Caminhantes escrita por Serin Chevraski


Capítulo 100
Venha Comigo




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Zeref POV

A brisa soprou lentamente. Olhei para as nuvens crepusculares em uma mancha cinza e deprimente.

O planeta vai continuar a girar, mesmo que toda a sua vida se esgote. Ignorando que toda a sua existência está sendo morta. 

Não é cruel?

Cruel? Eu esqueci o sentimento de simpatia há muito tempo.

Dei um sorriso. Mas de alguma forma, foi amargo.

Ah, quantas vezes eu não vi esse final?

Eu ainda consigo me lembrar o rosto de Lucy e Natsu morrer pelas minhas mãos. Mas me cansei desse looping infinito. Mavis, como você se sente ao saber que sua magia, a sua alma foi usada para matar a sua amada Fairy Tail?

Posso sentir. A ligeira conexão que existe entre eu e você. O ligeiro desejo seu me pedindo socorro. A razão que não pude desaparecer quando o mundo tentou me sumir, foi você que o impediu, não foi?

Parei atrás do casal encostado um ao outro, sentados no banco de madeira. Suas cabeças tinham folhas secas.

— Lucy -eu a chamei.

Ela não se moveu. Dei a volta pelos dois, o Dragon Slayer estava com o rosto meio escondido pela longa franja. Tinha os olhos fechados e um sorriso pacífico no rosto.

Enquanto a loira tinha olhos abatidos, fixando sua atenção ao chão. Pude ver um ligeiro inchaço nas bolsas abaixo das orbes achocolatadas. Algumas lágrimas estavam penduradas, sem cair.

— Lucy -ergui a minhã mão, estendendo para ela.

— Ele está frio -a sua voz rouca sussurrou- Eu preciso esquentá-lo. A noite faz tanto frio...

As duas mãos dela se agarraram com força à palma do homem que não tinha mais forças. Ela os esfregou, se esforçando ao máximo, a ponto que o nós dos seus dedos ficaram vermelhos.

— Você tem que aceitar. Ele está morto. Rogue já morreu.

Os olhos dela tremeram, seus lábios rachados se comprimiram.

— Lucy, eu preciso de você -estendi a minha mão novamente para ela- Para parar Lisanna.

Os ombros dela tremeram, fazendo as folhas secas que se prenderam no seu corpo, caírem.

— Você não pode simplesmente me deixar aqui? -sua voz contendo desesperança.

Cheguei mais perto e me ajoelhei à sua frente. Fitei diretamente em seus olhos, então falei:

— O que ele disse no final?

Os olhos dela ficaram mais tristes.

— Perguntou... Se eu ainda o amaria.

— Então vocês prometeram se reencontrar.

Os olhos dela se arregalaram, tremendo.

— Isso significa que ele quer que você viva -abaixei minha voz, para não assustá-la- Não é isso que ele esteve fazendo até agora? Mesmo que coloque a si mesmo em risco, sua maior prioridade e preocupação, foi você. Ele quer que você viva.

As lágrimas caíram dos olhos dela.

— Olhe para como você está tão patética agora. Parece como a primeira vez que te vi nos seus sonhos.

Dei um sorriso.

— Acha que Rogue Cheney gostaria de te ver assim?

— Zeref... -ela deu um riso magoado- Seus conselhos são uma droga.

— Venha -me levantei, estendendo a mão para ela. Uma terceira vez- Recomeçar novamente. Para sairmos dessa utopia retorcida de Lisanna.

As mãos dela se ergueram lentamente. Eu peguei, puxando-a. As folhas caíram, se espalhando no chão. Os olhos achocolatados continuaram a olhar persistentemente o homem que ela está deixando para trás.

A minha mão ligada à ela começou a brilhar. Para nos tirar desse mundo que está morrendo.

Mas assim como a loira, eu também olhei para o mago das sombras.

Os cílios dele pacificamente fechados, parecia estar dormindo.

Eu realmente admiro você, Rogue Cheney. Sorrir até o final, aceitando a morte desse jeito. As pessoas normais não fariam isso. Elas chorariam, ficariam revoltadas, se recusaria a esse desfecho.

Mas você sabia.

Não dava para escapar dessa tragédia eminente. Então você simplesmente deu uma despedida pacífica. 

Foi por causa dela?

Se você mostrasse a mágoa, chorasse e gritasse, isso se tornaria em um trauma mais doloroso para sua amada Lucy?

Pensei que já havia vivido o suficiente e visto de tudo. Mas alguém como você, que se esforça tanto para a sua devoção à uma mulher. É algo que ainda não consigo compreender.

Essa sua gentileza, Lucy Heartphilia conseguiu apreciá-la?

Todo esse seu sacrifício, valeu a pena?

Mas Rogue Cheney não poderia responder às minhas perguntas. Olhei para aquele sorriso incompreensível em seu rosto.

Ou talvez, você nunca esperou ser reconhecido pelas coisas que fez. 

Se for assim...

Fechei os meus olhos. 

