Escolhas escrita por Bilirrubina


Capítulo 3
Escolha nº 2


Notas iniciais do capítulo

Agora sim um capítulo inédito ;)



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Naomi fechou seus pequenos olhos e suspirou. Não queria ter que assumir sua falta de paciência, mas aquela era Joana. Ela entenderia, não?

— Bem... você sabe o que sinto por ele...

— Sim, é verdade, eu sei muito bem, amiga. Você arrasta um bonde por ele... Só que ele é tapado demais para perceber.

— É. Este é o ponto. Ontem tentei deixar um pouco mais claro o que sinto. Só que não deu muito certo. – comprimiu os cantos da boca – O tiro saiu pela culatra e ele acha que gosto do Faraize. – escondeu o rosto com as mãos – Disse que até me daria apoio! Jô, o que faço agora? Ele... e-ele falou que marcaria um encontro entre nós dois.

— Ai amiga! – pegou suas mãos – Não se preocupe, segunda vou chegar e falar com ele. Faraize vai entender. – sorriu animadamente.

— Jô, você tem um T? – Kentin falou da porta.

— Tenho, está aqui na gaveta. – apontou para uma gaveta atrás de si – Mas não quero muitas coisas ligadas numa mesma tomada, ok?

Kentin sorriu de canto ao responder que sim. Naquele momento uma covinha se fez em sua bochecha e Joana podia jurar ter ouvido um suspiro. Levantou-se e foi pegar a tal peça, escondendo o riso. Aquele dois... só um milagre para o moreno perceber as coisas a sua volta.

No dia seguinte foi a vez de Joana acordar a filha.

— Vamos, temos que ir antes que fique tarde demais, meu bem.

Katherine murmurou e virou na cama. Estava com muito sono, pois na noite anterior ficou muito tempo jogando. Porém era sábado e o primeiro dia do Xbox em casa, fazer concessões às vezes não fazia mal a ninguém. Joana foi até a cozinha ligar a cafeteira e voltou.

— Katherine, foi você que combinou o café da manhã na praia!

— Tá bom, manhê! – levantou-se chutando o lençol.

­– De mau humor, mocinha? Agora você entende o motivo para dormir cedo?

Katy emburrou-se e foi até o banheiro. Enquanto isso, Joana começou a arrumar o quarto, separando algumas roupas que a menina tinha deixado no chão. Katherine voltou e pegou uma saia branca da mão de sua mãe, colocando-a sobre a cama.

— Vou com esta.

— Ok, seu biquíni está na gaveta. E não fique deixando suas roupas no chão!

— Mas eu não deixei... Tava na cama, mas aí caiu enquanto eu dormia.

— Ah, então você dorme com sua cama cheia de roupa?

— Claro. É ótimo nos dias frios, porque na hora de vestir, elas já estão quentinhas.

Joana usou todo seu autocontrole para não rir e repreendeu sua filha, dizendo que seu quarto precisava estar arrumado... Essas coisas que mães falam. Tendo acabado sua bronca, retornou à cozinha, bebeu uma xícara de café e arrumou as comidas que tinha preparado numa cesta, que colocou em sua bicicleta. Neste momento, Katy já estava pronta e trazia consigo o protetor solar, obviamente a pedido da mãe.

— O sol tá tão fraco, mãe... Não sei se precisa disso.

Joana colocou o item em sua bolsa e trancou a porta pela qual saíram.

— Vamos logo, todos seus amigos já devem estar de esperando.

O percurso durou cerca de cinco minutos e ao chegar, Katherine jogou seu veículo no chão e foi correndo encontrar-se com Ambre. Deu um abraço tão forte na garota que quase caíram no chão. Enquanto sua mãe e a babá dos gêmeos arrumavam a toalha e dispunham as coisas para comerem, as meninas não paravam de tagarelar.

— Meu Deus, vocês não calam a boca! – falou Nathaniel – Parecem dois papagaios.

— Você só fala isso porque não tem nada interessante pra conversar. – rebateu Katy.

