Caminhantes escrita por Serin Chevraski


Capítulo 105
Uma Pessoa Infame




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Lucy POV

Mordi o lábio levemente, me segurando na crina de Estrela Negra. Erza abriu um sorriso, apontando a sua espada sem nenhum tipo de hesitação. A luz do sol que brilhou na sua lâmina foi como um farol guiando todos os mercenários.

Entramos diretamente na batalha cheia de sangue. Os Cannis grasnando para todo lado e mordendo ferozmente os humanos, as armaduras dos soldados se amassando e os dentes dos animais perfurando até a sua carne.

Apalpei debilmente minhas coxas. Arregalei meus olhos ao sentir com a ponta dos dedos uma coisa familiar.

Meu chicote!

Sentindo o brilho da realização, agarrei o cano e a energia brilhante apareceu na sua ponta. 

— Chicote estelar! -gritei, o balançando.

— Platina Sanguinária! É a platina Sanguinária! Abaixem suas cabeças! -alguém berrou em desespero.

Franzi as sobrancelhas. Os cavaleiros se jogaram ao chão, ignorando os monstros na sua frente... Como se eu fosse mais assustadora que bestas meio lobos?

Então meu rosto congelou.

O cordão mágico voou feroz acertando os Cannis e os partindo, fazendo uma explosão vermelha e horrível.

— Muito bom Lucy! Eu não vou perder para você! -Erza que viu isso, saltou da Esperança Flamejante- REEQUIPAR!

Uma armadura com asas prateadas brilharam no seu corpo, e cheia de motivação bizarra, a ruiva partiu sem escrúpulos para os monstros. Ela enfrentou facilmente derrubando um Cannis depois do outro. Os cavaleiros machucados que estavam cheio de desespero, sorriram com a ajuda.

Mas ainda assim, a quantidade de inimigos é muito grande, e Titânia não poderia derrubar tudo num poder massivo, porque poderia acertar os aliados no meio. Então foi obrigada a derrotar um por um.

E eu que também pousei com os pés no chão, deixando Estrela Negra para trás, encarei os cachorros grasnando para mim. Mais uma vez balancei o chicote.

— WHOAAAA! CORRAM! -gritou o cavaleiro, apertando a cabeça.

— FUJAM! FUJAM! 

— PLATINA SANGUINÁRIA ESTÁ FORA DE CONTROLE DE NOVO!

Meu sorriso estremeceu, mas de alguma forma, foi incrivelmente contagiante o enorme poder de Lucy Knightwalker. 

TAU!

O som do chicote rasgou três monstros.

TAU! 

Mais quatro Cannis foram cortados ao meio de forma lamentável.

CATAPLAU!

Acertei o chão, fazendo a terra voar, os monstros serem acertados e os cavaleiros pularem apressados, cheio de pânico.

TAU! TAU! CATAPLAU!

Continuei os movimentos.

MEU DEUS, ISSO É INCRÍVEL! MUITO RIDÍCULO!

— AAAAAAAAAAAH! 

— SALVEM-SE QUEM PUDER! 

— PLATINA SANGUINÁRIA ESTÁ LOUCA! 

A poeira ergueu fazendo uma fumaça dramática, com os cavaleiros suando de tanto desviarem e correrem para longe. Os monstros foram mais fáceis de acertar porque eles seguem o instinto mais ofensivo que o defensivo e em consequência, agora estavam mutilados.

Girando o meu braço, fiz um círculo brilhoso, então arremessei a corda de baixo para cima. 

— GAOOOOOOOO -cinco Cannis uivaram deprimentemente.

— AAAAAAAAAH! -os cavaleiros pularam, mais preocupados comigo que com os inimigos de verdade.

Os monstros que se cortaram no ar, seus pedaços caíram no chão com um baque, e fez uma chuva sangrenta, me molhando terrivelmente.

E dentro de mim, sentiu uma estranha familiaridade. Era para sentir nojo, pavor e sair gritando, tremendo de horror. Tive essa leve consciência, mas a Lucy Knightwalker dentro de mim acalmou os nervos, acostumada com essa cena.

Na verdade, me senti revigorada pelo poder tão grande.

Ao mesmo tempo encontrei sentimentos chocantes ao perceber que a Lucy desse mundo é muito mais forte que a eu do outro mundo e fiquei meio deprimida. 

Então no meio da chuva de sangue, ergui meu rosto coberto pela máscara prateada. Pelo canto do olho pude ver as pontas do meu cabelo loiro se tornar ruivo lentamente, enquanto andei pela poeira erguida e dramática. O meu chicote brilhante se arrastando no chão. O cheiro de ferro impregnou o meu olfato.

Os Cannis que finalmente descobriram a desvantagem, quando sobraram muito pouco deles. As orelhas pontudas se abaixaram para trás e o rabo peludo encolheu entre as pernas. Grasniram levemente para mim com os olhos apavorados. Seus corpos meio humanos os fazia andar em duas patas traseiras, mas nesse momento, eles ficaram de quatro patas e correram para a floresta.

Titânia também terminou o lado dela, guardando as espadas. Sua mão balançou o cabelo ruivo. E ela estava sem uma mancha de areia em seu corpo.

— Mandou bem Lucy -ela deu um elogio.

Os sapatos dela fizeram um som molhado pela poça de sangue me circulando.

Abri um sorriso.

Então o rosto de Erza congelou.

— Wow, Platina Sanguinária, é um nome perfeito a você.

Agora eu quem paralisei.

Olhei para as minhas mãos manchadas em um fedor forte. Mas não me senti enojada. Era bizarro e estranho. 

