Harry Potter And The Slytherin Tale escrita por DewDrop-chan


Capítulo 5
Near, But No Rather…


Notas iniciais do capítulo

O que você sente ao pedir desculpas?



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A beira do Lago Negro estava congelada e pequenos flocos gélidos se desprendiam do alto daquele céu matutino. Era curioso como Hogwarts, apesar de ser uma escola de bruxos em todas as estações do ano, emanava um esplendor especialmente mágico durante o inverno. Ele respirou fundo e acomodou-se ao lado de Selene à margem do lago, sentindo um calafrio nas pernas ao encostar-se àquele tapete branco de neve. Dentre as opções disponíveis, decidira ir atrás dela – era a coisa certa a ser feita. Mas às vezes a coisa certa parecia tão desagradável ao orgulho...
– Me escuta, só escuta, tá bom? Se fizer isso eu prometo que se não quiser você nunca mais vai ter que olhar a minha cara!
– Muito bem, Potter, explique-se. Vou lhe dar cinco minutos.
Enquanto sua mente pensava em algo a dizer, as inquietas mãos do bruxo trabalharam sozinhas e apanharam alguns pedregulhos do chão, comprimindo-os contra os dedos. Ele não estranhou que ela houvesse fixado os olhos em seus punhos, observando tal ato quase involuntário. Por outro lado, estranhou o olhar. Era o mesmo de quando se conheceram, mas, analisando melhor, aquilo não era arrogância... era algo mais profundo, uma junção de malícia e inocência simultâneas que produziam aquele brio natural. Uma coisa rara, e tão encantadora quanto um conto de fadas. Se fosse obrigado a elogiar qualquer qualidade de Draco Malfoy, Harry escolheria seu gosto para garotas.
– Olha, sobre Fred e George...
– São idiotas. Nem tente me convencer do contrário.
– São mesmo, às vezes. Mas é só porque eles não sabem quando parar, têm senso de humor demais, sabe?
– Na verdade, não.
– Bom, só pra você ter idéia... Lembro de quando professora McConagall me chamou pra ser apanhador da Grifinória, eu estava no 1°ano e nunca tinha jogado quadribol na vida, fiquei com um pouco de medo. Mas quando Fred e George descobriram, vieram falar comigo...
– Tentando fazer você se acalmar, suponho.
– Antes fosse!...
Jogou os pedregulhos para a frente, um por um. O primeiro bateu na fina crosta de gelo da orla do lado, outros tantos foram mais além e afundaram na água com baques molhados.
– ...Eles me fizeram ficar apavorado! “É um jogo duro, o quadribol. Brutal, mas ninguém morre há anos, alguns desaparecem de vez em quando... Mas reaparecem, com um ou dois meses”!!
– Hunf. – ela abriu um sorrisinho de escárnio – Eh... Você é mesmo péssimo nisso.
– No quadribol?!
– Não. Nos lançamentos.
– Hã?
Ante a expressão confusa de Harry, Selene catou uma pedrinha no chão e a arremessou também. Quicou três vezes na superfície da água.
– Como você fez isso?
– É questão de pulso. Tente deixar os movimentos mais soltos.
Harry aceitou a pedrinha que a garota lhe estendeu e jogou no Lago; mas a pedra não quicou nenhuma vez, apenas afundou como... uma pedra. Selene riu.
– Hehe, tem razão... Eu sou péssimo nisso. – ele riu também.
– Só precisa de prática.
– E você “pratica” muito?
– Não exatamente. – ela disse, abrindo um sorrisinho discreto – Tem um lago perto da minha casa. Eu costumava fazer ‘competições’ com meu pai quando era pequena. Certas coisas a gente aprende e não esquece nunca...
– Como andar de bicicleta?
– Bicicleta? Isso é alguma invenção nova?
– Hã... não exatamente. É antiga. Uma invenção trouxa.
– Sei...
– Posso lhe ensinar a andar em uma se quiser.
– Quem sabe uma outra vez.
– Você falou de um lago perto da sua casa... Como é o lugar onde você mora?
– Vai soar estranho se eu disser que não moro na minha casa? – pela expressão que Harry fez, a resposta mais provável seria um “sim” – Pois bem, não moro mesmo, desde que entrei para Hogwarts. Estou morando com meus tios e meu primo.
A expressão esquisita de Harry triplicou em seu rosto. Por um instante lembrou-se da casa dos Dursley, na pacata e trouxa Rua dos Alfeneiros 4, onde morava durante os tormentosos meses das férias de verão juntamente aos tios Valter e Petúnia e o primo Duda. Seria algo assim com Selene também? Provavelmente não, ele não conseguia imaginar mais ninguém que não fosse um bicho papão e houvesse vivido até os onze anos dormindo em um armário sob a escada. Chutou as lembranças desagradáveis para longe. Qualquer semelhança era mera coincidência.
– Mas por que você mora com seus tios?
– Minha mãe tem uma loja de roupas em Liverpool, mas o que ela gosta mesmo é viajar. Itália, Alemanha, Rússia, Portugal... É raro que passe um mês no mesmo lugar. Eu não conseguiria ficar com ela, me apego demais a aqui.
– E... e o seu pai?
Selene olhou para ele como se estivesse vendo um ET.
– Que foi?
