Combustível. escrita por Lumosss


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Vida de Luisa


Notas iniciais do capítulo

Olá futuros leitores! Tenho esta estória escrita há algum tempo, e finalmente decidi compartilhá-la com o mundo! Espero, de coração que gostem!

Beijinhos.



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Medo. Sempre tive medo. Uma fobia gigantesca de viver. Mas isso tem uma explicação lógica: pais super protetores. Mamãe tinha medo do mundo, das pessoas e dos machucados que a vida poderia fazer em sua única filha, eu. E, mesmo que inconscientemente, fui tomando esse medo como meu. Com o tempo, esse medo foi diminuindo, à medida que ia conhecendo coisas novas, pessoas novas... Foi então que resolvi sair do ninho, sair daquela cidadezinha no interior do Rio de Janeiro para me aventurar na grande São Paulo.  Papai dizia que aquilo era uma provocação, um jeito de deixar minha mãe a mercê de um ataque de nervos, e ela sem perder a oportunidade, dizia que minha ingratidão estava superando todos os limites. Pais... Sempre tão preocupados. Eu não tiro a razão deles, afinal, sou filha única, sempre fui muito apegada a eles, mas sou uma adulta! Preciso ir atrás de meus sonhos, preciso abrir as asas e voar, me jogar no mundo! E, apesar das boas faculdades no Rio, São Paulo sempre me fascinou, e meu grande sonho era entrar para a Universidade de São Paulo.

Lembro com clareza a expressão séria de meus pais naquele dia de mudança. Papai me olhava sério, com os braços cruzados e mamãe ensaiava sua melhor cara de cãozinho sem dono.

— Você tem certeza disso, Luisa? A Federal do Rio é uma ótima universidade também! - Mamãe dizia com a voz trêmula, segurando firmemente o choro.

— Eu já falei que sim, mãe! Gosto de São Paulo, é um lugar legal. - Falei enquanto empurrava a mala para dentro do carro do meu namorado.

— É um lugar perigoso, isso sim! - Papai disse com sua voz autoritária. Se eu tivesse cinco anos, eu morreria de medo daquele tom de voz.

— O senhor tem que parar de achar que São Paulo é aquilo que você vê no jornal, seu Henrique! - Virei para ele, imitando a pose dos braços cruzados.

— Lu, vamos? Tá na hora. - Meu namorado disse um pouco hesitante.

— Vamos, amor. - Sorri para ele, logo voltando para abraçar meus pais. - Eu amo vocês, vai dar tudo certo. Volto em Julho! – Beijei o rosto dos dois com pressa e logo entrei no carro do Léo.

À medida que o carro ia se distanciando de casa, eu sentia a liberdade cantando para mim. Abri o porta-luvas do carro e peguei o maço de Marlboro e o isqueiro e logo acendi um cigarro, apoiando o braço para fora da janela.

— Foi uma despedida com bastante drama, cê num achou? – Léo disse sem tirar os olhos da rua.

— Porra, nem me fale. Me diz, precisava de tudo aquilo? – Respondi dando outra rápida tragada no cigarro.

— Ah, Lu, você tem que entender que eles só estavam preocupados. Você é a menininha deles, especialmente do seu Henrique, e eles só querem o seu bem – Ele disse dando um sorriso delicioso para mim. Léo achava engraçado o jeito que meus pais me tratavam como uma menininha.

— Eu entendo, juro! Mas entender não muda o fato de que isso enche o saco! Eu já tenho vinte anos, eu preciso viver! A única coisa errada que eu fiz até hoje foi sujar meus pulmões e transar! Garotas de vinte anos fazem coisas muito mais legais que isso! – Era triste, mas era verdade. Nunca tive a oportunidade de aproveitar a maioridade. Até agora.

— Espero de verdade que essas “coisas legais” que cê vai fazer não envolva outros caras. – O sorriso do rosto de Léo se transformou numa linha reta.

— É claro que não, idiota! Cê ainda não percebeu que eu te amo? – Não consegui conter o riso, era fofo ele com ciúmes. Retribuí aquela “fofura” com um beijo bem dado em sua bochecha.

Léo e eu estávamos juntos há quase seis meses. Ele era dois anos mais velho que eu, tínhamos nos conhecido no curso de inglês há alguns anos. Ele se tornou meu melhor amigo, apesar de estudar em outro colégio. E aí você já sabem o resto da historinha de romance clichê: rolou aquela paixão, a primeira ficada, as juras de amor sem fim... Mas posso ser sincera? Eu não queria casar com o Léo. Não queria ter filhos e não me imaginava passando o resto da vida ao seu lado. Mas claro, eu nunca disse isso a ele. Eu gosto dele. Gosto muito dele... E apesar de dizer sempre os “eu te amo” da vida, não sei se o que eu sinto é realmente amor, mas eu gosto de ter ele por perto. Ele é lindo e engraçado e era muito inteligente, além de ter os olhos verdes mais lindos do Brasil. Acho que sou encantada por ele. Muito encantada...

