In the Woods escrita por Lady Rosinha


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu já tinha escrito este conto faz um tempo, quando fui remexer meus cadernos antigos eu o reencontrei, achei uma pena deixá-lo guardado e decidi publicar, espero que gostem...



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Kay e Seirian corriam pela floresta. Ela estava realmente muito bela naquele dia, isso ele precisava admitir...

Usava um vestido branco, que podia jurar ser feito de nuvem e cuja saia rodada alcançava os joelhos da garota sorridente. Sobre os cabelos longos, castanhos e ondulados estava a guirlanda de flores que ela mesma havia acabado de tecer tão hábilmente, usando apenas as flores silvestres que encontravam pelo caminho.

Corria à sua frente, sem muita vontade de necessariamente fugir dele; brincava de esconde-esconde com as árvores, se parecendo naquele exato instante, como uma dríade, uma fada, uma ninfa...

Chegou a pensar ter visto apenas por um instante, orelhas pontudas brotarem por sob os cachos grossos e revoltos que eram os cabelos dela mas...Nada. era somente sua imaginação lhe pregando peças outra vez.

Ela parou de repente. A respiração estava ainda acelerada e entrecortada, os pés descalços tateando o solo agreste da floresta, Seirian tinha uma expressão estranha em seu rosto, que logo se dissipou quando a concentração da garota foi novamente tomada por alguma coisa no entorno.

— Kay, o que é "amar"? - Perguntou-lhe, sem no entanto prestar muita atenção nele, distraída que estava agora com a folha orvalhada de um arbusto. E por um minuto ele invejou aquela planta, que tinha o privilégio de ter as mãos dela sobre si..."Tsc! O que é que eu estou pensando?" Pensou, surpreendido que estava com o próprio ciúme.

— Kay?- A voz dela tirou-o de seus pensamentos.

Ele coçou a cabeça e desarrumou levemente os cabelos cor-de-sol.

— Ahn, bem...é...- Gaguejou, ainda tentando organizar seus próprios pensamentos.

Seirian sorriu e se escondeu atrás de um enorme salgueiro.

— Hummm! Acho que alguém está corando...- Disse ela em tom maroto, e só então ele reparou no calor que tomava conta de sua face. "Que embraçoso..."

— Não! - Exclamou sem graça, tentando em vão desfazer a besteira que havia acabado de cometer e se sentou desageitadamente no chão de folhas secas.

— Sei...- Disse ela, saindo de trás da árvore e caminhando em sua direção.

— Você acha que um dia eu também vou amar alguém?- Seirian perguntou desviando o olhar, que lhe pareceu sério, maduro e também um tanto confuso pela primeira vez naquele dia e também em muito tempo.

Ele suspirou, sentindo arder levemente o próprio peito.

— O que você acha?- Perguntou, esforçando-se para parecer neutro, afinal, eles tinham somente quinze anos, havia uma vida inteira pela frente, não é mesmo? Ainda podia mudar de ideia.

Foi então que ela se sentou à seu lado e apoiou com delicadeza a cabeça em seu ombro, fazendo com que a guirlanda em seus cabelos se desprendesse e rolasse para seu colo. Ele tomou o objeto em suas mãos.

Pode então ver que ela tinha uma expressão pensativa estampada no rosto; viu seu peito se encher de ar.

— Não sei...- Disse ela. Para Kay foi como se mil facas perfurassem seu coração de uma só vez.- Um dia, talvez...- Seirian disse e se levantou súbitamente, já com um sorriso enorme no rosto.- Já jogou pique-pega?

Ele revirou os olhos.

— É óbvio que sim...- Respondeu.

Ela suspirou, um sorriso largo estava implícito em seu olhar.

— Ufa! Cheguei a pensar que fosse nobre demais para isso...- Seu tom era brincalhão, ela saltivava ao redor dele, provocando-o.- Tente me pegar, Alteza...- Seirian imitou uma reverência desageitada.

