Até hoje não consigo lidar com a saudade, com a falta que você faz… Já se passaram quinze meses desde o dia que você se foi, me deixando só no meu apartamento com minhas telas em branco.

Eu já não sabia mais viver sem você, que chegou do nada e coloriu meu coração preto e branco com as suas cores vivas. Você me deu um sentido para viver, me deu alegria, me deu amor e você se foi levando tudo isso embora de mim.

Eu sinto muito por não ser bom o suficiente pra você, sinto muito não ter feito nada que pudesse ter feito você ficar, sinto muito por ser assim.

Eu te amo, e meus quadros pintados com o seu rosto não são o suficiente para preencher o vazio que há em meu coração, as minhas tintas não são o suficiente para me completar. Eu preciso de você, Jin, mais do que qualquer coisa, mais do que tudo, eu preciso de você.

Aquele era o quinto copo de whisky, em trinta minutos. Como todas as semanas - desde a sua partida - naquela noite eu parei em um bar qualquer. Já havia perdido a conta de quantas vezes minhas noites terminavam em bancadas de bares, rodeados por copinhos de bebida alcoólica. O pincel e as tintas não conseguiam mais ocupar a minha mente, porque tudo naquele apartamento me lembrava você. Seu cheiro ainda habitava fortemente nos travesseiros e lençóis da cama, assim como no restante da casa. Todas aquelas tintas me lembravam das vezes em que nós começávamos a brincar de jogar o líquido colorido um no outro, o que resultava em belas pinturas espontâneas para a minha galeria. Aquelas cores sempre me lembravam você, porque eu te via como um ser humano repleto de todas elas, você estava sempre de bom humor e animado, sua aura parecia extremamente viva sempre e  com você, Jin,  não havia dia ruim.

Mas você se cansou.

Cansou da minha falta de carisma e sensibilidade com você, cansou de eu ser totalmente inexpressivo contigo. Apesar dos nossos momentos maravilhosos, na maioria das vezes eu sabia que você estava sentindo falta de três palavras essenciais em qualquer relacionamento: eu te amo.

Sempre fui desse jeito, difícil de expor sentimentos. Por isso virei um artista. Através dos meus quadros eu mostrava ao mundo todo os meus sentimentos, minhas emoções. Porém, você sentia falta dos dizeres de verdade. Por mais que eu pintasse quadros seus, ou até nossos, você sentia falta da minha voz ao me declarar.

A única vez que eu disse que lhe amava, foi quando eu lhe pedi em namoro. Foi a primeira e a única vez em que eu havia feito isso. E se eu soubesse que eu ia ficar longe de você, por uma atitude tão besta, eu teria dito todos os dias o quanto eu amo você, o quanto eu preciso de você e o quanto não o quero longe.

Realmente, eu estava a ponto de enlouquecer.

Virei o sexto copo de bebida, sentindo-a passar queimando pela garganta. Procurava afogar as mágoas nas bebidas, passava quase duas horas no bar para ficar bêbado, só pra esquecer que eu não o tinha mais em meus braços. Só para esquecer, por algumas horas, que eu o perdi…

Isso não adiantava no final. Quando eu acordava no dia seguinte, largado na cama, a primeira coisa que eu processava era o seu rosto. Acordava desesperado procurando seu corpo no meio das minhas cobertas, mas nada encontrava. E de novo, eu me sentia sozinho e desamparado.

Era a mesma coisa todas as semanas. Estava acostumado, desde quando você partira eu procurava alguma distração em bebidas alcoólicas.

Não aguentava mais aquela situação. Paguei a conta do bar e me levantei, cambaleante. Não esperei troco, apenas sai daquele local imundo, tentando equilibrar meu corpo no chão. O álcool já estava fazendo o efeito desejado.

Senti minha visão ficar turva lentamente, minha cabeça estava zonza e eu já não distinguia mais as coisas ao meu redor. Tudo ficava preto, e só o que eu pude sentir foi o meu corpo baquear no asfalto gelado.

