Weiss Schnee costumava se orgulhar de estar sempre no controle, de planejar e executar com a mais absoluta precisão e perfeição todos os seus movimentos. Acostumada a ter todas suas vontades atendidas, sem ser questionada e, muito menos, contrariada. Controle sobre situações frente aos outros, e acima de tudo, controle sobre seus sentimentos. Era, afinal, a herdeira Schnee. Sabia que estava destinada à nobreza, assim como, também, à solidão.

Mas Weiss queria mais. Queria propósito, sentido, algo que a levasse além do que supostamente deveria ser. Tornar-se uma Huntress era o início de uma nova vida. Era uma afronta ao que todos esperavam dela, principalmente seu pai. Estar em Beacon significava para Weiss oportunidades, reconhecimento, mudanças e, essencialmente, liberdade. Ela só não esperava que Beacon também representaria desconcertos.

Schnee era um sobrenome reconhecido em todos os quatro reinos de Remmant, e que geralmente empunhava respeito, assim foi com certa surpresa que Weiss se viu sendo confrontada por alguns estudantes e professores. Blake e Yang a mobilizavam, exigiam de Weiss uma postura diferente, uma em que ela fosse quem ela era. E era bom e funcionava, mas Bumblebee nunca foi capaz de fazer Weiss perder a compostura. Não, a única pessoa que conseguia a proeza de fazer Weiss Schnee perder o controle era a little red: Ruby Rose.

Ruby era desconcertante. Desde que Ruby esbarrou nela, no primeiro dia em Beacon, Weiss soube que aquela criança causaria um reboliço na sua vida. Ela só não imaginava como isso ocorreria. Ruby a desafiava. Sempre a desafiou. Era a única que conseguia tirar Weiss do sério e do seu eixo. Primeiro, testando sua paciência com tamanha hiperatividade. Ruby Rose era uma explosão de ânimo e de vontade para encarar o que quer que fosse. Weiss a admirava por isso, por lutar pelo que queria e não desistir; mas também a preocupava, já que a impulsividade de Ruby a colocava muitas vezes em perigos que poderiam ser evitados.

No início, a insistência de Ruby em se tornar sua amiga, em estar sempre por perto, a incomodava. Porque Ruby a provocava a sempre dar mais de si e mostrava genuíno interesse em estar perto. E você estava acostumada à distância que todos com os quais se importava colocavam entre você e eles. Era assim com seu pai e era assim com Winter. Você se habituou a não esperar proximidade, e obter controle sobre suas emoções, a disfarçá-las muito bem. Mas não era assim com Ruby.

Little red era passional, teimosa e com coragem suficiente para encarar você. E esse confronto fazia Weiss Schnee não se reconhecer, ao ponto de se permitir afetar e revidar às provocações da líder do seu time. Era exaustivo tentar lutar contra. Weiss sabia que se importava com Ruby Rose, até mais do que poderia admitir. Passou a ser apenas divertido implicar com Ruby, negar que era sua amiga, só para não encorajar o comportamento exibicionista dela.

E da diversão algo mais sério se sobressaiu. Weiss Schnee não queria mesmo ser amiga de Ruby Rose. Não queria ocupar o posto de melhor amiga. Ela queria ir além disso. Ela queria mais. Admitir isso para si foi um desafio do qual Weiss não fugiu. Ela poderia admitir para si que só queria ser mais gentil com Ruby, que eram apenas boas companheiras de time, que formavam uma excepcional dupla. Mas a verdade, Weiss sabia, que era além disso. Blake e Yang eram suas amigas. Ruby sempre foi algo mais. Elas sempre foram algo a mais. Dois opostos que gravitavam em torno de si por mais.

Weiss não acreditava em destino, porque implicava que não teria controle sobre o mesmo. Ela acreditava que as escolhas feitas construíam um destino. E a verdade, era que Weiss escolheu querer estar destinada a ser uma Huntress porque ela se importava com as pessoas; escolheu se tornar uma pessoa com honra e nobreza para levar além o nome de sua família; escolheu estar, lutar e defender Blake, Yang e Ruby; e, ela não poderia negar, Weiss escolheu querer estar destinada a Ruby.

