Chicago, 2015 escrita por Icchira Pride


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Caramba, finalmente vim postar isso aqui >



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Kevin não queria estar ali. O que mais desejava era, definitivamente, pegar um avião de volta para sua casa em Toronto, mas não podia deixar a prima menor sozinha ali.

Maldita tia.

Podemos tomar sôvete, Kis?” perguntou a menina de apenas 6 anos.

Ele se voltou para ela, sua mão sendo segurada pela pequena. Parou alguns segundos para pensar, mas não conseguiu dizer não à menina, tamanha a fofura da chino-canadense de olhos azuis-celeste.

Claro, By” disse a ela, enfiando a mão livre no bolso e sorrindo. “Tem um McDonald's ali, quer de quê?”

Ela colocou a mão no queixo, parecendo cogitar os sabores.

Um MackFlurie” disse ela, sorrindo abertamente para o primo, que riu da fala infantil da garota.

Okay.”

Rodaram o shopping pela enésima vez naquele dia, mas ele não se importou muito. Sua tia lhe dera uma bela conta para que cuidasse da filha na viagem que a garota tanto queria, mas que não pôde ir por conta de uma reunião importante na empresa da família dos dois.

Um McFlurry de ovomaltine e um sundae de morango, por favor” pediu ao atendente.

É pra já” disse o rapaz.

A voz grossa do garoto chamou-lhe a atenção por um momento. Ajeitara a priminha no colo para poder observar o outro.

Alto, provavelmente quase da sua altura, e idades próximas, talvez. Os olhos eram amendoados, castanhos, indicando, assim como o loiro, uma descendência asiática. Cabelos castanhos, tal qual os olhos, e trajava o uniforme conhecido da franquia.

Aqui, senhor” disse ele, entregando o pedido ao loiro, que sorriu desnorteado ao perceber que estava encarando o desconhecido.

Obrigado” respondeu, baixo, sacudindo fraco a menina em seus braços para que ela falasse o mesmo ao receberem os pedidos das mãos do rapaz.

O mesmo apenas sorriu. Antes que virasse para ir embora com a garota, Kevin voltou-se para o atendente mais uma vez.

Noah Park”

Estava escrito no crachá dele.

By sorriu maliciosa, descendo do colo do primo para logo puxá-lo em direção à saída do shopping. Estava lá desde o almoço, tentando fazer com que o primo se divertisse um pouco, já que ela o fizera ir ali graças à convenção de games que haveria no dia seguinte.

Ver o garoto olhando daquele jeito para o rapaz a alegrou.

Só tinha que dar um jeito de juntar os dois agora.

E tinha seis dias para isso.



Acooooooorda Kevin~~” falou a menina, alto. “A gente vai se atrasar pra Expo!”

Incrível. A menina mal conseguia falar uma frase corretamente, mas, ao perder a paciência, falava melhor ainda que muitos adultos que conhecia. O primo loiro sentou na cama do hotel, sonolento, encarando a parede à sua frente, mas logo a garota saltou no colo do mesmo, fazendo-o voltar o olhar para ela.

FanGe, se você não levantar agora, eu vou perder o começo do campeonato de League of Legends, e eu jogo sua mala da janela se isso acontecer” ameaçou, um sorriso maligno brotando nos lábios.

Não perdeu tempo em correr para o banheiro. A prima já estava pronta, e, se seus cálculos estivessem certos – provavelmente não, nunca conseguia fazer uma conta certa ao acordar, mas preferiu arriscar –, tinha exatos 7 minutos pra tomar banho, tirar a cara de panda que era provável que lembrasse a outro irmão mais velho dela, ZiTao, vestir-se e jogar alguma coisa garganta abaixo antes que ela saísse sem esperar por si.

Maldito TOC.

Correu para fora do banheiro já com a camisa, mas precisou voltar quando a menina apontou para baixo, lembrando-o que havia esquecido das calças. Apressado, vestiu as calças de couro justas e negras, tênis pretos de cano alto e detalhes cinzas, arrumou a camiseta preta e, tentando fugir um pouco do frio que assolava o exterior do quarto de hotel, uma jaqueta de couro preta com a frente branca.

A prima sorriu. Seu FanGe poderia não ser o mais bonito, nem o melhor desenhista, o mais inteligente, o mais engraçado, etc., mas não podia negar que o loiro sabia se vestir bem.

Com o carro alugado, o rapaz dirigiu até o local do evento, rindo às vezes pela excitação crescente da menina, que não parava quieta no banco de trás. Não gostou, porém, da atenção que a mesma recebeu logo ao sair do carro.