— Não me chame assim, sabe que não gosto...- Ele disse.- Não quero que meu título me alcançe aqui...

Seirian apenas soltou uma gagalhada provocadora e dançou ao seu redor.

— Tente me pegar, então...- Sussurrou em seu ouvido fazendo com que uma corrente elétrica percorresse cada centímetro de seu corpo.- Se for capaz...

Ah! Ela queria brincar, não é mesmo? Então ele brincaria com ela também... Kay sorriu torto e arqueou uma sobrancelha dourada.

— Pois bem...- Disse.- Concedo-lhe dez segundos de vantagem...

— Oba!- Ela exclamou, partindo em disparada pelo vale, movendo-se com a elegância e agilidade de uma caçadora, quase como um espírito da floresta, fluíndo por seus domínios, convidando-o a ir mais fundo também.

Kay sacudiu os próprios cabelos e foi atrás dela, alcançando-a com facilidade e prendendo o corpo esguio e bem torneado em seus braços; sentindo as curvas sutis sob o vestido fino e esvoaçante.

Acabou, acidentalmente, por derrubá-la no chão, caindo sobre ela, com suas risadas cristalinas preenchendo seus ouvidos e seu pensamento.

— Renda-se, minha senhora...- Disse ele galanteador, fitando a expressão alegre da garota de jeito brejeiro e alma indomável, como a floresta onde estavam.

Seirian tinha agora uma expressão confusa em seu rosto, desprovida de qualquer temor e ao mesmo tempo repleta de ingenuidade infantil. A face corada, respiração ofegante; ela não estava mais simplesmente brincando.

Kay percebeu e rapidamente pôs se pé, limpando as mãos na calça de tecido escuro que vestia e a ajudando a se levantar também. Percebeu uma alça fina do vestido branco deslizar e escorregar pelo ombro da jovem, expondo a pele clara e leitosa, que ele desejou por um instante poder  tocar. 

E ficaram assim, se encarando por uns bons instantes até que...

— Kay...- Ela chamou se aproximando um passo.- Arkay...?

Ele sacudiu mais uma vez a cabeça, como que para afastar seus próprios pensamentos...Um tanto impróprios, por sinal.

— O quê?- Indagou, completamente hipnotizado, tendo-a agora a apenas alguns milímetros de si.

— Eu não quero amar ninguém. Já decidi.- A voz doce de Seirian saiu por um fio, repleta de seriedade e a floresta toda ficou em silêncio. Para ele foi como se o mundo tivesse acabado. Tudo parecia morto ao seu redor; uma dor terrível cruzou seu peito e ele sentiu as próprias pernas falharem.

Kay se sentou sobre uma raiz grossa, em uma tentativa tosca de disfarçar o que sentia. A jovem apenas se aproximou e se abaixou para poder olhá-lo nos olhos.

— Sabe por que eu não quero amar ninguém, Príncipe Arkay? - Ela indagou, tinha o mesmo tom maroto de antes em sua voz. Torturando-o, obrigando-o a conter a explosão de sentimentos em seu peito.- Hum?

Pela primeira vez ele ergueu os olhos.

— Não, Seirian, por quê?

A menina soltou uma gargalhada e saltitou em sua direção, faceira, brincalhona; seus narizes novamente estavam a apenas alguns poucos milímetros um do outro. "Ela brinca com fogo...Depois não quer se queimar." Pensou. 

— Porque eu só quero amar você, seu tolo...- Disse ela às gargalhadas.

Foi como se o mundo voltasse a ter cor...Kay sorriu torto, desta vez completamente maravilhado e atirou-se na direção dela, derrubando-a sobre o leito de folhas secas.

Encarou uma última vez os olhos escuros da menina sorridente e levemente corada abaixo de si e beijou seus lábios açucarados de mel; aquele seria só o primeiro... O primeiro de muitos beijos que eles ainda dariam.

— Eu também, Seirian. Eu também só quero amar você.

 

                                FIM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

É isso pessoal, espero que gostem. Beijocas e até a próxima!