Sting POV

O que eu estou fazendo?

Me perguntei novamente. Com os dedos entrelaçados na frente dos lábios, encarando seriamente o espelho.

Talvez ser impulsivo seja uma extravagância dos magos?

Mas me lembrei que não sou um mago no momento. Digo, eu sou, mas posso usar meus poderes?

Ao lembrar dos olhos congelantes da princesa, estremeci. Ok, eu devo estar preparado para morrer?

Frisei mais as minha sobrancelhas e tombei a cabeça para o lado. Pensativo. Vamos fazer tudo voar?

Hmmm...

— Stinny, essa sua expressão é um desperdício para seu rosto -blondie abriu a porta.

Estamos em uma sala de maquiagem e roupas. Tipo aqueles quartos de astros de cinema.

Agora me perguntam, por que existe uma cabine numa arena?

Simples, a arena tem competições de todos os tipos. Desde lutas, exibições e também de apresentações mais artísticas, como danças. Parece que teve até teatro por aqui.

— Stinny! Não faça isso com as sobrancelhas!

Ela apertou com o dedo na minha testa.

— Estou pensando -fiz beicinho.

— Aliás, o que é isso que você está vestindo? -ela suspirou.

Levantei da cadeira e me olhei no espelho. Uma mulher extremamente bonita me encarou de volta, com um vestido carmesim, cheio de brilho sedutor.

— Qual o problema? -não entendi.

— Não, não. Tá tudo errado! -ela suspirou novamente e se aproximou.

Deu a volta para as minhas costas e puxou o zíper.

— O... O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, BLONDIE TARADA!?

Corei e segurei as roupas como se minha vida dependesse disso. Lutei ferozmente, cobrindo meu corpo.

— O que você está sendo tímida? -ela riu.

— VOCÊ VAI RASGAR O VESTIDO! PARA IDIOTA! -fiquei mais desesperado.

— Stinny, somos duas mulheres. O que tem para ficar com vergonha?

Então me lembrei.

JHONNY!!

No segundo que me distrai em minha tristeza, a roupa escorregou dos meus dedos. Revelando um corpo bem polido, em forma de ampulheta, escondido atrás de lingeries delicados.

No início, me recusei a usar calcinha ou sutiã. Mas me convenceram que são melhores para segurar esses peitos descontrolados. Quanto maiores, mais balançam. Ainda assim é muito sufocante.

Fiz uma careta de desgosto.

— Stinny, por que está tão distraída em pensamentos? -ela guardou o vestido vermelho e pegou outro.

Nem respondi, observando a mim mesmo no espelho, irreconhecível.

— Está pouco confiante? -ela riu, colocando a roupa em mim.

Estendi os braços obediente. Faça o que quiser... Eu não ligo mais...

— Stinny, você já se apaixonou por alguém? -veio uma pergunta abrupta.

— O que!? -acordei do meu estupor.

Do que você está falando? Apaixonar?

Ela me empurrou pelos ombros, me obrigando a sentar. Então vasculhou a mesa cheia de maquiagens.

— Uma pessoa como você, nunca gostou de alguém? -seus olhos curvaram em um sorriso- Então alguém já se confessou para você?

Estudei suas palavras por um tempo.

Minha vida circulou em apenas poucas coisas. Socos, lutas, comida, Rogue, Frosch e Lector.

A verdade é que nunca pensei sobre assuntos como amor. Bom, não sou imune a isso completamente, gosto de zoar meu irmão gêmeo, porque percebi o clima entre ele e blondie.

Mas eu mesmo nunca me vi nesse arco.

— Por que está falando nisso? -questionei.

— Todas as garotas gostam dessas coisas sabe? Sonhar em amar alguém e serem amadas de volta.

A encarei curioso. Isso é verdade?

Eu não sei. Não tenho uma grande experiência disso. Conheci mulheres na minha vida, mas eram todas algum tipo de amantes ou parcerias sem compromisso.

— Não sabe nem que tipo de pessoa você gosta? -ela perguntou animada.

— Tipo?

— Sim! -assentiu frenética.

Parece que blondie gosta mesmo dessas coisas.

— Ahm... -tentei imaginar.

— Sabe, alguém com quem você se preocupa, que sempre vem na sua mente quando você precisa de algo. Mas principalmente alguém que você também quer compartilhar coisas.

Hmm... Isso seria o Lector?

Mas ele é um gato.

Apertei minhas sobrancelhas com os dedos.

— Como assim, compartilhar coisas? -perguntei.

— Que você tenha o desejo de estar com essa pessoa. E se dá muito bem com ela! Querer dar o melhor para essa pessoa e que também possa confiar suas preocupações.

Alguém quem quero passar o tempo?

Gosto de passar o tempo com o Lector, mas também gosto de estar com o Rogue, porque ele cozinha igual um chef profissional. Eu gosto de me dar bem com o Rogue porque só ele sabe fazer umas costeletas incrivelmente temperadas e suculentas. A minha magia também não é o oposto do Rogue, mas a gente consegue fazer uma Unison Raid?

Congelei. Por que só existe Rogue nisso?

Um arrepio de nojo subiu pela minha espinha. Um bizarro calafrio.