By era fofa.

Mas ficava ainda mais vestida de Annie Panda.

Entregou as entradas aos cobradores no portão, que pareciam já não aguentar mais estar ali, e sequer havia começado direito. Segurando a mão da garota, se dirigiram ao interior, sem evitar sorrir animado com todos os estandes ali. Não era fã, mas era impossível não relembrar a adolescência ao ver as típicas brigas entre os fãs de LOL e DOTA 2, que aconteciam de dez em dez metros.

Ainda eram 11 da manhã, mas o lugar estava entupido de gente que parecia louca para ver as atrações, novas em folha, e comprar itens e mais itens inúteis que ficariam guardados até terem algum valor.

Como a esperança era a última a morrer, porém, ainda guardava seus amados mangás de Death Note. Quando a Black Edition fora lançada, principalmente, eles já começaram a valer bastante.

Vai que ainda lançavam outra edição.

De preferência com uma continuação.

Welcome to the end of eras,/Ice has melted back to life/Done my time and served my sentence/Dress me up and watch me die~” Se assustou por um momento, mas logo percebeu que era a prima a cantar tão morbidamente. Ao perceber que ele a assistia, logo sorriu e se pôs a cantar o refrão: “I'm taking back the crow~/I'm all dressed up and naked/I see what's mine and take it...”

Finders keepers, losers weepers...”

Oh, Yeah!”

Não que não soubesse da personalidade da pequena, principalmente a falta de coesão em praticamente tudo o que fazia, se assustaria, mas desistira de tentar entender quando ela aprendeu a falar.

Agora, até mesmo a ajudava a ser um pouco mais louca – do que já era ainda.

Os dois passaram ainda mais algumas horas andando e rodando pelo local. By tirara muitas fotos, tanto com profissionais de plantão quanto com pessoas que apenas a achavam muito fofa.

Outra coisa que a garota adorou fazer, rindo alto às vezes, foi observar as fantasias que apareciam, boas ou não. Tirou fotos com um grupo de amigas, cada qual vestida com uma versão diferente da Annie, como ela; com uns garotos nerds gordinhos e cara de doritos que causaram estranhamento no primo; e uma menina vestida de Jinx, uns anos mais velha, que era acompanhada da mãe, que contracenava Ashe.

Kevin se divertia também, embora não tanto quanto a priminha. Pôde comprar três jogos que ansiava há tempos para seu PS4 pela metade do preço, algumas lembranças para ZiTao e BaekHyun. Participou de alguns campeonatos de Fifa 2014 e Call of Duty: Ghosts e visitou estandes de livros e animes, além de passar alguns minutos no cinema, onde, pela centésima vez, passava A Viagem de Chihiro.

Os dois, por volta das 4 da tarde, finalmente se acomodaram em uma das cantinas, cujo tema era Maid Café, onde as americanas de cabelos coloridos, vestidas com as típicas roupas de maids, se atiravam no chino-americano, como se tentassem fazer com que ele prestasse alguma atenção a elas.

Era inútil. O rapaz era gay.

Um evento durante o lanche, porém, fez com que os planos de saírem dali logo fossem por água abaixo.

Como assim?!” A voz masculina grossa e com o sotaque estranho foi o que chamou a atenção de By, que puxou a manga do primo com uma mão, ao que segurava um enorme sanduíche com a outra, fazendo o mais velho voltar-se para o mesmo local que ela. “Eu estou morto de fome, você me disse que eu poderia comer aqui, YooRa!”

Nunca falei que ia comer em algum lugar específico, ChanYeol” A outra voz fora dita com desdém. “Vai logo pra cozinha e come.”

Mas, YooRa...!”

Com licença.” A cosplayer em miniatura falou, em voz alta, chamando o olhar dos dois para ela. “Se quiser sentar com a gente, moço, pode.”

Os dois olharam para ela, encasbacados, tal qual seu primo. O que diabos aquela menina pensava ao fazer o pedido para um desconhecido desse jeito?! Ah, como deveria ter recusado o pagamento e ficado em casa, comendo, bebendo, assistindo TV e passando as tardes no computador!

Garotinha, desculpe, mas acho que seu pai não concordou muito com essa ideia.” A moça disse, com o tom de voz gentil forçado dando ânsia aos primos. “Ele vem comigo, vamos comer lá dentro, não precisa ficar preocupadinha, tá bom?”

Moça, eu não sou idiota!” A outra exclamou, sorrindo. “Ele não quer ir, pode sentar com a gente! Estamos bem ali, olha. Por favor, deixa que ele fique conosco. Não faz ele ir pra onde não quer.”

