Ouvi os primeiros pingos de chuva caírem e molharem meu rosto cansado. Não podia - e nem queria - fazer algo para que elas não me atingissem, então simplesmente olhei para o céu. Nublado como o meu coração estava, e encharcado de lágrimas. Estava parado em uma praça qualquer há muito tempo. Não sabia direito as horas, mas sabia que ainda estava no final de tarde. Demorei a perceber, mas sem você meu mundo desaba. Nada faz sentido, nada se encaixa e eu me sinto num completo vazio. Fui idiota por ter percebido isso agora, por ter jogado fora tantas palavras e momentos bonitos ao seu lado, por simples ciumes. Eu te amo, Do Kyungsoo.

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“Papéis brancos e alguns escritos estavam espalhados pelo chão. Aquele quarto estava um completo caos. Sentado na poltrona azul do cômodo, o moreno sustentava um semblante cansado no rosto, as madeixas escuras bagunçadas contribuíam para a imagem desgastada. De costas para si, estava um loiro alto, com as mãos apoiadas na mesa. Estava ofegante, e com as roupas bagunçadas.

— Eu não aguento mais isso, Jongin.

O loiro virou-se ao ouvir o comentário e observou o mais baixo levantar-se da poltrona, procurando seu casaco grosso pelo ambiente desorganizado. Não conseguia fazer ou falar nada para impedir que Kyungsoo fosse embora. Errou quando interpretou erroneamente uma situação envolvendo o colega de faculdade do mais baixo. Agiu no mais puro ciúmes, ao ver que a dupla de trabalhos trocava entre si, um abraço carinhoso.

Não sabia o que significavam aquelas palavras, mas seu coração parou por um instante ao passar-lhe pela cabeça, a ideia de se separar de Kyung. O namoro dos dois começou em uma simples troca de olhares numa loja, até que Jongin passasse seu número de celular ao se encontrarem de novo no trem. E, agora, eles namoravam há quase sete meses. Ele não podia deixar que o baixinho fosse embora de sua vida assim.

Suspirou procurando calma, e em passos largos foi até o moreno. Parou em sua frente, pegando delicadamente uma de suas mãos. Levou-a até sua boca, e depositou vários selinhos pela extensão de seus dedos, até a palma da mão. Kyungsoo fechou os olhos, sentindo os toques quentes do loiro, aproveitando as sensações que os lábios carnudos lhe proporcionavam.

— Kyung… Por favor, não vá. Tem algo que eu preciso lhe dizer. — pediu, olhando fundos nas orbes castanhas do mais velho.

Em resposta, Kyungsoo suspirou pesadamente, mas acenou com a cabeça de maneira leve, mostrando que estava disposto a ouvir.

Pela primeira vez, Jongin sorriu minimamente para o garoto. Um sorriso que demonstrava um pouco de tristeza, mas havia sido o  suficiente para fazer com que o moreno se derretesse.

— Me espere aqui, por favor. — o loiro então saiu do quarto, e Kyung voltou a sentar-se na poltrona.

Passaram-se poucos segundos, até que o baixinho observou Jongin chegar com um violão em mãos. Olhou-o sem entender, o semblante confuso estava pregado na face do moreno.

O loiro por sua vez, posicionou um banco na frente da poltrona em que o namorado estava e sentou-se. Alinhou o violão em seu corpo, e levantou a cabeça, encarando Kyungsoo.

— Eu sinto muito por… Não saber expressar-me direito, Kyung. Por ter ciumes exagerado, por ter te feito sofrer, enquanto eu deveria estar te fazendo sorrir. Dessa vez, escute-me por favor.

A melodia começou suave, alguns acordes mais graves contrastavam commais finos. A voz de Jongin, calma mas com uma leve rouquidão, invadiu os ouvidos do moreno.

— Peguei o meu velho violão… A confissão que não pude fazer e a história que teimosamente engoli. Estão revelando uma música que estou prestes a dizer. Escute, eu vou cantar pra você.

