Control escrita por Brave


Capítulo 1
Único: I can't help this awful energy




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And I tried to hold these demons inside me

My mind's like a deadly disease

 

O líquido queimava em suas veias, fazendo seu corpo dar espasmos. Assim que esvaziou a seringa, pegou outra ligeiro, já previamente preparada. Repetiu o processo quatro vezes, brincando com a sorte. A sala começou a girar ao seu redor, porém ainda estava lá. Esfregou os olhos, na esperança do efeito ocorrer com mais rapidez, sem sucesso.

Sem paciência, se levantou, derrubando a mesa auxiliar ao lado da cadeira. Escorando-se, chegou às gavetas, procurando mais Soro, mas este já havia sido todo consumido (por ele mesmo, por sinal). O lugar ainda se movimentava, como se estivesse vivo, uma comparação cômica, senão trágica. As paredes soltavam gemidos de dor e o chão se contorcia. Em contraponto, o corpo de Tris ainda estava estático em algum lugar sob seus pés.

Tobias já não aceitava ser chamado de Quatro. Ele não tinha mais Quatro medos. Na verdade, ele não possuía mais medo algum. Pelo contrário. A morte havia transfigurado aquele herói, homem que a todos protegia, em um demônio. Seus olhos serenos agora viviam esbugalhados. Seu corpo equilibrado se descontrolava com o menor dos barulhos.

Passava seus dias trancafiado naquela sala, ninguém ousava interrompê-lo. O soro que ingeria era uma mistura daqueles que dominava antes da revolta. Sua genética danificada era facilmente contaminada por esse novo composto, mas até esse começava a mostrar fraqueza nos efeitos.

Desesperado para fugir de sua realidade, começou a procurar por uma estela, ou qualquer coisa que pudesse servir como uma. Dentre todas as opções possíveis, escolheu um bisturi. Esticou o braço, todo marcado em veias pulsantes, reagentes ao corpo estranho recém ingerido. Tentou reproduzir a única runa que conhecia sob a pele, usando seu próprio sangue como tinta.

Funcionou.

Ao ver aquela imagem formada, o cérebro se recuperou e tomou o controle da situação. Seu peito voltou a subir e descer lentamente, até o movimento se tornar imperceptível. Ajustou a postura e soltou a estela luminosa na escrivaninha ao lado da cama.

Seu quarto no Instituto era muito parecido com o de quando era somente um instrutor no Destemor, mas não se demorou neste. O corredor estava vazio, mas isto era comum, os Caçadores de Sombras não ficavam na área dos dormitórios durante o dia. Desceu as escadas com um pique que só encontrava nesse mundo. Provavelmente porque ela só existia nesse mundo.

Conforme chegava aos andares térreos, começou a ouvir os barulhos de treinamento e apressou o passo, ansioso para chegar à origem. Contudo, os sons vinham de Christina e Will, que praticavam sozinhos em uma sala. Tobias se desculpou envergonhado com um meio sorriso nos lábios e fechou a porta, de volta à busca. Não sabia quanto tempo ficaria por ali e tinha que aproveitar de uma boa maneira.

Encontrou-a lutando com o irmão na arena aberta. Seus cabelos loiros estavam do tamanho de quando eles se conheceram e voavam enquanto ela se esquivava dos golpes opositores. Beatrice sorria enquanto tentava derrubar o irmão. Pareciam maia duas crianças no recreio do colégio do que dois soldados treinando para a batalha.

Ela foi derrubada, mas levou o irmão junto, explodindo em risadas. Tobias também sorriu, contagiado pela vivacidade da mulher, que se levantou ao notar o namorado. Foi beijá-lo enquanto esticava os músculos.

— Temos uma missão hoje. – Anunciou ao secar o suor do rosto.

— Podemos dar um relaxada antes? – Ele perguntou com uma careta abraçando-a.

Desde a primeira vez que estivera ali, Tobias sabia que nada daquilo era real. Era apenas um sonho. Porém era o sonho mais real que consegui criar. Aqueles tais Caçadores de Sombras, o seu trabalho era matar os demônios em  sua cabeça.

Enquanto isso, ele ressuscitava Tris. Sua pele, seus olhos, sua voz, tudo era uma combinação perfeita de suas melhores memorias. Ele podia segurá-la, apertá-la em seus braços, protegê-la daquilo que não foi capaz de proteger na vida real.

Mas também, lá ele era um geneticamente danificado influenciável e fraco. Qualquer um poderia lhe injetar um liquido qualquer o dominá-lo.

Ali não. Ali era um guerreiro. Conhecia as Runas de Raziel, dominava sua Lamina Serafin, e, o mais importante, ainda tinha Tris. Ela era sua cura, sua pureza, seu motivo para continuar matando demônios, mesmo que eles continuassem a nascer feito coelhos.

Entretanto, sua mente funcionava diferente de seu corpo. Seu organismo lutava contra os alucinógenos ingeridos, causando rápidas falhas na realidade alternativa. A mão que apoiava na cintura de Tris atravessou o ar, mostrando sua intangibilidade. O terror percorreu o rosto de Tobias, precisava de mais tempo.

— Acho melhor aproveitar o tempo conversando. – Ela se afastou dele, sem notar que ficou alguns segundos sem corpo físico. O homem fez sinal para ela continuar. – Eu e o Caleb temos uma missão hoje. Você vai ficar.

— Mas eu sou o seu parabatai, nós temos que ir juntos. – Suas sobrancelhas frisaram, confuso.

— Você é meu parabatai. – Tris repetiu com um sorriso triste. – E também é o meu amor. – Percorreu o rosto dele com as mãos enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Tobias abriu a boca para perguntar, mas ela pousou um dedo sobre seus lábios. – Eu te amo, sempre vou te amar. E é por isso que eu deveria ser aquela faz isso, mas eu… Eu não tenho coragem. – Secou o rosto com as costas da mão. Fê-lo olhar no fundo de seus olhos. – O nosso dever é matar demônios. – Afastou-se com dor. – E você está cheio deles.

Alguns dias depois. O corpo de Tobias foi encontrado em sua sala, um bisturi perfurado em seu pescoço, diretamente na veia jugular. Seus olhos ainda refletiam a ultima imagem capturada: o brilho das lagrimas de Tris mostrando Caleb o apunhalando pelas costas.

 


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