Os dois olhavam para ela, impressionados, mas Kevin ria por dentro. A menina tinha essa mania de deixar as pessoas ao seu redor com esse olhar de peixe morto. Menos ele, claro. Teve convivência o bastante para saber lidar com o palavreado e língua afiada da prima. Ao menos, ela não falara nenhum palavrão. Sabia que ela estava se controlando para tal. Simplesmente odiava quando pessoas eram mal-educadas com outras na sua frente, e o tom de voz da maid não era nada agradável.

Não vejo problema se quiser sentar aqui, senhor,” Kevin falou, a voz firme e séria.

O rapaz corou, e o canadense pôde se lembrar de dias antes, ao poder visitar o shopping, e conhecer o atendente educado.

A maid se entreolhou com o asiático. Sob o olhar ameaçador da mesma, o outro abaixou a cabeça e se dirigiu, lentamente, até a mesa dos primos, segurando a mão da menina, que se aproximou para “buscá-lo”. Sentou, envergonhado e com o rosto em chamas, na frente do loiro. Engoliu em seco ao ouvir a mulher bufar e sair dali.

Estava tudo bem com vocês ali?” Curioso, o canadense se inclinou, falando baixo, evitando chamar atenção, vendo a prima voltar a, infantilmente, comer seu sanduíche. “Ela parecia bem brava...”

...” O outro não falou nada, apenas encarou o colo, encabulado.

Qual o seu nome?” Kevin perguntou, fingindo não lembrar do crachá na camisa cinza e listrada da franquia. “Sou Kevin Wu, e essa é a minha prima, By Huang.”

Prima?” O tom era baixo, mas o outro compreendera. “Não é sua filha?”

O loiro riu.

Claro que não. Ainda sou novo para ter filhos” comentou.

A mesma moça voltara, agora com um prato em mãos, sequer com uma bandeja, e praticamente jogou na frente do moreno.

Bom apetite” disse, seca.

Noah apenas franziu as sombrancelhas. No prato, um pedaço de carne mal passada, umas colheres de arroz e uma folha de alface, provavelmente velha.

Desculpe pelo incômodo...” O asiático falou, abaixando o olhar para o pedaço de vidro, começando a comer lentamente.

Está tudo bem” sorriu o mais velho. “Desculpe, não disse seu nome.”

Ah” soltou um suspiro desanimado. “Noah. Noah Park.”

Ela tinha te chamado de ChanYeol, não?” observou a mais nova ali, inclinando a cabeça de modo a parecer algum filhote de animal fofo. “Por que não usa o nome original?”

Ele pareceu supreso ante a fala da menina. Não era todo dia que alguém percebia o modo como sua irmã lhe chamava.

É... Bem...” pensou. “YooRa não gosta dos nossos nomes americanos, não quer nos chamar por eles.”

Eba” By fez uma careta fofa de alegria. “Ele falou uma frase com mais de dois períodos!” Bateu palmas, contente.

A expressão de Kevin dizia para que Noah não comentasse sobre isso, e foi o que ele fez.

Ficaram por quase meia hora conversando. Os dois se entrosaram, sendo observados pela garota, que sorria fracamente com a interação dos mais velhos.

Kevin era uma pessoa solitária. Dificilmente ela o via sair de casa, conversar com amigos ou interagir com seres humanos, já que parecia só dar valor ao seu cachorro, um golden retriever chamado SeHun. Não gostava disso no primo. Se duvidar, até virgem ele era. E a última coisa que ela queria era que o primo passasse o resto da vida da mesma forma.

Como ele trabalhava em casa, como escritor e editor/tradutor, ganhava muito e bem, mas não tinha com o que gastar. Morava numa casa grande no Distrito Financial, mas apenas dois dos quatro quartos eram ocupados: o seu e o vizinho, como um escritório que usava para trabalhar – embora passasse a maior parte do tempo no próprio.

Depois de muita conversa, os mais velhos trocaram telefones, fazendo a menina soltar uma risadinha maliciosa, o que a fez ser encarada de forma estranha por Kevin e, de certa forma, inocente por Noah.

Já podemos ir para o hotel, FanGe.” Ela falou, segurando a mão do outro quando saíram do Maid Café, deixando para trás uma YooRa muito mal humorada com a enorme gorjeta que recebera e um sorridente e envergonhado Noah.

Ué... Já quer ir?”

Já sim!” afirmou. “Já consegui o que queria.”

A única coisa que Kevin pôde fazer foi aceitar. Não entendera, mas era melhor que ver ela chamando-o de idiota em público.



