50 Milhas Até Maryland escrita por Tai Bluerose


Capítulo 1
50 Milhas Até Maryland


Notas iniciais do capítulo

Se passa em algum momento da primeira temporada. Da casa do Will até a casa do Hannibal são 50 milhas, mais ou menos uma hora ou uma hora e meia de carro.
Boa leitura.



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50 Milhas Até Maryland

Hannibal acordou com o som da campainha tocando. O relógio marcava 2h da manhã. Vestiu um roupão sobre seu pijama de seda azul e desceu as escadas. Não imaginava quem poderia ser àquela hora da noite. Por isso, um bisturi perfeitamente afiado se escondia no bolso de seu roupão, caso fosse necessário. Abriu a porta cautelosamente e se deparou com Will Graham.

Hannibal deu-lhe boa noite, mas o jovem investigador não respondeu. Graham olhava diretamente para Hannibal, mas seus olhos estavam vazios, não enxergavam nada no mundo dos despertos. Era mais um dos seus episódios de sonambulismo. Pelo visto eles estavam se tornando frequentes.

Hannibal olhou sobre o ombro de Will, o carro dele estava mal estacionado na entrada da casa. Will vestia apenas uma camiseta branca colada ao corpo e uma cueca samba-canção cinza e curta. Seus pés estavam sujos de lama e havia um pequeno corte sobre o tornozelo esquerdo. Pelo visto Will tinha perambulado pela floresta em Wolf Trap antes de pegar o carro e vir. Por mais que o trânsito fosse mais tranquilo na madrugada, Hannibal se surpreendia com a sorte de Will em dirigir 50 milhas até Maryland dormindo sem se envolver em algum acidente. Pelo menos ele não veio a pé como tentou fazer da última vez.

Hannibal ficou olhando para a figura adormecida de Will, ponderou por cinco segundos se o acordaria ou se o deixaria como estava. Decisão tomada, trouxe Graham para dentro de casa e o deixou sentado no sofá enquanto guardava o carro dele na garagem. Se o acordasse, era certeza que Will iria querer voltar para casa e Hannibal não queria perder a oportunidade de ter o investigador sob sua tutela. Will ficaria muito grato pela manhã e certamente confiaria mais em Hannibal. Gratidão e confiança são dois dos elementos que costumam alicerçar uma amizade, e amizade era o que Hannibal mais queria de Will. Isso e outras coisas que viriam com o tempo.

Com todo o cuidado para não despertar o investigador, Hannibal o guiou escadas acima até um quarto de hospedes, fez com que ele sentasse na cama, e foi pegar toalhas limpas e um recipiente com água.

Umedeceu uma das toalhas e principiou a limpar os pés de Will.

 – Sobre o que conversaremos hoje, Dr. Lecter?

Hannibal ergueu os olhos, surpreso, mas sorriu ao constatar que Will continuava no mundo dos sonhos. Will estava “funcionando no automático”. Resolveu abusar um pouco da sorte e pressionar Will a falar mais.

 – Você não é meu paciente, Will, é meu amigo. Pode me chamar de Hannibal.

 – Isso sugere intimidade – as palavras dele saíram com languidez.

 – Há intimidade entre amigos. Você não se incomoda que eu te chame de Will. Não me importaria se usasse meu primeiro nome.

 – Sobre o que conversaremos hoje... Hannibal?

 – Sobre o que você quiser falar, Will.

O investigador continuou em silencio. Ele tremia de frio. Hannibal se levantou e pegou um cobertor limpo, colocou-o envolta dos ombros de Will. Ao fazê-lo, aproveitou para apreciar o cheiro que emanava do pescoço e dos cachos do jovem.

Hannibal tornou a umedecer a toalha para limpar o outro pé.

 – Gosto do seu cheiro, Will – confessou. Graham não se lembraria de nada no dia seguinte mesmo.

 – Pensei que não gostasse da minha loção pós-barba – a fala de Will era lenta, típica de sonolentos.

 – A sua loção pós-barba é terrível! Felizmente você não está usando-a agora. Seu cheiro natural é agradável. Acredito que você saiu do banho e foi direto para cama – tomava o cuidado de manter a voz na mesma altura e cadência que a de Will, para que ele não despertasse.

 – Estou curioso, o que queria falar comigo? Por que veio até aqui?

 – Eu queria vê-lo.

 – Por quê?

 – Não sei. Só queria vê-lo – Will ficou um bom tempo em silêncio e por fim acrescentou: – Gosto das nossas conversas, Doutor.

  Hannibal sorriu satisfeito, ali estava algo que Will jamais admitiria estando acordado. Colocou um curativo sobre o corte no tornozelo do Will e pôs-se de pé. – Você vai dormir agora, Will.

 – Você também?

 – Sim, eu também. – Esperou que Will se reclinasse sobre a cama e o cobriu com o lençol. Ficou pensando em como Will estava vulnerável naquele momento, seu pescoço ao alcance da mão. Poderia matá-lo, se quisesse, e o jovem nem notaria. Garoto esperto e inteligente. Se pudesse, Hannibal comeria seu coração. Graham devia ter um sabor inigualável. Arriscou uma delicada carícia no rosto de seu paciente, tocando seus cachos macios antes de retirar a mão. – Feche os olhos, Will.

Will virou-se de lado, aconchegou-se na cama e fechou os olhos.

