Batgirl - Sombras na Escuridão escrita por CaptainPhasma


Capítulo 2
Brincando em um Jogo de Adultos


Notas iniciais do capítulo

Mesmo ocupado consegui um tempinho para escrever mais um capítulo. Continuando essa pegada mais séria, trago o enredo para o lado investigativo, fugindo do clichê das histórias de heróis. Espero que gostem.



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O clima de intenso frio do hemisfério norte começava a dar lugar ao ar ameno e cheiroso do inicio da primavera. Os primeiros botões começavam a desbrochar nas copas da árvores, logo a cidade estaria tomada por um caleidoscópio de cores vibrantes que sobrepujariam o cinza monótono típico de uma metrópole industrializada. Vestida com uma leve jaqueta de couro sintético, a jovem jornalista Chloë caminhava pelo bairro central, descendo a rua em direção a sua próxima matéria. A casa onde acontecera o crime (ou os crimes se contarmos o que acontecia e o que aconteceu) estava lacrada por aquelas famosas faixas amarelas de contenção da polícia, coladas em “X” de ponta a ponta em portas e janelas. A edificação era bastante comum e até feia por sua falta de criatividade arquitetônica; passaria despercebida pelos olhos comuns caso não tivessem acontecido os crimes. Mas, seu alvo não era propriamente aquela casa e sim o que havia ao seu redor. A possibilidade de entrar e verificar a casa estava em sua mente até perceber a ronda policial parada próxima ao local. Não, estava ali para colher relatos de vizinhos como uma boa e polida jornalista.

Bateu na porta da primeira casa. Era escura com detalhes na maçaneta e dobradiças em dourado que davam um certo charme e diferenciavam-na das demais. Talvez a primeira coisa realmente bonita que encontrara naquele dia. Passos abafados aproximavam-se vindos do outro lado. O rosto vindo de dentro tinha uma aparência mais velha, não tão próximo dos cinquenta, mas ainda longe dos setenta. A senhora de cabelos negros com leves traços de cinza perguntou educadamente.

— O que deseja? - A voz era bastante rouca, do tipo que passa seus fins de tarde a cigarro e uísque barato.

— Boa tarde, meu nome é Chloë Burnier, trabalho para o O Centurião e gostaria de fazer algumas perguntas.

— Olha, me desculpe, mas eu não tenho tempo agora.

— Por favor, será rápido. Sei que deve estar cansada e não devo ter sido a primeira e vir perturbar a senhora.

— Ótimo, então não precisarei me desculpar quando fechar a porta na sua cara. – Toda aquela educação do inicio desparecera num passe de mágica.

A porta bateu seca na cara de Chloë, criando uma leve rajada de vento que balançou seus cabelos escuros. A reação não fora das mais surpreendentes, não era muito fora do comum o estresse com jornalistas curiosos, ensandecidos for chafurdar uma história. A maioria das pessoas ficava com o pé atrás diante de uma enxurrada de perguntas que achavam que não competiam a sua alçada. A outra parte detinha um pouco de medo de participar, principalmente de um caso macabro de morte. O comportamento humano não era assim tão complicado de ser compreendido. Continuou em frente, tentando a sorte de porta em porta.

Ao final do dia, com o sol já baixando no horizonte, recapitulou suas conquistas. Os relatos dos moradores (os poucos que quiseram falar) eram vagos e limitavam-se a frases como “sempre achei ele estranho” ou “eu sabia que cedo ou tarde algo desse tipo aconteceria”. O que parecia ser um discurso genérico ensaiado por toda uma vizinhança. De fato, todo mundo se tornava estranho depois de cometer um crime e era incrível a quantidade de pessoas que sempre sabiam que algo aconteceria. Começava a achar que fora uma perda de tempo a ida até ali. A temperatura caíra drasticamente com o chegar do entardecer. Estava pronta para voltar para a casa, entretanto ainda sentia que faltava algo. Aquela coceirinha atrás da orelha surgiu quando travou seu olhar na viatura de polícia parada próxima à esquina. Seria mais difícil, mas qualquer frase a mais que conseguisse daquela autoridade seria muito mais do que conseguira até o momento. Não custava tentar.