— Ei, Lu. – Léo me tirou de meus pensamentos sobre nosso relacionamento. – Nós vamos dar um jeito, né?

— Hein? – Eu não estava me fazendo de sonsa. Eu realmente não tinha entendido a pergunta – Dar um jeito em que, amor?

— Na distância – Ele suspirou. Estava tentando se manter calmo em vista da minha lerdeza de assimilar frases.

— Ah... – Respondi passando o dedo indicador no lábio e olhando para fora da janela. – Claro que sim, que pergunta mais boba.

Não. A pergunta não era boba. Eu era. O Léo realmente ficou chateado. Era difícil, principalmente pra ele, essa história de morarmos em estados diferentes. E eu sinceramente entendo a preocupação dele. Eu tinha feito uma faculdade antes de querer ir para São Paulo, e a vida de universitário é uma putaria. Não é um “American Pie”, mas as festas, a bebedeira e as drogas são reais... Apesar de eu nunca ter participado de nada disso, porque meu pai ia me buscar na porta da universidade. Mas eu não estava pensando em sacanear o Léo. Eu estaria mentindo se dissesse que não tenho vontade de ir a festas ou até experimentar a famosa marijuana, mas traição nunca esteve na minha listinha de diversão. O Léo já era formado, estava fazendo mestrado em biologia marinha, mas a diferença foi que nos finais de semana, nós ficávamos juntos e ele quase nunca saía com os amigos... Pensando agora, será que ir para tão longe e querer “viver a vida” é um tipo de traição? Talvez seja só coisa da minha cabeça.

Olhei para o Léo e ele estava sério, concentrado na direção do carro e avoado em seus pensamentos ao mesmo tempo. Porra, será que ele tá pensando que eu não ligo pro nosso namoro ou pra distância?

— Ei... – Disse baixinho, tirando ele dos pensamentos, sejam eles bons ou ruins. – Nós vamos dar um jeito. Nós não vamos terminar por causa de uma distância idiota. – Segurei sua mão que descansava no câmbio e dei o meu melhor sorriso acolhedor.

— Valeu, gatinha. – Ele olhou rapidamente pra mim e sorriu. Eu gostava do seu sorriso.

Passamos o resto daquela viagem de 12 horas ouvindo os MPBs no pen drive do Léo, conversando e comendo as porcarias que compramos num posto de gasolina no meio da estrada. Eu realmente me sentia livre, feliz e totalmente realizada. Era incrível aquela sensação de “semi independência”. Sim, semi. Meus pais pagariam meu aluguel, então não sou totalmente dona do meu nariz... Por enquanto, porque eu estava indo com planos de arranjar um emprego o mais rápido possível. Meu pai não gostava da ideia de eu ser totalmente independente. E na verdade eu sabia o porque, ele se sentia útil em me ajudar. Ele ainda queria cuidar da “menininha”, independente do jeito que fosse. E essa é uma das raras que eu agradeço a preocupação exagerada do meu pai, porque sem o apartamento, eu não teria condição nenhuma para ir pra São Paulo.

Lembro que dormi o resto da viagem e acordei com o Léo passando a mão em minha coxa devagar.

— Lu, acorda. Estamos em Sampa. – Ele disse sorrindo.

Eu acordei ainda meio desnorteada e me ajeitei no banco do carro, abrindo a janela pra sentir a brisa quente que vinha da cidade.

— Que cidade linda! – Disse me espreguiçando devagar. – A verdadeira cidade maravilhosa é São Paulo.

— Discordo. – Léo deu uma risada alta e gostosa. – A cidade maravilhosa continua sendo o Rio, você sabe disso, gata.

É, ele tinha razão. O Rio ainda era o meu estado maravilhoso, apesar de toda a minha devoção por São Paulo. Eu estava me sentindo completa, feliz e realmente muito realizada. Eu provavelmente parecia uma criança admirada com aquela cidade, eu podia ouvir a risada do Léo, com certeza achando a situação “fofinha” como ele mesmo diria. Apesar de estar incrivelmente feliz, uma sensação ruim me acompanhava. Eu iria deixar o Léo sozinho no Rio. Eu não era ciumenta, nunca fui. Odiava essa merda de ciúmes, mas naquele momento, a ficha caiu e confesso, senti ciúmes. Um ciúmes que não era meu. Oh, merda.


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