A luz na minha palma terminou de energizar e fui engolido pelo espaço tempo, levando Lucy comigo.
 

Lucy POV

Esfreguei lentamente com a ponta dos dedos, a região acima do meu coração, bem aonde tem o selo de dragão gravado na minha pele. Um devastador sentimento de vazio, que não importou o quando apertasse, não passava.

— Abra os olhos -Zeref falou.

Assim que pisquei, um túnel branco e infinito estava aos meus olhos. Puxei a minha mão para soltar o mago das trevas.

— Aonde estamos?

— Esse é o caminho dos mundos. A cada tempo destruído se perdeu aqui. Precisamo passar para chegar ao novo mundo que Lisanna criou.

Ele começou a caminhar na minha frente, com tanta confiança.

— Você... Passou quantas vezes por esse túnel? 

Seus passos pararam e olhou para a lateral do túnel. Segui a sua visão.

Nesse enorme branco, existem fissuras, como a marca de uma garra rasgando a parede. Desses buracos, apareceram imagens.

— O que é isso? 

— ... O final de todos os mundos se encontra perdido. Seus fragmentos finais ainda estão flutuando no tempo espaço.

O que Zeref olhou, foi a de uma terra em chamas e destruição. Com um enorme dragão cinza platino voando e jorrando um fogo negro. 

Os prédios um dia tão altos, se reduziram a ruínas devastadas. O céu azul se tingiu de vermelho e fumaça. No meio da estrada de pedras destruídas, um homem de cabelo rosa está de joelhos no chão. Sua pele cheia de escamas carmesim e dois chifres negros crescendo em sua testa. A camisa rasgada mostrou suas feridas feias e ensanguentadas, junto com duas asas florescendo grotescos nas costas musculosas, o rodeou protetor. 

Natsu tentou o seu melhor, usando até mesmo as asas quebradas para fazer um casulo, mas uma enorme estaca o perfurou pelas costas, atravessou o seu peito e chegou à pessoa que ele tentou proteger.

Dos braços dele, há uma mulher loira. A mancha de sangue que saiu de seu estômago, fluiu e fez uma poça.

O fogo incontrolável soprou ferozmente, com as duas pessoas sendo engolidas. 

E a pessoa que estava assistindo a tudo isso, uma albida em lágrimas os encarou.

— NATSU! -ela gritou, as chamas subiram mais alto, e ela recuou com os braços na frente do rosto- Ugh...

Lisanna que arregalou os olhos, refletiu o desespero. Seu coração despedaçado com a realidade que o homem que ela amou, morreu por outra mulher. 

— Não... -as lágrimas mancharam o seu rosto, a fuligem escureceu a sua pele, dando uma figura lamentável e devastada- Não...! Natsu!

Suas mãos tremeram. Não há mais ninguém. Apenas Lisanna e a destruição.

— O que eu devo fazer? O que...? -os olhos azuis dela se afundaram no maior pânico.

Acnologia rugiu no céu, com as asas abertas e destruindo o mundo.

A albina ficou de joelhos, congelada. Então algo estranho aconteceu. Um bizarro deja-vu.

— Huh? -ela viu mais uma vez o corpo de Natsu aparecer. 

E logo o corpo dele foi engolido pelas chamas.

— O que aconteceu? -ela virou o rosto para os lados.

Então começou a correr. Tentando procurar a razão do estranho fenômeno. Suas mãos se tornando vermelhas e queimadas. A sua sandália mostrou os seus pés se torrando no meio daquelas chamas. Ainda assim, tampou o nariz com as mãos no segundo que a fumaça se tornou mais densa.

E então encontrou uma mulher de cabelos negros no chão.

— Você... -Lisanna ficou surpresa. 

Era Ultear. A albina correu para a maga do tempo e a apoiou.

— Ei! Você... 

— Coff... Eu não acredito... -Ultear começou a chorar, com um sorriso cheio de injustiça estampada- Eu... Troquei minha vida, a minha vida inteira... Para voltar malditos cinco minutos...! É tudo isso que a minha vida valeu? Malditos cinco minutos...?

Os olhos de Lisanna se arregalaram.

— Você... Voltou no tempo...? -ela sussurrou, mas nesse segundo a mulher em seus braços cuspiu sangue e fechou os olhos lentamente, com um sorriso de ironia.

A albina ficou congelada.

— O tempo... -então algo em sua mente se torceu, suas pupilas azuis tremeram desesperadas- Natsu... Eu tenho que salvar...

A sua mão foi para o peito de Ulterar. Com um brilho em sua palma, uma pequena luz saiu do corpo da morena. Lisanna o agarrou e botou no próprio coração.

Então deixando o corpo inerte para trás, ela olhou para as chamas e destroçou.

— Mas não posso voltar apenas cinco minutos... Não da tempo -ela mordeu os lábios.

Como se as chamas fossem a sua casa, ela continuou a caminhar. O chão tremeu quando o rugido de Acnologia destruiu outro prédio, transformando-o em ruínas. Mas inabalável, Lisanna continuou seu caminho.