Balancei a cabeça. Não. Rogue é meu irmão. É natural que nos demos bem, assim como brigamos as vezes. E se for mais do que isso... É mais como uma mãe? Uma mãe muito chata!?

Fui iluminado por uma nova descoberta! Na próxima vez posso zoar ele como mãinha Rogue!

Mas blondie suspirou enquanto divaguei e despertei, voltando minha atenção a ela.

— Uma hora queremos pensar em conhecer alguém para ficar ao lado da sua vida. Ter um casamento e filhos. Isso não é assim para você?

Cruzei os braços.

— Nunca pensei nisso -falei com certeza.

— Ninguém nunca falou disso com você? -sua voz saiu surpreendida. Ela se aproximou com um pó branco.

— Não...

Murmurei. Na verdade sim. Weisslogia abordou esse assunto há muito tempo.

— Na verdade, uma vez -confessei, honesto- Escolher alguém pela vida e ter um casamento é algo que todos fazem?

Blondie foi bastante gentil com o pincel no meu rosto.

— As pessoas conhecem alguém, namoram e então decidem se essa pessoa é com quem querem estar pela vida. É assim que funciona normalmente.

Pensei no casamento de Natsu-san. Então isso é normal.

Como nunca me importei, nem tenho uma opinião sobre.

— É preciso namorar antes?

— É o natural, ou como você sabe que essa pessoa é do tipo que você gosta? -riu, falando pacientemente com alguém que sabe de nada- Começa com uma atração. Mas nem tudo na pessoa pode ser como você imaginou ou fazer parte dos seus gostos. Então você namora para descobrir tudo isso.

— Oh... -a encarei, seus olhos achocolatados estão concentrados.

Me senti estranho, porque além de Weisslogia e Rogue, ninguém me tratou com tanto cuidado antes.

— O que acontece se depois do casamento você descobre que essa pessoa não era boa, e se arrepende? -despertou minha curiosidade.

— Isso também pode acontecer -ela assentiu, agora segurando um pó rosado- Então você se separa dessa pessoa. Pode ser de formas ruins ou de uma forma pacífica.

— O que? Você pode se separar!?

Blondie me encarou.

— Por que está tão surpreso? -ergueu uma sobrancelha.

Abri e fechei a boca. O que Weisslogia disse é bem diferente. Então talvez o conhecimento de blondie não se aplica comigo ou com Rogue?

— Blondie, com os dragões e os Dragon Slayers não funciona assim -franzi as sobrancelhas.

— Não...? -sua mão parou.

Ela não ficou com os olhos vazios. Foi porque eu não disse que sou Dragon Slayer?

Seus olhos cintilaram curiosos. Meus lábios tremeram levemente.

Ela está pensando em Natsu-san agora?

— Os dragões não nasciam aos montes antigamente porque tem muita dificuldade de ter filhotes. E existe uma razão para isso.

— Huh!? Existe?

— Eles escolhem com cuidado uma parceira pela vida e não se desfazem dela e só podem ter filhotes com esse escolhido. Então demoravam muito tempo para eleger alguém. Porque ficariam unidos por muitos anos, dragões tem uma vida longa, sabe?

— E para os Dragons Slayers é a mesma coisa!? -suspirou surpresa.

— Claro. Os dragões tem uma mana que os fazem difícil de conceber, e os Dragons Slayers tem essa mesma mana -espremi minha memória até o talo.

Espera. Por que eu tô usando meu cérebro pela blondie!?

— E como faziam para escolher sua parceira? -sua curiosidade fez seus olhos arregalarem cintilantes.

Fui intimidado pela excitação dela de querer aprender coisas novas. E descobri que até mesmo blondie pode ser fofa.

— Bom... -coloquei o dedo no queixo, pensando. O que Weisslogia disse? Ah- Eles escolhiam pelo mais forte. Para ter uma boa linhagem. Mas alguns decidiam pelo sentimento, embora fosse raro.

O grande lagarto branco me contou sobre a linhagem dos dragões. Mas foi tão horrível de escutar, que me deu dor de cabeça. Muita coisa entrou por um ouvido se saiu pelo outro. Weisslogia ficou muito zangado nesse dia.

Dei um sorriso.

— Stinny, então como os dragões dominaram o mundo com poucos filhos?

— Mesmo tendo poucos filhotes por anos ou décadas, tinham uma vida muito longa -falei solenemente- A baixa natalidade compensava com isso.

— Bom, então eles namoravam e casavam?

Sua pergunta inocente me fez rir. Dragões... Usando vestidos brancos de noiva? Ela está pensando nisso?

— Pff... Dragões namorando? E casando?

— N... Não ria! -seu rosto tingiu em cor carmesim.

— Hahaha -tentei esconder o riso com a mão, mas foi impossível.

— Stinny!

— Coff -recuperei minha expressão solene- Eles não sentiam a necessidade disso. Eles viviam de lutas para ser o mais forte.

— Isso... Não é muito romântico.

Alarguei meu sorriso.

— Blondie, deixa eu te perguntar. Se um mago não é forte, e ele trabalha com o perigo, sua vida pode ser longa?

