— Por onde andou, Meredith? — o rei repetiu.

A menina franziu as sobrancelhas ao ouvir o nome, ele lhe era familiar, mas estranho ao mesmo tempo. Com o canto dos olhos observou o cavaleiro com a postura impecável. Suas costas se arrepiaram e ela se abraçou. O rei dispensou com um aceno o guarda e se aproximou da dita 'princesa'.

— Não irá me responder? - os cabelos castanhos desgrenhados balançaram com a negação. — Não vai ou não sabe?

Hesitante, começou a soltar suas mãos e fez movimentos lentos, que foram observados com cautela pelos olhos claros. Seus olhos azuis escuros encaravam ainda os dedos sujos de terra e roxos de frio. Sem prestar muita atenção no que dizia, terminou depois de alguns minutos.

— Não sabe e sequer se lembra de quem é. Isso será mais complicado do que previ. - ela o observava concentrada e levemente admirada, ele estalou os dedos a fazendo pular de susto com o gesto inesperado. Dentro de alguns instantes criadas apareceram. Uma delas sorriu aliviada para a garota, enquanto outra examinava curiosa, a terceira parecia frustrada. — Levem-na para seus aposentos. Aguardá-la-ei para o jantar.

***

As mulheres a conduziu por um longo corredor, quando pararam estavam de frente a uma porta branca decorada com dourado que uma das criadas a abriu. O cômodo que elas entraram era majestoso, roxo com detalhes dourados, as cores da realeza. Ao entrar se dava de cara com uma cama dossel gigantesca, ao lado esquerdo uma sacada que dava para os jardins do castelo, ao lado direito uma penteadeira, um espelho de corpo e mais duas portas, uma sendo do banheiro e outra do closet, Meredith deduziu. A jovem se sentia tão esquisita ali, era como querer se deitar na cama e nunca mais sair de lá e, ao mesmo tempo, querer sair correndo pelos corredores e nunca mais voltar.

— Anastácia, vá preparar o banho de Vossa Alteza! — ordenou a mais velha a mais nova.

A senhora tinha cabelos castanhos com alguns fios cinzentos, assim como algumas rugas no rosto e aparentava ter no mínimo uns cinquenta anos. A do meio também tinha cabelos castanhos, porém os seus eram mais escuros e seus olhos eram acinzentados, ela tinha entre vinte e cinco e trinta anos. A caçula era ruiva tinha olhos verdes e deveria ter por volta da idade da princesa. “Muito bonita para apenas uma empregada” pensou a jovem. As três vestiam um vestido simples e por cima um avental e usavam coques.

— Vossa Alteza, a senhorita realmente não se lembra de nós? — perguntou a do meio e Meredith nega com a cabeça — Nesse casso, Vossa Alteza, eu me chamo Celeste, essa é minha mãe Mafalda e a menina que foi preparar seu banho é a Anastácia.

Após tomar o banho, as empregadas a vestem com um vestido roxo escuro com dourado, penteiam seu cabelo e fazem um coque. “Meu Deus, tudo é dourado nesse lugar? ”, pensou.

Quando terminam, a princesa é conduzida por um guarda genérico até uma sala de jantar. O cômodo era grandioso como tudo naquele castelo e no meio do quarto havia uma mesa posta, com talharia rica ao olhar. Em um canto, James conversava com um criado:

— Peça para avisarem ao rei Clovis que encontramos sua filha.                     

O guarda pigarreia e o rei o olha feio.

— Vossa Majestade, a princesa.

O loiro faz um sinal com a mão para os criados irem e dá o braço para conduzir sua amada. Meredith faz tudo automaticamente, desde colocar seu braço em cima do dele até esperar que ele afastasse sua cadeira para ela se sentar. Foi estranho.

O rei se sentou numa cabeceira e a morena na outra.

— Diga-me, meu amor, tudo o que você lembra.

Sua postura se endireitou, intimidada com aura do rei, parecia uma cobra prestes ao ataque, a seu ver. Com movimentos leves, tentou comunicar-se da melhor maneira com o desconhecido. Era pouco que havia a se dizer, tendo em vista que não conseguia recorda-se dos momentos prévios ao acordar na floresta gélida. Descreveu da melhor maneira o frio e como se sentia perdida e vazia.

— Não estava machucada, ou com fome? — o rei indagou, algo lhe dizia que estava intrigado.

A fome estava presente desde antes, mas seu estômago havia se acostumado ao vazio e já não incomodava, acabou esquecendo. Quanto aos machucados... havia levado algum tempo para se colocar de pé por causa dos tornozelos e pernas doloridas.

— Entendo... Faz alguns meses desde a última vez que nos vimos. Você estava a caminho daqui quando... - a entrada dos criados com o jantar interrompeu a fala do monarca.

O cheiro atiçou a fome da princesa de forma tão cruel que seu rosto se contorceu. Parecia uma pequena fera atacando seu interior em busca de alimento. O rei com o canto dos olhos viu o olhar desesperado e ansioso, com um aceno, ordenou que a servissem primeiramente. Ele poderia esperar. Era possível que contar-lhe sobre sua vida não ajudasse na melhora, talvez simplesmente tornasse os eventos ainda mais confusos para a jovem.

James reconhecia a noiva nos gestos hesitantes e desconfiados, os mesmos que fazia na época em que se conheceram. Recomeçar não o assustava, o que o aterrorizava no presente momento era perder a confidente para sempre, visto que retornara sã e salva (ao menos, visivelmente), o pavor havia se resumido a uma presença quase nula. Após terminarem o jantar, um guarda veio para conduzir a princesa aos seus aposentos, mas o rei o dispensou:

— Deixe que eu a leve. — já nos corredores ele sugeriu — Que tal darmos uma volta pelo jardim amanhã de manhã?

Ela concorda com a cabeça, com um sorriso mínimo nos lábios.