– Você não lê jornal, Potter? Dê uma olhada na edição de sábado de O Profeta de três semanas atrás, vai achar uma foto do meu pai na segunda página.
Harry já havia dado uma olhada naquela edição, vira outro estudante ler na última visita a Hogsmeade e conseguira um exemplar para ver melhor um informativo sobre dragões na página 7. Meio curioso, ele ficou mudo por um instante enquanto Selene continuava a falar.
– Engraçado, você me faz tantas perguntas e eu não consigo pensar em quase nenhuma... Ser famoso tem alguns efeitos colaterais, não é, Potter? É reconhecido em todos os lugares, todos conhecem a sua história... E a história do menino-que-sobreviveu ainda vai ganhar mais um capítulo, sobre o Torneio Tribruxo...
– Eu não sou o “menino-que-sobreviveu”! Sou o Harry! Só o Harry, entendeu?!
Simplesmente odiava quando o chamavam assim; nunca pedira para ser famoso, nunca mesmo, e não gostava de ser. No impulso, abandonou a posição em que estava sentado e se inclinara na direção dela.
Ele por um segundo estivera vermelho de raiva; agora estava vermelho sem-graça. Vistos àquela distância, os lábios de Selene lembravam duas pétalas de rosa. O tempo frio fazia a respiração sair visível em pequenos tufos de vapor esbranquiçado, e os rostos dele e de Selene estavam tão perto que as nuvenzinhas que produziam agora cruzavam-se no ar. Ela disse alguma coisa, mas ele não a ouviu, apenas permaneceu ali, paralisado naquela posição estranha que poderia tornar-se um beijo caso avançasse mais alguns míseros centímetros – sem nem ao menos saber por que seu corpo não lhe obedecia quando o mandava se mover – por um meio minuto que lhe pareceu meia hora...
– D-desculpe...
Disse sentando-se outra vez na neve do modo como estivera a poucos instantes, tão escarlate quanto um caqui.
– Tudo bem... – ela respondeu, ligeiramente corada.
Harry! Aí está você! Por onde andou?! Eu...
O bruxo virou-se, um tanto surpreendido pela voz vinda de trás, e encarou a face ofegante de Hermione. Hermione Granger estava descabelada e trazia as maçãs do rosto incrivelmente avermelhadas, sintoma de quem corre mais que o costume sem preparo prévio.
– ...Eu... Interrompi alguma coisa?
– Hã? Ah, não, não... Nada de mais. – Harry buscou com o olhar uma confirmação de Selene; a bruxa de trança apenas assentiu discretamente com a cabeça.
Hermione não pareceu convencida, mas também não insistiu.
– A gente estava procurando você há um tempão! Por que sumiu, cara? Esqueceu do que a gente tinha combinado? – Rony exclamou, tomando a dianteira.
Foi somente ao ouvir a frase do amigo ruivo que ele percebeu que Hermione não viera sozinha, muito pelo contrário. Ela estava acompanhada por quase metade do 4° ano grifinório, além de alguns alunos de anos diferentes. Aquilo parecia um batalhão. ...Quer dizer, um batalhão de adolescentes arfando exaustos de tanto vasculhar Hogwarts de cima a baixo à procura do colega “sumido”. Fred e George tinham suas figuras altas e idênticas destacadas ao fim do grupo, tiritando de frio por conta das vestes ainda úmidas. Harry não conseguiu evitar que um riso de estranhamento brotasse em sua face.
– Pra quê o exército?
– Ué, porque nós ficamos preocupados... – disse alguém oculto no meio do agrupamento, pela voz deveria ser Neville.
– Sabe, Harry, eu vi quando você saiu naquela hora, mas não vi bem para onde. – Hermione suspirou – Daí eu vi um monte de alunos da Sonserina usando aqueles broches com “Potter fede” escrito e daí achei que... Bom, nós ficamos com medo de que você tivesse feito alguma besteira.
– Besteira? Que besteira eu faria, Hermione?
– Não sei. – ela deu de ombros – Só pensei... Deixa pra lá, o importante é que você está bem. Vamos?
– ‘Vamos’ aonde?
– À biblioteca, Harry! Desvendar a pista de dentro do ovo!
– Ahn... Mas eu ainda não... – ele fitou Selene, que já se pusera de pé atrás dele; não podia simplesmente fingir que ela não existia e largá-la ali sozinha...
Ene! Tá atrasada, eu rodei a escola toda atrás de você e... que gangue é essa aí?! Estão te incomodando?! – exclamou Cedwick, se aproximando a passos largos acompanhado de mais três estudantes sonserinos prestes a sacar as varinhas.
– Não, ninguém quer confusão aqui, eles só vieram me buscar... Ai, Hermione! Assim não, dói!... Tchau Selene, e desculpa por qualquer coisa, tá? – Harry disse enquanto era puxado pelo braço por Hermione.
– Ei, Harry! – Selene falou ao vê-lo ganhar distância – O que você quer ganhar de natal?
– O mesmo que eles! – indicou os colegas de cachecóis verdes.
Mesmo que entendesse que aquela frase não combinava com nada fora de uma lanchonete ou restaurante, ela fluiu sem que pudesse impedir. Devia estar meio bobo, mas não se importava. Só sabia que ser chamado de ‘Harry’ ao invés de ‘Potter’ lhe dera uma sensação incrivelmente boa.

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