O desconcerto estava presente em admitir seus sentimentos para Ruby. Porque enquanto os tinha reservados a si, Weiss tinha controle sobre a situação. Revelar a Ruby a verdadeira natureza do que ela a fazia sentir é o que desconcertava Weiss. Ruby não empurraria sua amizade para longe, não. Ela era grandiosa demais para isso. Mas Ruby poderia não corresponder aos seus sentimentos, e Weiss teria que encarar novamente a solidão. E o efeito da ausência de Ruby, ela sentia que não poderia controlar. Assim como não poderia controlar mais as incertezas. Ruby sempre a desafiou, a desestruturou; e por isso, Weiss deveria abandonar a cautela e se aventurar na impulsividade de sua paixão. Deixar de lado a pose de Ice Queen e ser apenas Weiss. Ser tão sincera com Ruby como ela era consigo.

Era Ruby que sempre aparecia com planos para algo, seja quando vocês estavam em missão ou para uma atividade qualquer. Dessa vez, o plano tinha sido seu. Ou na verdade, a falta de plano. Era apenas o dormitório de vocês. Você tinha enxotado Blake e Yang para a biblioteca, para poder estar só quando Ruby aparecesse. Da janela do dormitório podia-se ver o pátio vazio, ocasionalmente, apenas Nora aparecia pulando entre Ren e Jaune, provavelmente com mais alguma brincadeira em mente. Estava tudo tão quieto que foi com um susto que percebeu a porta do dormitório sendo aberta.

− Weiss! Hey! – Ruby tinha acabado de entrar no dormitório de vocês. E como sempre se jogado em sua beliche. – Yang e Blake onde estão? – Aqueles únicos olhos prateados direcionados a você.

− Biblioteca. – Você responde no automático, ainda buscando uma forma de falar o que tem para falar sem enrolar. – Ruby, eu... −

− Jogando “Conquiste Remmant” novamente?! YEAH! Vamos lá! – Ruby interrompe, já levantando e puxando você pela mão para fora do dormitório.

− RUBY! Espera. – Seu tom de voz sai como uma ordem e vocês param no meio do dormitório. − Me escuta. Eu preciso falar com você. – Ruby está te encarando, novamente te deixando desconcertada com aquele olhar. Weiss desvia os olhos, encarando suas mãos ainda unidas.

− Ok... O que foi, Weiss?

− Eu... Eu acho que... Não, eu sei. Eu−

− Weiss! Apenas diga. – Ruby aperta sua mão e você suspira. Esse pequeno gesto, que mostra que você não está sozinha, que Ruby está sempre ali é o que basta para acalmar sua mente e coração.

− Ruby – Você retribui o aperto em suas mãos e encara aqueles olhos prateados tão intensamente como pode. E sorri. Ruby abre a boca para falar novamente, mas antes que ela lhe interrompa novamente, você a silencia com um dedo em seus lábios. Aquelas orbes prateadas se arregalam antes de se esconderem em um fechar de olhos. – Não ouse me interromper. E olha para mim.

Ruby abre os olhos assim que você termina de falar. E te olha de uma maneira que você sabe, e ela sabe, que é capaz de desvendar sua alma.

− Eu gosto de você, Ruby Rose. Mais do que gosto. Eu amo você.

Está dito. A maior verdade e o maior desejo de Weiss Schnee. Você disse. A resposta a sua revelação vem impressa no brilho daqueles olhos prateados que te olham com tanto carinho e no forte aperto que não desgruda da sua mão. E que agora te puxa para mais perto. É absolutamente natural quando suas bocas se encostam, e seus olhares se escondem para desfrutar do quão certo, e esperado, é aquele beijo.

Quando vocês se afastam um pouco, Ruby está te olhando novamente. E o único que faz é aproveitar essa proximidade.

− Weiss. Eu também amo você.

Você se segura naquela mão e naquele olhar porque sabe que sempre estará segura lá, nunca estará só. Não há mais desconcerto. Weiss Schnee está onde queria e deveria estar. Com Ruby Rose. Como é para ser.