se e colocando a xícara sobre o pires. Era melhor ir para a cama. As nuvens já haviam bloqueado todo o sol que restava e logo a noite exigiria mais velas do que os estoques forneciam e acabariam tendo de dormir de uma forma ou de outra. Ouviu passos do corredor, de pessoas se encaminhando aos quartos, exatamente para aquilo o que ela pensava que fariam.

Assim que se deitou, sentiu como se mil pesos escorregassem de seus ombros para o colchão e dormiu profundamente por horas seguidas, sem um sonho sequer, apenas a leveza de ressonar como um anjo.

Notou que não havia se acobertado apenas quando acordou tremendo de frio, enregelada da cabeça aos pés. Cobriu-se com as cobertas pesadas, mas não conseguiu mais fechar os olhos. Lá fora os relâmpagos ainda clareavam a noite, dançando. Queria olhar para eles, mas sua janela era tão pequena... O salão tinha uma parede cheia de janelas, lá poderia observar melhor a tempestade! Levantou-se, colocando as pantufas, e segurando o candelabro (perigosamente ainda aceso). Desceu as escadas com cuidado para não cair e se encaminhou até o salão grande, vazio e silencioso. Sentou-se em um dos sofás, colocando o candelabro na mesa de centro. Voltada para as dez janelas grandes, assistiu ao espetáculo, sozinha e pensativa. O vento não estava mais tão furioso, mas ainda varria as nuvens, o que fazia a chuva ter intervalos maiores a cada minuto. Passou tanto tempo lá que não notou quando não havia mais uma gota caindo do lado de fora. Seus olhos estavam fixos nas cortinas e seus pensamentos em algum lugar do qual não se lembra mais.

Virou a cabeça, ouvindo o som da respiração.

— Olá.

Com o impulso da surpresa, se levantou, imediatamente cobrindo o corpo com ambos os braços, envergonhada por usar apenas uma camisola. Mas quem quer que fosse, também usava apenas seus calções e sua camisa de algodão, o que a ser se sentir um pouco menos vulnerável. O desconhecido soltou uma risada fraca e repetiu.

— Olá, senhorita.

— Alberto!

— Silêncio – ele pediu – Os criados podem estar acordados ainda. Por que está aqui?

— Não senti vontade de dormir. – confessou, sentando-se do sofá, agora completamente relaxada. Era Alberto, não havia perigo. – E a chuva estava linda.

— Sim, eu também a vi. Quando desci até aqui e encontrei uma luz no meio do salão, fiquei com medo, mas então notei que era você e não pude mais olhar para a chuva. – ele se sentou ao seu lado, incrivelmente casual. Afinal, ninguém os observava e eles poderiam agir como bem queriam, como um casal apaixonado. Com estes pensamentos em mente, Charlotte deslizou sua mão até a dele, segurando-a com delicadeza, enroscando os dedos um por um, até que ele estivesse preso a ela.

Por um longo tempo não disseram uma palavra sequer, até que, de algum modo, suas cabeças se aproximassem e seus lábios se encontrassem, lentamente, um beijo cândido e doce, que poderia durar horas se quisessem, mas também poderia durar apenas um segundo. Afastaram-se abruptamente, tomados pela consciência de seus atos e extremamente envergonhados. Mas suas mãos não se afastaram.

— Perdão, não estava pensando no que fazia.

— Eu também não.

Novamente o silêncio.

— As regras me dizem para me ajoelhar e pedir perdão por ferir a sua honra, e em seguida prometer me casar contigo, para reparar esse erro. Mas meu coração só quer voltar a te beijar pela eternidade. – confessou, de repente. Charlotte encheu-se de calor e rubor.

— Então prometa se casar comigo e me beije. – disse, da forma mais casual que poderia ter dito, antes de arquear as costas e roubar-lhe um beijo rápido. As mãos de Alberto tomaram seu rosto e ele retribuiu o beijo com mais dois, antes de sorrir sobre seu sorriso e deslizar os lábios sobre suas bochechas, até  ponta do nariz.

— ...tão linda...

E Charlotte se sentia mesmo linda.

Entregou-se a mais um beijo, desta vez demorado, cujo levou a carinhos em seu braço, que rapidamente se tornou em carícias acima do cotovelo. Alberto segurou-a, puxando-a sem pressa para ele, para beijar sua testa, seu queixo, suas têmporas, seu pescoço. Charlotte ria, como uma criança.

— O que é tão engraçado? – ele perguntou, parando de beijá-la. Parecia ofendido.

— Não engraçado. – ela corrigiu, correndo os dedos por seus cabelos, enquanto Alberto revirava os olhos e sua pele se arrepiava. – Mas feliz.

— Ah, sim – murmurou, com a voz rouca.

Deitou-se em seu colo, olhando-a à luz das velas que ainda ardiam, agora quase no fim. E por horas Charlotte acariciou-o, enroscando os dedos em suas madeixas castanhas e deslizando as unhas suavemente por sua tez.

— Você tem de se casar comigo, Charlotte Cattaro.

— Sim.

— E tem de fazer isso sempre. – pediu, quase suplicante. – É delicioso.

— Eu farei. – prometeu, segurando-se para não explodir e reprimindo o sorriso que queria soltar. Já havia sorrido demais, e seu sorriso nem era bonito. Não queria estragar o momento com uma cena feia.

Alberto contemplou a dama mais bela de todos os bailes e derreteu com seu sorriso acanhado, era tão lindo, tão caloroso, tão contagiante! Queria beijar novamente aqueles lábios grossos e macios que se encaixavam tão bem aos seus. E foi o que fez, por mais alguns minutos. Ou horas.

Não importava. Ele queria que durasse a eternidade.


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Notas finais do capítulo

Palmas para esse casal feliz que se formou tão cedo e tão fácil. Ah, como seria bom se o amor fosse assim... ~risos
Prontos para o próximo casal? Votem naquele que gostariam que fosse o próximo!
Beijos de Lady Savoy.