Caminhantes escrita por Serin Chevraski


Capítulo 90
O que eu sou para você




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Lucy POV

Naquele dia que abri os olhos, senti que o mundo estava faltando algo. Não importou o quanto tentei me lembrar, a minha mente esbranquiçava.

Um homem vestido a urso sorriu cheio de expectativa.

— Agora eu sou a pessoa mais importante para você? -ele encarou através do vidro.

Mas não o reconheci. Quem é você?

Me levantei e apenas olhei para frente. Com a mente confusa, girando em voltas e mais voltas.

— Lucy? -o desconhecido me chamou.

Quem é Lucy?

Oh... Acho que eu sou Lucy.

Pisquei. 

— Sabe quem eu sou? -o homem balançou a cabeça, as orelhas de urso chamaram a atenção.

Mas não senti que conhecia essa pessoa.

De repente, a porta se abriu.

Um homem de cabelos pretos e olhos vermelho entrou de forma feroz. Não escutei o que eles falaram logo depois disso. Mas essa pessoa que entrou agora, puxou algo na minha memória.

Eu sou Lucy Heartphilia.

E eu sou uma maga da Fairy Tail.

Existe uma pessoa que é importante para mim. 

Mas como era essa pessoa?

Consegui lembrar de alguns rostos.

Levy McGarden. Minha melhor amiga, super inteligente.

Gray Fullbuster. Um companheiro que sempre tira a roupa.

Gajeel Redfox. Um cara que canta muito mal.

Erza Scarlet. Uma mulher responsável quem respeito muito e é assustadora as vezes.

Pouco a pouco, mais pessoas passaram pela minha mente. Mas tem um que não consigo me lembrar. Como uma figura sem rosto, um corpo borrado.

Bati a testa no vidro.

Um nome apareceu. 

Natsu Dragneel.

Mas ele não tinha rosto. Apenas um nome. Quem é essa pessoa? Que é tão importante para mim?

Logo, uma porta se abriu perto de mim.

Então o homem de cabelos negros me chamou.

— Lucy?

Sim, esse é o meu nome...

Ele encostou na minha bochecha, senti sua mão tremer levemente. Apenas com esse toque pude perceber a quantidade de cuidado por mim.

Seu rosto ficou perto, e pude ver os olhos vermelhos. O cabelo negro e a pequena cicatriz na ponte do nariz. Isso foi familiar...

Meu coração bateu. Emocionada. Como uma forte ligação que me atraiu.

Essa pessoa...

Comecei a sorrir, com lágrimas nos olhos.

Ah, essa pessoa deve ser "Natsu".

Então adormeci. 

No tempo que fiquei sonhando. Minha mente jorrou várias informações. Memórias e coisas que aconteceram foram escritas na minha vida em branco. Resetando e recriando. Me causando muita dor. Como se minha alma partisse ao meio várias vezes.

Quando acordei pela segunda vez. Era um hospital. Com Levy e Gajeel.

Mas algo estava errado. Busquei pelo "Natsu". Aquela pessoa importante que não estava na minha frente.

E quando o encontrei novamente. Senti uma grande alegria.

Mas ele não parecia muito feliz. Por um momento pensei que talvez ele não me achasse tão importante quando eu o considerei.

Então, eu vou cuidar dele e fazer com que meus sentimentos cheguem até ele. Simplesmente porque senti aquele desejo de que precisava fazer isso. O alimentei, empurrei sua cadeira de rodas e o tratei como algo precioso. Ainda assim, ele não parecia feliz com isso, dando a impressão que queria me rejeitar. De repente me senti assustada. Será que estou fazendo as coisas erradas?

E se ele não quiser que eu chegue perto e diga para ir embora?

Fiquei nervosa.

Mas ele nunca me pediu para ir embora. Então continuei a cuidar dele.

Acabei me separando de Levy-chan e Gajeel. Para minha surpresa, fomos parar na Sabertooth. Foi um pouco estranho. Mas aquela pessoa importante estava comigo, então não me importei muito. 

E ali na Sabertooth tinha um anjo.

De alguma forma, o anjo me deu informações interessantes sobre Dragon Slayers.

E eu sabia que aquela pessoa importante é um Dragon Slayer, por isso prestei atenção em dobro nesse assunto. 

Infelizmente, o anjo foi embora. E eu fiquei triste com isso.