Hannibal ficou ainda um bom tempo velando o sono de Will, para ter certeza de que ele não se levantaria para perambular novamente. Hannibal não mataria Will, tinha planos melhores para ele. Pela primeira vez, Hannibal via em Will algo que ele jamais viu em qualquer outra pessoa: a oportunidade de uma amizade. Um companheiro. Hannibal sabia que por baixo da pele de cordeiro, Will era um lobo, um caçador assim como ele. E ele ajudaria Will a enxergar isso. E, quem sabe, poderiam caçar juntos.

.

.

Hannibal estava terminando de preparar o café da manhã quando alguém começou a tocar sua campainha incessantemente. Pelo visto aquele era o dia das visitas inesperadas. Abriu a porta e Jack Crawford entrou como um furacão, seguido por Brian Zeller.

 – Algum problema Jack? – Indagou Hannibal.

 – Doutor Lecter, você recebeu alguma notícia de Will Graham ou ele falou se iria a algum lugar? Passamos na casa dele hoje bem cedo, o lugar estava aberto, o celular estava lá e nem sinal dele. Já telefonei para a Drª Bloom, Katz e ninguém sab...

Jack interrompeu seu discurso desesperado quando Will Graham apareceu na sala, tão surpreso quanto os dois policiais na porta. Jack olhou de Will para Hannibal, ambos com roupas de dormir, cabelos bagunçados...

 – Jack, o que você está fazendo aqui? – Will indagou, mas também não fazia ideia do que ele estava fazendo ali.

— Eu estava te procurando.

 – Will passou a noite aqui. Ele deve ter esquecido de trancar a porta devidamente antes de vir – Hannibal explicou com toda a naturalidade. Jack continuava a olhar de um para outro e Zeller parecia que ia explodir a qualquer momento. – Desculpe pelo transtorno que causamos.

 – N-não é o que você está pensando Jack – Will apressou-se a dizer, vendo o mal entendido que se formava.

 – Não estou pensando nada. Vocês são adultos, solteiros, vocês que se entendam. Mas nós temos um caso novo e urgente. Temos que ir para Minnesota agora, neste momento. Antes que a imprensa chegue, ou pior, Freddie Lounds. Vamos esperar lá fora, vocês têm dez minutos.

 – Vamos só trocar de roupa, Jack – Hannibal falou e voltou a fechar a porta.

Hannibal foi para as escadas e pediu que Will o seguisse. Will estava atordoado. Tinha acordado com a campainha e saiu andando pela casa que sabia não ser sua e deu de cara com seu chefe, um colega de trabalho e seu quase-psiquiatra.

 – Como eu vim parar aqui? E onde estão as minhas roupas?!

 – Você bateu a minha porta hoje, às 2h da manhã, vestindo apenas isso. Eu não quis acordá-lo, então, o levei para o quarto de hospedes.

 – Por que você disse pro Jack que eu passei a noite aqui?

 – Porque você passou, e porque você disse que não queria que Jack soubesse dos seus passeios noturnos e apagões diurnos.

 – Sim, eu disse. Mas é que ficou parecendo que... ele pensou que... nós dois...

 – Mantivemos relações sexuais?

Hannibal falou com a cara mais limpa do mundo e Will, constrangido e corado, só assentiu em silêncio.

 – Pelo menos isso evitará que eles façam perguntas indevidas sobre seu estado de saúde mental. Quanto à insinuação sobre nossa sexualidade, isso não me incomoda nem um pouco, Will. Mas se lhe causa desconforto, podemos negar. Afinal, nada aconteceu mesmo.

Hannibal tinha guiado Will até o seu próprio quarto e começou a procurar em seu guarda-roupa alguma coisa que servisse no outro. Entregou a Will uma calça preta de alfaiataria e uma camisa azul marinho lisa.

 – Acho que essas são as únicas peças que possuo que mais se assemelham ao seu estilo, Will. Espero que sirvam.

Will recebeu as roupas e ficou surpreso quando Hannibal, sem qualquer cerimônia, despiu-se de seu pijama e começou a colocar um de seus ternos.

Hannibal era forte, mais do que parecia. Músculos de quem pratica alguma atividade física, musculação talvez. Ele tinha pelos no peito também. Will se tocou de que não devia estar encarando seu psiquiatra e desviou os olhos para o tecido da blusa em suas mãos, coincidentemente da mesma cor que a cueca que Hannibal estava usando.

Will viu Lecter entrar no banheiro para escovar os dentes e sair de lá três minutos depois perfeitamente alinhando e penteado.

 – Will, você ainda não se trocou?! Jack nos deu dez minutos. Só restam quatro. Me desculpe, eu nem perguntei se você queria privacidade para se trocar, vou deixá-lo e espero lá embaixo. Tem uma escova de dente nova no banheiro para você. Pode usar minha loção pós-barba também.

Hannibal saiu e Will vestiu-se apressadamente.

.

.

 – Obrigado por me ajudar. E desculpa por todo o incômodo – Will disse a Hannibal quando ambos chegaram ao local do crime. Jack Crawford já delegava tarefas ao restante da equipe.

 – Incômodo nenhum, Will. Nunca se desculpe por vir até a mim. O que seria das amizades se não cedêssemos um pouco de nós mesmos pelos nossos amigos? Pode dormir na minha casa sempre que quiser.

Will não respondeu ao comentário.

Um pouco afastada dos dois, Beverly Katz olhava, intrigada, para o profiler e o psiquiatra. Aproximou-se de Brian Zeller e Jimmy Price.

— É impressão minha ou o Will Graham está usando as roupas do Lecter? E o perfume.

 – Você não sabe da história a metade – comentou Zeller. – Passaram a noite juntos.

 – Mentira! O Garoto Maravilha e o Garanhão?

 – Pra você ver...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^-^Até



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