Tudo que escreverei aqui foi tirado de um diário que encontrei na garagem de minha casa quando separava coisas para doação. Resolvi ler ele e posso dizer que tudo que li me deixou realmente encantada.Tragédias e romances. Muitas coisas eu não entendi, outras não dava para ler por estar manchado ou mofado. Mas o que pude recuperar, eu decidi mostrar ao mundo.

FOLHA 1

Eu perdi o meu outro diário e então tive que começar  escrever nessa agenda. Eu realmente não gosto de ficar sem escrever tudo que me acontece. Acho que é uma forma de terapia para mim. Mas também não gosto de datar nada, porque sei que um dia lerei, e quero que faça parte de um passado BEEEM  distante. Hoje eu pensei em  vingança contra as gêmeas. Elas tem me atormentado por tantos anos, e eu sou tão estúpida e medrosa que não faço nada. Pensei em me vingar de alguma forma. Elas não precisam saber que fui eu quem aprontei com elas. Ninguém precisa saber. Estive pensando em colocar minhocas no quarto delas, mas realmente não sei se é uma boa ideia, elas  tem muito medo de minhoca. Então pensei em colocar no quarto de minha madrasta, já que ela também é muito má comigo. Mas papai sempre me diz para respeita-la pois ela faz o papel de minha mãe. Sei que ele não quer substitui-la, mas não gosto de pensar que Melissa é a minha mãe.

As gêmeas me pediram para ir ver uma coisa interessante no quintal ontem, eu estava tentando enxergar uma pedra brilhante que elas disseram estar dentro de uma poça de lama podre , quando elas me empurram com toda força dentro dela. Quebrei o meu nariz e tive que correr para o hospital com minha madrasta, que reclamou o tempo todo que eu na presto atenção em nada, e que da próxima vez ia me deixar lá sangrando até meu pai chegar. Tentei dizer que foram as filhas dela, mas ela não ligou.

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 FOLHA 2

Já fazem dois meses que não escrevo nada aqui. Tenho estado bem ocupada. É outono então o quintal e a calçada estão sempre cheio de folhas e as gêmeas sempre espalham mais ainda, e eu tenho que limpar. E tenho que aguar as plantas. Melissa cismou que quer que eu a chame de “mamãe”. E papai não me entende, eu não posso simplesmente passar a chama-la de mamãe. Ah, semana passada fiz treze anos. Papai me trouxe um colar lindo de presente. : um coração de ouro do tamanho da minha unha do dedo mindinho.

FOLHA 2 - PORÉM OUTRA CANETA

Eu não consigo encontrar o meu colar novo há três dias, papai ficou bem chateado, mas eu tenho certeza que deixei na pia do banheiro. Vou me focar em acha-lo custe o que custar. Ele pertenceu a minha mãe. Eu não queria culpar ninguém, mas tenho quase certeza que foram as gêmeas. Elas não cansam de me irritar, e parece que querem me ver morta. Ficaram me ameaçando com facas hoje de manha, e com máscaras horrorosas. Estou cansada de ficar tão sozinha. Queria a minha mãe.

Depois dessa última frase, a cor da caneta muda, e a letra também muda. De início achei que outra pessoa estivesse escrevendo, mas então percebi que não.

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 FOLHA 3

Oi! Nem sei mais como se faz isso. Faz dois anos que eu não escrevo nisso. Mal escrevi. Hoje é domingo. Tem tanta coisa que preciso contar e ao mesmo tempo não tem acontecido nada comigo. Minha vida tem sido um tédio. Recuperei o colar, estava no quarto das gêmeas como eu imaginava. Eu encontrei um esconderijo dentro do meu guarda-roupa e é lá que eu o deixo. Eu não sabia, mas, tem uma portinha secreta no meu guarda roupas, e também soube que aquele quarto pertenceu a minha mãe. A portinha não tem chave, mas é bem secreta. Dentro é do tamanho de uma caixa de sapato. Também descobri que o me antigo diário tinha sido roubado pelas gêmeas malvadas, e pior, Melissa sabia de tudo. Eu o queimei, mesmo sabendo que elas já haviam lido. E elas espalharam para toda a escola que eu dormia agarradinha no travesseiro fingindo ser o Gustavo do 2º B. Realmente quis morrer, mas fiquei em dúvida se deveria matar elas primeiro. Ele veio falar comigo uns meses depois, e eu disse a ele que aquilo não era verdade, e que elas leram um diário antigo meu onde eu dizia que gostava dele. Só. Ele quis saber se eu ainda gostava, e eu respondi a verdade: que não. Meu pai morreu faz alguns meses e eu tenho me sentido mais sozinha do que nunca. Fora todos os olhares na escola. As pessoas com pena. Eu repeti um ano na escola e estou indo muito mal. As gêmeas agora são da mesma série que eu. Estou no primeiro ano do ensino médio. Faz algumas semanas que eu dei o meu primeiro beijo. Não foi nada mágico, ou com o príncipe da minha vida. Foi com o cara que arruma os DVD´s na locadora que trabalho. Ele agora acha que é o meu namorado. Eu só queria não ser a garota que nunca beijou. Agora quando quiserem saber, eu já beijei. Foi nojento... Mas me orgulho de ter tomado a iniciativa.

Hoje ainda é domingo, mas é que não tenho o que fazer então fico trancada aqui no quarto. Eu decidi que seria menos escrava da Melissa e suas filhas sebosas. E estou pouco me lixando que ela está nesse momento batendo na porta me mandando ir lavar as roupas. Eu mudei a fechadura do meu quarto, e ainda coloquei um ferrolho por dentro, porque assim ela não tem mais como abrir. Melissa está muito brava porque a seis meses, quando meu pai morreu, eu arrumei um emprego. Foi lá na locadora, o que agora está me sendo um problema já que o Augusto ( o cara que beijei ) não sai mais do meu pé. Só encontro com ele nas quartas e sábados porque nossos horários são diferentes, mas queria não encontrar nenhum dia. Quero tentar arrumar um emprego na lanchonete da escola também, aí trabalho no turno da noite.

Tive aula, e tinha um trabalho chato para apresentar, mas que me esqueci de fazer. Escola é o inferno na terra, eu queria largar ela, mas meu pai me pediu para terminar ao menos ensino médio antes de parar de estudar. O Gustavo sugeriu que eu copiasse do dele, mas tive preguiça até pra isso. Só queria entender porque que um cara do terceiro ano, guarda seus trabalhos do primeiro ano. Hoje conheci dois amigos do Gustavo, Léo e André. Dois idiotas se quer saber.

Depois da aula fui trabalhar e o primeiro cliente que chegou no meu horário foi uma mulher que toda semana vem e aluga alguma comédia românica daquelas que todo mundo sabe como começa, como desenvolve e como termina. E ela sempre reclama de algo. Ou melhor, de tudo. Primeiro reclamou que a máquina e videogame do lado de fora da loja estava muito feia, e só tinha jogos violentos . Depois reclamou dos garotos que chegaram para jogar, porque faziam muito barulho. Depois reclamou que não tínhamos novos filmes de comédia romântica, então sugeri que ela alugasse outro tipo de filme, porque ela só aluga os mesmos sempre e seria bom algo novo. E sabe o que aconteceu? Ela me perguntou quem eu era para querer dar palpite na vida dela...