Acabei fazendo "Natsu" me acompanhar para ver as barracas comigo. Sendo incrivelmente divertido. Eu sabia, se for com ele, os momentos são diferentes. Senti meu coração mais feliz. E fiquei mais alegre quando ele me tratou tão gentilmente todas as vezes.

Mas então... Ele me beijou.

Fiquei surpresa. Ao mesmo tempo contente. 

A palavra "rejeitar" não passou pela minha mente. Num sentimento como se esperasse por esse momento por muito tempo. E meu corpo aceitou isso naturalmente.

Mas quem se afastou foi ele. Assustado.

Fiquei em choque.

Fiz algo errado? O rosto pálido dele mostrava emoções confusas e os olhos desfocados cheios de vergonha. 

Por que você está assim?

Foi tão ruim?

Estremeci assustada.

Passei tanto medo naquela noite, que mal dormi. Mas no dia seguinte ele veio me ver, com um sorriso. Fingimos que nada aconteceu e eu fiquei aliviada.

Achei que "Natsu" diria para nos vermos nunca mais.

Fomos assistir o festival juntos. 

E então uma pessoa inesperada apareceu. Gajeel Redfox. Fui separada de "Natsu".

— Bunny Girl, eu tenho um presente para você.

— Presente?

— Sim, é um tônico.

Pisquei confusa com o frasco azul na minha frente. Claramente é uma poção.

— Você quer enganar quem? -perguntei desconfiada.

— Confia em mim. É um presente da baixinha.

— Levy-chan?

Peguei o frasco e o cheirei. Bom, não parece ser veneno. E o tomei em um gole.

— E ai?

— Estou sentindo nada -bufei.

— Oh -ele deu de ombros- Bom, agora que minha missão terminou, vou ir comer mais uma coisa e ir embora. Adeus Bunny Girl.

Ele partiu, sumindo entre o mar de pessoas. Franzi as sobrancelhas. O que você veio fazer aqui!?

Suspirei pasma. Então me lembrei que estava com companhia. O procurei com os olhos e não encontrei. O persegui até a casa e o achei.

Fechado em um quarto escuro. O sol já se pôs.

Tem algo errado. Então o chamei. Ele não se moveu. Cheguei mais perto então seus olhos me encararam. Uma linda cor de rubi.

Não importa o quanto vi esses olhos, ainda eram tão bonitos.

De alguma forma, fiquei encantada. 

— Lucy, eu amo você.

Meu coração disparou. Meu corpo inteiro gritando de uma agradável surpresa, insaciável. Essa pessoa tão importante para mim, dizendo que me quer.

— Eu também te amo.

E ele me beijou gentilmente. Logo me derrubou ficando em cima de mim.

Me enchi de felicidade. Me sentindo preciosa, assim como ele é importante para mim.

Mas ele parou, congelado.

Fiquei confusa. Com o medo voltando para o meu coração. 

Por que você parou?

Comecei a tremer. Respirei fundo e ergui meus braços.

— Eu te amo -insisti. Para que ele escutasse claramente.

Eu te amo.

Dessa vez, eu o beijei. Mas ele continuou congelado.

Os fogos lá fora começaram a brilhar, então daqueles olhos tão bonitos parecendo rubis, caíram lágrimas. Fiquei pasma.

— Natsu, por que você está chorando?

Tremi receosa. Qual é o problema?

Ele se afastou, ficando de costas para mim. Meu coração doeu. Você nem mesmo quer olhar para mim? O que fiz de tão errado? Por que não consigo saber?

— ... O que houve?

— ... Você quer saber o que houve? -seu tom foi de ironia.

Olhei para suas costas largas. Fiquei com mais medo.

— Natsu, posso me aproximar?

— Lucy, quem é a pessoa na sua frente?

— ... Do que você está falando?

— Eu não... Eu... Não posso mais fazer isso Lucy. Sinto que a cada segundo poderia me quebrar, que a qualquer momento poderia perder a minha mente e ficar louco. Não posso mais fingir isso.

— Fingir...?

— Lucy... -ele se encolheu mais- Quem sou eu? Você não pode se lembrar?

Nesse segundo, arregalei meus olhos.

O gosto daquela estranha poção queimando minha garganta. Minha visão ficou turva, então algo que não tinha visto antes, apareceu na minha frente. Uma escuridão em toda a cama se espalhando como lama, surgindo do corpo do homem na minha frente. Os fogos de artifício iluminando a fumaça sombria devorando essa pessoa.

Então uma onda de informações surgiu na minha mente. Uma porta imaginária se abriu, memórias que não conseguia me lembrar jorraram aos montes. 

