Não um simples goblin, talvez fosse o mais feio deles (ou o mais bonito, qual é o padrão de beleza goblinóide?). Encarava o espelho por uns momentos que pareciam demorar mais do que uma eternidade, nem mesmo percebia os dois seres lhe observando da porta da sala em silencio, é possível ver a aproximação lenta de um deles com o canto dos olhos, um som de madeira velha batendo contra o chão era ritmado conforme seus passos eram dados. Mashasha ainda estava chocado com a descoberta, e também apreensivo com a aproximação repentina daqueles desconhecidos, percebera agora o quanto foi equivocada sua atitude de passar em frente à porta, por algum motivo não conseguia virar a cabeça e olhar para o lado, permanecia imóvel até que uma mão pousava em seu ombro, era peluda e relativamente grande, pelo menos para as proporções goblinóides.

— Seja bem vindo... Chamo-me Senhor Wilson, mas pode me chamar de Sr. Senhor Wilson. Acredito que tenha muitas duvidas sobre sua origem e sobre quem somos, mas peço que tenha paciência. Gostaria de se sentar e beber algo enquanto conversamos?! – Era a mesma voz que anteriormente havia explicado sobre a tribo dos Ergots, agora mais ainda Mashasha acreditava que ele era uma espécie de líder ou diplomata daquela comunidade, e finalmente tinha a coragem de virar sua cabeça e olhar diretamente para todos que estavam ali.

Para sua surpresa sr Senhor Wilson não era um goblin, mas sim um kobold, um humanoide cachorro extremamente velho e fraco, se apoiava em uma espécie de bengala que também devia servir como cajado para qualquer atividade ritualística ou festiva, visto que era ornamentado com penas e ossos na ponta. Outra coisa que lhe chamava a atenção era o homem do sobretudo que agora também vestia um chapéu fedora típico de filmes dos anos 30, apesar da iluminação precária, ele não apenas parecias mais um goblin do que um humano, era idêntico a um goblin, até mesmo sua pele era amarelada apesar de seus quase dois metros de altura. O humano-goblin-mafioso se virava de lado, deixando a passagem da porta livre para que Sr. Senhor Wilson entrasse, nesse momento era possível ver duas mãos pequeninas e com unhas enormes (e bem sujas por sinal) abrindo um dos botões do sobretudo, de modo que uma pequena brecha se formasse na altura da cintura. Mashasha seguia o kobold em passos lentos e pausados para dentro da sala, que para sua surpresa era extremamente iluminada e aconchegante. Com uma discreta espiadela com um de seus muitos olhos e o interior do sobretudo era revelado: um rosto rosa na altura na cintura.

— Primeiramente: Weewsley e Ademilson, vocês não precisam do disfarce aqui dentro.. – A mesma voz que outrora estava contando a historia chamava a atenção dos dois indivíduos assim que você entrava na sala. Ele era roxo e tinha um enorme bigode no rosto, sem contar algumas cicatrizes e expressões faciais que mostravam uma vida bem difícil, ele estava sentado com a perna cruzada em frente a mesa, onde um aparato enorme e cheio de antenas descansava, até que uma vibração seguida de apitos assustava a todos ali, rapidamente o bigodudo apanhava dois funis ligados a um cabo no aparato, lendo com os lábios de maneira pausada e semianalfabeta algo na tela do objeto, ele pressionava entao um botão e levava um dos funis até a orelha e outro na boca enquanto você se sentava em silencio, de modo a ficar de frente para a porta por onde tinha entrado. – Eu já te falei que sou apenas seu, Flavitcha, elas são só amigas minha.. Eu juro.. Sim, todas elas são amigas e nada mais, te prometo.. Isso, 18 amigas.. – O bigodudo falava de maneira pausada e mais sutil do que quando contava a história sobre os pássaros.

Sr Senhor Wilson seguia até uma construção mal feita no canto da sala enquanto Mashasha, de frente para a porta, você podia ver o sobretudo sendo aberto pela mesma mão com as unhas nojentas que havia visto anteriormente, eis que então dentro do sobretudo não surge um homem-goblin-mafioso, mas sim um goblin-mafioso, se equilibrando na cabeça de outro goblin! O disfarce perfeito! Mashasha não consegue se conter e solta uma leve risada, seguida de uma pequena batida na mesa. Sr Senhor Wilson deixava uma garrafa e um pote na frente do bigodudo, ambos bem sujos, e partia contra uma bancada, para buscar copos.

— Sirva nosso convidado Edervilson, o nome dele é Mashasha. – Sr Senhor Wilson colocava uma bandeja sobre a mesa, com quatro copos nela. O bigodudo Edervilson respirava fundo, servindo o liquido amarelo e um cheiro horrivel da garrafa nas canecas enquanto os outros dois goblins se aconchegavam ao redor da mesa. Um sapo verde era retirado do pote, e mergulhado algumas vezes em cada uma das quatro canecas, apesar de haverem seis ‘pessoas’ ali, o silencio reinava durante a preparação da bebida, que ficava com um brilho fluorescente incrível.