…

Tudo estava escuro, e estranho. Meu corpo estava dolorido, talvez pelo tombo mais cedo.

Eu não fazia ideia de onde estava, do dia e da hora, só lembrava do bar e de tudo ficar completamente turvo e escurecido.

Sentei-me na cama, estava coberto e com roupas limpas. O que me deixava muito mais confuso ainda. Aos poucos, fui reconhecendo o ambiente em que estava e todas aquelas coisas me pareciam cada vez mais familiares.

Meu mural de fotos, minha mesa de estudos, e minhas principais obras. Eu estava no meu quarto, e não fazia ideia de como havia chegado ali.

Sai da cama o mais rápido que consegui, e decidi procurar pela casa. Alguém deve ter me achado e só podia ser algum dos meus amigos.

As coisas estavam como as deixei pela manhã. As tintas, as telas, as incontáveis xícaras de café espalhadas pelos mais variáveis cantos da casa.

Mas havia uma coisa que era nova, e que na minha concepção, apenas retornou ao seu devido lugar. Kim Seokjin.

Meu coração palpitava, e eu sentia que estava vivo novamente. Tudo isso apenas por vê-lo. Nossos olhares enfim se encontraram e depois de todo aquele tempo, Jin continuava o mesmo. Eu podia ver seu brilho natural, a cor dos seus olhos, aquela forma doce de olhar. O mesmo Seokjin pelo o qual me apaixonei perdidamente, e continuaria me apaixonando sempre.

— Você acordou, Namjoon. Que bom. — seu tom era amigável. Não havia raiva, ressentimento ou amargura.

Eu não sabia como agir. Minhas mãos suavam, meu coração palpitava muito e eu tinha quase certeza que minhas pupilas estavam dilatadas. Sua voz continuava a mesma, doce e suave. Como eu fui tão tolo e o fiz sumir da minha vida?

Decidi seguir meus instintos e fazer o que eu tanto sentia falta.

Me abrace forte, me abrace.
     Você confia em mim?

Corri para Jin e o envolvi em meus braços. Eu não sabia qual seria sua reação, mas sentir seu corpo junto ao meu, sentir aquele perfume novamente… Fez tudo valer a pena. Aos poucos, senti seus braços rodeando meu corpo também, e só o que eu sabia fazer era chorar.

Chorar lágrimas que eu prendi por tanto tempo. Aquelas pequenas gotas levavam de mim saudade, solidão e alívio.

Eu o tinha novamente em meus braços, pelo menos por mais uma vez. Mesmo que não durasse uma eternidade, ter Seokjin de volta pelos menos por um momento, já acalmava meu coração desamparado.

Seu abraço, seu calor, seu coração.

— Eu estou aqui, Namjoon. E não sairei mais do seu lado.

Tinha medo de abrir os olhos novamente e tudo aquilo ser mais uma de minhas ilusões. Mas a sua voz parecia tão real. Ela me acolhia, como sempre fizera.

— Jin… Por favor. Me perdoe…. — as palavras saíam pausadas. Não tinha fôlego pra falar tudo claramente, mas ele entendeu.

— Está tudo bem, Nam. Tudo bem…

— Eu senti tanta a sua falta…

Eu sentia sua mão afagar meus cabelos loiros. Aquele carinho que eu tanto senti falta.

Me separei consideravelmente de Jin, e selei seus lábios. Lábios esses que eu sentia tanta falta, de tocar, de morder, de beijar.

Eu sentia falta de tudo nele.

— Eu te amo, Kim Seokjin.

Você ainda brilha
Você ainda é como uma flor perfumada

De fato, Jin. Você ainda continua o mesmo. E eu nunca mais irei te deixar partir.

Porque eu preciso de você, pra viver, pra respirar, para colorir minhas telas brancas.

Preciso de você para ser as cores que colorem meu coração preto e branco.