— Na verdade, ele tem sim. – sorriu Ambre de forma maliciosa para o irmão. – Sabe Katy, ontem meu irmão...

— Ambre! Cala a boca! – Nath partiu para cima da irmã, tentando cobrir sua boca com a mão.

No entanto ela foi mais rápida e correu para longe dele. Entrando na brincadeira, a rosada gritou que o loiro não pegava ninguém e afastou-se dele.

— Tão animadas essas crianças!

Joana olhou para trás e logo viu Valérie e seu filho Castiel. Valérie tinha cabelos castanhos com as pontas vermelhas, já seu pequeno tinha cabelos negros e lindos olhos acinzentados.

— Não é? Por isso que às vezes parece que Katy entra em coma no fim do dia...

— Meu Cassy é tão quietinho, quase não me dá trabalho.

A morena sentou-se na toalha alaranjada que Joana trouxera e viu seu filho indo em direção aos demais, com seus cabelos sendo bagunçados pelo vento. Assim que o viu, Ambre parou de correr e acenou para ele. Nath olhou em direção ao garoto e revirou os olhos.

— Só faltava esse moleque. Foi você que o chamou, né sua chata! – apontou para a irmã.

— Não, fui eu. – Katy ergueu o queixo e cruzou os braços ao falar.

— Ah sério... – Nath não se deu por vencido – Aposto que você gosta dele... Eca!

— E seu eu gostar, qual o problema? – ergueu uma sobrancelha.

Desconcertado, o loiro resmungou e chutou um pouco de areia. Mas contra sua vontade, alguns grãos de areia foram de encontro ao rosto da irmã, que começou a gritar. Ele tentou ir ao seu socorro, porém Castiel foi o mais rápido.

— Vamos Ambre, temos que lavar seu rosto. Minha mãe trouxe um pouco de água. – tomou a loira pela mão e a levou para junto dos adultos.

Katherine lançou um olhar de reprovação a Nathaniel e foi andando com os outros dois. O loiro praguejou e socou o ar. Não queria machucar a irmã, não queria que Katy olhasse para ele daquela forma. Só não queria que Castiel chegasse e fosse o centro das atenções, como sempre.

— Venha filhinha, vou lavar seus olhos. – disse Valérie para Ambre.

Enquanto isso a babá brigava com Nathaniel, que visivelmente não dava ouvidos à pobre senhora. Saiu emburrado para perto do parque, deixando sua irmã aos cuidados dos outros.

Neste ínterim Kentin inspecionava uma pequena propriedade próxima ao restaurante. Era uma espécie de loja um pouco castigada pelo tempo, nos fundos havia uma quitinete e um deck, onde estava, que avançava até a água.

— Tem certeza de que não quer fechar logo o contrato? – perguntou o corretor – A localização é ótima para abrir seu negócio.

Ele fechou os olhos para sentir melhor o calor do sol e respondeu:

— Adoraria, só que não serei eu a decidir. – virou-se para o homem – Meu amigo ainda não chegou à cidade. Podemos marcar para daqui a dois dias? – perguntou ao corretor.

Eles combinaram uma nova visita para o fim de tarde e deixaram a loja antiga. Ao sair do local, o moreno viu Nathaniel indo em direção ao parquinho muito emburrado.

— Ei rapaz, o que aconteceu? – perguntou e foi simplesmente ignorado pela criança.

Meneou a cabeça e passou as mãos pelos cabelos, desconcertado. O corretor murmurou algo como “crianças são assim mesmo” e foi para seu carro. Kentin decidiu caminhar pela areia e logo encontrou Ambre com os olhos vermelhos. Presumiu que este seria o motivo do mau humor do pequeno.

— E aí gente, tudo bom? – cumprimentou o grupo.

Joana que agora passava protetor solar nas crianças sorriu ao ver o amigo. Valérie dispunha as comidas sobre a toalha e deu uma piscadela a Kentin. Ele sentou-se numa das beiradas e viu Nathaniel, sob protestos, voltar para junto deles.