Aproximou-se do homem de uniforme. Era um jovem alto de pele negra, a cabeça raspada reluzia ao por do sol. Tomava um copo de café, o vapor subia denso das bordas. Parecia estar próximo do fim de seu turno. Fingiu ser uma moradora.

— Vem ai um a noite fria. – Falou Chloë.

— É o que parece. E tenho que ficar vigiando uma casa macabra de adolescentes e suas brincadeiras sobrenaturais. Nunca vou entender isso. Ainda bem que meu turno está no final. – Ela deu uma leve risada. Na mosca!

— Triste o que aconteceu aqui. Você nunca sabe as surpresas que poderá encontrar. - Falou ela, apontando para a casa.

— Sabe... – A palavra saiu bastante puxada. – Já vi mentirosas melhores. Você deveria tirar um curso com minha ex-namorada. – Falou o policial, em seguida tomou mais um gole da bebida; parecia se divertir.

— Não entendi. – Chloë tentou fazer-se de ingenua na esperança de despistar qualquer desconfiança. Sem sucesso.

— Eu vi você perguntando aos moradores. Nem minha mãe aposentada tem tanto assunto e disposição para conversar com todos os seus vizinhos. Você com certeza não mora aqui. Qual jornal?

— Eu me rendo. – Levantou as mãos para o alto. – Trabalho no O Centurião. Só gostaria de saber algumas informações.

— O que você quer saber? Está em todos os jornais. Ele era um pedófilo, alguém com raiva dele o matou. Simples. Não posso dizer que esteja triste com tudo isso.

— Eu sei que há algo mais que estão escondendo. Não é um crime comum, tem padrão. Suponho que tenham mais ou terão mais. Estou certa?

— Você tem uma imaginação bem forte. Parece estar no ramo correto. Olha, preciso ir. Desculpe não posso falar mais nada, meu turno acabou por aqui. – Falou o homem entrando na viatura. – Eu também não concordo com muitas coisas, o jeito que escondem muitas coisas sobre o pretexto de não alarmar a população.

— Então, me ajude a quebrar isso. Apenas uma dica.

— Eu não sei de muita coisa, não existe nenhuma vigilante que nem contam por ai. Me parece nada demais isso tudo.

— Por que você mencionou uma vigilante?

— Não falei nada sobre vigilantes. – Sua expressão era serena. Outro carro de polícia aproximava-se, cumprimentando. – Tenho que ir. Ligou o carro e antes de desaparecer pela rua, deixou uma última frase no ar. – Apenas, cuide-se.

Chloë não poderia estar mais agradecida. Sequer escondia sua expressão de incredulidade, de espanto. Uma mulher? Ele usara artigo feminino, não era comum usar o modo no feminino se não quisesse especificar algo. No final, todo o seu esforço foi recompensado, as informações que conseguira foram mais valiosas do que estivera esperando. A sensação de excitação crescia dentro de seu corpo. Estava certa; todo esse tempo estivera certa sobre tudo isso. Não era um caso isolado como o departamento de polícia dizia, e os principais jornais vendiam em um simples paragrafo de canto de folha. Chloë podia ver o padrão. As palavras de seu chefe ainda retumbavam em seu cérebro: “Não há nada de especial aqui, é até muito racional punir um pedófilo cortando seu pênis." Não, não era nada comum. Aquilo obviamente era uma marca, algo deixado de propósito para demarcar território, chamar a atenção. Era o arquétipo de todo o serial killer. De certo modo, não eram assim nos filmes? Entretanto, uma vigilante? Aquilo era novidade. Seria um salto e tanto em sua carreira. As imagens passavam desfocadas pela janela do ônibus, nebulosas, como seu pensamento longínquo. Mal esperava chegar em casa. A animação mais do que nunca a contagiava na volta. Não conseguia tirar isso da cabeça; quem conseguiria?


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