Esse sentimento de estar acostumada me fez fechar os punhos levemente. Lucy tem o hábito de se banhar de sangue...? Não só isso, a forma que balancei o chicote, era estranhamente familiar e fácil. Ao mesmo tempo cheio de crueldade e sem hesitação em matar.

Na minha vida passada, era normal também. Mas agora...

Pensei em como os monstros se partiram em dois rapidamente e sem muito esforço.

Como foi que você ficou assim de forte?

Eu não era assim, sempre pensei que precisava das minhas chaves. Toquei na lateral da minha coxa. Como pensei, não tenho as minhas chaves.

— Está me escutando? -a mão de Erza pousou no meu ombro.

Quando a encarei, ela deu dois passos para trás com um sorriso astuto e fez uma posição defensiva. Franzi as sobrancelhas. Por que ela fez esse movimento apenas tocando no meu ombro?

— Por... -pensei em questionar.

Então senti uma dor. 

— Ugh...

Meu peito começou a queimar e doer muito. Minha palma enrugou a camisa, mas a dor apenas piorou. Como se rasgasse meu coração, apertando e se quebrando.

— Lucy...?! 

A última coisa que vi foi sua cabeleira ruiva correndo com uma expressão pasma e desesperada.

Tudo ficou escuro.

A dor estava dilacerando e puxando meu coração. Engasguei e brilhantes flashs apareceram. 

A voz de Erza... Está gritando?

O lugar está mudando em uma bagunça. 

Quando abri os olhos levemente, não consegui respirar direito, a mente girando e girando. A dor pulsando, agarrei meu peito, tentando arrancar essa coisa que está me machucando. Mas não consegui pegar. Nem sabia o que era, mas está ali.

Apunhalando e tentando me matar. 

— Lucy! Aguente firme! -o grito de Erza estava meio abafado.

— Erza... Está doen... -engasguei. 

Percebi mais ou menos que era uma barraca. E eu estou deitada.

— Lucy, o médico está pra chegar! -ela agarrou minha mão. 

Então a entrada da barraca se abriu levemente. Pelo ligeiro borrão, eu encarei a sombra de uma pessoa contrastando com a luz do sol atrás dela.

— Erza -uma voz masculina a chamou.

Apenas com essa palavra, senti minhas forças tremerem. Uma voz que era familiar.

— O que você está fazendo aqui? -a voz de Erza exclamou surpresa.

— Estou saindo, voltarei em alguns dias -sua resposta foi calma e baixa. 

— Espera, você vai sair? Aonde você está indo quando Lucy está assim?

— ... Quem se importa com uma pessoa tão infame? Ela se importa com ninguém, por que preciso dar atenção a ela? -sua voz foi tão fria que senti meus olhos marejarem.

A dor me afogou, com a falta de ar, minha mente ficou mais tonta, respirando pesadamente. Mas minha mão se ergueu em direção ao homem na entrada, enquanto a outra amassava completamente minhas roupas no peito.

Eu pude ver claramente a cabeleira negra do homem, enquanto ele se virou para sair.

— Ro... -tentei murmurar com as minhas forças. Com as lágrimas transbordantes.

— Ryos! -Erza se levantou em um berro e correu atrás do homem, cheia de raiva.

Ryos?

Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, uma apunhalada mais forte apertou meu coração.

— Argh! -arregalei meus olhos, engasgando.

Quando meus olhos estavam para se fechar com a tontura esmagadora na minha mente, um pequeno vulto entrou pela barraca.

— Lucy! -um corvo preto voou em cima da minha cabeça.

Que demônios? Agora um corvo falante?

— Puxe sua blusa, Lucy! -sua voz urgente ressoou na minha mente. 

O pássaro negro deu mais algumas voltas, e no seu bico um pingente brilhante balançou.

— LUCY! -ele exclamou num tom mais bravo.

Com meus dedos trêmulos, puxei a minha gola para baixo. Olhei com dificuldade, e vi minha pele com várias veias vermelhas aparecendo chocantes, como raízes de uma árvore se espalhando para todos os lados... E o ponto inicial dele era uma marca de tatuagem bem no meio do meu peito.

Nesse mesmo segundo, o corvo pousou em cima de mim, com o pingente em seu bico sendo colocado em cima do meu coração.

Mas não foi isso em que prestei atenção, meus olhos se arregalaram.

A minha marca negra de um dragão não estava. Em seu lugar, havia um dragão tão vermelho quanto um fogo flamejante. 

Quando o vi, minha mente pinicou. Junto com a dor, uma imagem fluiu na minha mente. Como se um filme fosse espremida e me obrigando a assistir.

Em um quarto de dossel grande. O teto de mármore e chão de pelo de urso. Tudo o que iluminou o quarto bonito e caro, foi a lareira acesa e crepitante. 

A primeira coisa que descobri foi que não poderia me mover ou falar por vontade própria. Sentimentos estranhos também estavam surgindo no meu coração. Como algo forçado. Então percebi. Nesse momento, eu não era Lucy Heartphilia. E sim Lucy Knightwalker.

— Luce.

A voz de um homem me chamou e meu rosto se ergueu. Um rosto que conheço bem, sorriu. Mas foi um sorriso tão sarcástico e cheio de nojo que aquele homem parecia um completo estranho.

Seus dedos apertaram meu queixo trazendo uma dor forte. E com a mão livre do rosado, acariciou meu rosto, porém não pude sentir seu toque... Porque o que ele acariciou não foi minha pele e sim a máscara do meu rosto.

— Luce, por que está falando nada?

Os olhos ônix brilharam, refletindo as chamas da lareira. 


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