A parte da família dos primos que morava em Chicago era pequena, mas adorava visitas. Tia Cath principalmente. Dos 4 dias que ainda tinham para passar ali após o evento, já usaram dois na casa dela. O filho de Cath, Nathan, ficou bem amigo de By, que amara os jogos dele, por mais que ele já tivesse 14 anos.

A reação dos dois ao vê-la jogar Far Cry 3 e finalizar Assassin's Creed 3 foi hilária.

Kevin, desde que conseguira o número do moreno de dois nomes, começou a sentir que seu aplicativo de mensagens estava enchendo demais seu celular. 800 megabytes é muita coisa para três dias, afinal. Algumas fotos e vídeos não eram nada demais, não?

Era o último dia deles na cidade. No dia seguinte, às 11 da manhã, estariam embarcando para Toronto, para tristeza e alegria do chino-canadense. Estavam na casa da tia, após um almoço, sem fazer nada além de jogar no XBOX do primo. Isso foi até receber uma mensagem de Noah perguntando onde estava. Respondeu-lhe rápido o endereço da tia, recebendo uma mensagem logo em seguida:

"Pergunta pra ela onde é esse lugar aqui” inseriu um endereço. “Vem cá agora!”

Ficou um pouco preocupado de cara. Pediu informações à tia sobre o local onde o mais novo pedira para que ele fosse, saindo quase em disparada após pedir para que a mais velha tomasse conta da pequena, a qual ela respondeu um alegre sim.

Durante a conversa curta que teve com o rapaz naquele Café, pôde sentir que gostava da presença dele. Do modo que falava, do jeito acanhado, do sotaque carregado. O olhar baixo mas que lembrava o de algum animal fofo e pequeno, mesmo considerando que fosse, no máximo, 5 centímetros menor que Kevin. E, com seu 1,90, não conseguia ser chamado de baixo.

Andando a passos largos, enxergou um parque. Um chafariz no meio com vários bancos de madeira ao redor dele, árvores altas e alguns brinquedos já dominados por crianças barulhentas, e, em meio ao verde e branco dos cavalhos cobertos por neve, enxergou a cabeleira castanha do moreno, sentado em um dos bancos, parecendo ansioso.

Incrível como, mesmo com aquela altura toda, ainda parecia tão fofo com a camiseta cinza e grossa de gola U, a jaqueta jeans clara, um paletó cinza escuro levemente acolchoado sobre os ombros largos, as calças jeans escuras beirando ao negro, justas; as basqueteiras Adidas pretas com os detalhes em branco, e, para finalizar, o chapéu cinza escuro sobre os cabelos arrumados.

Ao ver o mais velho se aproximar, se levantou de supetão, batendo a cabeça num galho de uma das árvores atrás do banco, chiando e levando as mãos ao local dolorido.

Kevin não conseguiu evitar rir baixo, se agachando para pegar o chapéu que caíra com a batida. Mais perto do garoto, passou as mãos de leve pelos fios, encarando por uns segundos o bico fofo encravado nos lábios alheios.

Aqui” disse baixo, lhe estendendo o chapéu escuro para o amigo.

Pegou a peça sem dizer uma palavra, colocando-o sobre a própria cabeça, corado, encarando o loiro esbaforido pela corrida. Analisou as peças de roupa que o outro trajava: camiseta preta sobreposta por uma camisa de flanela xadrez preta e vermelha, calças de panel com joelhos de couro e zíperes, ao estilo motociclista, e com os Nikes brancos com vermelho.

Eu te tirei de algum lugar importante?” perguntou, baixinho e arrependido.

Não muito, por quê?” devolveu a pergunta, sentando no banco onde o outro estava há pouco e puxando-o para ficar ao seu lado. “Aconteceu alguma coisa?”

O mais novo ficou, se possível, ainda mais envergonhado. Encolheu-se no banco, puxando o paletó e ajeitando-o sobre os ombros, com frio.

É que...” começou, precisando fazer uma pausa para pensar no que falaria. Tudo o que planejara sumiu da sua cabeça de repente, engoliu em seco. Não tinha a menor ideia do que falaria, mas respirou fundo antes de puxar algum assunto e desviar sua atenção para outro foco da conversa. “Você vai embora amanhã, certo?”

Isso” O outro lhe respondeu sem hesitar.

Eu... É... Sabe...” ChanYeol não sabia o que deveria falar. Tinha uma notícia e um pedido, e não podia perder a oportunidade agora. “Você me disse que mora sozinho em Toronto, né?”