Foi tudo o que aconteceu depois daquele dia que fui em uma missão com Mira.

E percebi. O mundo na minha mente se moldou de forma estranha.

A única coisa que conseguiu se encaixar à palavra "importante" das minhas memórias antes do acontecimento com Mira, foi Natsu. Mas a verdadeira pessoa importante que reconheci com o olhar, não se chamava Natsu. Nunca foi.

Na verdade é...

— Rogue...!

Me apressei para sair da cama. Horrorizada para a escuridão que estava se estendendo por todas as paredes. Com essa fumaça saindo do corpo de Rogue.

Os olhos opacos dele não me encararam. Ele continuou sentado. 

Peguei suas duas bochechas, ergui seu rosto para a minha direção. Mas os olhos cor de rubi, pareciam ter perdido a vida.

O que eu fiz?

Senti meus olhos marejarem.

— Rogue... Eu sinto muito... Me desculpa...

Não houve nenhuma reação. Minhas mãos começaram a tremer.

— Rogue. Olhe para mim!

Os lábios dele se comprimiram. Então uma voz baixa saiu.

— Você se lembra.

Meu coração palpitou, parece que ele ainda está consciente.

— Sim, eu lembro -assenti, sorrindo.

Mas os olhos dele expressaram mais dor.

— Então agora você vai me deixar.

— Por que eu vou te deixar? -murmurei pasma.

— Porque... -os olhos dele desviaram para o lado- Você agora sabe que eu aproveitei de você, fingindo que sou o Natsu-san.

Abri minha boca. Que tipo de mal entendido...!

— Sou um monstro nojento.

— O que!? Não!

Tentei fazê-lo me olhar.

— Rogue -sussurrei, encostando minha testa na sua- A pessoa que amo, é você.

Mas ele não não me respondeu. Aproximei meus lábios dos dele. A mão grande do homem pousou na minha boca, me rejeitando.

— Rogue!

— Não me chame por esse nome.

— O que...? É aquela bobeira de achar seu nome feio de novo? 

— ...

— Pois eu vou falar quantas vezes quiser! Rogue! Rogue! Rogue!! 

Seu rosto continuou encarando o chão. Me senti mais amarga e frustrada. O quarto ficou cada vez mais escuro, sua magia tinha entrado em colapso completamente.

O que devo fazer para consertar isso?

O que...

Mordi meus lábios.

Me coloquei de joelhos na sua frente. Olhei para cima, mesmo assim ele me evitou. Nesse momento, os fogos pararam, nos deixando em uma calmaria silenciosa. E as nuvens do céu se abriram, descobrindo a luz da lua leitosa.

Dei um sorriso.

Ergui minha mão para a minha blusa. Ela tem cinco botões na frente. E abri a primeira de baixo, perto da minha cintura. Mas o homem não reagiu.

Logo abri a segunda. Os dedos dele tremeram.

Pousei a mão na terceira e observei a reação dele, abri o botão.

— O que você está fazendo? -seus olhos ainda não me encararam, mas as sobrancelhas franziram.

— Abrindo minha camisa?

Pluc. A quarta se foi. Faltando apenas uma.

— Pare com isso -ele grasnou.

Meu corpo está levemente desnudo. Ainda assim, sorri. Naquela paz e fria noite, a luz branca da lua se infiltrou pela janela, mostrando as sombras incorporando a sua tristeza, vazando lentamente.

Retirei meu sutiã, agora só tinha a camisa aberta escondendo meus seios, mantidas por apenas um botão.

— Lucy, isso vai chegar a lugar nenhum. Apenas me deixe em paz.

Respirei fundo, então enchi de coragem.

— Os dragões não se casam -dei um sorriso, me aproximei- Eles fazem uma promessa.

Percebi que os olhos dele se arregalaram.

— Uma promessa para toda a vida.

Então me levantei para que meu peito ficasse na altura do seu rosto. Olhei para baixo, para sua cabeça cabisbaixa. Assisti como seus ombros ficaram tensos.

— Um selo de dragão que fica bem em cima do coração.

A luz da lua brilhou na sua figura, com a fumaça das sombras subindo lentamente. Ele pareceu tão triste e sozinho que desejei abraçá-lo.

Ah Rogue, o que eu fiz com você? Por minha culpa...

Tentei fazer a voz mais feliz que pude.

— Você pode fazer um em mim? 

Dessa vez, seu rosto se ergueu. Segurou meu pulso com força.