Os olhos dela arregalaram.

Isso mesmo. Hoje você está vivo, mas e amanhã? Essa pode até mesmo ser a nossa última conversa, Blondie. Eu estou indo para a arena brigar com Sorano, sem poder usar magia.

Mas você parece que não percebeu isso. Ainda assim, eu vou ir lutar. Porque isso é o que significa ser um mago. Não ter medo do perigo. Se for medroso, por que estou em uma guilda?

— Eles viviam muito, mas ao mesmo tempo isso também pode não ser verdade. Os dragões apenas viram a vida de forma diferente.

A boca dela se abriu e fechou.

— Mas isso não quer dizer que eles não amaram seus parceiros. Podem muitas vezes ter escolhido pelo poder, mas aprenderam a gostar um do outro.

— Isso... -sua sobrancelha se ergueu- Aprenderam a amar?

— A mana de um Dragão é muito poderosa, pode entrar em conflito na hora de ter um filhote. Então eles tinham uma forma muito peculiar para o casamento. Não é uma festa, nem uma reunião. Era uma promessa.

— Uma... Promessa...

Claro, antes de ser um show, um casamento é uma promessa entre duas partes.

— Tem uma magia antiga. Um dragão deve selar o outro, mas existe uma peculiaridade. O que recebe o selo deve amar quem está selando. Porque se seu coração não aceitar o mana de seu companheiro no selamento, ele morre. O dragão que está selando também pode fazer essa magia apenas uma vez na vida.

— É um pouco injusto -ela murmurou- Se der errado, um morre e o outro vive.

Balancei a cabeça, negando.

— Só é injusto se um dos dois não for um dragão. Porque ambos decidem fazer o selamento. E por causa dessa peculiaridade, os dragões tinham dificuldade de escolher um companheiro de vida.

Mas ao mesmo tempo era nobre e incrível. Porque eles amavam colocando sua vida em risco. Então mesmo depois de sua extinção, as pessoas ainda relatam sobre a lealdade de um dragão.

— Então é perigoso... -ela pegou o batom rosa.

— Mas tem uma coisa a mais.

Falei misterioso. Ao ver ela toda em expectativa, me senti muito superior. Blondie, você não está sempre se gabando de ser inteligente!?

Agora eu tenho mais conhecimento que você! Empinei meu nariz.

— Porque o mana do seu parceiro circula em você, não significa que você vai ganhar esse poder. Em seu lugar acontece outra coisa!

— Que coisa? -perguntou, concentrada em minhas palavras.

— Se o seu coração morre ao rejeitar a mana do seu parceiro, então o que acontece ao contrário?

— Ao contrário?

— Digamos que outro dragão quer reescrever em você, o quê você acha que acontece?

Pisquei. Os olhos dela agrandaram.

— Eles são envenenados pela mana que está dentro de você.

Seu rosto se iluminou em surpresa.

— É como uma proteção!

— É mais uma algema -suspirei.

Talvez o sentido dela seja diferente do meu. Acho que foi por causa disso que me senti meio desagradável em querer gostar de alguém.

— Sabe aonde fica o selo? -ergui o dedo.

— Hmmm -ela tocou o queixo, pensando.

Eu apontei para cima do meu coração, sorrindo.

Significa "eu ofereço minha vida a você". É um juramento tão puro, que normalmente quando é bem sucedido, o casal acaba concebendo na primeira noite dessa promessa.

Mas isso é algo que blondie não precisa saber. Hehehe.

Antes que pudéssemos dizer algo para continuar a conversa, um alvoroço lá fora chamou a atenção.

Esse encontro é um show, não uma competição. Mas pode ser mortal ao mesmo tempo.

Está na hora de ir.

— Espere um pouco -a maga celestial passou o pincel nos meus lábios, cheio de concentração.

Congelei um pouco, imóvel.

Os olhos dela ficaram focados.

Logo se afastou e deu um sorriso satisfeito.

— Stinny, você é linda -disse confiante.

Me olhei no espelho.

O vestido branco que blondie escolheu, colou nas minhas curvas dando uma sensação de tentadora. Mas a maquiagem leve fez um contraste de inocente.

— É como uma dama intocável -ela sussurrou no meu ouvido, segurando meus ombros- Que atrai olhares com um corpo bonito, mas um rosto que faz você sentir que não deve ser imaculado.

Fiquei ligeiramente deslumbrado. Embora fosse eu mesmo no espelho.

— É como um anjo que todos desejam, mas inalcançável -blondie sorriu, malvada- Acabe com aquela Angel.

E me encarou orgulhosa, como se eu fosse seu trabalho mais incrível. Uma obra maestra.

Fiquei sem palavras.

Blondie pode ser muito agradável também! Dei um sorriso.

E pensar que de todas as pessoas, ela seria quem me apoiaria...

Me levantei. Foi estranho andar com sapatilhas, mas o salto é baixo, então não foi difícil. Era impossível escolher um salto alto sem ter que dar dois passos antes de cair.

Peguei a maçaneta da porta.

— Blondie, obrigado.

— Mostra quem é a pessoa mais incrível dessa arena! -ela sorriu.

Ergui o rosto confiante.