— Fico feliz em ver Cassy assim. Sinto que ele é tão solitário. – comentou Valérie.

— Não acho que seja, Val. – Joana fitou a amiga – Ele só é calmo. Olhe bem para ele, Cassy não tem o semblante de uma criança triste.

— Cada criança é de um jeito. – foi a vez de Kentin.

— Nathaniel é o que mais me preocupa. – Valérie ponderou – Não sei bem, mas talvez ele dê trabalho mais tarde.

— Mais trabalho?! – a senhora babá que ficou calada até então deixou escapar, o que provocou risadas nos demais.

A manhã passou rapidamente e, apesar do pequeno incidente, as crianças tiveram um bom momento juntos. Os irmãos fizeram as pazes e até os meninos interagiram um pouco. Voltando para casa, Joana informou a filha que ela passaria alguns dias com Kentin devido a um congresso de pedagogia. Era um evento nacional do qual ela e Naomi estavam ansiosas para irem desde quando foi anunciado.

— E como este sábado os pais de Castiel têm voo, – continuou – ele também ficará com vocês no fim de semana.

A animação foi visível no rosto da pequena.

— Muahahaha, se ele dormir antes de mim, vou pintar o rosto dele com pasta de dente!

— Katherine! – ralhou.

— Mamãe, é brincadeira, vou tentar me comportar, ok?

Era a primeira vez que Joana se afastava por tanto tempo da filha e ficou estarrecida quando a rosada sequer chorou com a despedida. Apenas segurou a mão de Kentin e lhe deu adeus com um sorriso nos lábios. Depois de olhar para a casa por um tempo, o carro em que estava virou a esquina e não foi mais possível fitar o rosto de Katherine.

— Era para ela estar chorando, não eu... – secou o canto do olho.

— Jô, vamos parar com isso, né? Katy vai ficar bem. Kentin sabe muito bem como cuidar de crianças.

— Eu sei, amiga, é que sou uma boba mesmo.

— N-não acho que seja. – falou Faraize ao volante – É uma novidade para Katherine ficar afastada de vocês e ela está encarando isso muito bem. Vocês a deixaram com alguém que ela confia, então ela não viu isso como uma situação ameaçadora.

As duas olharam admiradas para o desajeitado professor, que sempre mantinha uma postura tímida. Elas não esperavam que ele falasse com tanta propriedade do assunto e notando o olhar sob ele, corou levemente.

— Faraize, não esperava isso de você. – Joana deixou escapar – Não que eu ache que você não seja capaz disso. – tratou logo de se corrigir.

— E-eu sei... É que estou fazendo pós-graduação em psicologia infantil. – explicou.

— Entendo. – Naomi sorriu ao falar – É bom saber que no corpo docente da Sweet Amoris há um profissional de seu caibre, Faraize.

Com o elogio da ruiva, o rosto do rapaz atingiu um tom mais vivo, o que lembrou Joana do incidente que precisava esclarecer. Chegou-se mais para frente e colocou as mãos entre os bancos dianteiros.

— Precisamos esclarecer uma coisa, antes de mais nada. – começou e Naomi do banco do carona fiz que sim com a cabeça, deixando a entender que aquele era o momento certo.

Por um segundo os olhos violetas dele e azuis de Joana encontraram-se no espelho retrovisor interno.

— A-acho que já s-sei do que se trata. – disse o moreno – Kentin conversou comigo e... – fitou rapidamente a ruiva ao seu lado – N-naomi, não se sinta ofendida, mas é v-você e eu...

— Não precisa falar mais nada! – ela interveio – Entendi e ainda bem que foi assim. Foi tudo um mal entendido, não estava falando de você com Kentin. Estava falando dele mesmo.

Faraize soltou o ar que inconscientemente estava prendendo e sorriu, aliviado. Não queria se indispor com as colegas de trabalho. E agora que sabia de quem Naomi realmente gostava, torceria por eles e quem sabe quando tivesse oportunidade e sua timidez deixasse, até daria uma forcinha.


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Notas finais do capítulo

O próximo sai daqui 1 semana :D



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