— Agh!

Pisquei e encarei seu olhar chocante. Suas sobrancelhas franzidas, cheia de raiva e repreensão contida.

— Você está louca!? Se fizermos isso, você vai morrer!

Me assustei. Rogue gritou comigo.

— Eu não vou morrer -dei um sorriso.

— Você sabe como funciona? Se eu inserir minha mana em você e... -sua respiração ficou errática. Consegui ver seus dentes pontiagudos, rosnando para mim- Lucy, você pode morrer!

Fiquei atônita. 

Foram quantas vezes? Quantas vezes Rogue ficou tão bravo? 

Eu fiz muita burrada desde que o conheci. Mas ele sempre foi tão calmo e paciente. 

Existiram muitas vezes que ele poderia ter brigado comigo. Quando penso, existiram milhares de razões para ele brigar comigo. Principalmente agora, que o confundi com Natsu.

Mas ele está bravo porque posso morrer. 

De repente senti meus olhos arderem. Dei um sorriso acariciando sua bochecha, enquanto senti dor no outro pulso que ele segurou fortemente.

Engraçado que ele parecia tão frágil nesse momento.

— Está tudo bem.

Não importou se eu estava em perigo, ele foi o primeiro a saltar sem pensar muito. 

Rogue, você poderia ter morrido. Várias vezes por mim. Então por que não estaria disposta a fazer o mesmo? A vida de um mago é imprevisível. Se perdermos essa chance, pode não existir o amanhã. E agora me arrependo de não ter dito antes que o amo.

— Eu não vou morrer -falei confiante.

Seu rosto vacilou. Numa expressão perdida.

— Rogue, eu darei meu coração a você.

Acariciei seu rosto com meus dedos e ele se aconchegou na minha mão. Sua expressão foi igual a de um cachorro que foi espancado, mas ainda assim amaria seu dono. Lamentável e inofensivo. Ele largou meu pulso e fechou os olhos. 

— Rogue -o chamei, ele me encarou obediente.

Puxei sua franja para trás da sua orelha e pude ver os dois olhos claramente. 

— Bem aqui -apontei para a minha pele exposta.

A camisa levemente coberta, fazendo uma abertura em V de ponta cabeça, mostrando bem aonde estaria o meu coração.

Seu rosto se aproximou e senti sua respiração, me arrepiando. Ele abriu os lábios, então hesitou. Me encarou com os olhos trêmulos. Acariciei levemente o seu cabelo e sorri.

— Eu não vou morrer.

Sua sobrancelha trincaram ainda temerosos.

— Está tudo bem.

Insisti.

Ele olhou novamente para a minha pele exposta entre a minha camisa. Então escutei o som de trituração. Quando sua boca abriu, uma língua ensanguentada apareceu.

Sua mão me segurou pela cintura e lambeu no lugar bem em cima do meu coração, deixando um rastro de sangue.

— Eu... -sua voz saiu assustada- O herdeiro do dragão das sombras. Peço para a grande deusa de todos os ancestrais. Reconheço como a pessoa à minha frente como minha companheira. Permita que ela conceba parte da minha vida, como sua.

Os ombros de Rogue tremeram, sua palma apertou levemente minha cintura. Eu acariciei seu cabelo para tranquilizá-lo. 

Senti uma pontada, como uma agulha sendo enfiada e queimando. O mana dele fluiu para dentro e circulou no meu coração. Testando a honestidade dos meus sentimentos. Dei um sorriso.

Logo a mana se aconchegou, se enrolando como uma corrente. E na minha pele, o sangue brilhou, tomando forma de uma tatuagem negra de um dragão.

O Dragon Slayer ficou paralisado, encarando para a pequena imagem na minha pele. Então seu dedo passou por cima, vendo se era real. 

— Eu disse que não ia morrer.

Sem me responder, sua testa tocou na tatuagem e seus braços circularam minha cintura, abraçando fortemente.

Seu corpo todo tremeu. E a magia que estava vazando de seu corpo para todo o quarto, desapareceu. Dei um leve suspiro.

Ficamos assim por um tempo até ele se acalmar. Então sua voz retornou.

— Lucy... Não vá se arrepender.

Encarei para baixo, e vi seus olhos brilharem como rubis cintilantes. De uma forma selvagem.

— Porque não vou deixar você escapar.

— Eu não vou fugir.

[Amores, a fanfic é +16, então a próxima cena foi censurada, terão que usar suas imaginações para saber o que houve nessa noite]


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