É sim” uma pausa. “Moro numa casa, por quê?”

Eu...” Noah estava perdido, gaguejando a cada frase. Respirou fundo mais uma vez antes de soltar tudo: “Eupasseipramúsicanauniversidadedetorontoenãotenhoindeficar.”

Kevin o encarou.

Quê?”

O moreno escondeu o rosto nas mãos.

Eu passei para Música” repetiu, mais lentamente. “Na Toronto's University. Mas não posso ir porque não tenho onde ficar.”

Kevin, para a surpresa do mais novo, puxou-o para um abraço. Milhares de vezes ele repetira, durante as conversas, sua vontade em estudar tal curso e seu amor pela Universidade da sua cidade. Estava feliz por ele e já sabia como resolver o problema do menor.

Quer ficar comigo?” sugeriu.

O coreano se afastou, assustado.

Quer ficar na minha casa, quero dizer?” corrigiu-se, rindo alto.

Mas...”

Sem mas!” Segurou a perna do outro, gentilmente. “Eu já te disse que minha casa é muito grande, me sinto só lá. Tem quartos demais sobrando, mesmo que minha prima já tenha se apossado de um.”

O mais novo riu fraco. Conhecia o outro há pouco tempo, mas já confiava mais nele do que sua própria irmã. Sabia que era teimoso demais, mais ainda do que si, e era inútil tentar discutir.

Certo...” disse, fazendo o mais alto parar de falar. “Eu vou.”

Kevin abraçou novamente o outro. Baixinho, parabenizou-o.

Até que o plano de By estava dando certo. Mesmo que nenhum dos três soubesse.



O loiro estava nervoso. Era, normalmente, calmo e controlado, mas não estava conseguindo evitar suar frio ao sentir o peso leve em seu pescoço. O colar com a cordinha preta era o que segurava o pingente com a forma de meia Pokebola, cuja parte branca e a linha divisória estavam presentes ali, lembrando-o o fato prestes a acontecer.

Sua prima, a qual faziam quase cinco dias que não a vira, lhe dissera por último, antes de ir embora com a mãe, para que tivesse calma. Para a genitora da pequena, aquilo não fizera o menor sentido, mas, para o loiro, era o maior e melhor dos conselhos.

Engoliu em seco pela enésima vez ao estacionar no Toronto Pearson International Airport. Sentia vontade de correr, mas não sabia se para casa ou para o portão de desembarque, por onde o moreno sairia em minutos. Por alguns segundos, ponderou se realmente deveria fazer aquilo, ao segurar a estranha rosa artesanal.

Foi complicado, mas ele conseguiu. A maldita rosa branca, aberta, enorme o bastante para que conseguisse pintá-la do jeito certo.

Uma rosa pokebola.

Para um fã assíduo como o mais baixo, esperava que fosse de seu agrado.

Mas o coração ainda se recusou a sair da garganta.

Pegou a rosa, descendo do carro. Trajava uma camiseta branca respingada com preto, jeans grossos e de lavagem escura, jaqueta marrom grossa o protegendo do vento frio que, por vezes, o assolava fora do carro; sapatos sociais escuros e, para fechar, uma pulseira em cada pulso, uma branca de tecido, amarrada, e outra marrom escura, com fecho metálico.

Não era intencional, jurava por sua vida, mas não conseguia evitar. Se vestia muito bem, sabia disso e era um fato inegável.

Se dirigiu até o portão de desembarque, rodando a rosa nas mãos, sentindo o colar de pingente metálico, por dentro da camiseta, incomodar, o deixando mais ansioso a cada segundo. A voz da maldita mulher no microfone incomodou, mas ele não conseguia tirar os olhos do portão, por onde vários passageiros já desembarcavam. Com o coração na mão e um bolo na garganta, enxergou a outra metade da sua pokebola.

Vestia um moletom cinza claro por baixo de um sobretudo azul-escuro, jeans negros cobrindo as pernas finas, sapatênis da cor do moletom nos pés. Um dos fones estava na orelha, ao que o outro era segurado por uma das mãos, como se ele tivesse tirado-o para escutar melhor. Nas costas, uma mochila preta leve. Na outra mão, a mala grande, que parecia conter todas as suas roupas.

Quase todas, Kevin sabia.

Abriu um sorriso largo, aproximando-se do jovem. Estendeu a mão que segurava a rosa, fazendo com que o mais novo focalizasse nele.

E, por Deus, Kevin pensou.

Não havia, nem nunca haveria, sorriso mais lindo e brilhante que aquele que Noah abriu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^
Byjos ♥



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