Venha ver o pôr do sol escrita por Coisada


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Nhe espero que gostem



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Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. A medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
   Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinha um jeito jovial de estudante.

   - Minha querida Julia
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
   - Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar desses. Que ideia Ricardo, que ideia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima .
   - Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância... Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
   - Foi pra falar sobre isso que você me fez subir até aqui? - perguntou ela guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. - hem?!
   - Ah, Julia... - e ele tomou-a  pelo braço rindo.
   - Você está uma coisa de linda. E agora fuma uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado... Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
   - Podia ter escolhido um outro lugar, não? - abrandara a voz -  E que é  isso aí?  Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão, carcomido pela ferrugem.
   - Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha ai como as criancinhas brincam sem medo - acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. - Ricardo e suas ideias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
   - Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
   - Ver o pôr do sol... Ah, meu Deus... Fabuloso, fabuloso!... me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez,  só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
   - Julia, minha querida, não faça assim comigo, você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
   - E você acha que eu iria?
   - Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei se pudéssemos conversar numa rua afastada...- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos inúmeras rugazinhas foram se formando em redor de seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígios.


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Notas finais do capítulo

Sla



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