Quando - e se - você for escrita por Kaya Holychild


Capítulo 1
Nilo - meu partido é um coração partido


Notas iniciais do capítulo

Ah, e é pra você também, que tá lendo isso por algum motivo.



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Ele tinha ido embora há um mês, levando tudo consigo. Não era meio que uma escolha, mas ainda assim era. Justificava sussurrando que era melhor que se acostumassem o mais cedo, e, antes que pudesse contradizer, as suas mãos masculinas deslizavam para um pouco abaixo do ventre, e todos os seus pensamentos se confundiam.

Não havia muito que fazer. Ela chorara mais do que o Nilo, sofrera como uma mãe que perde o filho, isolou-se como uma ilha no meio da multidão de todos os dias. Por quatorze malditos anos, por mais difíceis que as coisas ficassem, ele sempre fora uma das poucas certezas da vida dela. 

Sabia que acordaria, escovaria os dentes e tentaria domar o cabelo – coisa que jamais conseguia. Em seguida, respiraria fundo e tentaria espantar o sono beliscando a pele, deixando-a em um tom mais escuro do que o restante do corpo. Todos os dias, durante todas as malditas cinco horas matutinas, saberia que tudo valeria à pena.

Porque ele estava ao seu lado. E, se ela derrubasse a borracha, ele a pegaria e ela só precisaria olhar em seus olhos para agradecer. Era a pessoa cuja mão cobria perfeitamente a sua. Cujos olhos foram feitos para inundarem-se nos seus depois de alguma promessa arrebatadora. Que os quadris sabiam como controlar o ritmo dos seus com os próprios.

Tá, a gente pode pular isso, já que essas coisas não são tudo. Ela está tentando dizer como foi no momento em que aquele giz caiu da mão do professor de matemática, ou então quando compartilharam uma piada obscena e já usada milhares de vezes antes, e ela finalmente entendeu que ele não a amava menos pelo simples fato de que esse sentimento, tão indescritível, não pode ser medido. E o mais engraçado – ou não - é que em Física a gente aprende que o nome pra isso é ‘grandeza’.

O que ela quer expressar em meras e ridículas palavras é que nada mais tá sendo do mesmo jeito. E que ela, pra falar a verdade, até gostava daquele tipo estranho de rotina. Do tipo que ele, em um dia qualquer, lhe contava que poderia passar mais algumas horas na cidade, ou que não dava a mínima que não tivesse feito o dever de matemática.

E ela rolaria os olhos. E diria que o certo seria que ele fizesse. E ele rolaria os olhos. E diria que o certo seria que ele fizesse o que bem quisesse. Então, os dois faziam as pazes ouvindo aquela música nova da Of Monsters and Men e tudo ficaria bem de novo.

Aquela formiga ainda leva uma folha todo dia pra casa. Aquela fruta tá quase apodrecendo. Os preços da cantina aumentaram. E a saudade também.

Mesmo que tudo pareça o mesmo para todos, nunca mais vai ser. Porque ela não sabe por que escreve sobre si mesma na terceira pessoa. E porque eu nunca mais fui – ou talvez ainda seja, só que mil vezes mais sábia – a mesma depois de você.


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