Ignorando que suas mãos estavam ficando negras se queimando no calor, ou que seus pés começaram a sangrar.

Procurou com o olhar e subiu por escombros flamejantes.

Ela viu muitos corpos cremando. Outros soterrados. A albina passou a mão na testa cheia de suor. Então viu alguém familiar.

Mestre Makarov no chão. A mulher correu, mas seus olhos se prenderam em quem estava ao lado do velho.

— Mestra Mavis! -ela correu com os olhos cheios de preocupação e pânico.

— Lisanna... -a garota chorou- Todos... A minha Fairy Tail...!

— Mestra... 

— Eu não posso acreditar... Todos... -sua voz tremeu.

Nesse momento, Lisanna retorceu o rosto em dor e lágrimas caíram.

— Mestra, Natsu se foi... -seu rosto olhou para o céu vermelho- Ele... Com Lucy...

— Não! -ela caiu de joelhos no chão, com as mãos no cabelo, tentando negar a realidade- Se ele se for... Quem vai...

Então Lisanna se abaixou para ficar da mesma altura da loira. 

— Mestra, ainda existe esperança -sussurrou, gentilmente- E você é quem vai salvar Natsu, Mestra Mavis.

O rosto da albina sorriu tristemente.

— Eu sinto muito... Vai ser só uma vez. Precisa ser apenas uma vez.

— O que...?

A mão dela foi para o peito de Mavis, a fantasma fechou os olhos e se tornou uma pequena semente brilhante. Igual como fez com Ultear, ela espremeu no coração.

Então Lisanna se levantou e respirou fundo.

— TAKE UNISON! HOPE RETURN!

Nesse momento, tudo brilhou.

Foi o fim da imagem refletida pela fissura.

— Que...? -franzi as sobrancelhas.

— A partir desse dia, as almas de Ultear e Mavis... Ficaram presas em Lisanna, não importou quantas vezes ela reencarnou -Zeref virou o rosto e continuou a caminhar.

Eu o segui. E a cada passo, mais e mais fissuras apareceram.

— LUCE! -o rosado gritou, correndo para uma loira que caía do céu. 

Ele estava com asas de dragão abertas, em uma figura assustadora e ensanguentada. Os demônios espalhados e fazendo uma grande guerra contra vários humanos em armaduras.

Natsu passou por toda a batalha, indo em busca daquela estrela cadente que refletiu em seus olhos ônix e abriu os braços. Mas o corpo da mulher estava cheia de pólvora estelar que é letal para a pele das pessoas. A ela que se parece comigo... Não, ela sou eu.

— Não venha... Natsu... -seus lábios se mexeram, e seus olhos se fecharam, com a queda de milhares de kilômetros.

Ainda assim, ele correu em busca dela.

No segundo em que a eu da imagem caiu nos braços dele, a pólvora brilhante cobrindo todo o corpo dela, corroeu. A transformando em milhares de luzes, junto com o homem que a segurou.

— NÃO! -Lisanna que assistiu a isso, segurou os próprios ombros e um grito cheio de desespero.

O campo de batalha continuou, com os humanos morrendo, as espadas colidindo, os magos gritando, as magias se espalhando no ar. E os demônios rindo com o banho de sangue.

Mas nos olhos azuis só existia uma coisa: As luzes que voaram ao céu o que antes foram Lucy e Natsu.

— TAKE UNISON! HOPE RETURN!

Eu fechei o meu punho. Desviei o olhar e continuei a seguir Zeref.

— Por que... Você continuou a tentar destruir o mundo? -perguntei para o mago das trevas.

— Eu tenho minhas razões. Como eu disse... Quando a história é de Fairy Tail, eu sou o inimigo -ele murmurou.

A cada abertura temporal, havia mais morte, mais guerra. Mas todos eles terminavam de formas diferentes.

— TAKE UNISON! HOPE RETURN! -Lisanna gritou em cada um deles.

Sempre que Natsu morria, ela ativava a magia.

— No começo... Eu não sabia -Zeref divagou, caminhando na minha frente, sem me mostrar o rosto- Mas pouco a pouco fui me dando conta.

— ... E nesse momento não somos mais inimigos? -o encarei com cautela.

Vendo todos esses finais, suspeitei do homem na minha frente.

— ... A história mudou. Eu me cansei. Do que adianta ir atrás dos meus objetivos se eles vão dar em nada e Lisanna vai resetar? Começar de novo e refazer? -ele parou os passos- Se minha memória fosse apagada, como a de vocês, eu ainda seria o seu inimigo. Mas eu me lembrei. Por causa de Mavis e a minha magia que é interligada a ela.

Ele se virou para mim, o sorriso do mago das trevas era tão opaco que passou nenhuma emoção.

— Tentei buscar formas de parar Lisanna... Então parei de ser inimigo de Fairy Tail. O que quero agora, é que você me ajude.

— Eu...

— Lucy, seja uma caminhante temporal comigo.


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