Por um segundo, as orbes de Kyungsoo se arregalaram um pouco. Ele realmente havia feito uma música para si? Preocupou-se em se desculpar daquele jeito…

— Eu te amo muito, mas meu orgulho nessas palavras não me permitem dizê-las a você. Hoje vou juntar toda a minha coragem e te dizer… Então escute calmamente, eu vou cantar para você.

O relacionamento de Jongin e Kyung era um pouco complicado. Apesar do amor que ambos compartilhavam um pelo outro e que não era pouco, não se expressavam tanto como gostariam, ou deveriam. O loiro não falava que o amava, e o Kyungsoo nunca o obrigava. Sabia o sentimento que estava no coração do maior, mas ao mesmo tempo queria que este lhe dissesse algumas vezes.

Vê-lo daquele jeito, tocando no violão enquanto se declarava, chegava a deixar o pequeno corujinha com os olhos banhados em lágrimas.

— O jeito que você, o jeito que você sorri. O quanto isso significa pra mim? As palavras que eu queria dizer e que perdi a chance. Eu vou confessar, então escute, eu vou cantar para você, cantar para você. Sorria pelo menos uma vez.

Jongin encarava as orbes castanhas intensamente. Ao ouvir a frase final, Kyungsoo fez exatamente o que o outro pedia na música. Entregou para Jongin o mais belo de seus sorrisos, um único, cheio de brilho e amor.

Mais alguns versos cantados pelo loiro, fizeram Kyung cair em lágrimas.

A emoção em ver finalmente, Jongin se declarando de uma maneira nunca feita antes, fez o mais velho se emocionar de tal forma, que nem estava se reconhecendo naquele momento.

—  Escute, eu vou cantar para você. Cantar para você…

Os acordes haviam cessado. A voz tão calma havia parado de cantar, e o violão foi posto de lado. O mais novo rodeou seus braços no corpo de Kyungsoo, que havia levantado no final da música. O abraço foi rápido, e assim que separaram o contato, Jongin observou-o pegar seu casaco e sair porta afora, sem ao menos lhe direcionar um olhar.

Jongin pôde sentir lágrimas finas e quentes banharem seu rosto moreno.”

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Meu corpo havia se acostumado com a chuva fria. Talvez mais tarde as consequências desse ato estúpido viriam, mas eu não estava nem um pouco preocupado. Só queria ver Do Kyungsoo mais uma vez. Haviam se passado três dias depois da minha declaração. Não houve ligação, nem visita, nem carta… Nada. Nenhum sinal de vida do meu, até então, namorado.

As gotas de chuva se misturavam com as minhas lágrimas de novo, toda vez que eu me lembrava do menor eu começava a chorar. Senti algo cobrir minhas costas, um pano grosso e quente. A chuva foi bloqueada por um guarda-chuva transparente. De início, assustei-me, mas aquela voz doce me acalmou por completo e fez com que minha amargura fosse embora.

— Você vai ficar resfriado, Jongin.

Foi o que eu ouvi Kyungsoo dizer, ao virar-me e deparar-me com seu semblante feliz. Imediatamente, ao vê-lo, meu coração voltou a pulsar loucamente e minha face enfim, teve um sorriso para decorá-la. E foi o melhor sorriso que eu já dera em minha vida.

Urgentemente envolvi o baixinho em um abraço, para em seguida, juntar nossos lábios. Morria de saudade daqueles lábios, daquela sensação. Eu morria sem Do Kyungsoo por perto.

O beijo durou alguns longos segundos, até o ar faltar para os pulmões de ambos.

Posicionei minhas mãos gélidas nas bochechas dele, enquanto o enchia de beijos. Ele amava quando eu fazia isso.

— Desculpe sair sem falar nada. Você mexeu muito comigo, de várias formas. Mas eu descobri que sem você, a minha vida não é a mesma.

—  Eu amo você. De todas as formas, de todos os jeitos, eu amo, amo você Do Kyungsoo.

Aquilo foi o suficiente para ver os olhinhos do meu corujinha brilharem de novo.